terça-feira, junho 22, 2010

CAVACO BANAL ...sempre igual.

No comentário ao desaparecimento de Saramago expressei alguma compreensão (?!) pela falta de comparência do senhor Presidente da Republica (parece que por proposta do PSD vamos deixar de o ser…), no funeral.
Então referenciei uma certa, e para mim correcta apreciação de Saramago a Cavaco, a qual foi o de considerar aquele «um livro de banalidades».
Ora Cavaco veio, de imediato, dar razão a Saramago.
Questionado acerca da polémica sobre a sua ausência, o Presidente da Republica, disse, não pode comportar-se como os amigos do defunto. Estes devem ir ao funeral. O PR não!».
Banalidade execranda.
Porque os amigos até poderiam faltar, mas o PR: - esse, não!
Porque representando a Nação, o PR devia manifestar com a sua presença, o reconhecimento da dita a um seu notável filho. Só Ele poderia, por inteiro e universalmente, fazer. Não era Cavaco que estaria presente, mas o representante de «todos» os portugueses, o PR (que tantas vezes gosta de evocar o nome do Povo em vão.
Banal q.b.
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Réplica ao meu comentário ( v.Saramago)

Foram muitos e diversos os comentários que me foram enviados. Tomei atenção a todos, e, claro agradeceu, mesmo os desfavoráveis. Eu sabia que estava a tocar numa matéria que não era universalmente consensual.
Registo aqui o comentário (que tentou inserir directamente no Blog, mas falhou) do amigo, nosso conterrâneo, Cte Paulo Corujo;
Olá João Fonseca

O que lhe dizia no blogue era mais ou menos o seguinte:
Concordo que José Saramago era um grande escritor e prestou um grande serviço aos pais projectando a língua portuguesa para uma visão cultural mais alargada. Eu li com alguma dificuldade em 1996 dois livros que julgo serem os melhores que ele escreveu: O Memorial do Convento e o ano da morte de Ricardo Reis. Gostei dos dois e achei sobretudo que constituíam efabulações surpreendentes. Mas não li mais pois achei que os seguintes tratavam de temas que colidiam grandemente com a nossa cultura. Não havia necessidade, como dizia a personalidade de Hermano José. Eu fui sempre liberal, política e economicamente falando. Recordo-me com imenso desgosto de um pobre homem, julgo que sapateiro, muito alto que tinha a modesta oficina defronte do Salão Cinema, creio que se chamava Pinho. As pessoas diziam: cospe meu menino, que é maçónico, julgo que no sentido de incréu.. A intolerância era selvagem e a lavagem dos cérebros manifesta.
Neste ponto chegamos a outra faceta do homem José Saramago: era um homem amargo e intolerante. O que ele disse no Diário de Noticias em 1975, quando saneou seus camaradas. Foi mais ou menos o seguinte. É preciso eliminar os nossos adversários pela violência para a vitória da revolução. Puro Leninismo e Estalinismo na sua forma mais requintada, com apelo às checas de Djerzinsky. O homem era mau e isto não lhe perdoo pelo facto de ele ter morrido.
Por pudor, não lhe retransmiti Maios de extrema-direita com que não concordo. Mas vou fazê-lo para o João tomar nota do mundo em que vivemos. Deve-se ler tudo, Freud or foe.
PC
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Já respondi ao Comandante.
Reconhecendo o acertado da sua apreciação quanto aos livros citados e respeitando a sua apreciação sobre os restantes.
E como ganhou «coragem» para vencer o pudor de me enviar os ditos comentários «foes» de extremistas- e mandou-os - garanti-lhe que os li com atenção. Garanti-lhe que leio e aceito tudo, e que até leio com particular atenção os fanáticos, pois assim percebo melhor a minha razão.
E que até aceito extremistas…desde que poucos…

SF

domingo, junho 20, 2010

Da vida para a galeria dos veneráveis



Plagiando Saramago direi:
- aquilo que a morte nunca poderá ser acusada é de ter deixado indefinidamente no mundo algum esquecido velho… não porque, no caso vertente, a velhice lhe tivesse retirado merecimento, mas porque a dita - dizem -tem hora marcada para retirar da prateleira dos vivos os que vão sendo empurrados para o seu topo .

Neste tempo de crise o País ficou ainda mais pobre. Porque construir o futuro sem a ajuda de homens lúcidos, críticos, socialmente presentes, eticamente exemplares, é muito mais difícil e problemático.
Escritores com a dimensão universal de Saramago, não se repetem geracionalmente, senão de intervalos a intervalos, por vezes tão longamente afastados que não há outra maneira de os perpetuar senão em estátua de argila.
O contacto com a escrita de Saramago não era fácil. Pelo menos para mim não foi. Bem ao contrário foi-me necessária teimosia para me adaptar e penetrar no autor. Habituado a uma leitura clássica, de ponto e vírgula esperados, de conjugação intuitiva temporal, ao principio tudo me pareceu em Saramago subversivo. Foram precisas uma , duas …seis vezes -sei lá, já não me lembro! - para vencer a distância entre o leitor vulgar e o escritor que rescrevia as regras. Lembro-me, até, de algumas criticas avulsas e cavernosas, que ao tempo, diziam, não saber Saramago escrever porque o não teria aprendido nos bancos da universidade.
Verifiquei contudo, não sem espanto, que depois de habituado à leitura, esta se tornava sôfrega, imparável, impondo-se o desejo de não mais a largar até a esgotar. Houve, assim ,livros lidos numa só noite. Como eu gosto…
Desde muito cedo tive a percepção de estar perante um autor universal e intemporal. Para tal ser – ou aceder - era importante que, não só os temas deixassem de ser redutoramente fechados(referenciados) ao rectângulo pátrio (por muito bons que fossem ) mas transportados para a universalidade das preocupações do devir do homem num momento histórico de reconstrução, carregado de nuvens de mau agoiro. E era ainda imprescindível, para alcançar tal catalogação, que o ritmo verbal dessa expressão preocupada fosse liberta do espartilho de uma língua difícil ,onde só mestres discípulos de P. António Vieira, no verbo e no ponto, se fizeram aceitar.
A escrita de Saramago era do género: -se és capaz de olhar e ver ,atenta. Se não fores capaz:-faz de conta. Para melhor o exemplificar , descreveu-o no seu « Ensaio sobre a Cegueira».
Claro que há obras melhores e outras menos boas em Saramago. Mas no seu todo o que a obra saramaguiana reflecte, e fez jus ao Nobel - mesmo contra a «cegueira» de uns tantos excluídos pátrios - foi ter na base a permanente inquietação do homem que se confundia com o escritor, assumindo-se na vida cívica um espírito critico que não temia dizer - o quê, quando ,e sobre - o que pensava.
Podíamos, pois ,e á vontade, discordar de Saramago. Lê-lo ou não. Mas a verdade é que mesmo discordando – a não ser que fossemos cegos de todo – éramos levados a pensar. E isso era exactamente o que Saramago pretendia ousar: pôr todos nesta Pátria - mais do que no espaço redutor do País -a pensar, cada um por si. Mesmo que de um modo diferente. Tanto melhor….se assim fosse.
Saramago foi hoje cremado por sua vontade, própria, expressa. A referência que hoje lhe é feita no órgão oficial da Igreja Católica, em Roma , faz-nos antever que se os tempos fossem, ainda, o de trevas inquisitórias, Saramago seria cremado ,não por vontade sua ,mas por ordenança condenatória dos esbirros do templo, na praça publica, por ousio blasfemo .
Quando Saramago resolveu dilucidar sobre se que a existência humana não era ,afinal, a prova da inexistência de Deus, ao fazer da cabeça escritório da razão, entrou por veredas perigosas. Afinal quando se limitara a exemplificar que existe um profundo abismo entre o dictat de Cristo e a práxis da Igreja que se acolheu á sua sombra.
Creio que todos estiveram bem ,neste dia de homenagem ao escritor que continuará entre nós ,pois dos seus feitos se libertou desse acidente que é a morte física. Todos?
Sim :-até Cavaco, de quem Saramago disse um dia, ser um livro de banalidades, confrangedoras, esteve igual a si mesmo. Um tipo banal que por acaso é
Presidente de um País, que não de uma Pátria.
SF

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