quinta-feira, outubro 30, 2008

A Escola de Francisco Meneses…

Recebi, e mesmo ontem li «A Minha Escola», um curioso opúsculo em que Francisco Meneses(Dr) faz uma análise detalhada á «Escola Em Que Exerceu», que não sendo a «Escola Que Desejava» lhe motivou uma explicitação do que julga dever ser a tal escola para a qual o aluno apenas levaria (para lá) a mente motivada para aprender…e pouco mais, como nos diz F.M.

O olhar de F.M. sobre a Escola Portuguesa é pois muito crítico; olhar de alguém desencantado, senão magoado com aquilo, onde pouco se aproveita: os alunos são maus – civicamente mal preparadas em casa -, indisciplinados, e nem os professores que olham para o lado fazendo de conta, escapam ao azedo comentário de F.M., ao ser-lhes atribuída parte da responsabilidade por essa indisciplina, embora afirme que a Escola e o Professor se confundem para o bem ou para o mal, num só. Não é esta unidade que F.M. julga ser a ideal…

Mas as culpas deste estado caótico - que parece irrecuperável-, é fortemente consequência de uns tantos inteligentes que apareceram por ai ao longo dos anos a vender – assim mesmo! - Teorias Educativas a torto e direito, acomodando clientelas amigas. Pena que FM não inclua – ou passe adiante – de que nesta cambada estão incluídos aqueles que há trinta anos – sempre os mesmos – ocupam as cadeiras sindicais, apenas e só pugnando pela mediocridade e pelos tostões. Mais nada! Borrifando-se para a qualidade de ensino, coisa de que nunca mais ouviram ou - quereram ouvir - falar.

E de apreciação em apreciação – negativa, pois outra não poderia ser, tal o caos a que chegámos – eis-nos confrontados com a ESCOLA proposta por F.M.
É curiosa – e claro discutível – a proposta. Pena até que tal tipo de reflexão, não faça parte do curriculum obrigatório de todo o Professor no activo, fornecendo achega e propostas para serem eles (os Professores) os sujeitos da Escola, e não apenas os executantes revoltados de tantas incongruências vindas de cima.
A Escola de FM, onde em ultima análise os professores seriam respeitados – questão básica, mas não única –para o que teriam de provar que tinham conhecimentos científicos - e não mais, perguntamos, nós?.) para exercer a profissão. Todos estaremos de acordo que tal proposta é evidente. Já não estaremos todos de acordo, certamente, é com a proposição de na Escola de FM- em áreas específicas - não existir a dicotomia aprovação/reprovação, pois ao contrário consideramos fundamental que os miúdo passem desde cedo (logo mesmo no básico) a perceber que há objectivos a cumprir e que tem de se trabalhar para os atingir.
A Escola de FM teria de ter muitos e diversificados Auxiliares de Educação (não confundir com contínuos), e claro ter condições físicas para os albergar em situação estimulante quanto à produtividade do seu trabalho. Até aqui parece-me unânime a concordância.
Mas onde FM salta as barreiras do consenso é na proposta do curriculum para a sua Escola. Que se dividiria por três áreas:« área das educações» (ed.fisica, ed. tecnológica, ed. musical, ed. visual etc.) em que haveria apenas uma intervenção prática dos alunos) sem qualquer sujeição a avaliação; a «área dos saberes» (estudo do Meio, História, e Ciências da Natureza) sujeita ao procedimento normal de avaliação, feito de uma maneira encadeada e articulada; e finalmente a « área das competências», (Português e Matemática -e a Física não?! -) onde os alunos iriam ter um ensino / aprendizagem individualizado, conforme as suas capacidades. Assim se o aluno tivesse um dom (?!) em determinada cadeira desta área, poderia dar anualmente saltos quantitativos e qualitativos, não necessitando de esperar (penar) pelos restantes colegas. Esta é a proposta talvez mais polémica de F.M.,a merecer contudo debate.
FM, não nos explica a razão desta diferença qualitativa e quantitativa, destas disciplinas, que justifiquem métodos didácticos e pedagógicos ímpares, altamente complexos de gerir
(o exemplo dado por FM- o saber-se a raiz quadrada só por si, coisa banal como a multiplicação ou divisão porque haveria de atirar com um aluno para uma turma lá muito mais para a frente, sem estar sujeito ao normal encadeamento da matéria?).
Pois bem: há matéria para reflectir. Fez bem FM, em pensar e dar a sua opinião, muito valorizada por uma experiência de vinte anos de exercício de uma profissão que dantes era bonita, e agora parece ser um martírio. Talvez tardio o depoimento. Mas vale sempre a pena…
Gostámos do que lemos, para lá de ideias com que nem sempre concordamos. E ainda bem. A Escola é um reflexo da sociedade envolvente. Não pode haver Escola boa onde a sociedade está em perda acelerada de valores. Onde em nome de uma democracia de massas -quantos nela falam e tão poucos nela convivem – se consente uma avassaladora falta de responsabilização dos diversos agentes que a moldam: pais, família, professores, políticos, cidadãos.
Não há autoridade: nem moral, nem profissional, nem intelectual. Chamem-lhe o que quiserem, disfarcem o pudor, mas o que é verdade é que nos demitimos de saber ter autoridade no exercício de cada cargo que ocupamos. Não é só na Escola. Baralhamos e tornamos a dar. Nunca partimos…
Repara FM: porque é que recuperada a dita autoridade na Escola Privada (por consentimento tácito dos encarregados de educação) os resultados são bem diferentes, com o mesmo tipo de exigência curriculares?
FM até, em mero exercício académico poderia resolver algumas das questões que hoje são patentes na Escola Portuguesa. Mas não explica como isso poderia acontecer se anteriormente não se tiver mudado a sociedade. Eu sei ..eu sei …A Instrução conduz à Educação.

A questão é a do ovo :- qual nasce primeiro…
No final e em resumo :leitura obrigatória.
Senos Fonseca

quarta-feira, outubro 22, 2008


MRTRA(Movimento de Recuperação do Teatro do Recreio Artístico)

Na palestra anteriormente referida neste Blog, a Profª Rita Marnoto chamou a atenção para a necessidade de se recuperar o antigo «Salão do Clube dos Novos» ,hoje a Drogaria Vizinho.
Claro que é urgente e necessário. Vimo-lo dizendo há muito.
Por incrível que pareça o poder na TL anda há anos preocupado em recuperar O TEXAS, vá lá saber-se porque carga de água. E até para tal, diz ter feito uma parceria com privados. Mas sobre a necessidade de propor soluções para recuperar o histórico edifício do « Clube dos Novos (?) », com ou sem privados, com ou sem Instituições locais, sobre isso nunca se ouviu, intenção que fosse. O edifício que já tinha a sua história mesmo antes de se transformar no referido Clube, merece ser preservado, dando-lhe utilização condigna. Transformá-lo num espaço de fruição pública, com função cultural dirigida, específica, é o que urge fazer.
Ouviu-se dizer durante a Palestra que o prédio vai ser posto à venda. Uma oportunidade para facilmente se resolver a questão.
E não é pelo facto de ser um edifício Arte Nova, como disse a Profª R. Marnoto – porque o não é –mas pelo facto de guardar ainda no seu interior pedaços de um período histórico da Cultura Ilhavense, que urge preservar e reavivar, para identidade futura, comum.
E já agora – dando resposta ao desafio da palestrante - passemos um breve olhar pelo edifício Foi pertença do Cap. Pizarro, casado com D. Inês de Sousa Magalhães, avós do Visconde de Almeidinha. E foi ainda lá que nasceria esse grande ilhavense -ornamento da magistratura administrativa, uma glória de Ílhavo- , o Conselheiro José Ferreira da Cunha.
Ora em 1876 foi criada a sociedade de onde faziam parte, João Carlos Gomes, António Candido Gomes, José Craveiro, José António Magalhães, Francisco Rocha , Bernardo Camarão ( Kim Camarão)e Augusto Ferreira, que sob projecto do eng. Tavares Lebre constrói o primeiro teatro em Ílhavo, conhecido por «Teatro do Recreio Artistico». Na inauguração do teatro foi representada a peça «Camões no Rocio», em que participaram Eduardo Pereira e Rosa Gomes, acompanhados por João Barreto e João Carrolla. O teatro em cujo pano de boca se representava a apresentação de Egas Moniz, tinha nos parapeitos dos balcões, várias referências a dramaturgos e poetas ilustres ,como Gil Vicente, Garrett, Bocage etc, ainda hoje visíveis.
Ora seria só mais tarde, depois de introduzidos diversos melhoramentos, e luxuosamente decorado, que no referido edifício viria a ser instalado - então sim !- o«Clube dos Novos»
Recuperar todo este historial de um período que nos desenhou a diferença, impõe-se, pois.
Ora aqui está um movimento para o qual contribuiria com todo o gosto e empenho.


PS distrital no seu pior.

Sem grande surpresa, mas incrédulo, constato como é ainda possível , nos tempos de hoje ,existir uma estranha doença a minar a democracia, a que parece não se pôr cobro .
A lógica partidária (o poder a todo o custo) faz crer bastar a existência formal dos mesmos, para que se julgue viver dentro de um modelo consagrado ao exaltamento e prática das virtudes da dita, é subvertida sem despudor nem vergonha nos actos mais comezinhos da vida interna de cada um dos Partidos (de que dizem ser o seu pilar fundamental).
Como neste caso ridículo da eleição na Federação de Aveiro, praticam-se esquemas do mais reles e caricato enfeudamento dos menores aos trapaceiros das artimanhas, levadas a cabo para se perpetuarem no poder. E há quem aplauda …

Como é possível que a cegueira desses menores não lhes dê, no mínimo, uma nesga para poderem constatar que nunca serão pessoas antes de se sentir cidadãos . Que raio de virtude poderão eles descortinar numa eleição viciada, tortuosa, que foge ao confronto digno das ideias e se refugia nas artimanhas processuais para afastar confrontos de posicionamento, ainda que discutíveis, e por isso mesmo só esclarecidos pelo acto de escolha ? Que vil glória será a destes menores ao se julgarem condutores de não mais do que um cordato rebanho de distraídos obedientes?

Se isto é vida democrática…,vou ali e já venho.
Preocupa-me que este caso de Aveiro possa não ser um caso isolado. Pobre País e coitada da Democracia. Começa a ser temerário viver por cá…em paz.
Há fortes temores de ser real e de corresponder à verdade, a ideia que alastra no cidadão comum de que na politica é muito difícil encontrar gente digna.

O «Apito Dourado« é apenas um capítulo da «Politica Dourada»,no comprar de resultados.

Aladino

segunda-feira, outubro 20, 2008


Ílhavo no seu melhor…

Ílhavo foi, no último fim-de-semana, pródigo em acontecimentos de conteúdo cultural o que me apraz registar. E muito mais que os enunciar, há que sobre eles reflectir.
Comecemos, pela excepcional mostra fotográfica - A Maritime Album - patente no Museu, e com que este viu comemorado um seu aniversário do depois de ….Comemoração sem o espavento do ano passado, retirando algum dos excessos então cometidos, remetendo-se ao essencial de um aniversário.Nem que seja comemorar a perda de vários dedos, o que importa é estar vivo. Adiante…que em dias de festa não se fala nisso…

A exposição, uma punhado de obras que faz parte de um espólio de meio milhão de fotos, uma mostra a preto e branco – o que é inteiramente do meu agrado - expõe com rara beleza, e intensidade muito forte, embarcações, gloriosas ou do simples mètier. Umas a nascer outras em decomposição, mas sempre ligadas intensamente ao meio onde exercem(ou exerceram) o seu labor: ora em paz ou na guerra, a exposição diz-nos que neste mundo onde por vezes o homem parece estar a mais - ou quando não está a mais,evidencia a sua fragilidade - a beleza existe sempre, o que é preciso é ter olhos para a captar.

Mas o MMI teve uma excelente prenda, que vem enriquecer o seu património: -a oferta promovida pelos Amigos do Museu e apoiada pela Câmara, de um quadro (óleo, creio) de Fausto Sampaio, o que é um excelente dote. O lenço como não podia deixar de ser, fixava uma parte da Costa-Nova. Não sei se li que o quadro tem a data de 1933. Creio ter visto. E se creio ter visto, assumo que há qualquer coisa de estranho, pois o que lá é reflectido, é anterior a 1932.(o que pode muito bem ter acontecido). Outro pormenor estranho no quadro, é o de quem pintou esplendorosamente a Costa-Nova, não ter sido imune em recriar um azul de água, esplendoroso, daqueles que a ria só exibe em dia translúcido, puro e calmo, do sol em brasa, sem mácula de nuvem, num dia em que nunca – asseguro - um céu arrenegado como o que está patente no quadro, poderia dar. Pormenor apenas entrevisto por um amante desse azul. Em todas as circunstâncias, um bonito quadro do pintor apaixonado por este rincão que lhe forneceu paisagem natural de brilho inexcedível (o azul daquela ria !), mas e também riqueza na paisagem humana que lhe dá vida, que o artista retrata naquele jeito pontilhado tão característico do pintor bairradino.
E ainda outra prenda…
Mas na comemoração do dito aniversário do MMI, é de salientar a palestra proferida pela Prof. drª Rita Marnoto, uma investigadora muito centrada nos aspectos da Literatura Portuguesa, e seu cotejo com outras literaturas europeias, latinas.

R.M abordou de uma maneira muito límpida e cativante, o Humanismo em Camões. E em uma matéria que provavelmente se não julgaria interessante para todos, conseguiu prender os ouvintes – seus conterrâneos - com a clareza e vivacidade com que expôs o poeta pátrio submetendo-o a uma leitura actual. Camões já foi utilizado para tudo. Para o melhor e para o pior. Parece chegado o tempo de fixar a sua grandeza sem outra leitura que não seja a da exaltação da rara dimensão da sua obra épica, pioneira. E ao fazê-lo R.M não poderia deixar de sublinhar esse período em que a confiança na capacidade humana, gerada pela vitória do conhecimento sobre as coisas, fez acreditar a possibilidade de dominar o mundo e equiparar a nação portuguesa, no seu feito épico - colocando-a na vanguarda de um sentimento de superioridade - ao mundo antigo medieval, ou mesmo da Grécia e Roma.

Camões foi o relator exaltado dessa ideia advinda já de épocas anteriores (Séc. XIV e Séc. XV), mas que com os Descobrimentos fez brotar como que uma espécie de revolução histórica. Pelo feito descomunal, pela excelência dos variados víveres advindos do mesmo, a nação portuguesa pôde ombrear com o topo das nações europeias. Essa consciência foi a motivação de poetas, escritores e sábios, desde Garcia de Resende, Rodrigues de Sá, Caminha, Castanheda, Pedro Nunes, tendo finalmente atingido níveis grandiloquentes de panegírica com

Cessem do sábio grego e do troiano
..……(…) ………………………. o que fizeram
Que eu canto o peito ilustre lusitano,

de Camões.

Mas por cá…
Falou-se ainda de algo que desapareceu e de que não restava memória para o lembrar, já que o MMI nos fala em exclusivo de outras águas e de outras gentes, depois da dita remodelação que ontem se comemorou.
Ora agora essa falta foi colmatada, pois que o fim-de-semana teve um outro - e grande - motivo de interesse.
No sábado, no salão da Junta da Freguesia, Manuel Leques deu-nos um magnífico trabalho, de real importância, cujo título é bem elucidativo: «O Vale da Maias e as Azenhas de Vale de Ílhavo».
Li (já) o livrinho, e dele realço a excelente qualidade descritiva do autor. Impressiona que uma pessoa há tanto afastada do nosso convívio (pois M.L. exerce a sua actividade profissional nos EUA), zele tão bem a língua portuguesa, reproduzindo as suas ideias com tanto à vontade e precisão. Manuel Leques, que eu conhecia apenas por um outro trabalho correlacionado com o actual, agarrou no «Tombo de Águas» de D. Joana Maria de Almada Castro e Noronhas (donatária da Vila), feito por provisão régia de 1772, e conseguiu identificar as azenhas e os veios de águas aí descritos, com o panorama existente na sua meninice, no inicio do Séc. XX.
Uma excelente achega para a história local, até porque indo mais longe trata com um elevado sentido pedagógico e minúcia, em pormenor, as diversas técnicas usadas naquele tipo de centro de produção medieval que se prolongou até aos nossos dias, quase de um modo imutável.
M.L. no seu trabalho equaciona o «de onde vieram aquelas gentes que foram ocupando o vale da Madriz» e deram origem a Vale de Ílhavo?
Já falei nisso também anteriormente. Os primeiros moinhos de água que por ali proliferaram foram certamente pertencentes aos Mosteiros (Convento Jesus, Carmo etc.) e Igrejas da região. E a grandes senhores (Sousa Ribeiro, Camelo, Madahil, Vidais), que foram aforando os mesmos a naturais da região, e a outros vindos propositadamente de fora (Candelos, de Coruche).
Depois foi uma actividade que arrastou o desenvolvimento, já que o Vale era prometedor, permitindo criar grão ao pé da porta, substituindo os maninhos e a floresta, por cultivo.
Toca M. Leques. nos célebres episódios do desvio das águas para Aveiro, e depois para Ílhavo. Cenas dignas de um «quando os lobos uivam» local. Que ainda falta escrever.
Há tanta coisa que falta, que eu não sei se muito não se irá perder no tempo.

Aladino

domingo, outubro 12, 2008


Para mim a vida não foi cruel….(até agora!)

Hoje a conversa no Mar da Palha, estava um pouco bizarra. Cada um, já não muito longe do fim, a deitar contas ao que resta da vida. Havia unanimidade de que é sempre bom, um homem ir á frente. Como lhe compete, observei, sabe-se lá dificuldade das veredas a prosseguir.
Uma mulher adapta-se claramente ao aspecto mais terrível e cruel, que é o da solidão. Falo das mulheres das gerações anteriores, pois não sei se com os ganhos, ditos civilizacionais, no futuro, as coisas se irão processar da mesma maneira.

Medo da morte, logo que a conversa entra em maior proximidade, é já perceptível em todos.
Eu já abordei aqui, várias vezes, o tema. Eu o que tenho medo é de um dia qualquer, ter medo dela.
Porque não há objectivamente razão para eu ter medo dela, mas sim do que virá depois dela ,para os indefesos. Por muito que deixe tudo programado sei que o mundo não é bom para esses, em particular.
Chegado aqui, pouco - muito pouco mesmo - deixei ficar para trás. Tive uma vida já longa,de tão curta.Duvidei por diversas vezes que isso aconteceria, pois que a minha vida foi de uma violência física ,desmesurada ,excessiva. No cômputo geral fui feliz ( se é que se pode sê-lo, perante a realidade que nos cerca?!) .Se medir essa felicidade por mim, e em mim.Ainda que menos no que me ultrapassou. E mesmo nestas situações, consegui vislumbrar razões que me recompensaram das escolhas – ou sorte - imperfeitas, e nelas mesmo soube encontrar motivação para me superar e aceitar a missão com redobrada força interior. Capaz de minimizar os imponderáveis, para os quais não tinha (nem tenho) solução, mas contra as quais lutei como se houvesse. Nunca me rendi. Fiz até dessa situação, sem queixume nem amargura (exteriores), uma procura interior que me fez perceber melhor que a franqueza e a fraqueza não admitem partilha.
Amado por uns odiados (?!) por outros: de há muito que me vem sendo dada(colada) esta qualificação com a qual passei a conviver, ainda que com ela não concorde.Não é minha. Exagerada, pura e simplesmente.
Mas , se tiver algo de verdade ,então já agora ,
Aos primeiros dei-me, mas não todo. Reservei sempre uma parte de mim mesmo, que nunca deixei antever. Por instinto de precaução. Para que se doesse, doesse menos. Por isso creio que fui mais «amado» do que aquilo que dei em troca. Foi bom. Porque, repito, não dei tudo, tendo recebido muito mais.
Aos segundos pareceu-me que não é bem «ódio» mas apenas irritação por eu nunca ir atrás deles para me poderem exibir a seu lado. Nunca soube nem me quis mudar para sítios ensoleirados: preferi sempre ficar no meu sítio: - onde mora a fantasia, o sonho utópico que me inquieta e me transforma no mexeroto que gosto de ser.Mais a viver do instinto que do acto mental.
Não tive momentos cruéis a toldarem-me a alegria de viver, salvo o desaparecimento, um a um, dos que me eram próximos. Mas mesmo essa sucessiva repetição dolorosa, aceitei-a como inevitabilidade tirana da vida. Não me revoltei contra ela (por essas serem as regras do jogo), nem contra NINGUÉM, porque só me queixaria se antes LHE tivesse agradecido a dádiva (o que nunca sucedeu).
E sempre nesses actos compreendi que era melhor que tivesse sido assim, por aqueles que ali estavam, no final, já não eram os meus. Já nem sequer percebiam que eu era, ainda, o seu.E quando assim é, não é vida, é morte em vida. Sem serem cruéis, esses momentos foram terríveis estados de alma, amargos, quase ininteligíveis para a compreensão dos que me rodeavam. Eu queria amparo; o que me ofereciam era desamparo, no aconchego do tem paciência é a vida.E eu sem saber, uma vez mais, porque é que se tem de ter paciência com a vida, tive-a.
Quando deixei a vida activa, preocupei-me como ia percorrer o tempo que restava. E foi agarrando-me à construção de palavras que percebi que caminhava bem mais despreocupado do que antevira, por finalmente poder perceber muita coisa que a lufa-lufa da vida me tinha deixado escapar. A escrever, embora isolado do meu semelhante –eu!.., um obsessivo do convívio! -, parece que O visito todos os dias, para lhe dar conta dos meus desencontros, talvez para me perder ainda mais.
Uma coisa é certa: -Não mudo.
Porque já não tenho tempo para isso. E mesmo que o quisesse fazer, estava certo que a caneta não mo deixaria fazer. Porque então, tudo o que dissesse era mentira.
E no momento mais crucial do dia, que é quando me olho, de manhã, ao espelho, ao não me encontrar comigo, tenho a certeza de que não descansaria enquanto não me fosse procurar por entre o lixo da mediocridade.
Senos da Fonseca

quinta-feira, outubro 09, 2008


1-Indiferença, numa terra que incensa os mortos e ofende os vivos.

É estranha esta Terra da Lâmpada.
Profundamente estranha. Anda a Câmara, e o seu Presidente, apostados numa louvável (?) campanha paga a peso de ouro, de que a «Nossa Tradição é o Mar», e com a mesma, empacotaram-nos numa de bacalhau, que mais parece a propaganda republicana do Bacalhau a Pataco.

Louvável e cheio de êxito a regata dos Talls Ships. Seja qual tiver sido a sua dimensão, houve uma adesão incondicional, ao seu desenrolar.



Estranho é que para a sua organização técnica se tenha ido buscar um oficial da Marinha Guerra, ex-Comandante do «Creoula», porque ao que parece duvidava-se da capacidade de um - dos muitos!-, que ainda há por aí.
Ninguém falou nisso.
Indiferença, numa terra que incensa os mortos e ofende os vivos.

2-Mas… lá que os há (ainda!).hay


Se o Sr. Presidente queria melhor resposta para o seu insultuoso acto, teve-a, quando por aquela janelinha que se rasgou ,os Pilotos –todos de Ílhavo ,penso eu que ..-enfiaram um a um, milimétrica e crono metricamente, todos os barquinhos lá fora.




O Sr. Presidente devia ir a pé aos «Pilotos»,em peregrinação, agradecer-lhes a sua preciosa e arriscada, colaboração .
E já agora pedir-lhes desculpa.

3- Caixa da Memória

Alinharam as suas fotos(à la minute),da inscrição no Grémio -diziam- para lembrança futura.Edição de luxo ,merecida.Uma espécie de «Lista dos Ultimos Irredutiveis. Repetiam :- «para que a memória dos tempos » os não esqueça.

Papagaios!

Porra!.. nem foi preciso um ano para se esquecerem de lá ir,e constatar que ainda há muitos, ainda vivos.

«Caixa de Memória» ou «Memória Encaixada»?.

4-Fórum Náutico

Pomposo .Está na moda.Uma mão cheia de nada, a repescar ideias dos outros e a comprá-las para a Câmara poder usar e abusar.

Se não entras no circo ,não bebes ,é a ideia.

Novidades?!:-nem uma .Esquecimentos:- mil !!!

Por exemplo as Regatas de Barcos Tradicionais,a recuperação destes, e ou a feitura de modelos históricos.
A «Cultura da Ria de Aveiro» ,já aqui o disse, faz parte disso, juntando-lhe mais tempero .

O que jamais será,é a destruição da mesma em nome de um qualquer aumento de IMI Municipal.

É mesmo verdade : há idiotas cheios de ideias e outros ditos vazios das mesmas ,mas cheios de pesporrência.

Parece que agora só falta escolher um Assessor para dirigir o Forum Náutico .Já lá se sugere um Ex.
Mas eu penso que não seria pior ir buscar um a Freixo de Espada a Cinta, dentro da linha delirante das escolhas que vêm sendo feitas.

Aladino

sábado, outubro 04, 2008


DESPEDIDA ….


Hora de cerrar os vitrais,
correr as portas
e deitar um olhar de adeus
ao silêncio daquela luz.
Ouço o longínquo apelo
Da gaivina a espairecer
No quintal da infância.

Verão ainda, ou já inverno?

Sou todo silêncio, pouco mais;
As pálpebras dormentes
Impedem saber em que rosa- dos- ventos
Descortino o tempo.
Invento no espaço
A cor da palavra suspensa
Na torpôr da tarde.

Já inverno, o pôr do sol
Vem de madrugada.
Por ali fico indefeso a ler teu poema
Com a luz apagada.
Na praia iluminada

Senos da Fonseca (Out 2008)

quinta-feira, outubro 02, 2008



Setecentos mil milhões?! UPA..UPA!!!
Acabo de saber que o Congresso Yankie, depois de variadas e continuadas fitas ,acabou por aceitar o plano Paulson. Curioso, o facto de este milionário ter feito um plano em que um dos salvados é precisamente ele, um anterior e fanático especulador bolsista.
Ora, ou me engano muito, ou os 700 mil milhões(custa a escrever por extenso, não custa?),já não terão ,na prática, o efeito pretendido .A bolha implosiva é muito maior do que ao princípio se pretendia fazer crer.
Pela Europa ,dia a dia , a confusão aumenta.
Por cá a Comunicação Social traz apenas as notícias convenientes ,destinadas a não criar confusão e descontrolo. Mas quem ler no exterior, depressa perceberá o que aí vem.
Estúpido é que os políticos da nossa praça até se sirvam disto para atacar o Governo .Claro que este Governo não fez tudo o que havia (e seria possível?!) fazer .Longe disso. Mas fez mais do que nenhum outro, desde Abril , para levar o País, e Instituições, a perceber que um País ,uma Câmara ,um Banco ,uma Casa –enfim uma Família! - não podem gastar mais do que produzem, e que a vida não é o que se quer ,mas o que se pode, efectivamente, alcançar.
Uma coisa parece certa: a politica de correcção do défice é agora mais precisa do que nunca. Mas socialmente há muito a fazer. Esta crise pode muito bem ser aproveitada pelo Governo ,voltando-a a seu favor.
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Para quando a barrela?
A propósito:
A Câmara de Ílhavo, como muitas outras, viveram os últimos anos na pura convicção de que quem vier a seguir que pague as contas…
Até há bem pouco ( dez anos?!), as Câmaras tinham a noção de que uma das suas principais preocupações era investir de um modo adequado, as suas capacidades de gerar receitas. Juntavam a isso umas ajudas pontuais que vinham dos governos.
De repente tudo mudou : considerou-se que não havia limites para o endividamento, e entraram num regabofe de misturar tudo no mesmo saco. E daí que os investimentos básicos, estruturantes, fossem rapidamente superados pelos gastos de pura tontearia, obras de fachada ,despropositadas, e ou desadequadas à finalidade, festas e festarolas -a que chamaram pomposamente eventos culturais! - propaganda, culto da personalidade com resquícios fascistóides, promoção de assessores de assessores, pó-pós à descrição , etc. etc.
Fácil : é fácil a qualquer peralvilho gastar dinheiro -principalmente quando não é dele – e passear-se a fazer figura de rico (viram aquela do Santana que em duas noites malbaratou cinco mil euros com o cartão da CML? Pois .. pois…sorriam-se…
E por cá?
Impressiona contudo olhar hoje em volta e atentar que, ao contrário do que o cacique rico da parvónia apregoa, somos (hoje) uma comunidade em perfeita recessão, a viver de propaganda que cria a ilusão de que estamos na senda de progresso. Os impostos municipais alinhados pelos mais altos níveis permitidos por Lei, são esbanjados ao desbarato, e a verdade é que sendo dos mais altos, não estão de acordo –de modo algum! – com a péssima qualidade de vida usufruída numa terra transformada em dormitório.
Atingindo a divida dos cofres autárquicos, nível preocupante, inventa-se um estratagema de semear passivos por colos -e barrigas - alheios.« Ílhavo Mais» será engorda para uns, mas futuro comprometido para todos nós, e mais grave será para os vindouros – pois a hipoteca ultrapassará os cinquenta anos.
Investimentos reprodutivos? Ora …ora…Só se for um alterne (alternância) para o famigerado Texas.
Perdemos as virtudes e enriquecemos nos defeitos. Exaltamos o pior de nós, envergonhados com a nossa identidade anterior.
Vivemos num faz de conta : pura encenação , teatro de fantoches ,vendedores de ilusões, tudo nos serve para recriarmos(e nos contentarmos) com a ilusão .
Se nos aproximássemos dos actores víamos-lhe o fioco ; distinguíamos-lhes a albarda sob o fatico domingueiro ; pesávamos a pesporrência da ciência de desenvolvimento que apregoam, e verificaríamos, que bem vista, não dá para encher nem um caneco. E que a sua virtude não nutre uma terra desvirgada da sua inocência e lindeza – aprumo e cara lavada - de antanho .Ílhavo incha!...mas não medra. Essa é a verdade
Os «Ílhavos» de hoje vivem das comoções festeiras grandiloquentes, indiferentes á luta temporal que os rodeia. Não têm voto na matéria, nem compromissos, e por isso mesmo aceitam-se mansos. Seguem na procissão de pesípelo, figurantes angélicos, indiferentes aos negócios públicos, enrodilhados no farfalho da vaga vertiginosa que os leva, não se sabe bem para onde.

Só que de vez em quando incomodam-me. A mim, que como dizia o outro, moscas por moscas, - prefiro as moscas antigas, saciadas, ás moscas ávidas e ferozes, famintas de Setembro.
Deixem –me, por isso, em paz. Eu já nem as orelhas abano, para não me parecer com essa cáfila
Oh! god : - que quantidade de lixívia, de sabonete de potassa ,de sabão , de areia e de escovas ,vão ser precisos, para fazer uma barrela a esta terra?

Aladino

            Os nós da vida.... ..  INQUIETUDE... A VIDA COMO ELA É ...  Neste cantinho recomendado que, a natureza prodigalizou, e que a e...