domingo, janeiro 31, 2010

Evocando o 31 de Janeiro de 1891

Criado num ambiente de republicanismo assumido, orientado para o reconhecimento das virtualidades exaltadas e gloriosas deste sistema que prometia trazer com ele, se revivificada a sua pureza, a possibilidade de ser a fonte de onde brotaria a força capaz de derrubar o abastardamento que dele fez o regime corporativo,ditatorial, de Salazar.Cedo me vi protagonista de intervenções públicas em vários 31 de Janeiro (e 5 de Outubro). Eram apenas e só estas ,as comemorações mais ou menos consentidas (e toleradas) por Salazar. Serviam para dum modo (também ele) mais ou menos público (?), à sombra de se falar um pouco dos ideais republicanos -que começaram na revolta do Porto de 31 de Janeiro de 1891 e que depois se concretizariam em 5 de Outubro de 1910 com o definitivo advento da sua definitiva implantação em Portugal - se aproveitar para dizer cobras e lagartos do bafio salazarento .E até ,quando as coisas aqueciam e se gritava: Abaixo Salazar ! Viva a Republica!, Viva Portugal!!!..... e em uníssono se entoava a Portuguesa."heróis do mar, nobre povo"… etc…etc,fazer passar uma onda entusiasmante, prometedora de acção próxima..
Hoje, ao remexer nos papéis, encontrei o manuscrito de uma intervenção, minha, numa dessas comemorações, levada a cabo no Teatro Aveirense, em fins de sessenta..

Manuscrito ( 1ª pag).


Reli-o.Começo exactamente, então, no mesmo, por referir desde logo que o 31 de Janeiro não foi uma revolução triunfante. E não o foi,não porque o sentir indelével de todo um povo o não desejasse,perante uma Pátria hipotecada aos interesses estrangeiros. O 31 de Janeiro falhou - adiantava eu -pela impreparação revolucionário do povo.
Hoje se tivesse de participar uma vez mais em outro qualquer comício das comemorações dessa, tão gloriosa como dolorosa data, diria exactamente o mesmo.

De facto a revolta do Porto teve o seu quê de extemporâneo. Era certo que havia dissidências entre os republicanos do Porto e de Lisboa sobre o modo, de como e quando, fazer eclodir a revolta no sentido de apear a Monarquia de D.Carlos.Que estava podre, caduca e corrupta. À espera de um empurrão para cair.Era contudo preciso dar tempo para «os colocar de acordo», dada o tumulto provocado pela questão do ultimato inglês,ainda não digerido.

Três semanas antes da «revolta», os elementos mais moderados tinham conseguido exactamente chegar a tal situação. Mas um acontecimento fortuito relacionado com a oposição dos sargentos à Lei que impunha que os lugares de Alferes fossem exclusivamente ocupados por alunos da Escola do Exército, fez grassar uma forte indignação nos Sargentos, contra a mesma, levando à organização de um levantamento nos quatéis, decidido à revelia do directório do Partido. Durante a revolta os oficiais das unidades do Porto mantiveram-se alheios ao «golpe».

Mas o Povo, esse, esteve ao lado dos revoltosos, vitoriando-os entusiasticamente, servindo-lhes aguardente e pão quente, depois de uma noite fria e chuvosa, suportada fora dos quartéis.. E das janelas da Câmara do Porto, pôde Alves da Veiga proclamari pela primeira vez em Portugal -ainda que por escassas horas- a Republica.E até anunciar o nome dos elementos que iriam constituir o primeiro Governo Provisório.




A 1ª Proclamação da Republica (Porto)

Revoltosos e o Povo dirigiram-se então para a Praça da Batalha. Das janelas, senhoras de braços pousados nas colgaduras com que repentinamente se apressaram a enfeitar as janelas debruçadas sobre a rua íngreme, gritavam entusiasmadas, acenando freneticamente aos bravos do batalhão. A marcha parecia triunfal. Só que quando subia a rua de Stº.António, postada lá no cimo, a Guarda Municipal -provando que as autoridades civis e militares do Porto estavam perfeitamente ao corrente do plano - equipada com recente armamento de grande eficácia, entrincheirada nas escadas da igreja, fez inesperadamente fogo apontando ao peito dos revoltosos. A rua ficou num ápice, juncada de cadáveres.


A carga da G.M.


A marcha retrocedeu. Povo e soldados, atropelando-se, fugiram espavoridos. Aí o Cap. Leite e o Alferes Malheiro resistiram heroicamente, tentando reagrupar os seus soldados, ao tempo que interpelavam os oficiais da Guarda Municipal de quem não se esperava tamanho, e tão feroz, procedimento. Retrocedendo até ao largo Municipal, apesar dos esforços dos referidos heróis revolucionários, não houve outra atitude senão a rendição.

O Porto «o berço da liberdade», «a cidade Invicta», honraria assim, uma vez mais, o seu historial. Já tinha sido ali, naquela cidade, que eclodira a primeira revolta liberal. Aconteceu em 1820,com a ajuda do batalhão de Aveiro. E nela se gritou,então, «às Cortes».

Também em 31 de Janeiro de 1891 se gritaram vivas à Liberdade, à Revolução e à Republica.



Conselho de guerra a bordo do »Afonso de Albuquerque«

Senos da Fonseca

PS –Não era fácil nesses anos de sessenta, subir ao palco e invectivar o regime. Conduzido pela mão de minha Mãe, desde miúdo que me habituei a essas refregas.

Era um risco;confesso porém que pouco ligava a isso.E até tenho um episódio curioso que não resisto a contar.

Recordo-me de um dia após uma dessas intervenções, trabalhava eu na então Companhia Portuguesa de Celulose, do espanto dos meus colegas mais velhos à minha participação num Comício ,onde atirei forte e feio no regime Salazarista, o que veio noticiado nos jornais da época. Avisaram-me que estava a pôr em causa a estabilidade do meu lugar. Curiosamente, para espanto ,o eng. Quevedo(adm todo poderoso) da CPC, passado pouco tempo promoveu-me com rapidez nunca vista naquela casa.E mais. Louvou-me pelo trabalho desenvolvido.

E pouco tempo depois era eu que me despedia (com amizade de todos) por entender que não tinha feitio para chegar a general só depois de velho.Apesar de… todos os esforços do Quevedo para que eu ficasse.

Mas as coisas nem sempre eram assim...
SF

sábado, janeiro 30, 2010


Super Nacionalismos

Existe um sério problema ao qual me parece se estar a dar pouca importância.
Não é só cá pelos nossos lados. Também lá fora, ainda não se ensaiam opiniões (muito) concludentes de modo a fazer ressaltar a impossibilidade de reabsorver o desemprego generalizado, por meios reais. Isto é através de um aumento do crescimento.
Ora nós pensamos que há aqui uma questão incontornável: as super produções conseguidas nos domínios dos produtos que alimentaram o consumismo, baseadas numa estratégia creditícia de contornos perturbadores, dificilmente poderão continuar a crescer, mesmo que o boot de vendas fictícias ainda se mantenha. Primeiro porque os mercados no mundo ocidental estão saturados, e cheios de lixo consumista. Segundo porque a bolha voltaria e com mais força.
A realidade é outra bem diferente; os mercados em crescimento vertiginoso obrigaram a deslocalizações da produção dos bens a produzir para zonas geográficas mais perto dos mesmos. Lógico. E, claro por razões de exploração de mão-de-obra local. Para que eles comprem tem de se lhe meter uns míseros tostões no bolso.
Para voltarmos a taxas de pleno emprego precisaríamos que a Europa rondasse taxas de crescimento muito perto de 5/6%.Ora isso, no futuro, nunca será possível no velho continente. Nem sequer na Alemanha, isso, será viável.
O que vai suceder é, apenas e só, um atenuar do descalabro dos últimos dois anos. Mas por intervenções governamentais sobre a economia, não porque esta o possa conseguir sozinha. Mas estas intervenções esgotar-se-ão rapidamente porque os grandes grupos já andará por outros lados. E a Europa com as portas escancaradas não poderá fazer muito mais para evitar que a satisfação das necessidades do seu mercado, em grande parte, possa ser feita por agentes externos.
O grande projecto pós moderno de um império Europeu construído voluntariamente, esfumar-se-á. À tentativa de atenuar os nacionalismos no seu interior, responderão outras potências com um exacerbar nacionalista.
A Rússia, de mãos livres, senhora de uma capacidade energética brutal, terá a tentação de fazer pagar a afronta do fim da guerra fria. E lá longe a China acumulará riqueza de um modo brutal, que a levará finalmente a concretizar o seu lema: país rico precisa de forças armadas poderosas. Os tempos da sua humilhação de há, ainda apenas sessenta anos, encontrarão finalmente o momento de vingança. Em tão curto espaço de tempo a memória é,ainda, fresca. O super nacionalismo mostrar-se-á em toda a sua, dimensão e força, a exigir vassalagem.
Os super nacionalismos estão aí a chegar. Cuidem-se.
Aladino

terça-feira, janeiro 26, 2010


OGE -2010

Já aqui o referimos, anteriormente, dando conta que nunca terá sido tão pacifico e tão facto previsível, o resultado da aprovação do O.G.E. para 2010.A direita viabilizá-lo-ia ,desde que recebidos uns trocos de modo a aparecer à opinião pública(ao povo) com uma fortaleza que putativamente teria sido suficiente para exigir «coisa» palpável, em troca.Nada disso aconteceu. Ora a verdade é que já se percebeu que aquilo foi um fazer de conta. Ao fim PSD/CDS levaram apenas uns trocos e já não foi nada mau. Claro é que, Orçamento aprovado, serão os primeiros ratos a abandonar o barco,antes que cheguem as manifes, esperadas e já anunciadas.A força está na rua ,sorri o PC.
A Esquerda portou-se como esperado. Mas até o BE ruminou, no fim, um hipotético compromisso ,não fora, dizem, a velha questão das mais valias de curto prazo(especulativas).
Eles sabem perfeitamente que esse é, também, um objectivo do Governo. É até pela mera questão de que tem de ser. Já ninguém contesta(senão os próprios que usufruem os chorudos lucros) que num curto espaço de tempo a taxação das mesmas não seja uma decisão pacifica na EU.Mas de imediato ,quer-me parecer que seria perigoso introduzi-la.Neste momento em que o fundamental é resolver a crise do emprego.
Quer-me parecer que se fosse em ultima análise, necessário ,até o BE se absteria. Assim o CDS e o PSD ,resolveram o problema ao B.E, certamente em troca de algo.
Veremos quando e como se voltarão a formar as coligações negativas.


PAPANDREOU sem papas na língua


Hoje é um dia memorável para a história. Estou certo.O Primeiro Ministro Grego disse nos areópagos que a dèbacle da Grécia se ficou a dever á super concentração do dinheiro especulativo e ao poder da Comunicação Social, em meia dúzia de mãos. E ás ligações mafiosas entre estes potentados.
Um País julga que tem um Governo que manda. Pura ilusão : manda mais uma «Moura Guedes» comprada por um grupelho especulativo que um Governo. E até se sente no direito de impor a sua presença a um outro grupo especulativo. A luta é entre grupos ,e a desbocada MG é um instrumento, apenas e só.Qual liberdade de imprensa qual carapuça.A MMG alutar pela liberdade da dita era o mesmo que a madame Vitória «a Bexigosa» a defender a virgindade das suas meninas.
Ora em boa verdade Vos digo: sob uma pressão especulativa um País como Portugal estará indefeso. E essa altura está bem mais próxima de acontecer do que aquilo que se pensa. Não há , em minha opinião, reformismo que se atreva a mudar as coisas. A mudança só se fará por via revolucionária , a doer. Não tenho duvidas. E enquanto isso não sucede faz-se de conta.
Mas onde é que já há revolucionários?
O sistema está errado. Todos quantos se dedicam a pensar nisso concluem o mesmo. Os nossos putativos economistas – que foram, ano após ano , refucilando na gamela- dizem barbaridades que envergonham os garotelhos de rua. Hoje ouvia-se um ex-ministro a dizer,alarve!, que a solução era despedir trabalhadores da função publico ,por mútuo acordo.
E não há ninguém que mande calar um «marmelo» destes?
Aladino

sexta-feira, janeiro 22, 2010

DOBRADO O «CABO DOS SETENTA»

E o que fazer agora dobrado o Cabo dos setenta?
Olhar com olhos tristes os poucos e esganados horizontes,
E ficar por aqui a mendigar emoções novas
Quando o suão que traz na mão a foice
Espreita escarrapachado no varandim o momento em que me distraia?

Que hei-de dar à vida ,senão uma enorme vaia,
À magana que não poucas vezes, em vez de amor, só me deu coice;
E que em vez de alento só soube colocar á prova
O sôfrego que a quis beber em taça de ouro, num só momento,
Todas as delícias prometidas:- o céu ,o azul, a loucura vã de quem a inventa (?)

Revejo-me nessa já longa história, inconsequente.
Onde ontem esperei, hoje já não espero, nem sequer tento,
Deixo-me conduzir não por aquilo que queria ver, mas que vi
E sem nada esperar, contudo, não me renego. A vida foi-se,
Eu sigo coração apaixonado sem saudade de voltar àquela «praia».

SF 22.01.2010

quarta-feira, janeiro 13, 2010

«A História das Embarcações Lagunares»

E assim se vão desenvolvendo(e cumprindo) as etapas. E estarei em breve em trabalho de parto, com todos os incómodos que tal situação acarreta.
Há pouco, há cinco minutos, chegou-me impresso o nº1 do livro «História das Embarcações Lagunares».


História Embarcações Lagunares

O «puto» tem raça e corpo.É a primeira avaliação que faço do figurino..
Agora começa uma tarefa desgastante. Ver, aumentar ,cortar ,corrigir, planificar, tratar roda-pés etc. etc. Gosto que as coisas que me saiem da mão sigam praticamente prontas para a gráfica. Lá limitam-se a dar-lhe um toque de disposição da ilustração, personalizado.

E assim se encerra mais um capitulo, que levou um par de anos a construir.


Sei bem o objectivo que pretendo atingir. Terá de ser o mais completo manual sobre a arte naval Lagunar, visa esclarecer -e desmistificar - muitos enganos e confusões. Para isso houve que ir ao fundo da questão. Por outro lado, tendo o livro, um anexo em DVD, com imagens tridimensionais que permitem uma definição absoluta de planos geométricos, para fins museológicos, dos planos de construção das mesmas ,há que perceber e definir como isso irá complementar a parte escrita.

Fico mais descansado. Suceda o que suceder, os que trabalham comigo sabem o que quero e como quero. Comigo ou sem mim, este livro verá o dia.


O ano de 2009 teve outros compromissos que obstaram a que o trabalho estivesse, nesta altura, totalmente concluído. Conto ficar mais liberto para intensificar a ultimação dos últimos pormenores.
E é já nesta altura que germina a ideia do que fazer a seguir. A escolha é difícil. Mas também sei que na altura própria, a ideia vai aparecer.

Ao menos hoje vale a pena comemorar comigo o acontecimento.

Senos da Fonseca

terça-feira, janeiro 12, 2010


Bácoros…

Quando um bácoro deixa a gamela ,grunhe.
Esta figura de João Salgueiro ,lembra-me a imagem anterior. Só deu por falta da teta, depois que lha tirarem. Até lá, mamou como os restantes. Caladinho e de barriguinha farta. Tiram-lha e dá de refucilar contra tudo e contra todos.
Outro economista de pacotilha. Já lá esteve. Lembram-se?
Ai não? Eu também quase me esquecia.
É tão fácil dizer o que não deve ser feito.
E fazer?

Achadores de coisas …já descobertas…

Estes novos«Cabrais»(achadores do já descoberto) falam do que acharam, e nunca do que sonharam.
Há duas maneiras -penso eu de que- para resolver a situação :
1) Fazer uma revolução total, partindo a loiça toda. Mudar o sistema.Só que as revoluções já não são como o 25 de Abril, a brincar. Hoje:- ou muda tudo ou fica,ou volta! tudo à mesma.
2) Ou outra maneira: colocar pensos rápidos nas feridas que vão aparecendo.
Ora parecendo-me que revolucionários de boa intenção já se esgotaram -será que alguma vez os houve(?!) como eu acreditei - tenho medo de ter caído na fase descrente em que já não se sonha. Remedeia-se.

ARAUTOS DA DESGRAÇA….

Bramem ( e prenunciam), uns, o espectro da Grécia. Tolinhos!
E então ?,
à nossa frente estão a Itália, a Espanha, o Reino Unido ,a Irlanda(-sim ! essa mesmo, o exemplo evocado ainda não há três anos como paradigma a seguir) que estão mais próximos da insolvência (técnica) que Portugal. E olhem : os EUA. Sim eles também . Porque em boa verdade aposto que é por aqui que a porca vai torcer o rabo. Os economistas não sabendo configurar o futuro, analisam o passado.
E não percebendo que ontem não foi exactamente o que será amanhã, falam. Mas nem eles se entendem.
Em boa verdade Vos digo : é mais fácil um elefante passar pelo beco do lá vem um ,do que dois economistas somarem dois mais dois para concluírem: - que é verdade e estão de acordo,são quatro.
PALPITE
Ou me engano muito, ou nem o Sócrates tinha imaginado que isto assim era tão fácil.
Só falta o tipo do jardim florido, lá «ilhéu», estender-lhe a passadeira.
A propósito: quando é que soltam as amarras e o deixam a boiar?
Já lá dizia o nosso arrais Thomé Ronca: um barco é feito de tábuas ;as tábuas aboiam. Logo um barco nunca vai ao fundo, seus merdosos !

Aladino

domingo, janeiro 10, 2010

Cristo (II)

No decurso da educação católica em que familiarmente me vi inserido com particular intensidade, fui ao longo do tempo tentando perceber, ou recolhendo informação, sobre as coisas (certezas) de que ouvi falar, que sempre me pareceram inconsistentes, porque cheia de contradições. Acreditar, parecia-me fruto de educação,de tradição familiar, mas nada mais…
Ora de entre os mistérios teológicos, aquele que me poderia abrir a porta para consolidar a crença, era, sem dúvida, a questão da Ressurreição. Pois foi precisamente ao contrário. Concretizemos...
Nada melhor que colocar as descrições, os relatos pormenorizados, concretos e sólidos (?) que para um facto de tal importância, sucedido e conhecido que importava relatar com todo o rigor, deveriam estar longe de contradições de modo a merecer crédito indiscutível.
Alinhem-se os relatos dos neo-testamentários e eles não resistem a uma rápida análise de um qualquer profano. Não é preciso ser-se especialista. Basta deduzir.
E o que encontro neles?
Pregado – e em consequência tendo expirado -na cruz, o que foi feito ao corpo de Cristo?
Parece neste ponto haver uma certa identidade nos neo-testamentários. De facto entre Mateus e Marcos há concordância de que o corpo terá sido entregue a um tal José de Arimateia (apenas a diferença existe na qualidade deste José). Lucas também não difere na referência á entrega do corpo por Pilatos.
Mas João o místico, o« Ancião» grego, inspirado em João o «discípulo», relata as coisas de um modo bem diferente. Não só refere dois anjos, como lhes põe na boca palavras que nos outros não são referidas.
Vejamos: em Lucas as mulheres vão intencionadas a ungir o corpo, e sem que haja abalo terreno, encontram a pedra da sepultura já aberta. Nela está um jovem à direita. Não há guardas.Em Lucas as mulheres vão para ungir, mas não é referido abalo de terra, nem guardas.
Relata,sim, o aparecimento de dois homens que dão o anúncio do local aonde se devem dirigir (em sitio bem diferente do referido nos outros textos).
Ora em Mateus refere-se o abalo e desce do céu um anjo que remove a pedra e que nela se senta.
Mas, voltando a João, este só refere uma mulher, a Maria Madalena que não vê ninguém no sepulcro. E que chama, de pronto, os discípulos para testemunhar.
Que grande confusão, no mínimo, em matéria tão fundamental, central, para que se acreditasse na divindade de Cristo. Inspirados por uma Divindade, estes textos não poderiam ter contradições tão flagrantes
Então, parece, que isto atesta a realidade dos escritos e autores: Marcos (traduzido por Pedro) afasta a mística; Mateus apesar de inspirado em Marcos mostra a tendência em colar a Cristo a mítica pagã, oriental (abalos, seres celestiais vindos do céu etc.). Lucas manteve-se fiel a Marcos, e nele se inspirou, pois nunca teria tido qualquer contacto com os acontecimentos. E, em vez de um, põe dois homens para, certamente dar maior credibilidade aos factos. E até introduz no caso o apóstolo Pedro, homem de credibilidade na comunidade Judaico-cristã.
E João?
O mais místico transforma os homens (dois) em anjos, só refere uma mulher, e não anuncia o aparecimento de Jesus em lado nenhum: fá-lo aparecer logo ali. Põe o João (Sacerdote a entrar primeiro que Pedro no tumulo, embora reserve para si a primazia de ter sido o primeiro a ver o sudário. Viu e acreditou.

Fiquemos hoje por aqui…
Aladino

quinta-feira, janeiro 07, 2010


Porque é que « isto» não muda?

Não deixa de ser singular este País, onde mais de 83% dos Professores teve avaliação de «Bom».
Todos percebem, mesmo os ceguinhos, o que isto quer dizer. Que a avaliação, tal como existe, é, pura e simplesmente um cozinhado entre pares, uma trama cooperativa que se auto classifica :-são todos «bons». Não há que distinguir. Há que os atar em molhada.
Todo o encarregado de educação percebe que há professores muito bons e bons; mas há também -e são muitos - os assim –assim. E os maus. Alguns indignos de continuar no Ensino.
Singular País este em que mais de noventa e tal por cento dos Senhores Juízes são classificados de bom para cima. Salvo um ou outro caso comportamental, quase impensável, leva um Juiz a ser classificado abaixo daquela fasquia. Então todos chegam ao topo. E para que isso suceda no final de carreira, é vê-los numa roda-viva, a ocuparem por pouco tempo as cadeiras.Só o tempo suficiente para as aquecer, e logo se levantarem, «meterem o papelinho», e dar lugar ao próximo que repete o gesto,and so.... Todos chegam a «almirantes». Ora nós estamos fartos de perceber que há muitos ,muito bons; outros bons.Mas outros execráveis. A desempenhar na área mais sensível da democracia: a justiça. Aqui só os muito bons deveriam ter lugar
Numa guerra não se entrega uma exército a uma general assim- assim, mas a um general de elite. Para batalhas pontuais servem os «generais» de segunda. Ora no caso de Juízes não se entregam grandes casos a Juízes medíocres (ou assim-assim).Por isso o sistema deveria permitir adequar o julgador á complexidade do processo.

«Almirante e Generais», mesmo que não haja navios nem canhões para brincar, têm a vida facilitada.Muitos deles – a maioria! - ocupam cargos burocráticos, sucessiva e paulatinamente, onde perfazem ,ancorados, as horas de embarque. E colecionam umas medalhitas para colocar ao peito em dia de festa, porque o que importa é, aguentarem-se vivos. A suceder, lá chegarão -bons e maus, ao topo.Para gáudio dos netos, ufanos de terem um avô Almirante(ou General).Com o que querem dizer,imaginarem-se descendentes de um Nelson, ou mais prosaicamente, de um Vasco da Gama ou Colombo, na arte marinheira.Ou um Bonaparte ou Wellington, ou um dos Magnos, na outra arte da guerra.Cavaleira, agora sem montada. Ou sendo a montada o Zé do Bordalo.
Poderíamos ir por aí adiante. Todos os desempenhos comprometidos com o Estado vivem de auto-defesa cooperativa. Vidè mesmo o caso espantoso dos médicos e do modo como a sua Ordem reage ao comezinho acto de pocriar novos médicos. Com a ideia peregrina de que o Estado tem a obrigação de empregar todos «os doutores» que saiem das Universidades. Porque terá o Estado obrigação de absorver todos( como os srs. professores), e não apenas os melhores para as necessidades detectadas?

Um individuo lá por frequentar a Universidade tem o direito de ser isto ou aquilo(doutor ,engenheiro, profe etc. etc.) ou apenas o direito de provar que o quer ser, sujeitando-se a escrutínio?
Hoje um tipo coça-se nos bancos da universidade. E como não sabe ser mais nada, quer logo de lá sair mestre,antes de ser aprendiz. Mestres de quê? De ignorância.
Recebo diariamente curriculum de dezenas de «mestres» sociais. Experiência profissional? Zero.
Um mestre pedreiro tinha que saber da poda. Um «mestre universitário» tem apenas de apresentar o seu curriculum como manda a UE. De acordo com as normas 9001.Qualidade só se for na fotografia.

Enquanto não tivermos uma sociedade integralmente gestionada pelo mérito, não viveremos nuns sociedade igualitária ( pelo menos)à partida, onde a cada um conforme as suas capacidades. Igualdade de direitos e também de deveres e oportunidades.
Mas não tenhamos ilusões. O recente folhetim da avaliação dos Professores, que se repetirá quando da abordagem dos Juizes, não nos permite, de facto,muitas ilusões. Este País não consegue reformar-se. Isso já vem do Liberalismo, depois com a Republica, depois com o Estado-Novo e, agora com a II Republica. O País não muda. Cria a cada novo impulso de onde parece irá sair um novo desígnio, uma elite que se serve do intuito reformista que rapidamente se esvai. Tudo se reconstrói diferente para que tudo seja igual de novo, esquecendo-se rapidamente do essencial: construir uma nova mentalidade que defina como teremos de vencer o futuro para preservar a nossa identificação como pátria.
Há pouco quem sirva.Mas há muitos -mais do que as mães - a servirem-se,a refucilar no sistema.

Aladino
PS_ Aqui há tempos pediram-me um favor.Ir dar umas aulas(blá... blá...) sobre Motores,a uns cursilhos de carta de navegador.Claro que me disponibilizei ,à borla,como sempre, a ir fazer o dito.Apresentei a documentação curricular,pedida: Curso de engenharia Mecânica,Curso de eng Maqunista;Professor da Faculdade de Engenharia.E mais importante:registo de ser um dos poucos (nem sei se único) egenheiro com projectos de motores ,registados e produzidos em Portugal,aprovadfos em variadissimos Paises da CEE.
Passado tempo disseram-me tudo bem ,mas tem de ir a Aveiro tirar um cursilho de «Formador».
Sim ? O que é preciso para isso ?
Saber ler.....
O bilhar é muito comprido?...foi a minha resposta

terça-feira, janeiro 05, 2010


Às voltas com Cristo

Perceber que Cristo foi um humano, que só as circunstâncias históricas empurraram para uma conotação divina, parece-me evidente. Duvidar da sua existência parece-me errado e falho de lógica. Os Evangelhos escritos uns quarenta anos depois da sua morte, dificilmente, apesar de todas as contradições que espelham, poderiam reinventar uma personagem de tão grande carisma. Nesse tempo, a recolha da tradição oral de factos, levaria a que de pronto, tão perto dos factos, ser denunciada a invencionice.
Historicamente Jesus existiu. Sempre foi isso que quis acreditar. E nada mais conseguiu além disto.
As contradições dos Evangelhos, lidos Mateus, Marcos Lucas e João( o ancião), só ainda muito recentemente começaram a ser objecto de estudo, confrontados os textos. Contando a história de Jesus, actos e palavras, é tão fácil neles encontrarem-se contradições de tal ordem ,que se percebe ,mesmo para um leigo ,que neles houve uma intenção de mitificar a figura de Cristo histórico. Os Evangelhos não escapam a uma comparação com profecias anteriores, onde se mistura o pagão (mítica solar) e o contexto judaico .Culpada a tradição oral pelas discrepâncias encontradas, sempre assim o justificou a Igreja católica.
Podem ler-se estes textos de uma outra maneira. Apreciando a sua beleza, e dar-mo-nos ao trabalho de tentar perceber como em coisas fundamentais ,mesmo no que uns beberam dos outros, houve alterações profundas do relato.
Cristo pareceu apenas vir, em principio, resolver, apenas e só, o problema judaico. Jesus terá nascido 9 a 5 aC e vivido 30 a 40 anos (há estudiosos que vão até aos 45 anos) inserido numa classe média, em permanente contacto com Judeus Fariseus (e talvez Essénios). Jesus terá mudado de atitude com a visita a João Baptista. Este grande pregador, na época exortando o povo judaico ao banho purificador no Jordão, como salvação dos tempos do fim do mundo, foi silenciado .E Jesus foi então tomado por seu discípulo. Depois de preso e executado, João, parece, pois, ter chegado a vez de Jesus lhe tomar o lugar, e levar, «porta a porta», a mensagem.
Jesus nesta nova actividade apareceu então a «fazer curas». Ainda hoje há crença nos curandeiros, que faria naquele tempo.
Jesus, mais iluminista que politico, cedo percebeu que lhe era mais fácil arrastar aquelas gentes pelo convencimento de que tinha chegado o «Messias» há tanto esperado pelo povo judaico. Jesus teria, assim, tentado cativar as massas, utilizando alguns truques para melhor e mais rapidamente fazer ouvir a sua mensagem. Mas não fez partido político, ao que se sabe. E por isso não tentou fazer uma nova «igreja», uma nova religião, mas sim aglutinar os israelitas num novo quadro religioso, uma ekklesia- a assembleia-geral do povo judeu. Ele próprio o disse: «não vim para mudar mas para aperfeiçoar» Mateus. E até se justifica «só vim para tratar das ovelhas perdidas de Israel» (M).
Cristo provavelmente nunca terá pensado que sobre as suas palavras se viria a fundar uma religião que se oporia á sua, o judaísmo. Paulo encarregou-se desse feito, ele que já tinha estado contra Cristo, terá abusado de o citar nas intenções quando divulgou a nova igreja.
Cristo não terá sido um homem submisso? Claro. E ai reside uma das suas virtudes e também a razão porque foi executado. Por ter evocado a sua qualidade «messiânica».
Jesus esteve ao lado dos desfavorecidos, conviveu com os excluídos, e tentou reformar o judaísmo, como foi o caso da «expulsão dos mercadores do templo». Isso me parece inquestionável. Foi um homem contestatário, hoje poderia ser dito das «esquerdas».
Aladino
Ps- Que fique claro. Eu falo no resultado das minhas leituras. Não quero tocar na crendice dos outros. Estas nótulas serão o resultado de conversas entre gente que gosta de pensar por si.(SF)

sexta-feira, janeiro 01, 2010

Uma leitora agarrou no «Adopção» e recriando as palavras,deu-lhe outro mote
Vinha sem titulo(eu dou-o):

ESTRELA D'ALVA
" sonho louco"
minha noite sem manhã
meu devir absoluto
minha estrela d´alva
conduz-me com teu brilho virginal
ao coração dos homensnesta noite
para que a esperança na fraternidade
seja "tempo intemporal."
MRAM
Gostei.E publico .
Aladino

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...