quinta-feira, agosto 28, 2008

«O PITO»
ELEGIA DESSA VITUALHA BEM PORTUGUESA

Falemos hoje dessa vitualha que faz parte do cardápio tradicional do portuga, que democraticamente se apresenta, sem distinção, que não em quantidade, está bem de ver, à mesa do pobre o do rico: «O PITO», que por muitos também é apelidado de franga.

Há muitas e variadas maneiras de preparar um Pito. Desde logo depende da idade do dito cujo, já que os Pitos à medida que medram na idade medram na qualidade. Mas atenção: -isso é só até certo ponto, a partir do qual se tornam rijos, engelhados, secos, só comestíveis se a fome for danada.

«PITOS» de farta plumagem e outros carecas. Em norma trata-se apenas de sinais exteriores, já que interiormente tal aspecto nada tem a ver com a qualidade da xixa. Ao tacto, quando se afagam antes de se lhes meter o facalhão, um PITO de plumagem encaracolada pode proporcionar requintada fruição sensorial, e até permitir ousados e antecipados, e efésios, gozos, antes do repasto final.

«O PITO» pode comer-se de faca e garfo usando a mesa mesmo atoalhada a rigor para o pôr a jeito, isto é à beira da dita, de modo que o acesso, seja bocal, manual, ou se apressado lhe escanemos uma coxa para cada lado e mesmo de pé avancemos com a sua degustação. Neste caso há que ter cuidado pois é fácil trilhar as norsas ou os botões na esquina do tabuado, o que pode interromper a folgança antevista.





Proa de um Moliceiro:sítio aconchegado para uma boa Festa





Há quem à boa moda lhe agarre pelas coxas esmeradas, macias e túmidas, as aparte, e sem outro instrumento que não seja a língua afiada se atire mais intencionado a gozar com o molho do seu preparo, que escorre por entre vales e profundezas, do que propriamente com o festival do peito da franga, que diga-se não é nada de enjeitar.

Bem pelo contrário, há mesmo quem prefira começar por estes, pegando-lhe pelas asinhas, puxando-as um pouco para trás de modo a que aqueles ressaiam em todo o seu esplendor, fartos e espigados, convidando a debicar na farta febra, deixando os baixios entre coxas para final do festival gastronómico.

De um modo geral «o PITO» apresenta-se sempre estendido de costas, exibindo as suas partes podengas para o comensal, que desse modo o pode apreciar com mais pormenor. Mas há também quem o goste de voltar de barriga para baixo, pois desse modo a arquitectura carnal do dito exibe-se com mais propriedade. E tal posição, ao contrário do que se pensa, não complica o acesso da tesoura da poda. E há mesmo quem deslumbrado com o que lhe é mostrado, por vezes se contente com o bochechudo e não menos saboroso postigo traseiro d’ «O PITO», entreaberto sem grande pocema e alarido por parte da dona do dito, já habituada a que lhe comam aquela parte, quase sempre destinada ao dono da capoeira.





Há maneiras e...maneiras de pedir «Pito»



Há os que mais lambisqueiros não se contentam com «O PITO» só por só. Para isso fazem-no acompanhar por outros grelos, em mistura, dando uma bicada ora num ora noutros frangainhos, de modo a desenjoar do adocicado que às vezes macula o repasto de um galfarro.
Para preparar «O PITO» deve seguir o seguinte procedimento: vá a um galinheiro bem recheado. Escolha «O PITO», mais jeitosinho. Nem muito gordo nem escanifobético. Nem muito novo (mínino sixteen ) nem muito velho (embora ás vezes aqui haja verdadeiras surpresas).Agarre-o e apalpe-lhe a plumagem. Acaricie a mesma, doce e meigamente, apreciando como à medida que o vai fazendo, «O Pito», ao principio desconfiado com o que julga ser chegada a sua hora de ir ao castigo, começa pouco a pouco a enlapar. Há uns mais resistentes. Quem não tiver paciência, torça (meigamente) o pescoço ao animal, para conseguir o seu sossego. Não aconselhamos –ou até denunciamos á protectora dos ditos - quem ouse tal .Pois «O PITO» só é bom ,se se entregar à degola, voluntariamente, e de cara alegre. Antes de lhe espetar a faca ,convença-o que o sacrifício é honroso e que do mesmo podem advir diversas benesses. Tenha contudo cuidado em não prometer mais do que as suas posses sejam capazes de cumprir. De seguida, depene-o. No polivan dá um jeitão. Aí já ficarão bem visíveis, e á mostra, as qualidades, que nem sempre uma farta plumagem permitem perceber. Não se esqueça de nos preparos, polvilhar com sal q.b.,pois nada há de pior do que comer um «PITO» desenxabido. Ponha-o em brasa, sem contudo o deixar estornicar. Vá-lhe dando as voltas, ora por cima ora por baixo, de modo que chegada a hora de lhe aferrar a dentuça todo «O PITO» esteja au point. Isto é:- um figo de mel, madurinho ,a pingar aquele odoroso e saboroso leite de anjos. Ele cairá de maduro, pronto para ser papado. Pape-o mas não abuse, porque que pode empaturrar-se .Coma «PITO»,regularmente, mas não abuse.«O PITO» é bom para a saúde. É comida recomendada, mesmo para doentes. Claro que para estes, uma canjinha chega. «PITO» …pito, nem vê-lo Só cheirá-lo.


Use mas não abuse...


NB. Qualquer interpretação descontextualizada, distorcendo ou enviesando a intenção do autor, é da pura responsabilidade do leitor. Não leitor; não falei daquilo, em que já …só pensa…

Aladino

segunda-feira, agosto 25, 2008



Pedaços da História da A.H.B.V.I


Em 1932 ,numa altura em que se gerou um grande movimento em torno da AHBVI ,visando instalá-la na sua sede definitiva, na Rua Manuel da Maia, a Direcção da Instituição afadigava-se em reunir ajudas materiais para fazer face ao investimento com tal obra, independentemente de contar com grandioso apoio da Câmara de Dinis Gomes.

A AHBVI ,fundada em 1893 por iniciativa de meia dúzia de ilhavenses, de onde se destacavam o Dr Francisco Moura ,seu primeiro Presidente,







Dr F.Moura



António Encarnação Júnior (seu 1º Comandante) Henrique Cardoso Figueira, Anselmo Corujo e Joaquim António Bio, albergou-se em diversos locais ao longo dos seus primeiros anos de existência. Primeiro num edifício perto do Largo do Oitão, propriedade do Ten. Mendonça. Logo depois ocupando parte do r/c do prédio da esquina da Praça Mouzinho de Albuquerque ,propriedade do Cap.Bagão , onde mais tarde esteve instalada a loja da D.Lidinha. Daqui passou para a Capela ,para o r/c do prédio da Srª Cartaxo, de onde saiu para se instalar num edifício integrado no Mercado Municipal (1926), do lado nascente.


A AHBVI no Mercado


Durante este período a bomba manual (hoje em exposição no Quartel, verdadeira peça de Museu) foi albergada em local, na actual Rua St António , numa garagem onde mais tarde esteve a oficina do «Artistinha».





O Projecto inicial do Quartel de 1932

Em 1932 o quartel e a sede foram, então, instalados na referida Rua Manuel da Maia ,em prédio construído de raiz para o efeito, mesmo ao lado da primeira cabina de distribuição da energia eléctrica ,erecta em 1926.
Para reunir fundos, organizaram-se, na altura, diversos acontecimentos.
É destes que recordamos, numa foto de 1932, os elementos da Velha Guarda do Sport- Ílhavo ,que na Vista Alegre defrontaram a equipade honra dos jovens da referida Associação. Numeroso publico presenciou a renhida disputa. A Velha Guarda (onde figuravam as velhas glórias do futebol Ilhavense –Beira Mar de 17 Janeiro 1932) entrou equipada de chapéu de coco e papillon, luvas e calção azul,o que fez delirar a assistência, especialmente a numerosa claque feminina.

A Velha Guarda do Sport-Ílhavo


1ºPlano:M.Mendes,Evangelista Ramalheira, M.Oliveira, Carlos Marcela, Bento Capote, João Sousa (cap) e J.Ramalheira (ZUCA);2ºPlano Manuel Balseiro,Manuel Fonseca,E.Vieira,Frente Leopoldo Sacramento

Resultado final (sem favores do arbitro que se tinha retirado, acreditando no fair-play dos jogadores em campo),foi de 3-2, favorável à Velha Guarda.

SF
Agosto 2008




quinta-feira, agosto 14, 2008




Os novos Califas


Dois dos maiores problemas com que se defronta o mundo, residem:

-na Globalização

-no fanatismo religioso
.

Sobre a Globalização já aqui reflecti por diversas vezes, a última das quais, ainda recentemente, no blog de 25 de Julho.

Abordemos o segundo.

Um novo livro de Hugh Kennedy - «La Corte de los Califas»- induz-me a reflectir sobre observação própria, que sempre me intrigou e me despertou a atenção.

Em vários e múltiplos contactos com gentes árabes, por razões de relacionamento comercial, que me obrigaram a visitas constantes a Marrocos, Tunísia e Argélia, dei por mim especado, mas atento, a observar o quanto o vulgar cidadão, árabe, tinha de culto na questão religiosa. Observei com curiosidade que o Corão era sabido, evocado, reproduzido, e até levado à regra,pelo comum cidadão, com um conhecimento absoluto e pormenorizado de toda a complexidade e emaranhado dos seus ensinamentos, o que a meu ver contrastava com o (comum) praticante cristão ocidental, que por norma tem um conhecimento, vago e distante, da Bíblia.

Isso suscitou o meu interesse por compreender um pouco o islamismo.

E do que me fui apercebendo impressionou-me como foi possível, no séc.VII e VIII, àqueles povos árabes, dominarem e propagarem o islamismo do Profeta, por fronteiras tão longínquas e distantes como as do Império Persa, as províncias bizantinas da Síria e Egipto etc.etc Um mundo gigantesco, que ia do Atlântico à China. E fui observando que feita essa guerra das conquistas, como se tratasse de uma Guerra Santa levada a cabo em nome do profeta, me pareceu haver similitudes com a expansão da fé cristã, em nome da qual, mais tarde, os portugueses fizeram crer, ser essa, a intenção primeira da descoberta de novos mundos. Ora, o certo é que hoje se tem plena consciência - e conhecimento -de que, quer uns, quer outros, fizeram-no apenas por meros interesses comerciais, que se sobrepuseram aos fins religiosos.


Maomé e os Califas


Impressionou-me, e dei conta disso no « Ensaio»,a questão dos moçárabes na Península. Apercebi-me que os conquistadores árabes eram, afinal, honoráveis e tolerantes vencedores (para o tempo!).De facto, depois da conquista, os muçulmanos convidavam(?!) as populações a absorver o islamismo,aceitando, compreendendo, e até tolerando, aqueles que não o desejassem fazer.Aceitando que em troca do pagamento de uma taxa ,pudessem conservar a sua fé, e manter os seus ritos. Encontrei com espanto a referência ao facto de, em alguns templos da Península -caso da igreja de S.Miguel, em Aveiro - se praticar, eventualmente, o culto simultâneo do cristianismo e do islamismo.

E assim como aconteceu na Península Hispânica, onde houve convivência entre as duas religiões, também no Egipto se verificou a convivência com os coptos; e na Palestina com os judeus. Assim parece que, paulatina e de um modo inteligente, a adesão massiva ao Corão foi-se fazendo, nos primeiros séculos da expansão, parecendo não haver grande pressa nisso.

"O Profeta"

Apercebi-me como na religião islâmica existe uma especial protecção contra a pobreza extrema. E apercebi-me, ainda, do extraordinário desenvolvimento cientifico daqueles povos, na época da expansão, especialmente –para mim gratificante –da matemática ,da navegação, da construção naval etc. Um extraordinário conhecimento cientifico -que muito útil nos foi! – que contrasta com o estado de uma certa indigência intelectual, hoje patente nestes povos, que parecem querer emergir ,embora nem sempre pelos bons meios, e boas práticas, para atingir esse fim.

É esta reflexão que me leva a ter um pouco de esperança de a actual jhiad possa, ainda, ser despida do fanatismo exacerbado do fundamentalismo religioso que a comanda e parece ser seu objectivo final :- a destruição dos valores ocidentais. E que desse modo se possa voltar à convivência com um islamismo que na sua essência é bem diferente da imagem que hoje dele temos, fruto das práticas abomináveis de alguns dos seus novos califas bem diferentes daqueles da corte de Maomé.


Aladino

quinta-feira, agosto 07, 2008

Inventando os teus lábios


Silencioso este voo nocturno

Nem é dia nem é noite, tanta é a claridade

Perturbá-lo seria trair o instante que indecifrável, passa

Deixo-o seguir viagem


Por mim aqui fico a inventar o espaço

De olhos fechados.

Deixo-o passar. Na sede de adormecer

Inventando teus lábios.



SF (8.08.2008)

            Os nós da vida.... ..  INQUIETUDE... A VIDA COMO ELA É ...  Neste cantinho recomendado que, a natureza prodigalizou, e que a e...