quinta-feira, dezembro 31, 2009

Adopção

Nesta noite queria adoptar uma estrela
Para com ela m’ envolver
Em sonho louco
Que de tudo tivesse um pouco.
Fossemos só nós dois, apenas,
Aqui ou noutro lugar, não sei onde, nem como,
Queria uma noite de vida sem amanhecer
Transformada em amor para a todos dar,
Solidariedade bastante para a todos chegar.
Queria usar o seu brilho como condão
Para iluminar os campos das guerras
-De todas as guerras -
Volvendo-os trigais ululantes de espigas prenhes
Para transformar ( armas), em pão.
Fazê-la «rosa de marear»,
Não para procurar outros mundos
Com novas pobrezas para explorar,
Mas caminhos de papoilas marginados
Onde não mais corresse o sangue dos fracos,
Substituído pela água fresca das levadas
Para lavar as feridas dos oprimidos
Em gesto de humilde misericórdia.
Novos «Orientes» imaginados
Em descoberta do «Homem Novo», livre.
Irmão de irmãos sorrindo ao vento
Em tempo intemporal, nunca acabado
Rostos enxutos de lágrimas
Postas a forrar o mundo
De Paz, Fraternidade e Concórdia.

S.F. ( 31 Dezembro 2009)

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Edição Blog 2009
A uma pergunta sobre a não edição do Blog 2010,informei que nem tudo se pode fazer na vida; o ano foi complicado.Acresceu o livro «Costa-Nova»,e não havia tempo ,nem para mim nem para quem me ajuda na tarefa de recolher da web e alinhar graficamente o Blog.
E também é certo que, se pessoalmente eu goste das «Marés» de 2009(conjunto de Blos editados este ano) gostaria de lhes interpor algo de substancial,que,se está esboçado,não está acabado.Assim adiei para 2010 a tarefa.
Mas será só isto que quero fazer em 2010?
Não :
a) Em primeiro lugar quero tratar com a editora da re-edição do «Ensaio Monográfico -Ílhavo séc-x-séc.xx».
b)E conto acabar o novo livro «História das Embarcações Lagunares» e, quem sabe,publicá-lo em Novembro de 2010.
Há que pedalar.Para isso é preciso saúde.Tempo arranja-se...
Há aqui uma nova responsabilidade.Ao princípio procurava leitores.Agora sabendo que os encontrei,tenho de honrar a sua atenção.
Senos Fonseca
Nota imp: Embora não editando o Blog, que proporcionava na época natalicia umas boas centenas de euros á Conferência Vicentina,para s pobres,esta não ficou sem os mesmos.Recebeu de um quinhão da «Costa-Nova»,720€(setecentos e vinte Euros)
Missão cumprida.

terça-feira, dezembro 29, 2009


YES MAN’s bonecreiros

Cartroga ,dizia ontem – e quase que bem - que os partidos da Oposição não tinham a noção da situação do País.Eu acrescentaria : eles não têm a mínima noção da situação que abalou(e abala o mundo).

Lêem os números como se Portugal estivesse isolado do Mundo, e como se a nossa economia possa funcionar independentemente das outras economias ,agora que estamos num bloco que reage do mesmo modo- com as mesmas virtudes mas e também com os mesmos erros - a todos os problemas.
E contudo seria extremamente fácil a esses putativos políticos não exibirem, tanta e tamanha, ignorância. Poderiam, por exemplo, ler a Comunicação Social desses outros países (hoje ainda mais fácil pelo uso da Internet),e reparar que os problemas, aqui, são exactamente os mesmo que lá fora. A culpa não é deste ou daquele Governo,mas do sistema.
Ficamos pois a saber:
…..ou não o fazem porque das novas tecnologias só sabem o que lhes permite ligar a torradeira.
----ou não sabem traduzir ,o que ultrapassariam recorrendo aos serviços de tradução dos Partidos.
-----Ou( e mais certo) são intelectualmente desonestos, mais do que materialmente (esta faceta conhecemo-la bem ) como se apregoa.
Desta falta de conhecimentos (ou tino) poderá resultar para o País uma trágica e irreversível situação. Este parece, assim, estar exposto à mais poderosa onda de irresponsabilidade, que pode virar «tsunami» destruidor das frágeis estruturas sociais que ainda teimam em lutar contra a maré do vale-tudo, partidária.
Quando se vê um pseudo condottieri politico (Pacheco Pereira),ideólogo-mor do maior partido da oposição ,elogiar os grupelhos radicais que advogam ser chegado o momento da luta pela acção (nem que seja à bomba),desiludidos com os traidores revisionistas troktistas ( do B.E),acusados de começar a darem sinais de engorda no refucilar no mundo capitalista onde vão enchendo os bolsos – e matando a alma revolucionária -, então estamos feitos.
(em boa verdade vos digo :dois troktistas formam um partido, três uma internacional socialista e quatro... bem quatro… formam dois verdadeiros partidos revolucionários)

Direitas e esquerda radicais, unidas - O POVO será vencido…
parece ser o novo slogan de uma classe, pobre de espírito e de sabedoria, alapada nas cadeiras do poder ,de onde não quer sair ,seja qual for preço que o País venha a pagar por mais ineptas que sejam as decisões dos yes-man’s bonecreiros, manuseados por uns baronetes partidários de pacotilha.
Sim!...com estes, nós nunca poderemos
Aladino

domingo, dezembro 27, 2009

Morrer velho,novo

Neste tempo natalício, o que me impressiona, é que dá a sensação que perdemos a memória de tudo que de mal nos aconteceu e nos propomos festejar tudo, como se só coisas boas nos tivessem sucedido.
Razão tinha aquela funcionária quando me abordou a perguntar: O Sr. engenheiro também gostaria de morrer velho?
-Sim respondeu mas velho, novo.
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Desbaratar ilusões
À noite, ontem, quando fui com filho e neto ao jantar na Residencial, ao chegar o Miguel disse-me:
-Avô vais jantar na Residencial dos velhinhos? E de imediato acrescenta: - da tua idade, melhor dizendo...
Eh! Mais coisa menos coisa as idades andam perto. Muitos que lá estão, conheci eu pessoas ainda jovens, cheias de vida, esbeltas e até bonitas.
A olhar todos aqueles dramas concluo: ali desbarato as minhas ilusões, se é que as tenho.
É tudo tão a correr …
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Se naquele momento encontrasse «Deus» á esquina era altura de termos uma conversinha ao rasgadinho.

Conto: Há cerca de dois messes apareceu-me um caso que me perturbou. Uma velhinha de 93 anos, já com grandes dificuldades de locomoção, cuidava, ela sozinha, de uma filha de deficiente, acamada desde que nasceu. Um caso que urgia resolver.
Legalmente, porém, só poderiam ser acolhidas: uma na Residencial de Idosos e a outra, a deficiente, no Lar Residencial para esse fim. Não me dei por vencido, e nem baixei os braços. Bati -me por encontrar uma solução que coloquei à apreciação superior da Tutela, que desde logo tinha negado a hipótese. Assim fiz nova proposta. As duas, mãe e filha, partilhariam um quarto que é o último do Lar Residencial e o primeiro do Lar de idosos. A «menina» seria tratada pelo pessoal do L R e a velhinha seria tratada pelos pessoal do L dos I.
Depois de muita luta lá veio a autorização. Fez-se a mudança. A felicidade parecia reinar naquela velhinha que assim se via aliviada de tarefas que aguentou toda uma vida, mas que agora não tinha condições para continuar. E por outro lado saberia que quando desaparecesse a filha estaria amparada para o resto dos seus dias.
Repentinamente ao fim de três dias sobreveio uma pneumonia à «menina». Internada de urgência no H de A, não suportou a doença, e faleceu na semana passada. Recebi a notícia como se me dessem um sopapo.
Mas que «Deus?!» poderia ser assim tão cruel? Não teria bastado a cruz que deu àquela velhinha a vida inteira? Agora finalmente aliviada negou-lhe um mínimo de tempo feliz.
Por isso a minha reacção quando estupefacto me deram a noticia.
Se eu encontrar esse tal «Deus» ali à esquina vou ajustar umas contas com ele…
E é que ia mesmo. O que vale é que anda arredio de mim: ou eu dele.

SF

sábado, dezembro 26, 2009

Fim de ano tempo de balanço.


Foram muitos, os momentos de preocupação com a enormidade de afazeres que a actividade do CASCI despejou sobre mim.
Valeu-me, como sempre, um hábito que faz parte integrante da minha maneira de enfrentar os desafios -e este foi,sem duvida, um dos maiores: primeiro há que perceber exacta e exaustivamente,e em todas as vertentes o problema.Horas ,dias,noites em que a «coisa» nos não sai da cabeça. E, depois de recolher toda a informação, depois de observar a questão por todos os ângulos, interiorizado o que havia a fazer,determinado a ir em frente foi tempo de definir timmings, ensinar as pessoas a compartilhar responsabilidades, atacar as Tutelas no sentido de resolver os gravíssimos casos pendentes, reestruturar toda a Instituição. Fixando novos objectivos e explicando-os em pormenor para que todos partilhem na solução. Depois, acompanhar de perto cada passo dado para,se necessário corrigir algo que na prática se verifique não ser o melhor caminho.
Com uma precisão cronométrica cumprimos na totalidade, e dentro do previsto, o que nos propúnhamos fazer. E agora será a próxima AG a resolver em definitivo a última questão ainda em aberto: a aprovação da nova estrutura Directiva.
Foi preciso trabalhar muito. O CASCI é de um grandeza desconcertante e angustiante. Mais do que isso:- de uma complexidade verdadeiramente aterradora.
Mas tudo naquela Instituição nos desafia. E se por vezes dói não ter soluções para todas as chagas do mundo, sinto que chegado aqui, posso dizer: -enriqueci-me no CASCI.
Há no Casci verdadeiros exemplos de solidariedade, espantosos, que nos reforçam e desafiam para correspondermos, nós próprios, com a dádiva da nossa quota-parte.
O risco que corri era enorme.Eu sabia-o perfeitamente. E ainda é até entregar tudo noutras mãos.
A responsabilidade da mudança inibiria um outro qualquer. A minha condição de irmão da Fundadora trazia uma responsabilização acrescida. Sabia-o. E estava plenamente consciente disso. E por isso mesmo é que só aceitei o risco quando, falhadas todas as opções e perante a gravidade da situação que punha em perigo a Instituição,me senti sem possibilidade de dizer não,como várias vezes ,anteriormente ,o disse.Desta idade não tinha nenhuma necessidade de correr o risco.Mas não havia desculpa perante a situação.E que raio eu ainda não estava de todo acabado.Tinha ainda a confiança que sempre tive em mim,e me levou a outras lutas.
Eu nunca desculparia a mim mesmo se a Instituição entrasse em colapso.
Farei tudo – e esse tudo é não olhar a esforços- para entregar uma Instituição sólida, estruturada, capaz de vencer os novos desafios.Que são muitos.

SF

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Natal 2009

O PRESÉPIO DA VIDA

Ah! noite finalmente chegada
Nesta vida perdidiça, de sabor a fel.
Amargurada.
Presépio de figuras esquecidas,
Perdidas
Na imensidão de um céu sem a estrela,
Com magos de mãos vazias
Sem pão para ofertar
Ao menino (s)
Para a fome lhe(s) matar.
Ah! noite fria, noite de cão
Onde não há reis, nem roque,
Nem sequer um poeta a cantar
As razões da inconformada visão.
Noite de luz despida, de fria solidão
E cruel desamor
Onde tantos têm tudo
E muitos outros ,
Nem sequer uma migalha de pão.
Ou a esperança de um dia promissor.
Nem sequer o direito de «amanhã», dizerem
Não!

SF(Natal 23.12.2009)

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Ciúmes da Ria

Surpreendes-me sempre que te visito.
Nunca pareces cansada de andar de um lado para o outro.
Serena
Calma na tua frieza de hoje
Eras a mais bonita neste entardecer
Onde só a ausência do sol dava pena.
E eu parado
Cansado de tanto correr
Em mim ausente o prazer de viver
Olho para ti extasiado.
Que pena!..
Não encontrando semente para semear,
D.Quixote atiro-me aos moinhos
Ergo o braço e ferro o punho
Num desbaratar,até, de ilusões.
Apenas e só a desbaratar
Pois já nada, nem eu me ergo do chão.
Quem me quer nesta idade sonolenta?
Quem me leva a recriar desejos despidos(?)
A fazer-me lembrar pecados já esquecidos.
Parado enciúmo-me de ti
Desse amor que vens fazer à praia
A horas repetidas, não te cansando de amar,
Envolvida com o areal ainda estremunhado
A deixá-lo beber do teu ventre salgado.

SF (dez 2009)

domingo, dezembro 20, 2009

domingo, dezembro 13, 2009

Morre comigo de mansinho

Já se somem as pegadas que ficaram para trás
Semeadas nas tortuosas veredas que percorri,
Na convicção de que era caminhada obrigatória.
E o que dela retenho na memória?
A sensação de uma fogueira apagada.
Dias de sol de mudez descarnada
Faróis de lonjuras que se fundiram
Perdidos todos os orientes e ocidentes
Da nossa imaginação desalinhada.
De tudo isso ficou apenas a certeza
De uma paz interior reforçada,
No endemoniado caminho
Do relógio que não pára a olhar para trás,
Para a vida que agora teima em ser lenta
Quando a morte acena, já, cheia de pressa.
Hoje apetece-me a paz total,
Tão cansado estou de a percorrer,
Que me deixo soçobrar no areal
A ver a ria morrer comigo, de mansinho.

SF 13 Dez 2009

quinta-feira, dezembro 10, 2009


É o mesmo :na Democracia ou na Autocracia, quem se lixa é o mexilhão.

Deve cansar a todos este estado comatoso em que o processo democrático mergulhou.
Á mais violenta crise económica (da nossa vida) junta-se agora uma crise da mais abjecta intencionalidade. A de através da insinuação, que não da prova, se pretender visar, para fins políticos a destruição do adversário, assassinando-lhe o carácter. Ora o assassínio de carácter dói mais que o fuzilamento pelo pelotão de execução.
Uma estranha e obsessiva paranóia torna aliados de momento, os interesses partidários e o sensacionalismo de uma comunicação social persecutória, onde uma cáfila de ineptos corruptos vende corpo e alma a interesses privados que, sem outras alternativas, tentam a chantagem da notícia irresponsável em troca de migalhas que alimente a podridão do demérito.
A uns e a outros, uma ausência total de responsabilização impede de ver que o País está á beira da ingovernabilidade, cujos custos recairão sobre os que suportaram o pior da crise. E que ainda não refeitos de uma já se vêm alvoroçados por outra.
Parece que já ninguém manda neste País. Sem Presidente da Republica, refém no Palácio em tortuosas maquinações à espera que as coisas caiam por si, de podres. Sem justiça em que já ninguém acredita -nem os seus executores! -,sucedem-se os atropelos para ver quem fala mais alto. Se os Magistrados se o seu Sindicato. E o mais alto Magistrado da Nação aos quesitos diz: - nada! (A propósito continuo a não perceber a lógica, num sistema democrático, da existência de Sindicatos de Juízes, como não percebo a lógica dos Sindicatos das Forças Armadas, ou os da Policia.)
Percebo mal como é que o Governo se já não fartou das palhaçadas na AR e até colabora nelas. As oposições querem governar? Que façam um Governo desgovernado. A Manela não quer ir sozinha para o fundo? Que se faça acompanhar pelo genial Louçã, o poluto dos impolutos.
Estamos de novo no País ridicularizado por Eça. O País há trinta e tal anos apresenta sempre o mesmo grupo de onde saltam os títeres que mais ou menos alternadamente, hoje têm o poder, perdem-no amanhã para o reconquistar passados uns tempos. O poder não sai,assim , de um certo circulo vicioso ,como se fosse uma panela de iguarias desfrutada por um grupo de crianças esfomeadas.
Quando um grupo de meia dúzia de um daqueles está no poder, esse(s) são, no dizer de todos : incompetentes, esbanjadores, ruinosos,corruptos. E muitas mais :- brindam-nos com nomes, injúrias e epítetos ,dirigidos ao seu carácter, quando não ás pobres das mães. Os que por então não estão no poder, «são os únicos» salvadores da pobre pátria desvalida com tanta falta de sentido pátrio, os verdadeiros zeladores do povo, os salvadores e guardiões da causa publica.
E o que sucede ?: os que estão no poder fazem tudo para continuar a esbanjar e a arruinar o País. E os que lá não estão? - esses fazem tudo : conspiram, intrigam, tramoiam, cansam-se para deixarem de ser os salvadores e se tornarem, eles-cruel destino-, os carrascos da pátria.Lutam por esse triste destino.Esfarrapam-se .
E cai o governo.
Os que lá não estavam são os novos vendilhões do templo; e os que lá estavam passam a ser os ferozes defensores dos pobres, daqueles que outrora castigaram impiedosamente.
É isto a democracia que nos prometeram?
Ou isto é uma «autocracia sistémica» do quanto pior melhor, e os fracos que se lixem….
Porque lhes continuam a acenar que é preciso sofrer para «gozar» das virtudes das ditas democracia. Só que as virtudes da dita não chegam para alimentar a sofreguidão dos «pedintes» partidários.
Já Salazar justificava o sofrimento em nome da salvação da Pátria.
Quem se lixa é sempre o mexilhão….
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Sempre descrente

Esta história do aquecimento global pelas emissões de CO2 mete-me muito engulhos.
O terrível esfriamento verificado no séc. XIII, que fez cobrir de gelo os territórios nas latitudes altas do Norte, até ali amenos e perfeitamente habitáveis (Groenlândia ,Islândia etc)- e em que uma das suas consequências(entre muitos) foi o aparecimento de sardinha no nosso litoral- é, hoje, provado ter sido devido a variações gravitacionais que alteraram a inclinação do eixo terrestre.
O escândalo agora conhecido de «escutas» aos computadores de muitos cientistas que organizaram a tramóia para fazer «comer» o prato de lentilhas aos poderosos do mundo ,por motivos ainda pouco transparentes e conhecidos, é a notícia mais sensacional do dia. A comunidade cientifica está claramente dividida. Porque podem estar a ser pedidos sacrifícios enormes, em nome de nada,ou de outra coisa bem diferente.
Esta questão pode parecer, mas não ser, exactamente, como no-la querem vender.
Eu vou esperar para crer.
Mas mais vale prevenir enquanto se não esclarece totalmente a questão.

Aladino

segunda-feira, novembro 30, 2009

Pintem o mundo de pomada preta..


Quando era puto ,passava longas horas na Farmácia. Claro que nunca quis ser Farmacêutico. Aquilo era negócio para senhoras.
Mas apreciava a feitura de manipulados. E até apreciava os «bruxos» da região que confiavam na «Ti» Eduardinha, que, a rigor, sabia confeccionar as suas(dele…) mistelas. O «Bruxo» da Pedricosa era sem dúvida o mais afamado. A receita já a minha mãe a sabia de cor.
-Vão à «D Eduardinha» – ditava - e peçam o garrafão miraculoso. Fui lá levar pipas de garrafões da mezinha miraculosa. Tenho a impressão que um qualquer dia devo ter tomado um gole da poção mágica.
O «bruxo» tinha razão em receitá-la ao mulherio…
E assim era. Um garrafão de uma mistela que se nada fazia (mas fazia(!) ,digo-o eu,e perdura a sua benfeitoria) tinha com ele «o milagre» . Que diferença existia nessa, noutra,ou em qualquer água milagrosa? São todas iguais. O crédito ao sobrenatural é sempre a questão :parece que temos tudo e de repente descobrimos que não temos nada. À espera que um outro qualquer –deus - menor ou maior, venha interferir.
Porque fui buscar isto, hoje?
Porque na Farmácia faziam-se, diariamente, quilos de« pomada preta».Que faziam explodir todos os abcessos, exteriores e interiores. Pomada milagrosa.
Hoje o mundo precisaria de mezinha especial como aquela, tão putrefacto ,e com tantos abcessos prontos a rebentar. Que jeito daria. Brochávamo-lo com a dita e o pus infecto saltava todo cá para fora.
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Nem por sombras queria outra Pátria. Mais : nem outra Terra eu queria.
Mas que ando envergonhado com uma e com outra,lá isso confesso, que ando. Pensei aqui há um tempo que ia ter paz. Tinha-a «comprado». A questão é que eu não quero paz. Nem a sei dar. Nem a mim nem aos outros.
Vivo claramente desassossegado. E transmito esse desassossego. Os únicos que parecem queixar-se são os que, aqui dentro das paredes, me vão suportando. E tanto se habituaram que, se eu peço uma, duas(!) horas para mim, para em silêncio me aquietar (comigo), logo reclamam inspecção médica.
Nem me deixam morrer inédito: -em paz.
Mas não são só os de cá,os de dentro. Espécie de pára raios, nem me deixam acreditar no que decifro: o sol aquece e arrefece os instáveis sentimentos alheios.E os meus estavam gelados postos em sossego.E vai...
E aparecem a falar-me de que um beijo, cura tudo. Oh!...isto de morto sem ter morrido ,custa, raio!
Nunca acreditei em« bruxas» .Mas lá que as hay…hay..
Aladino

quarta-feira, novembro 25, 2009

Ser Solidária

Ser Solidária é desejar ir correndo ao rumo.
Ir sem medo de regressar
Mesmo que a caminhada seja inútil.

É ousar e logo transformar o sonho
Na fartura dos abraços.

É bater à porta e ouvir dizer :-Não!
É ter frio e não ter agasalho;
Para os outros,
Para si, Não!

É suportar a hostilidade dos que
Nem sequer sabem abrir a mão,
Pois só sabem dizer : -Não!

É sentir-se escorraçada, vexada, intolerada
Pelos que têm poder para dizer sim,
Mas só sabem dizer : Não!

É voltar sempre de novo
A gritar…
A ousar .. .
A levantar os olhos do chão
Para dizer :
Vencida eu(?!).... Não!

SF (25.11. 2009)


A «ZECA» ousou sempre ser Solidária.

sábado, novembro 21, 2009


Lá lírico ,sou…

Fazer ,ou alinhar um texto sobre um familiar próximo, é exercício a que fujo porque é aterrador.
O visado fica sempre a perder. Porque tenho pudor de falar dele , em toda a sua dimensão .
E contudo – outros pensarão exactamente como eu ,se bem que não todos –tenho ,guardo e revejo, amiúde, a « glória» mas também o peso ,de os carregar no meu nome.
Hoje obrigaram-me a falar da «Zeca»
Houve alguém que escorregou e até me disse, Ela tinha o defeito dos «Fonsecas».
Não me contive e tive de lhe dizer, o
defeito de serem sempre iguais,do principio ao fim, e não andarem mais tarde a explicar porque dobraram ,amiúde no antigamente, a espinha, na bajulação aos poderosos.
Tenho a certeza que a «Zeca» cá em baixo - porque haveria ela de estar noutro lado(?) se aqui é que conta... - dirá.
-Continuas um lírico a perder tempo com outros líricos.
Bem!.Lá escrevi umas palavras tôscas. Os sentimentos,no caso, obrigar-me-iam a escrever milhões de palavras,numa Elegia à Vida,inultrapassável . Mas as palavras que escrevi, parcas, simples e medidas, reforçam o meu sentimento. E isso me basta .Guardo-o por inteiro.

Raro o dia em que não dirijo palavras aos meus. Exprimindo os sentimentos. É tudo o que posso fazer, quando ainda ando metido na barafunda que me souberam apontar, com o fim de me justificar....
Na barafunda da vida..
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DOAÇÂO

Julgo que foi uma semana onde se insitiu na necessidade de concorrermos com a doação dos nossos órgãos ,para salvar vidas quando deles já não precisarmos.
Há muito que defendo essa ideia, que é do conhecimento de quem tiver de decidir.
Mas….
Ontem, contudo, em conversa de grupo, um amigo mais hesitante, perguntava-me:
-Mas não pões qualquer limite à doação?
-Ponho, carago!, atalhei eu de imediato. (A rir ,claro). Doo todos menos um. Porque indo para o inferno ,pode ser que com tantas boas companhias, esse ainda me faça falta.
Veio uma resposta à altura:
-Eh pá se já não te faz falta aqui, para que o querias lá…(?!)
Ele há cada amigo falho de comiseração,carago!.
Aladino

domingo, novembro 15, 2009

Paraíso ? Qual?


Deus falou no Paraíso ,e os Homens pensaram que sim ,que se poderiam habilitar a ganhá-lo. Crédulos impenitentes.
Ir de vez em quando ao céu já me sucedeu. Mas ver lá pelas suas beiras, o tal Paraíso onde «corre o leite e mel»,isso não vi.
E também adianto desde já que me não cativava. Leite nunca bebi e nem sei a que sabe. De coisas doces(de qualquer tipo, mesmo humanas) não gosto; não uso açúcar em nada. Nem nas palavras e muito menos nos gestos.
Depois de Cristo, Marx. Já aqui o disse.
Este ultimo ideólogo também precisou de inventar um Paraíso para convencer «os seus crentes». Haveria um «Paraíso» no objectivo final de construir um mundo comunista: a satisfação de cada um segundo as suas necessidades. Materiais , intelectuais, artísticas e espirituais. Um Éden na Terra.
Viu-se o que foi.
Não sei se o meu leitor (se o houver) sabe o que quer dizer « Paraíso».
Ora paraíso vem da palavra persa antigo, paradaisa,que em hebraico de dizia pardez, significando um belo jardim entre muros.
O primeiro era recompensa de Deus aos bons. Ora os bons só o eram, se Deus o quisesse. O árbitro era no caso parcial.
O segundo era uma conquista do homem .
Era pois preciso acreditar no Homem, em si, para si, e igualmente para os outros.
E Este mostrou que prefere o «inferno» a ser igual. E foi o «inferno»ou quase, o que fez.
E para isso nem descansou ao sétimo dia. Todos os dias eram (e são!) dias para fazer da vida o dito.
Aladino

terça-feira, novembro 10, 2009

Uma leitora enviou-me uma ideia sobre «Andorinha a olhar a Primavera».

Porque gostei,e até achei muito mais doce e menos provocador-por isso muito mais poético- pedi autorização para o publicar.

Aqui vai
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Uma nova leitura

VEM COMIGO PRINCESA
TROUXE ESTE LINHO BORDADO
ONDE FESTEJAR TEU CORPO

MORANGO DOS TEUS LÁBIOS
ROSADO DO TEU PEITO
SALGADO MAR
MINHA SEDE DE TI

TEU CORPO FUNDO
TEU CORPO MUNDO

ENROLO O FIO DOS TEUS CABELOS
COMO O SOL A PENETRAR A SOMBRA
PARA TRAZER A MADRUGADA

E QUEM NOS OLHA CEGOS DESLUMBRADOS
DIGO

SOU UMA ANDORINHA
ACOITADA NO NINHO A OLHAR A PRIMAVERA.


MR.

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Agradeço.Os meus leitores também agradecerão,certamente.

Aladino

NOS VINTE ANOS DA QUEDA DO MURO DE BERLIM

Hoje, quando se comemoram os vinte anos da queda do muro de Berlim, data das mais memoráveis -porque na altura inacreditável que acontecesse -, marco civilizacional que teve como consequência o desmembramento de um mundo comunista - que se dizia ser sem na verdade o ser,na práxis nem nas intenções - não pude deixar de me lembrar do episódio que há quarenta anos vivi, ao atravessá-lo.



Talvez valha a pena contar.
Tinha então trinta anos. Foi-me dada a oportunidade de, durante três semanas, viajar nos países do leste, com estadia prolongada na Polónia. Já neste Blog contei passagens desta atribulada – e inacreditável - viagem.
Ia desejoso de confirmar aquilo que na altura me merecia crédito e esperança. Tinha estudado desde os meus tempos da Universidade tudo sobre a teoria comunista. A minha bíblia, era então, o CAPITAL. À sua custa brilhei no derradeiro exame, na cadeira de Economia, arrancando um deslumbrante dezoito.
O que vi, aquilo que ali vivi (e muito foi), o espírito aventureiro de me meter em coisas que não lembrariam ao diabo, depressa me levou a perceber que aquilo era, pura e simplesmente, uma mistificação execrável de um falso regime para os trabalhadores. Uma falsidade que deveria ser denunciada. O que logo me propus fazer. Certo é que me senti profundamente magoado,descrente e desiludido, por ter sido tão ingénua e convincentemente enganado.


O que vi – vi com os meus olhos e apreciei com os meus sentidos-, não me matou a ideologia. Mas revelou-me até onde um bom conceito pode ser manejado, distorcido e depois levado á prática totalmente em contrário do que diz querer fazer.
Adiante: …
No final da viagem, no regresso, depois de mil e uma peripécias onde não faltou uma ida ao «chilindró» - já aqui a contei - eis que no aeroporto de Varsóvia me preparava para embarcar, já farto daquilo tudo, para Berlim (claro Ocidental). Teria um dia para visitar a cidade que me despertava imenso desejo de conhecer.
No aeroporto, à hora anunciada, ouço em alemão, língua que sempre me recusei a aprender (ainda que tenha andado três dias em explicações ao fim dos quais, rapidamente, concluí que era bem mais agradável dá-las (?!) eu à jovem explicadora alemã), vi um aviso - Berlin.Embarquei sem qualquer tipo de oposição.Ainda hoje estou para saber como. Depois percebi, claramente,a razão.
O avião vinha praticamente vazio. Interessante, era que estava a viajar num TUPOLEV o que me sucedia pela primeira vez (eu que os elogiava tanto, como indicador da «superioridade do sistema!). Estranhei o aspecto esquisito da pouca limpeza, do ar cansado dos assentos, da falta de bagageiras fechadas, da oferta de uma bebida (já não digo um menu, o que era habitual naquele tempo) etc.Vinha tão entretido a esquadrinhar o avião e a sentir o seu suave voar, que nem dei muita atenção àquelas questões.
Quando o avião aterrou, olhei com curiosidade pela janela.Achei, surpreendido, que o «aeroporto de Berlim (?)» era estranhamente pouco mais do que um edifício de linhas direitas, cor amarelada, desbotada, sem nenhum pormenor arquitectural espectacular.Enfim pouco mais do que uma cantina.


O pior foi quando saí. Olharam, reviraram o passaporte, e depois de um palavreado ininteligível mandaram-me para uma sala. Esperei horas até que me apareceram dois polícias de aspecto feroz,encharcados em vodka, que procuraram saber como teria eu,ali, aparecido. Claro que nem eles nem eu percebemos. Eu ao que queriam; eles como ali estava,porque nem sabia onde estava. Aonde perguntava-me eu? Deu contudo para entender algo estranho quando me pediram os dóllars (ainda não havia cartões de crédito) e o passaporte onde ,era verdade- tinha-o aprendido na Polónia-, estava registada a quantidade de moeda com que entrei na Polónia, e anotados todos os gastos nas lojas não estatais(cantinas ).Por aviso do Cônsul fiquei a saber do sarilho em que me meti (e os outros) quando numa loja de casacos, comprei e paguei em dollars, cabedais para toda a família e um casaco especial de peles, soberbo, para a minha mulher .Quando na loja anunciei que queria pagar em dollars, mandaram-me calar de imediato, agarraram em mim e levaram-me para um cubículo. Espantado consegui com os dóllars, preços de 50% dos marcados em Zlots. Uma pechincha.Fui chamar os colegas de viagem e a loja ia ficando vazia. Valeu-nos, á noite, o referido Cônsul alertar para o grave erro e consequências. E para o resolver passou-nos «uma carta» de divida, de empréstimo nosso ao Consulado. Receberíamos (lá se dizia) que o valor emprestado o receberíamos em Portugal.
Voltemos a Berlim.Agora estava a fazer ,sózinho,a viagem de regresso.
Nova espera. Outro par de horas. Pelo meio, recordo-me, mandaram-me umas almôndegas intragáveis. Eu começava a compreender que algo de errado se estava a passar. Mas não me tinha apercebido, exactamente de :-o quê(?).
Só me faltava mais esta, ia dizendo de mim para mim. Às tantas entra uma mulher Policia, uma cara patibular montada num corpo de vassoura que, falando num inglês correcto, me clarifica, só então, a questão. Você (YOU) está em Berlim Oriental,Queremos saber como foi possível chegar aqui, Se o seu bilhete era para Berlim ocidental,perguntava.Eu?! Eu não fiz nada, Apanhei o avião que dizia Berlim, e nada,nem ninguém, me disseram estar eu errado, ou o evitaram…
Tá bem... Eles é que não acreditavam. Vieram as malas. Abriram tudo, conferiram dinheiro, interrogaram-me sobre o empréstimo feito ao Consulado etc. …etc. Saíam, deixavam-me sozinho; depois vinham outros (agora já a falar inglês, valeu-me isso),E as horas, a noite, a passar.
E eu fulo. A praguejar com aquela corja, estuporado com o sistema ao sentir que as minhas ilusões tinham ficado por terra (Berlim era a cereja no bolo…) naquelas ultimas semanas.
Deram-me um quarto(uma enxovia ,tipo prisão sem grades, para dormir(?). Ainda sugeri que me deixassem ir à cidade, comer ou beber qualquer coisa. Nem pensar! No aeroporto nada havia para comer além dum gulash aquoso.
De manhã batem á porta.Fui ver.Prepare-se que vai sair,disseram-me.Antes terá de pagar em dollars a viagem Varsórvia -Berlim.Mas eu tinha-a no bilhete ,recalcitrei,mas eles tinha o poder de me manter ali,disseram-meo melhor era pagar e não bufar.
Um minuto depois puxava das notas,nem recibo nem meio recibo ,Alguém as meteu ao bolso,A essa caça ao dollar já me tinha habituado.Acabou-se, Acompanhado, meteram –me num táxi (um carro infecto, uma charanga).E nele vejo-me a atravessar o tão falado muro de Berlim, depois de uma breve paragem de controlo.Tempo de o mirar, danado de não o apreciar em pormenor.Ali estava o muro que Krutvchov dizia ter sido feito para evitar que os alemães ocidentais fugissem para o paraíso do Leste. Para o que ele tinha sido feito,percebia eu ,jáentão ,perfeitamente para quê.

Vejo-me a percorrer as avenidas. Mal tive tempo de olhar. Fiquei sem ter ideia precisa da cidade. Nunca mais lá voltei. Parecia -me estar a viver um filme de James Bond e estava doido que a cena chegasse ao fim.
Passada uma meia hora deixam-me à porta do Aeroporto de Berlim, especado no passeio,malas na mão. Arrancaram com uma leve saudação. Nome dos tipos (?): nem deu para saber.
Ento olho no Aeroporto de Berlim (W), miro o edifício e noto: bem este agora, pelo menos, é outra coisa.Movimento intenso de aviõe militares,era algo de inusual num aeroporto civil.
Tempo de entrar, beber uma caneca e forrar o estômago com um scwheinaxel, Comprar um «toblarone» para o jonh, E eram horas de tomar o avião para Frnkfurt e daqui para Lisboa.
Quando cheguei e me pus a contar,em casa, as desventuras daquele mundo, ninguém queria acreditar. E correram-me com «foi o que sempre pensámos: -és um reaccionário».
Depois foram anos e anos a ouvir alguns dos que assim me apelidaram, a sucessivamente evocarem: estávamos enganados. Eu sorria-me com a cupidez daqueles iluminados,alguns que por lá tinham vivido á custa do Partido.Que deshonestidade intelectual! Alguns por aí andam sentados noutras cadeiras, jurando que agora, dizendo o contrário do que naquele tempo diziam,acreditam piamente no novo dictat.
E quando mudavam de sítio(partido) o que eu achava e acho engraçado (?), era que passavam por cima de mim e iam «empanturrar-se» lá para as direitas capitalistas.
A doutrina comunista era (e é) teoricamente boa; a sua aplicação foi criminosamente trágica. Soube-o felizmente muito cedo .Muito antes do 25 de Abril .Por isso não fiz algumas figuras tristes.
E por isso é que soube (e sei!) muito bem, e sempre, o que queria e por onde ia.

Aladino

domingo, novembro 08, 2009

Andorinha a olhar a primavera


Vem comigo, princesa;
Trouxe-te este alinhado bordado
Para enfeitares o leito
Onde quero festejar o teu corpo


Sorver o morango dos teus lábios
Carnudos,
Beijar os figos melaços
Que te rosam o peito;
Sorver o salgado do mar
No declive do teu ventre
Onde guardas a fonte
Que sacia a minha sede
(De ti.


Esmordaçar o teu corpo
Fundo
Dardejando -o e endoidando-o
No latejar dos sentidos loucos
Deste mundo.
Trocaremos beijos entre gemidos
Enquanto de olhos fechados
Sentirás a maré a subir;
Que vinda do mar nos trás a maresia
Para perfumar a nossa cama
De uma doce poesia.
Afogando-nos na espuma que se desmancha
Contra os novelos que tecem
O teu e o meu corpo.



Fujo para o interior dos lábios
Encostando a língua ao céu da tua boca;
Entrelaço-a nos ais falados
Molhados,
Na saliva quente das margens do sonho
Enquanto enrolo os fios do teu cabelo
Desalinhados,
Para com eles fazer uma trança ao luar;
Encaixados na noite,
Somos como sol a penetrar a sombra
Para trazer a madrugada.

Sinto o anel das tuas coxas
Enlaçando,
Enforcando , o meu corpo
Numa avidez louca de desejo.
Parecemos na noite barcos negros
A marear a vaga alterosa
Em vai-vem frenético ,contínuo.
Perdidos não param de se procurar
Ligados pela fantasia da intimidade
Dos teus e meus, abraços.


E só por fim quando a acalmia vem
Com ternura me colo aos teus recantos
A minha boca inerte, entreaberta, saciada
Pousa nos teus ombros suados,
Cansados.
E enquanto a minha mão enforma o teu seio
Túmido e pontiagudo,
Abandonado,
Os meus pés tocam os teus
Que estremecem de novo,
Inquietados.
De mansinho lavram os meus,
Deitando a semente à terra
Que não tarda a germinar
E logo a florir no jardim
Encantado
Do teu regaço lindo.
Como que dizendo
A quem nos olha,cegos,deslumbrados,
Que é tempo de voltar a’mar
Chegou ao fim
O Intervalo.

Sou uma andorinha acoitada no ninho
A olhar a Primavera.

SF –Nov 2009

domingo, novembro 01, 2009

Assim é a vida
Vivo: atascado em cardos. Depois de morto, de rosas …coberto.

Dia choroso de uma chuva miudinha que nos entra mais por dentro, macerando-nos a alma, do que aquilo que o seu borrifo nos molha por fora.
Visita aos insubstituíveis.
Que lá que os há…há.
Momentos de reencontro. Para mim de justificação. Não do que fiz ,ou vou fazendo ,mas de exorcizão do que vou deixando para trás sem solução. Teimo ainda quando quase todos à minha volta já desistiram, em alargar ,ainda um pouco , por uma fresta que seja, os horizontes da vida. E é lá que pergunto : ainda não estais satisfeitos?
Talvez fosse fácil ter paz. Mas para que a quereria eu, quando tanto tempo ai vem para a ter em absoluto. Por isso vou teimando, e vou sendo feliz a meu modo, até que os meus valores deixem de ter sentido e eu já não saiba, com decência, ocupar o meu lugar entre os vivos (alguns já bem mortos).
Eu sei que tudo o que consiga ainda fazer me saberá a muito pouco. Engolfa-se a mão na vida convencidos que nela virão coisas boas e, aberta, percebemos que é uma mão cheia de nada.
Dia de finados (ou véspera?). O prado do repouso coberto de tantas flores, de tantos crisântemos, de tantas coroas e de tantas vergônteas esverdeadas, que parece querer dizer-nos que só depois de morto um homem vale uma flor, um gesto de tantos que lhe negámos em vida. Vivo que se aguente com os cardos da vida.
Voltei hoje lá, sempre no intuito de entender melhor quem sou.
Venho de lá sem perceber para que vim.
Mas que me importa isso?
Vou continuar a alhear -me de mim próprio e não deixar (por enquanto) morrer a vontade de à vida não renunciar (ainda). Não para o futuro que esse já não há.Mas um futuro presente vivido no dia a dia preocupado com os outros que têm ,eles,de ter futuro.Porque todos eles ,de uma man eira ou de outra o merecem.
JF.

Ideologias Religiosas - um perigo explosivo

Foquei já aqui, no Blog anterior, a questão latente em várias camada protestantes de uma certa incompreensão, e até de adulteração, dos princípios defendidos pelo seu ideólogo Lutero, que entendia que a Igreja não precisava de nenhum poder terreno, devendo para isso esquecer-se do Papado e apoiar-se exclusivamente na fé em Cristo. Também neste credo logo no principio houve leituras díspares das intenções do seu chefe espiritual.
Logo em vida Lutero confrontou-se com a distorção ao seu pensamento e constatou a necessidade de se opor, primeiro aos nobres alemães que logo tentaram aproveitar-se da reforma para acrescentar poder às suas «casas senhoriais», desvinculando-se do poder de Roma. E foram a factos, formando exército, intentando assaltar o Bispado de Tréveris (1522).
Mais grave, foi, que a arraia-miúda campesina a partir de determinada altura, entendeu ler nas doutrinas de Lutero um incitamento à igualdade e à abolição da propriedade feudal. Para «ela» era chegada a hora de acabar com impostos, taxas, submissão à hierarquia religiosa, pretendendo para tal deixar à comunidade local o poder de eleger directamente o seu pastor.
E se Lutero se demarcou de imediato dos nobres, certo é que, inicialmente, mostrou alguma simpatia com os campesinos. Mas não demorou muito a perceber que Satã teria, como disse, entrado no seu rebanho. E logo se apartou dos revolucionários , combatendo todas as acções provocadas pela entrada do mafarrico que o obrigou a intervir, não apenas com os escritos mas com a acção pessoal dissuasora. Cristo não teve essa oportunidade e isso foi mau.
Sem o apoio de Lutero a revolta estava aniquilada. A ameaça do «anabaptismo» -proveniente de uma leitura da Bíblia ao pé da letra! -, que constituía o reduto radical revolucionário, acabou por se extinguir, não sem lutas sangrentas.
Estes breves apontamentos servem-me apenas para tentar fixar a ideia que sempre que o fenómeno religioso é utilizado na resolução de problemas sociais, transformado em ideologia, os confrontos sucedem-se e terminam por lutas de uma violência inaudita.
Por isso hoje, restando a religião como as únicas ideologias em vigor, quer por nova explosão de radicalismos contidos no Ocidente, ou muito mais provavelmente,pelo fundamentalismo islâmico, corremos sérios riscos de um descalabro mundial terrífico.
Fica aqui a ideia que a Leitura dos Textos, sejam eles quais forem, tenham eles o rótulo que tiverem, são sempre perigosas. Ou a leitura é livre, e se transformada em orientação colectiva, é altamente perigosa. Ou a mesma é filtrada por magistério da hierarquia eclesiástica, e as as realidades apresentadas são segredos de alguns com finalidades nem sempre de acordo com quem os escreveu ou induziu a que fossem escritos.
Estou em pensar que o que Lutero disse ao seu protector Felipe de Hesse quando este casando-se em segunda núpcias sem romper com o primeiro matrimónio, assumiu que o teria feito porque a Bíblia, lida literalmente nada dizia contra tal prática (como os anabaptistas afirmavam e praticavam) Lutero respondeu: de facto não diz nada contra a poligamia, mas guarda segredo (do que lá lês) para não fazeres escândalo.
Bom conselho .Cada um lê e guarda para si a opinião.

Aladino

quinta-feira, outubro 29, 2009




IDEOLOGIA RELIGIOSA

Aos que me enviaram mensagens comentando o Blog Saramaguiano, uns enviando-me artigos de autores que pensam bem diferente de mim, outros comentando anonimamente o escrito (o que poderia neste caso ser bem evitado) e àqueles que replicaram, anuindo nuns pontos discordando em outros, apetece-me, em conclusão – ou talvez não - tentar clarificar o que penso sobre o problema religioso.
Devo começar por dizer que não me preocupo muito como problema existencial, e nele embrulho a minha falta de fé.Não me elogiando por isso, bem ao contrário – pois que não me preocupo com algo (que venha a seguir) que ultrapasse o simples penar desta vida. Ainda, também, «ninguém» me interrogou, se eu queria, ou não, outra «vida». Se mo perguntassem não perderia a oportunidade para impor condições.
O que me preocupa - isso é que é o ponto central da minha inquietude - é que a instrumentalização da fé, talvez mais exacerbada que nunca, possa levar às piores destruições da história da humanidade. Muito piores que todas as anteriores, algumas bem recentes.
Um outro Nobel da literatura, o nigeriano Wole Soyinka, afirmou aqui há tempo, «O fundamentalismo religioso será a bandeira do séc. XXI, como o racismo foi a do séc. XX»
Ora as diferenças de raça, já deu para entender, não trarão mais mal, expectável, à civilização. Quase poderíamos dizer ser assunto está ultrapassado.
Mas a ignorância e a intolerância, desmedidas e incontroláveis, as doutrinas de poder que estão por detrás do fundamentalismo religioso, essas são o desafio do século.
Esta instrumentalização da fé em formas de ideologias de poder remontam á noite dos tempos.
As ideologias fascistas e comunista foram as únicas que se meteram na história dos séculos, intrometendo-se entre as ideologias da fé, provocando, como aquelas, mortandades hediondas.
Hoje os terroristas vão substituir os fundamentalistas inquisitórios da fé católica, e de novo justificando a inspiração na religião querem pretensamente justificar todas as yihad, seja a que preço for. É difícil encontrar nos bastidores da História ideologias tão desencontradamente radicais: o Islão (Salafista) e o liberalismo ocidental (católico e protestante)
O problema é que como contraposição ao fundamentalismo islâmico, possa surgir um outro fundamentalismo católico, e ou protestante, que parece começar a aflorar, na defesa do seu Deus, literalmente ameaçado.
O fundamentalismo protestante, não o esqueçamos, é terrivelmente vingativo. Nos EUA o protestantismo é muito forte e pode virar extremismo. A proliferação de igrejas protestantes parece nunca ter acontecido como sucedeu depois dos acontecimentos do 11 de Setembro.
Ora sem me preocupar ou deter em leituras do passado, mais do que por simples interesse histórico, cultural, o que me preocupa é que a ideologia das religiões nos traga novos e muito mais terríveis holocaustos.
Com o «deus» bíblico, isso está provado, não podemos contar, como glosa Saramago -e eu apoio - porque a acontecer novo holocausto, agora seria uma luta entre vários «deuses», distraídos. E sei lá! se afinal, vingativos.
Aladino

segunda-feira, outubro 26, 2009

*Tenho muita pena : mas declaro-me vivo

Ao ouvir as palavras dos Vereadores do PS, na Câmara de Ílhavo, pareceu-me perceber um sentimento de confissão, grave: a de que andámos a fingir nestes anos todos.
Um dia já é muito no meu relógio para perceber que me enganei; esperar quatro anos para o confessar (e o declarar) parece-me de uma gravidade intelectual tanhada. Porque se escachoado antes da escolha (recente) cheiraria confissão de derrota, feito depois, cheira-me mal.
Independentemente da estima pelos declarantes (não se confunda…), esta confissão agora feita (tardiamente e a más horas) mina a batalha dos que, com menor ou maior dignidade, vão (ou deverão ir) fazer tudo, para, através de boas propostas, provar que o putativo Presidente não é nada aquilo que os vencidos da política resignadamente disseram. Porque sejamos claros: a derrota do PS, aqui na T.L. não foi do Partido, mas das pessoas. E há que frontalmente o assumir.
A vitória (possível) daqui a quatro anos começa com o trabalho, hoje!.Já!…
Há batalhas que se perdem. Mas a guerra não se esgota numa batalha.
Uns vão-se embora. É fácil e cómodo.
Eu fico. E declaro-me VIVO ,lamente-se ou não. O que os outros pensam ,a mim pouco se me dá. Fico por aqui mergulhado no meu canto de liberdade, lavrando umas páginas á solta, nem que seja só para sentir
que não me calo.
Tanto me importa que seja eu sozinho, a ficar por aqui para recordar à história que o que parece … não é.
Estes últimos anos foram tempo perdido, oportunidades desperdiçadas, benesses materiais paridas pela UE, e aqui malbaratadas à tripa forra. Foram anos de confrontação desmedida, achincalhamento do passado, negação do futuro. Como as imagens a andar, paradas, no rio que passa.
Um dia, vencida a guerra, a história o relembrará.
Ribau Esteves não teve opositores. Já lho disse, pessoal e frontalmente: -nem nos seus acólitos que deveriam de vez em quando perguntar-se: - o que andamos por aqui a fazer? E, agora, sabemo-lo confessadamente, nem nos seus putativos «contrários» que, de facto, ao que dizem, andavam lá a fazer de conta, a fazer um frete. Só agora! nos dizem que o mal do País é não ter (muitos) homens como «o seu presidente». (A aventura de RE no país real da politica, afinal não serviu para nada)
Afinal neste lameiro, chega-me tardiamente o sussurro, outrora clandestino, de cumplicidade com a «grandeza» do Politico.
No homem sempre existiu um terrível sentido de conservação. Só que nuns aparece muito cedo.
Noutros nunca se concretiza.Nasce-se, vive-se.. e morre-se, sem beber de outro cântaro.
Aladino

*Citando CHAMALÚ ,Indio Quechua

sábado, outubro 24, 2009



CAIM

Em noite anterior, perdi umas boas duas horas a abordar o «CAIM» de Saramago. Levantei-me de madrugada, com o intento lhe dar mais um toque. Praguejando, percebi que talvez cansado da noitada, não gravei o texto. Coisas que acontecem….Aconteceu. Está encerrada a desdita...

Parece percorrer o País um frémito convulso de indignação inquisitória, onde à falta de fogueira se brame com a expulsão pátria do autor; se este fora, ainda, o tempo de Salazar, estariam já convocados vários desagravos e o «pobre» livro «Caim», apreendido e riscado a azul pelo zelo pidesco. Adiante…Mas –oh sorte saramaguiana!- se tivesse acontecido antes, o autor de «Caim» seria passado pelas brasas. Torquemada por bem menos mandou acender o lume no intuito de acabar com os maus costumes heréticos.
Leitor habitual de Saramago, apreciando os seus livros, mais uns que outros, uns obras primas outros vulgares, saídos da sua já longa e discutida lavra -quase sempre polémica o que é inteligente por parte do autor, que mesmo sendo Nobel não descura a promoção, não vá dar-se o caso de o leitor dele se esquecer - era certo que me atiraria ao «Caim», logo que houvesse intervalo no que estava a ler (Curiosamente dos irmãos Abel e Caim, Grim’s, desse notável Sepúlveda).
Dada a polémica entretanto suscitada, deixei o Sepúlveda em descanso por uns dias, e em duas noites ataquei Saramago.
O «Caim» é livro interessante :- leve de leitura, mesmo naquele jeito estranho do discurso directo em pontuação corrida, que depois de a ela habituados, permite um ritmo muito mais intenso e contínuo de leitura, tornando-se mais solta, com menos hiatos; o livro chega mesmo, em vários momentos, a fazer aflorar o sorriso pelo cutiladas cheias de humor, mimoseadas ao texto sagrado de onde é retirada a história e a personagem.Agora refeitas numa «nova» leitura literal levada a cabo por um não crente.
. Saramago reconhecendo, embora, que a Bíblia sendo mais do que um livro, pois que é uma biblioteca de vários livros, de vários autores, pretende apenas mostrar que lida literalmente, se esvai- passo a passo, facto a facto narrado- a ideia de um deus omnipresente e omnipotente, atento, bom, encerrando em si só virtudes -todas as virtudes! -«alguém !?» tolerante e apaziguador,pouco dado a vinganças deste mundo.
Ora sou eu agora, que em boa verdade Vos digo, que um agnóstico( como é o meu caso) ao ler trechos da Biblia não compreende como se possa tirar do seu conteúdo ,racionalmente, a afirmação(ou prova) da existência de um tal deus (à nossa imagem e semelhança ,ainda por cima). Podem dizer-me que a questão de Deus não é racional. Uma ova!,respondo. Podia essa afirmação ter tido um tempo para ser aceite, à falta de melhor. Com os passos gigantes da ciência, fácil é concluir que a questão se resolverá, um dia ,trazendo a explicação desse grande problema ,o qual é a razão da existência. Atrevo-me a prognosticar, já o abordei aqui várias vezes, que essa explicação se poderá resumir a um simples algoritmo que desencadeou o processo.
Saramago questiona algo tão simples como isto:
Numa infinidade do tempo- alguém consegue absorver facilmente o conceito de infinidade?! -a questão (história) religiosa, católica, resume-se temporalmente a dois mil e tantos, anos: Um ápice. Uma multimilionésima fracção do segundo elevado ao trilião, digamos, na infinidade temporal do universo . Onde esteve esse deus da Bíblia antes, nessa infinidade de tempo anterior? Por onde andou, e o que fez,pergunto? E mesmo neste curto instante que foram os dois mil anos, por onde terá andado tão distraído (e qual terá sido a causa da sua distracção,ou ausência) para se ter esquecido da tragédia humana que semeou, e literalmente abandonou á sua triste sina ?.

A Bíblia está para os católicos como o Corão está para os islamistas.
Já o repeti.O que me impressionou naqueles,foi, que fosse qual fosse a sua formação, ou nível social, os islamistas sempre me mostraram um enorme conhecimento corânico. Embora absurdo aos meus olhos, porque recolhido em escolas (madrassas) diferentes, originavam interpretações diferentes a muitos dos seus pontos.
Uma má recolha de ensinamentos do Corão justifica a onda de terrorismo islâmico que aflige,hoje,o mundo.
A igreja católica já foi, ela também, intolerante. E tem por isso na sua história, um período de trevas manchado de sangue de inocentes, num passado não muito longínquo. Hoje, pouca a pouco, a Igreja católica vem-se identificando com Cristo.
Para mim Cristo e «Deus» são conceitos perfeitamente desligados. Cristo existiu e foi um paradigma de virtudes (eu sei…eu sei…) e ensinamentos para a humanidade. Quando se pretendeu transformá-lo num filho de Deus, criou-se o absurdo. Assim, para mim não foi «deus» que criou Cristo; Cristo é que gerou pelas palavras de «outros» a necessidade de se aproximar de uma figura divina, para melhor O promover.

«Mal acomparado»: Saramago para vender o seu livro criou a polémica; os Apóstolos para «venderem» a imagem de Cristo, e a superiorizar em relação aos circundantes, deram-lhe uma áurea divina.
A Bíblia, tirando a frequência com que é lido nos templos, é algo que normalmente existe nas casas católicos só para fazer de conta e enfeitar móveis na «sala do Senhor». Conheço católicos praticantes, milagrosamente agraciados com o dom da fé, que nunca a lerem. Muitos, Diria quase todos os que conheço. E a verdade é que a maior parte nem sequer tem conhecimentos para nela penetrar, para lá de uma leitura superficial.Quanto mais para lhe descobrir o que lá não está escarrapachado.
Ler o livro de Saramago nada tem a ver com uma leitura bíblica. O livro de Saramago é apenas uma leitura de um não teólogo do que lá está.É uma obra de arte (escrita), de que se gosta ou de que se não se gosta, boa ou má, e que só e apenas deve ser julgada pelo seu valor como arte profana.
Saramago e todos os que produzem arte, são livres de a exprimir, como melhor entendem. José Saramago não pede crédito aos seus leitores, e muito menos lhes dá certeza que a sua leitura seja a correcta. Espera deseja -o ,claro! - que o leiam e no fim digam : gostei (ou detestei) o livro(como expressão artística) e não por interpretação de esta ou aquela passagem.
Estranhamente parece que ainda ninguém se lembrou de que esta incursão não é única (depois do «Evangelho Segundo Cristo»): entre outros fazem-lhe companhia o «Dios no digo esso » ou o «Evangelho Segundo Judas».Incursões recentes de escritores ao texto sagrado, desmistificando-o. Apontando-lhe diversas inverdades,ou contradições.
Porquê despejar o fel sobre o Nobel português? Será por ele ser de facto português?

Aladino

segunda-feira, outubro 19, 2009

Este gosto de ir ALEM- TEJO

Não sei porquê, de vez em quando cresce em mim uma certa nostalgia que me leva a uma nova e repetida fugição ao Alentejo. É certo que aguento lá pouco tempo. Vou lá embeber-me naquela terra de horizonte a horizonte, antevista, onde brotaram esperanças adiadas de uma mudança que nunca existiu - talvez porque a ninguém conviria-,e isolar-me no seu mar de silêncio à espera de, numa visita qualquer, perceber como pode o homem ser, apenas e só, um escravo do chamamento telúrico da terra, sem intervir sobre a natureza geográfica, desmoralizado pela agrestia que o cerca. Ali mais parece que o homem não fez, antes se deixou fazer.
A volta é mais para encher o olho no bucolismo de um qualquer povoado perdido na imensidão da planície, alcandorado nas faldas de uma ou outra mamoa onde parecem repousar uns perdidos chaparros frondosos a tonificar o ambiente, do que para ancorar em qualquer lado predestinado. Nunca parto para ir a…mas sim para deambular por… Deixo-me ir, perdido em emposta, por aí abaixo, até que o diafragma da retina dispara para captar umas esganadas ruelas com o casario tão sobrante de branco, tão alvo, que parece ter sido brochado na véspera para «me receber». Aí fundeio. Para admirar o encaixilhado das suas portas e janelas debruadas a azulão impante, a chocar com o diluído pachorrento, monótono, da paisagem.



Foto: Lénia Santos

Ou de um amarelo torrado, mais a condizer com a acalmia daquela.

Foto Lénia Santos

Gosto de ver aquele casario debruçado sobre ruela tão estreita que mais parece assim desenhada para que se sombreassem uns aos outros. Porque havendo tanto espaço para que raio haviam aqueles pardieiros de se encostar uns aos outros ao longo de uma linha que a réstia do sol alinhou?!
Gosto, assim, de encher a vista naqueles lugarejos perdidos na planície. Estimula-me ver aquelas gentes remansosas, no fim de tarde escaldante, acocoradas num banquito de pau de sobro, reunidas à porta no vagar da sombra, quase não dando pelo passar do intruso, como que abstraídas dele, e também ,do correr do tempo. O tempo no Alentejo parece correr mais devagar, e por isso, nesse sentido invejo-os.
Deixando estes povoados, só a atitude pachorrenta de uns refocilantes recolhidos na sombra de um qualquer chaparro me estimula.E um ou outro casario isolado de paredes de feitura tosca, virginais no seu branco de cal encimadas pelo telhado



ôcre desmaiado pela continuada cozedura, alapado no cocuruto do monte a interromper a extensão da terra pardacenta.Imensidão de planície a servir de rodapé a um céu de azul esmaltado, tão sereno e limpo, que parece aquietado com a braseira de um sol portentoso.
Sempre tive a noção de o Alentejo ser um motivo excepcional para um fotografo amante da imagem desnudada de subtileza, mas forte no contraste do preto e branco. Imagem que pode nesta paisagem um pouco entristecida, adquirir uma força estética soberba. Poderosa nos contrastes focados de um sobro frondoso a emergir de



um deserto onde parece não existir vida; ou de uma silhueta humana, estática, sobraçando uma vara que lhe serve de amparo, olhar perdido nas lonjuras de uma superfície enrugada pelos sulcos tatuados na superfície da terra seca.



Mas desta vez encontrei belíssimos exemplares de imagens coloridas.,não menos fortes, de uma beleza que enchem o olho.
A mistura cromática (trabalhada ou não?) destes momentos proporciona cambiantes que nos estimulam os sentidos, reclamando a sua apreciação.
Reproduzo aqui algumas que mais me impressionaram.



(Fotos de Nuno Veiga)



Seja contudo qual for a côr com que pintemos o lenço, ele é sempre fabuloso na harmonia que ressalta do fluir do tempo, da constância das formas, da luminosidade, ora estonteante do meio dia, ora repousante no desvanecer da tarde, quase a lutar para se deixar ficar e sobreviver.
Sinto que nos momentos que lá passo fujo de mim e das minhas angustias. E também me invade o devaneio de querer voltar a sentir.A ser eu de novo.

Começo a parecer um estranho. Não sou feito para os céus .Sei apenas o que havia que fazer. E fi-lo. Os que estiveram atrás de mim empurraram-me. O que é que eu poderia fazer? Negar-me?!

É chegada a hora de voltar.Fugir da paz; virar as costas ao silêncio.

E volto então para me defrontar, de novo, com o vozear do mar a desafiar-me .De novo! Sempre ele(!) a lembrar-me que há que cumprir o destino. Ah! cão!,porque te me lembras que um homem não pode ser homem sem provar do teu salgado gosto?Porque «a» deténs enlaçada nos teus braços e m'a não deixas levar, comigo,para onde eu fôr? Porque me prendes, orfão de espanto, a ouvir o teu vozear quando bates,inclemente,com a onda no areal?

Se apartado de ti eu findasse com as minhas angústias a viver ao desbarato as minhas ilusões,ia para longe afogar a sede de te amar,oh!... mar.

Aladino

segunda-feira, outubro 12, 2009


O «Príncipe» arrasou…
Vivó «Príncipe»

Certamente a preparar-me para a hecatombe que racionalmente (já)esperava no acto eleitoral, aqui, em Ílhavo, entretive-me nos últimos dias da semana que passou, a reler Maquiavel. Ao fazê-lo perceberemos, claramente, muita da realidade que enforma o Poder Autarquico,onde se praticam,com rara oportunidade e actualidade, muitos dos ensinamentos que o apóstolo do poder como fim sem olhar a qualquer meio para o alcançar e conservar, nos legou no seu notável escrito «O Príncipe»(1532) . Nicolò di Bernardo Machiaveli, nome dado ao pimpolho nascido, em Florença, perto da ponte do «Vecchio»,desde muito cedo deu demasiada atenção às prédicas de Savonarola que anunciavam os flagelos adivinhados se os governantes não deixassem de ser corruptos.
Ora Maquiavel cedo notou que por causa desse aviso, Savonarola,perdeu a cabeça que lhe foi cortada (entre outras coisas), por afrontar os poderosos.Que acham que ser corrupto, é natural e até parecem dizer justificável,um mal menor.
Nomeado cinco dias depois do acontecimento, Secretário da Chancelaria da Cidade, Maquiavel depressa se decidiu que, melhor seria especializar-se em explicar aos poderosos que um «Príncipe», alcançado o Poder,deve cuidar-se, pois se seguir os ensinamentos clássicos -ser justo, prudente e clemente -não governará por muito tempo. Por isso Maquiavel lhes ensina as artes que devem aprender para tal não suceder: -não serem bons porque mesmo que o fossem, em torno «deles» outros o não seriam. Não valeria pois, a pena, sê-lo, mas apenas parecê-lo.É com isso, e só com isso,ensina Maquiavel, que um «bom Príncipe» se deve preocupar,se pretender reinar por muitos e bons anos.
E desse modo postula que o «Príncipe» depois de alcançar o poder, tem é de se preocupar em conservá-lo. Por isso adverte: o fim justifica os meios empregues para tal feito.E mais importante, faz notar que o vulgo se deixa cativar pela aparência e com o êxito (demagogia).
Ora o recém-nomeado Professor da Cátedra de Ciência Politica da Universidade Sénior do Prior Sardo, o «Principezinho» cá do burgo, teve, forçosamente, de ler a bíblia de Maquiavel,para bem desempanhar este novo e mui digno encargo. E por isso, lá, aprendeu o essencial: nos nossos dias se vê (bem)como aqueles que têm pouco em conta a palavra dada e souberam burlar com astúcia e engenho «os homens», superaram aqueles que se detiveram em ser leais.
E certamente,foi inevitável, terá atentado e reflectido na pergunta de Nicolò:- é melhor ser amado ou temido? ou vice-versa?
Ora Maquiavel ensina os «Príncipes» que o melhor (e mais conveniente) é ser um e outro, simultaneamente, sublinhando que sendo difícil combinar ambas as coisas é mais seguro ser temido que amado. A ciência de um «bom» Príncipe, ensina o autor, é ser um fingido em acordo com as circunstâncias.
Aí chegado RE sabia-a toda.E sabendo que sabia e que os outros nada sabiam de tais saberes,soube até fingir que ficaria mais quatro anos ,para se dedicar a acabar os que os outros não saberiam,incultos sopistas de tais saberes.
RE mostrou assim ,que é um sábio,sabido, a merecer continuar «Príncipe».Pois que não tendo atributos para ser «rei», inverte pragmaticamente a máxima e guia-se por :
" mais vale príncipe muitos anos ,que rei apenas por uns dias".

Perante sobre tudo o que acima reflicto, teria eu alguma duvida em que o «Príncipe» do burgo viesse a ter, de novo, uma aceitação esmagadora?
Então por esse País fora não foram vistos até á exaustão muitos «principezinhos» para quem a arte da política não engloba a fidelidade aos valores, morais,éticos e civicos, afadigados em demagogia desmiolada, a justificar que todos os meios são válidos para alcançar os fins...numa fuga atabalhoada para a frente?
Aqui,(em Ílhavo) foi apenas a representação de mais um dos episódios maquiavélicos da arte política de bem cavalgar o poder (a de manter-se como num rodeo, o maior tempo na sela, sem se ser atirado ao tapete)
Aladino
NB-Parece que a «maquiavélica» personagem ,terrivel convencedor de «Principes» para obter as suas pretensões, só não terá tido muito êxito com Catarina Sforza.Depois de uma noite passada com o travesseiro,Catarina logrou desfazer as promessas da véspera,exigindo bem mais dinheiro ,a Maquiavel, pelas suas tropas.O que teria levado o jovem (Maquiavel) a restar ciumento do travesseiro,por este,afinal, ser mais bem maquiavélico que ele próprio.
Terá sido deste episódio que se admite, tenha vindo a ideia «maquiavélica», de que um bom travesseiro vale bem mais que um bom regaço.Por vil seja tido quem a isso der mau sentido.

sábado, outubro 10, 2009


Dia de reflexão ?
Antes fosse ..

Porque se o fosse eu sabia de fonte segura que amanhã esta santa terrinha se libertava de um terrível pesadelo.
Mas as gentes cá do sítio não são muito dadas a reflectir. Decidem por impulso, certamente que é mais seguro ter um «sanapaio no quete» que dois bacalhaus á borda.
Quem não precisa de reflectir sei eu bem quem é.

Por falar em reflectir

Interroga-me uma leitora se aquilo que escrevo reflecte a pessoa que sou?
Provavelmente chocada, ainda, com umas liberdadezitas que deixei voar,e que, ao que parece, fizeram corar e até ofenderam - vá de retro!- muitos espíritos.
Descanse a leitora.
Não!.. o que escrevo não reflecte o que eu sou, mas sim o que gostava de ter sido.
A vida ,minha cara, nunca nos deixa ser o que desejávamos ser; viver é tentar ser o mesmo, sem nunca ser igual. A escrita(ou outra qualquer expressão de arte) é que nos deixa ser exactamente como pretendíamos ser.
A vida tem pouco de estética; muito mais e apenas «do possível». Eu por mim tentei sempre desesperadamente ser livre; mas, o mais que consegui, foi não perder a ideia de quem sou. Foi isso apenas que consegui salvar. Não desgostei da vida que amassei; mas ninguém me pode impedir de sonhar.

E já agora ,criticado por sonhar…
Pois assim o fui. Falar de amor, e sobre ele poetizar aos setenta, parece ser ofensivo.
Sorrio-me com doce perdão. Tão novos e já precisam de «viagra» para sonhar.
Mas não ficaram sem resposta:
-«Éh pá o que me espanta são as V/ poesias de luta parada no tempo; nem lutaram nele …nem deixam que outros ousem fazê-lo, com outros argumentos». Mudem lá de cassete…
Olhem! :-eu por mim «saio de cima» logo que a V geração mostre «argumentos»….Mas enquanto puder falo de algo sem o qual não vale,de modo algum, a pena viver.

Obama e o Prémio Nobel

Este Nobel foi claramente um sinal de esperança. Concedido não pelo que foi feito mas por aquilo que todos desejamos ardentemente aconteça.
Na Europa ,já todos percebemos a era dos grandes Estadistas já se foi.Por isso a Europa atravessa uma crise de valores, que é temível se de repente ,tal como sucedeu na América não aparecer uma figura mobilizadora. Obama apanhou a América na crise maior da sua história(depois de 1929).Mas ao ouvi-lo defrontamo-nos com uma personalidade que nos toca ,porque tem uma capacidade verdadeiramente de dizer as coisas difíceis de um modo tão claro e incentivador, que nos faz ,de facto acreditar no «Yes we can».
Vê-se que não é um papagaio falante; mas alguém que tem um discurso de uma racionalidade inultrapassável.
Claro que a tarefa que tem pela frente é de uma complexidade assustadora. Nunca os EUA estiveram tão fracos, e principalmente assustados. Muitos parecem querer ,só e apenas fechar-se no seu quintal e importarem-se pouco com o que vai no quintal dos vizinhos.
Ora uma Europa sem os EUA é um território politico sem força para defender as suas ambições e até as suas fronteiras.
Obama não é só um referencial de esperança para os americanos. É-o também para os Europeus. Os chefes políticos desta velha europa perceberam que não podem mais correr os erros de embarcarem, de novo, nas aventuras de um qualquer «Busch» inapto, irresponsável ,impreparado e troglodita. Por isso ofereceram a Obama esta prenda (o Nobel) como que a dizer-lhe :pode contar connosco.
E é verdade. A paz e a sustentabilidade ambiental, do mundo, tal como o conhecemos, está como nunca depositada nas mãos de um só homem. Tarefa tamanha para um Homem só…mas a história assim o ditou.
E se este falha …
Aladino

sexta-feira, outubro 09, 2009

As palavras que nunca LHE cheguei a dizer….

Dói-me esta saudade
Do tempo em que em ti morava.

Dói-me a imagem
Dos teus lábios carnudos
Que eram de rosa aveludados.
Túmidos a implorar que os trincasse,
Em tropel furioso de tantos beijos.

Enfeitavam provocantes
O teu bonito rosto
Deixando adivinhar promessas de novas madrugadas;
Onde corpos em dança desencontrada,
Unidos por bocas em paixão,
Se entrelaçavam numa luta de sombras desassossegadas.

Meu amor
Chega-te a mim
Vamos juntos marear.

Se a ria quer morrer no mar
A soluçar de saudade,
Deixa-a ir….

Eu quero viver em ti.
Postado na varanda do teu olhar
A olhar o céu,
Para lhe roubar as estrelas
E com elas enfeitar
O sonho real de te amar.

SF ( sem data)

quinta-feira, outubro 08, 2009

Só me faltava mais esta papalvice…

Nunca digas desta água não beberei….É bem certo.
Andei uma vida sem «patrão». Pugnei sempre por ser um pássaro que nunca se deu ou se adaptou, ou mesmo se aquietou, ainda que a gaiola «fosse de ouro».
Gaiola para mim foi, sempre e só, o que a minha consciência me ditou.
Afinal bem preguei aos peixinhos . Oh! «Pe. Tóino» anda cá baixo um instante -porque a mim ainda não me dá jeito ir aí, aonde estás-para me explicares como fizeste, para que eles (os peixinhos, bacalhaus incluídos) te prestassem atenção, já que os homens preferiam os prazeres das riquezas mundanas, a ouvir as tuas pregações? Como pode ter acontecido que nem eu próprio fui ouvinte atento – e seguidor – das minhas pregações? É bem certo «faz o favor de fazer o que eu digo, não olhes para o que eu faço».

E zás….Então não querem lá saber que me «contrabandeei» para o Ribau?
Assim foi. Tomei hoje conhecimento de ter sido «nacionalizado ?!», o «CASCI»
Por via de tal resolução, «administrativamente decretada», eu serei – pois então?! – desde já um devoto, fiel e submisso trabalhador para o novo «Patrão» Ribau Esteves. Ainda me hão-de ver de mão em riste a fazer o sinal dos dedinhos( a gaita é se me engano e faço como o Ministro Pinho).
E porque esta será talvez a notícia mais marcante do dia deste pantanal -e da campanha - não perco a oportunidade de aqui a anunciar em primeira mão, ainda que a vontade de me meter nesta bagunça, seja nenhuma.
Vamos lá a explicar:
Fizeram-me chegar, hoje, às mãos (embora a tenha lido com os pés!) a entrevista ao «Diário» das Beiras, onde entre muitos delírios, o senhor Presidente declarou que o CASCI integrava a (sua) obra grandiosa e inigualável, digna de se poder mostrar ao mundo; tal e qual como o Hospital de Cuidados continuados (. Hoje não acontece por causa da revolução que fizemos(...). Quantos concelhos têm um Hospital de cuidados como o nosso, ou instituições de apoio à deficiência como um CASCI?- assim disse, mais exactamente, o Senhor Presidente
Parece pois que o CASCI tem, finalmente, um «dono».
Convenhamos :
O iluminado não é tonto «na sinhor»: avaliando o CASCI, este vale bem, (por baixo se pensarmos que o tal Hospital quando for pago, custará 5.000.000 €- cinco milhões de euros), - 30.000.000€-trinta milhões de euros!...Vale-os com certeza.
E como está tudo pago -naquela casa (tudo!!!!),o que se fazia pagava-se- com esforço dos que o fizeram sem ajuda da «senhora Câmara»-e muito menos de RE- ,a divida prenha da Câmara ,avaliada em 40.000.000 €-quarenta milhões de euros!!!) estará, pela entrada do activo CASCI, praticamente saldada(faltam só 10.000.000€)
De onde viriam os dez milhões que faltam?
Hellas! -diz o brilhante gestor: tal como o Benfica com o fundo de capitalização dos seus jogadores, a Câmara de RE utilizaria os activos (o pessoal) que viria do CASCI, colocando-os em Bolsa, e zás…Saldo ZERO.
Eu lá estou incluído no rol. Valho pouco mas …sempre dava para uns trocos! O mundo capitalista está farto de valorizar o mau papel. Porque não o voltar a fazer.
E eis como um pássaro livre,depois de velho, vai vassalar príncipe tão belo e sabedor.
Aqui há justiça grande. Castigo merecido: iustum enim est bellum quibus necessarium (justa é,de facto a guerra para aqueles aos quais é necessária).
Senos da Fonseca

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domingo, outubro 04, 2009



«Costa-Nova-200 anos de História Tradição»
Quem faz um filho fá-lo por gosto….

Hoje é, exactamente, um daqueles raros dias em que pedi tréguas á vida. Informei mesmo a família que não ousasse perturbar-me a liberdade de uns momentos só meus, a fim de fundir numa só resposta o muito que tenho a agradecer a tanta – é que foi surpreendentemente tanta! –gente amiga que se me tem dirigido a propósito do livro «Costa-Nova -200 Anos de História e Tradição».
Eu e o CASCI sentimo-nos recompensados: um dia e meio (dois!)foi o tempo bastante para que este ultimo amealhasse umas significativas migalhas, importantes para o inesgotável e nunca suficientemente consumado fim, de prática solidária, activa. Eu sabia que as migalhas viriam para confortar o alforge e prover, assim, a necessidades urgentes. Desejava-o muito. Mas que concluiríamos a tarefa em apenas dois dias, essa era apenas a ambição que guardava, secretamente, apenas e só, para mim :-a de bater o livro «Ensaio Monográfico de Ílhavo», que levou, mais ou menos, um mês a esgotar.
As muitas – mesmo muitas! - reacções despertadas pelo livro que constantemente me vêm chegando, levam-me a intuir que os dois livros provocaram reacções e simpatias diferentes: o «Ensaio» interessou (sinceramente, creio, que vivamente), só a alguns .Outros guardam-no como documento no convencimento da sua validade futura. Satisfaz-me qualquer que seja a opção. (Vou definitivamente acertar com a Editora a sua reedição, para o ano).
Já o livro «Costa-Nova», esse, mexeu com as pessoas, avivou-lhes as memórias há muito fechadas a sete chaves, gravadas no mais íntimo de cada uma à espera de serem sacudidas. Estavam guardadas, mas não mortas. Ninguém melhor definiu essa provocação como aquela amiga que se abeirou para me dizer: - o teu despudor mexeu comigo. Despertou-me…tanta recordação. Ao ler o livro foi como se me puxasses pela mão a dizer-me: anda, vem daí sonhar…
Vou pois então tentar responder a todos os que de longe – mensagens, cartas ou telefonemas – ou de perto, directamente, me interpelaram. Todos me embaraçando com a sua apreciação….Embaraçando, é exacto.
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Na apresentação a amiga Zita Leal, poeticamente, sem que nunca - mas nunca!- os dois falássemos do livro, insinuou, anteviu ou percepcionou, algo de muito exacto e verdadeiro: este livro (disse) pareceu ser a fazedura (digo eu) dum filho.Afirmação transcrita na comunicação Social e que, parece,veio para ficar.Digo propositadamente fazedura e explico já porquê.
Um filho é a coisa mais fácil de fazer (eu sei…eu sei…?!): às vezes até por distracção acontece. Ora foi exactamente como aconteceu com este livro. Andava há muito a ser desejado -é certo - mas nasceu de um impulso repentino, descontrolado: brotou de mim num ápice, não custando nada a consumar. Foi um delírio tremendo, um verdadeiro e repetido orgasmo que me endoidou horas -dias!.. semanas! - na intenção de partilhar o prazer com alguém. Um mês ? Creio que sim, mais coisa menos coisa.
A Zita chegou a ruborizar-me quando afirmou que o ora nascido teria saído de uma relação de amor,(minha), com a areia da Costa-Nova. Os poetas sonham, figurando! Poesia pura ou questão semântica na utilização da preposição?
Ora manda a verdade dizer, já que falam nisso,
(…)que na areia da Costa-Nova aprendi todos os saberes –muitos!- dessa coisa a que se chama «amor»: esta confissão, é, de facto, entrevista no livro. Eu pensava que passaria despercebida.
Pois foi lá nas suas areias, debaixo da lindeza do seu tecto estrelado, enquanto prometia, não um dos seus adornos, mas uma mão cheia de estrelas à «amada» da aventura, que nas cálidas noites da Costa-Nova, ao tempo em que identificava no céu a estrela mais bela para ofertar à deusa, a enloilava e amaciava, usando a subtileza do jogo de mãos na procura (consentida e partilhada) de acariciar, pousando-as em cada saliência ou reentrância, no delírio de amar. Hoje, esgotado o stock de estrelas, consumido em tantas promessas, é já certo nada ter para ofertar de belo.
E também foi no leito da sua areia que percebi rapidamente que as bocas não são só para se tocar, mas para se morderem, num desaforo sôfrego, audaz e incontido, no «trauto» do beijo: mistura frenética do enlaçar de línguas empapadas de areia que nos despertava outros desejos bem mais suaves, mas não menos sôfregos.
E foi ,ainda,no areal da Costa-Nova que aprendi a agarrar no meu amor e a levá-lo no voo dos pássaros que nos espreitavam, ciumentos, ao encontro da graça dos anjos :-ao céu!.

Acesa a fogueira, foi por ali, tantas vezes, que me imolei, voluntário, a me deixar estorricar no brado tumultuoso das labaredas que os nossos corpos alimentavam.
E foi também lá que aprendi a colher as pétalas da rosa escondida no tufo que cobre o ventre húmido, sequiosas de serem desfolhadas, umas vezes sob um luar prateado a ofuscar as estrelas, outras sob arrufos de água que espargiam os nossos corpos, arrefecendo-os do doidejo estouvado.Insuficientes contudo para pôr fim ao desabuso e desacoitá-los.
Razão tem a amiga Zita: fui uma meretriz das areias da Costa-Nova. Ponto final….
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Quando senti pelos sinais exteriores que aquilo -a história da Costa-Nova - ia nascer, começaram as angustias habituais. Só que desta vez muito mais intensas. Quase me recusei a assistir ao parto, temendo que o menino (o livro), mais do que me desiludisse ,desiludisse a família .A extensa família dos «costanovenses».
Nascido, nem me atrevi em pegar-lhe ao colo (a abri-lo) com medo de lhe descortinar alguma má formação genética . E hoje dorme descansado sem que ouse estorvar-lhe o sono repousado na prateleira.
Quero-lhe tanto que tenho temor de o acordar.
E percebo então agora- e só agora !-a razão porque o meu Pai nunca me pegou ao colo,quando era bébé. Porque temia deixar-me cair!. Só um Pai é capaz de tal sacrifício.
E mais..,
entendo agora também, e muito claramente, que o meu Pai se tivesse zangado com um familiar, quando este viu o «seu» pimpolho, e predestinasse : «vai dar um homem grande».O meu Pai queria iludir-se, e ouvir, afinal, o trocadilho. Mas o primo tinha razão. Homem grande( como está á vista…) e nada mais do que isso.
O «Costa-Nova» também não é, nem vai ser - mais do que isso.
A determinada altura da gestação dei que o livro começava, ele também, a ter fotos a mais. Estava aos meus olhos pesado. Insistiram que não…que deixasse o catraio nascer assim mesmo…
Acontece que muitos que se abeiram, agora, para me dizer:- «O livro é tão lindo!»,devem ficar intrigados com a minha fugidia (e enfastiada) resposta :- pois..pois, não consegui ir mais longe. De qualquer modo, reconhecido.
É que mal sabem eles a ferida que a sua gentileza reabre, a ponto de doer.
Eu queria (só!) que o livro fosse bonito por dentro (bonito pelo prazer da sua leitura). Essa foi a minha aposta.Pouco (ou nada mesmo ) preocupado com o a beleza estética da aparência (para mim sempre apreciação secundária).Eu gostaria de ouvir (e ouvi, felizmente) que o livro era bonito de se ler. Disso,sim, gostei. Com isso me envaidei.
Não sei e nem perco tempo a pensar nisso - se todos o apreciarão.
Um «filho» que acaba de nascer, tem para nós a promessa de ser ainda melhor que todos «os outros». No caso, sem enjeitar nenhum «dos outros», este talvez seja o preferido por ter a cor dos olhos do «pai»: azul, como o azul insuperável da «Costa-Nova», fascinantemente doce que me alimentou a vida, mas que não me mata a fome dela, tanto ainda me consome.
A todos os que me quiseram dar merecimento da sua simpatia o meu obrigado.

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Sem referir os muitos que me contactaram,abro uma excepção para o «Kilino» (pseudónimo de António Lino, um amigo dos bancos da escola, muito próximo, que partiu, rapazito ainda para o Brasil, e por lá ficou. Era o António Lino,que morava no Pedaço, colega de escola, companheiro inseparável de todas as horas de juventude .Pois o livro «Costa-Nova» trouxe-o até mim, de novo .No seu Blog
www.kilino.net
(...)
Tenho um BLOG (www.kilino.net). Nele divulgo a nossa TERRA, critico políticos e futebol, mostro o Rio de Janeiro,escrevo sobre mim, faço versos e prosas e tem em seu meio vídeos de rir, etc...Este teu velho companheiro de um passado já distante mas nunca esquecido, espera que recebas estas minhas noticias para recordares nosso saudoso passado.
(....)
António Lino indica-nos a linha editorial do que faz..
«Costa-Nova» foi o motivo que o despertou para o contacto. Leiam o Blog do Kilino, e podem ter a certeza que valerá a pena.
E por aqui me fico ,antes que avance em outras confissões….

Senos da Fonseca (Out 2009)

            Os nós da vida.... ..  INQUIETUDE... A VIDA COMO ELA É ...  Neste cantinho recomendado que, a natureza prodigalizou, e que a e...