segunda-feira, julho 25, 2011


«Ria» adormecida



Desligo-me do mundo real

E volto a sonhar com o deixar-me entrelaçar

Nos teus cabelos.

E em ti pousar. Mergulhar.

Meu corpo sobre o teu, ofegante,

Bate em uníssono de desejo

Não há brisa.Para o momento ser ainda maior.

A brancura falsa do luar toma muitas cores

No suave anoitecer concedido aos amantes.

As casas de risquinhas coloridas

já se cobriram de um cinzento em redor

Basta de demora com as palavras fora de nós;

É chegado o momento de comunhão apetecida.

Porque melhor que o sonho da vida em cenário falso

É mesmo concretizar o sonho quando acordados

Antes que a noite se aposse do nada da minha vida.





Vejo-te chegar : Vens!.

Os teus lábios carnudos oferecem -me

O céu.

Os teus braços correndo ao meu encontro

Trazem-me as tuas mãos, primeiro.

Enlaço-me nelas, percorro o teu peito

Obedecendo ao teu puxar suave.

E em gestos de pressa arrebatadora

Louco, corpo febril em procura ardente

Desnudo-te, puxando a ponta do teu véu,

Para assim poder sorver a tua seiva nascente.



Já não há tempo para nada.

Deixamos de ser os dois para ser um só;

Ouço o teu sussurro, sinto o teu espasmo

E todas as suaves variações do teu corpo

Ah! como é bom tanta coisa fazer

No cúmulo do prazer

A loucura da vida esquecer.



Sinto – me igual por dentro como por fora: -nú

Procuro refúgio de náufrago resgatado

E colo-me a ti languidamente.

O mundo não existe: só eu e tu!,

Na suavidade dum enlaço sossegado.

Como pode um mar assim tão bravo

Virar, ainda que tão brevemente

Ria adormecida ?

Ah ! como é bonito este poente de hoje:

As suas cores nevoentas a esconder que a vida corre

                                                            [ e foge.

sexta-feira, julho 22, 2011


Intrigante - no mínimo – ou talvez não. Esclarecedor?


Em 1968 Mário Sacramento escrevia o K.

Devo dizer que este foi o apontamento mais deslumbrante que encontrei no livro «Sementes de Liberdade».Eu sempre o subentendi. Mas não sei -nem devo – fazer qualquer tipo de interpretação livre.

Aqui deixo para reflexão o poema de MS:(itálicos são meus)



Choro por ti Checoslováquia,

Caminhos de assombro

Encruzilhadas de medo

Terra calcada por todos os ditadores do erro,

Chave da Europa à mercê dos ladrões

Que culpa terás de ser mais evoluída?!

De teres a capitação de 1200 dólares

E a URSS,a de 980 apenas?

Choro por ti Checoslováquia,

Irmã gémea e lutuosa do Vietname,-

Os dois pinhais da Azambuja!

Meu amigo Zdenek,

Que traduziste o Camões, o Eça,

E vieste ao meu encontro numa rua de Aveiro,

Só porque tinhas lá longe,

Um mau retrato meu!

Que posso fazer pelos teus?

Choro por ti Checoslováquia,

Vitima da cupidez nazista

E dos seus post-justiceiros-

Os filisteus estalineptos.

Se tiver de morrer «errado»

Morrerei como tu, Checoslováquia,

Socialista socialenado!

Foram cem erros (já)do socialismo?

Fossem cem mil –e socialistas seríamos!

Choro por ti Checoslováquia!

Exige que o reprima o presente,

-ironia trágica e pútrida!

Escarro vivo

De cintilantes sóis, noite gelada

De rumorosa manhã.

Fátuo ser!

Poteau

K

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Diz-nos ainda MS «a partir daí o racionalismo acentuou-se e ganhou profundidade com o acesso à disciplina cientifica (….) mas o idealismo perdurou».
Esclarecido ou intrigante? Ser por dever ser, ou ser que deixa de ser?
Doloroso encontro com uma realidade.
Choro por Ti ,Mário Sacramento.Esta realidade não muda...


SF Julho 2011

quarta-feira, julho 13, 2011


A Biografia de Mário Sacramento: «Sementes de Liberdade».



Foi-me hoje proporcionado, finalmente, contactar com a biografia de Mário Sacramento, recolhida por Eunice Malaquias Voulliet, num trabalho que já tinha vindo parar às minhas mãos, vai para quatro anos, numa tentativa de se saber onde recolher os meios para uma edição livreira.

Conheço pois o trabalho da Dr.ª Eunice.Muito metódico, interpretando o intelectual e o activista, síntese que quase retrata duma «penada» o que Mário Sacramento quis ser : intelectual e preferencialmente escritor.E nestes, para estar correcto com a praxis do neo-realismo que definiu como expressão artística que pressupõe (….) o materialismo dialéctico – interventor no desenho de um neo-humanismo. Para tal o intelectual deveria ter participação - intervenção que conduzisse ao mesmo. O escritor,produtor de arte,não se deveria  preocupar, só e apenas com a escrita, mas concretizar ideologia pelo estar.

Creio que Eunice Malaquias observa bem o percurso de Mário Sacramento. E regista, embora sem interpretar ou lançar uma pista, para o conflito que MS afirma ter tido com «a família» quando esta o desvia do curso de Letras para a carreira médica. Tenho pensado muito neste ponto. Não encontro outra razão para o explicar, que não a sensatez de Artur Sacramento (Pai), que sabia perfeitamente quem tinha em casa. Deixar o filho seguir uma carreira que o atirasse, definitiva e irremediavelmente para uma carreira de intelectual contestário, não era precisamente o que Artur Sacramento( um Comissário de bordo benquisto, em contacto com muitos e diferentes grupos sociais) pretenderia para um filho que desde cedo, logo na Escola Primária, se tinha distinguido como um sobredotado aluno. De quem mestres como Guilhermino Ramalheira, afirmavam, ter sido o mais notável e criativo aluno que lhes passara pelas mãos.

Assim MS é empurrado (pela família) para a carreira médica, que materialmente permitiria o desafogo para outras aventuras – talvez o pensasse o precavido Pai. E claro, mesmo nessa contrariada actividade, MS distinguiu-se, afirmando-se nela em duas facetas: um médico que pouco se lembrava de apresentar contas(de todo não apresentava, aos mais necessitadose um «Vesalio» de valor firmado).
Claro que a sua fixação na Província o afastou das tertúlias (Lisboa principalmente) que só com dificuldade conseguia, esporadicamente, frequentar.E onde cedo fora acolhido. Primeiro com uma certa desconfiança dadas algumas posições polémicas assumidas pelo jovem crítico:  - caso da estética de ironia de Eça, ou a análise que nunca o satisfaria de Fernando Pessoa --uma poesia verídica num mundo sem verdade !, ou ainda a sua não total comunhão com a estética da escrita do colega Namora – fugindo ao itinerário ideológico, para só ficar no literário.Certo é que depressa se iria impor entre os seus pares com a colaboração regular no Diário de Lisboa.

Mas o viver provinciano não o disporia para uma inactividade contra o bafiento regime Salazarista: – 40 anos de salazartimanha, de salazarfar, de salazartrose, como diz. Aprendeu, jovem, o anátema do regime e confrontou-o como poucos. Pagou caro a obstinação no seu derrube, assistindo ao folhetim da «cadeira benfeitora», que fez mais para o fim do ditador que toda a oposição. Mas não viu o fim do regime.

Quando me defrontei com a morte de MS – que dois ou três dias antes, a mim e ao Artur,em sua casa  me explanara a hipótese do fim eminente, trazendo á colação a possivel  repetição do caso de sua mãe – surpreendi-me com o facto de a nossa diferença de idades (19 anos), não ter reflexo no aspecto prematuramente velho com que sempre o tinha imaginado nas inúmeras vezes em que com ele convivi (nos grupos do «reviralho» em que participavam meus pais). Descrevo esses tempos noutro local. Influenciou-me muito MS. A ele devo um incitamento para a descoberta do materialismo (dialéctico e científico) que muitas vezes me explicou com detalhe.

Pouco depois da sua morte (1970), e num período de grande debilidade, não pude negar o apelo de Cecília Sacramento para uma palestra no Illiabum Clube de evocação do seu nome. Nos limites de saúde para o fazer, havia, contudo, uma necessidade imperiosa de pôr fim a uma movimentação que procurava «achincalhar» a dimensão da sua figura. Mesmo na cama, em convalescença, atirei-me ao trabalho, e no dia marcado, mesmo suando as estopinhas, lá estive. Não enjeito nada do que então disse. Antes bem pelo contrário. E creio que foi mesmo a primeira acção desse tipo. Refiro-o no site http://www.senosfonseca.com/

Mais tarde lutei bravamente, a meu modo, para perpetuar o seu nome em Ílhavo, pormenor que esta Biografia, como constatei na pag. 265,parece desconhecer!.Foi uma luta desarcada, assanhada. Mas bonita e com resultados.

Foi contudo muito pouco. A dimensão deste «Ilhavense» terá muitas outras oportunidades para ser celebrada com o andar dos tempos. Estou certo.

Mário Sacramento dizia-se ensaísta porque desde miúdo via passar os músicos da banda para o «ensaio»,fazendo da arte uma devoção.

A devoção de MS era arte da Liberdade.

MS usou sempre, mesmo nos momentos amargos, a ironia como a arte de «fingir sem fingimento».

Saúdo o livro. Saúdo a autora. Fez com mestria, o que eu, sinceramente ensaiei, não convictamente(!)
,é certo, por diversas vezes. À falta de fôlego para tal monta.

E parafraseando MS, eu por meu lado tentei cumprir e «fazer um mundo melhor».Só que estes tipos não deixam. Mas lançar sementes de Liberdade à terra, é tarefa de renovo continuo.Obrigatório.

SF

domingo, julho 10, 2011

O novo Miguel de Vasconcelos


Em contínuadas e insistentes  aparições retratadas na comunicação social, tão frequentes e sucessivas que até parecem encomendadas, Ribau Esteves tenta montar a albarda e escarranchar-se na Câmara Municipal de Aveiro.

Nada temos a ver com isso.É «bom» castigo para Aveiro.

Só que para o fazer, vende «Ílhavo».Tal como se apregoava o bacalhau no antigamente: -a pataco.

A haver a anunciada reformulação municipal ela começará pelo mais fácil. E o mais fácil é começar por uma anexação onde o Presidente se põe de cócoras e vende a alma de uma gente – nem melhor nem pior que outra, mas diferente! - a troco de um cadeirão.

O Esteves contrabandeia-se, e atraiçoa a memória de todos os ilhavenses. E mais que todos, em particular, aqueles que em 1889 libertaram o concelho de do jugo aveirense. Da névoa do tempo, os mortos se erguerão para abjurar o novo «miguel de vasconcelos». E se este foi defenestrado e voou aterrando no lajedo, a este Esteves, só pela apregoada intenção, deveria ser-lhe indicada- e já!- a porta dos traidores.

Mas Esteves,  um dia o dissemos, é, de facto, um mamão da porca da política.

Mas isto transcende a politiquice.Isto é pura canalhice.

Estamos perante um sério problema: - Esteves destruiu a cultura ilhavense, escorchou-a, salgou-a, e agora sabe ter chegado o momento de lhe dar o golpe da misericórdia. E levará atrás dele uns farsantes que ainda lhe baterão palmas.

Esteves não tem as mínimas condições para continuar a gerir os destinos de «Ílhavo». Se lhe restasse um mínimo de dignidade – coisa que nele nunca pairou, quanto mais existiu! - saía.



Aladino

sexta-feira, julho 08, 2011

As Guerras já não se fazem com canhões….



Por vezes - vezes demais, convenhamos – penso que vivo num País onde todos os figurantes foram atingidos por Alzheimer.

Pior que terem esquecido o ontem, foi ontem não terem percebido o amanhã.

Parece que só agora – ontem e hoje -descobriram que a III Guerra Mundial -decretada por, O Capital - tinha começado vai para quatro anos. E que como na anterior, quem começou por se «invadido» e espezinhado foram os que pouco ou nada poderiam fazer para o evitar. Porque fracos vão apenas servir para avisar os maiores.À falta de um Churchil & Comp ( que já não temos) o Capital vai avançando.

Hitler que apesar de tudo tinha um rosto ( embora patético!) invadiu e espezinhou a Áustria; «O Capital», que não tem rosto nem nome, atirou-se aos países periféricos da Europa. E experimentou a reacção. Ora parece que não se percebeu que o objectivo desta III Guerra é mesmo a «invasão» de toda a Europa.

Claro que aqui, nestes pais alzheimado arranjou-se um bode expiatório. Que antes era culpado de tudo, até das notificações das agências de ratting, postos avançados desse invasor sem rosto. Só ontem descobrimos( parece que até a Maria Cavaco Silva, que o disse ao marido), que afinal a culpa é da MoodY & Comp. Corre já para aí, que, no próximo dia 10 de Junho do ano que vem ,Sócrates vai ser medalhado.

E agora? Vai ser um chorrilho de Pec's ,até que um dia damos por nós ,indigentes e em cuecas a dizer : -. AH!pobres mas livre.

É que andamos mesmo com a mania que somos livres.

Porra! para esta «ampla» liberdade.

Mas então ainda não tinham percebido que estes palradores, estrategas económicos, são, todos eles, agentes infiltrados das referidas agências, pagos principescamente como seus funcionários avençados (e dos fmi's e quejandos)?

Oh my god!...País de céguinhos (bem dizia Saramago).

Sabeis o que Vos digo?: -um dia a história registará a pandilha de imbecis em que nos transformámos, à sombra de pensarmos que mandávamos alguma coisa nos destinos deste País.

SF

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