quarta-feira, outubro 26, 2011








RIA ADORMECIDA



Tarde limpa, intemporal

Que o acaso pintou

De uma tranquilidade imaculada

A ria parece estender-se até ao infinito.

Sobre ela, docemente pousadas

As embarcações miram-se no vitral espelhado

Num momento exacto a sugerir eternidade;

Há nesse olhar a mudez da saudade

De um tempo não esquecido

Ou então apenas, um murmúrio traído (?!)

Aqui o tempo findou

Anunciando a noite mais bela

Onde amor se escreve tão longo


Como curta a vida.




No marulhar dos murmúrios.

A luz parece despida, recolhida,

Alheada a entretecer os dias da memória.

Deixo-me aqui ficar, esquecido, a sorve a maresia

A sonhar acordado

Com a estranha precisão daquela simetria.

Fico à espera que as sereias venham de madrugada

Para me levar para qualquer lado.

Singrando no seu peito nú

Chegarei a um porto de abrigo,

Onde a noite não escureça

A encontrar a natureza redoirada.

Para a pintar no silêncio recolhido.

                           [ de meus olhos amanhecidos.

SF (Out 2011)

terça-feira, outubro 25, 2011

O MERCADO do TORREÃO

Logo após a implantação da Republica, em 1911, a Câmara de Ílhavo presidida por Abel Regalla, evocando estado de ruína da Capela das Almas e afirmando existir perigosidade para os frequentadores do oratório de culto,ao tempo em que exibia um parecer de conforto do Departamento das Obras Publicas, de Aveiro(a subscrever a intenção), decide desmantelar a dita Capela, mandada erigir pelo Prior João dos Santos, em 1771.





                                                    A Capela das Almas





                                                 A Capela das Almas vista do Alto –Bandeira

Em 1914, a Câmara, da presidência de Joaquim Valente decide edificar no mesmo local um Mercado Municipal, com o que pretendeu substituir a Praça Alexandre da Conceição (actual Praça da Republica), onde até então, depois de abandonado o Largo do Oitão, se fazia o mercadejar diário, na Vila.


                                              Praça  Alexandre da Conceição com as vendedeiras ao fundo


O Mercado de 1914 era muito simples. No topo sul um telheiro abrigava do tempo as vendedeiras da hortaliça.No interior do mesmo, deveria terem existido (percebe-se de uma fotografia) uns outros telheiros. Funcionava, aí também, o açougue municipal. O canto sul – nascente era fechado por uma pequena torre (encimada por uma imitação de ameias), no local onde anteriormente tinha estado a Capela das Almas.Nessa guarita estavam instalados os serviços, de pagamento e fiscalização, das taxas de terrado.



                                                            O Mercado de 1914
Foi só em 1925, que a Câmara de Diniz Gomes decide a construção de um novo Mercado. Tratou-se – então sim! – de um edifício de uma certa monumentalidade, de traça muito bonita ,muito funcional para a época ,de linhas muito harmoniosas ,com vistosos pórticos de acesso ao seu interior ,a sul e nascente , realçados ao centro por uma construção inspirada nos torreões dos grandes mercados, do Porto e Lisboa. Localizava-se na esquina sul-nascente, voltada para estrada nacional, encimada por com uma cúpula em abóbada ,revestida a chapa metálica, pintada.


                                                                      O Torreão


Nos alçados,sul e nascente,alinhavam-se várias lojas, com possibilidade de acesso, pelo interior,ao mercado.





                                                            Fachada Sul com Lojas

O mercado era muito espaçoso no seu interior. Circulava-se com grande à vontade, acedendo-se, quer aos quatro telheiros centrais onde as vendedoras e regateiras expunham os seus produtos, quer às tendas de vendas, sitas nos seus laterais. Do lado sul vendia-se o pão de Vale de Ílhavo; do lado norte, ficava o posto da guarda fiscal. A seu lado, para poente, distribuíam-se as bancas de peixe, fresco e salgado. Do lado nascente do posto, ficavam as vendas de passamanarias

No pórtico de acesso do lado sul, na zona coberta, na entrada, situavam-se, á direita e à esquerda, os guichets do Manuel das «Senhas», e do « Manel Pitato», o fiscal camarário.

Ainda no alçado sul ,postavam-se várias lojas : a poente do Torreão ficava :o talho Madail e um pequeno espaçam para o recoveiro . Depois do portão dispunham-se as lojas da srª Ançã, a mercearia e vinhos, do Octávio (anteriormente do sr. Graça),o latoeiro Verdade e o talho do Morgado.

No lado poente, voltado para a estrada nacional,situava-se o 1º posto da PSP (do Jacques & do Jonhs, assim eram conhecidos aqueles simpáticos e bonacheirões zeladores da ordem pública),e o talho do Bela. Depois do portão, para norte, ficava a loja de vidros de louças do Quintino, a loja de panos da Esmerada, e a provisória sede da A.H.B.V.I.



No canto norte, situava-se a taberna do João da«Fonte»,cuja alcunha era provinda da fonte que existia naquele canto, que tinha vindo substituir a primitiva fonte, situada no cruzamento da Rua da Lagoa –Alqueidão, com a estrada nacional.

O Mercado era o ponto de encontro do mulherio. Local para diariamente comprar o necessário, mas também para botar faladura a saber da «nobedades»da véspera, em momento e sítio apropriado para queixume da desgraçada da vida que se dizia estar pelas horas da morte. Ali se faziam e desfaziam nós da vida quotidiana das gentes, se combinavam e garantiam trautos, se faziam arranjos, ou se acudia a precisões.Ou mais prosaica e comumente, se destravava a língua a chaquear, a codilhar da vida de uns e de outros, na mor das vezes na codrice do que não se conhecia mas se ouvia dizer que…

A construção do mercado foi antecedida por intensa polémica. De facto, foi na altura do início da obra (1925) muito discutido se o alinhamento da construção deveria recuar,de modo a permitir um alargamento do local, suavizando a curva que antecedia a subida para o Alto-Bandeira.

                                                                   A Razão da polémica

Curioso foi que em «O Ilhavense», José Pereira Teles, ter discordado, pela primeira vez, de Diniz Gomes ,um atrevimento muito notado, mas que não teve maiores consequências,já que seria o mesmo Pereira Teles quem promoveria o célebre jantar de desagravo e apoio a Diniz Gomes ,quando a câmara




                                            Jantar de desagravo a Diniz Gomes (1925)


 deste, sujeita a inspecção, foi, em seguimento da mesma, dissolvida (dec. Lei 11875 de 13 de Julho de 1925).Substituída pela Comissão Administrativa, constituída pelos Drs José Santos e Júlio Calixto, e ainda, Venceslau de Oliveira. Em 27 de Julho de 1926 foi eleito Júlio Calixto para presidir á Comissão Administrativa da Câmara Municipal.

Diniz Gomes não aceitaria alvitres nem conselhos, e implantaria o Mercado onde tinha planeado.

A vessada do rio tinha já sido comprada à D. Henriqueta Maia.E Diniz Gomes teria já decidido aí implantar o Jardim com o monumento aos Mortos da Grande Guerra (cujo plano fora apresentado em sessão de 12.11.1924), teimando por isso em manter o alinhamento mais avançado sobre a estrada nacional. E teria ainda deliberado adquirir, por 18.500$00, o edifício do Convento (03.03.1924), onde pensava, e veio a instalar, os Paços do Concelho, que por aí se quedaram até que no final do séc. XX, quando foi construído o  edifício da Câmara(onde se instalou o tribunal).

Senos da Fonseca







quinta-feira, outubro 20, 2011


E assim fui sendo despertado para a beleza da História


(que detestava quando impingida pelo compêndio «mattosiano«)




Era frequente o meu Pai levar-me a Lavos, ali junto á Figueira da Foz, cidade onde leccionou, a uma bonita mansão que ficava à beira da estrada nacional que ligava Figueira, a Leiria.E junto a uma frondosa árvore (palmeira ,creio) contar-me ( vezes repetidas mas sempre cheias de interesse, pois de cada vez juntava mais um ou outro facto interpretativo) que ali, sob a copa daquela frondosa e secular árvore, se teria acolhido Arthur Wellesley (futuro Duque de Wellington) , quando em Agosto 



Arthur Wellesley

 de 1808 desembarcara na referida povoação, para vir combater os Franceses. O que faria na Roliça, e depois em Vimioso, levando à capitulação de Junot. Um fogoso ex-sargento de 28 anos,elevado a general, chegado a Lisboa disposto a receber a capitulação do Regente.Só que este já partira na véspera para os brasis. Junot instalado em Lisboa vai-se  adoçando com as carícias lascivas da mulher do Conde de Ega, que lhe concedia os favores em troca da nomeação do «cornigero» marido para encarregado dos Negócios da Justiça.


Junot

Aproveitava, meu Pai, para me dar conta, e assim me responder, ao que teria estado por detrás das invasões Napoleónicas(coisa que nas aulas ninguém me teria explicado com lógica).E  tentava retirar-me o  o mau julgamento que (eu) fazia da debandada «cobarde» do feioso D. João VI para o Brasil, com a sua abominável Joaquina.

E claro: dava-me uma extensa ideia do que se seguiu e como,mais tarde, se teria desenrolado a campanha na nossa região,aquando da 2ª invasão. Pormenor de que eu nunca teria ouvido falar nas intragáveis aulas oficiais.

Assim contava-me o episódio do roubo perpetrado pelo franceses na Igreja de Ílhavo, e por acréscimo, de como o Padre Malaquias tinha enterrado a custódia (e outras – poucas!- riquezas do culto) salvando-a do vandalismo dos homens de Junot. Dava-me conta da importância dos elementos dos servidores da Igreja participando activamente na guerrilha que dizimou uma boa parte dos exércitos napoleónicos,uma cáfila perigosa de maçons e jacobinos, prontos para difundir  ideias perigosas para a Instituição . Lutou-se assim, tumultuosamente e com raiva, pelo «trono e pelo altar», defendendo o Regente e a «santa igreja». Incentivando as populações a cumprir a estratégia de «terra queimada», maquinada por Wellington.

A história, assim, era um deleite. História de factos, mas em que cada facto tinha a sua história e o seu lugar. Um exercício absorvente onde o factor humano vinha sempre como sujeito da história.

Andando agora às voltas com Sousa Ribeiro e a Barra de Aveiro(antes e depois),passou-me pelas mãos muita documentação sobre a importância da referida Barra na 2ª Invasão, quando, logo após a sua abertura no local definitivo (1808),mais concretamente em 13 de Maio de 1809,aqui deu entrada uma notável frota de navios (40 para uns,41 para outros).Navios que vieram trazer provisões aos exércitos de Paget e Trant, que intentavam a libertação do Porto.

Acho curioso aqui dar conta dos principais registos que fui apontando.

Em 2 de Junho de 1809,Luis Gomes de Carvalho, o engenheiro que dirigiu os trabalhos de abertura da barra no local onde hoje se encontra, dava conta a D. Miguel Pereira Forjaz, Ministro da Guerra que ” no dia 13 de Maio ,por feliz coincidência dia do aniversário de S.A, entraram na Barra de Aveiro,39 navios de transporte ingleses, e mais dois brigues de guerra, num total de 41 navios”.

De facto Wellington aproveitaria o bom estado da Barra para mandar abastecer o «seu» exército que se preparava para atacar os franceses que tinham atravessado o Vouga, levando-os de debandada até ao Porto.

O Juiz da Alfândega de Aveiro, José António Leão, chega a informar  que a frota escoltada pelo brigue Port Mahon, entrou com viveres e forragens para o exército inglês e dada a boa causa entendeu não cobrar despachos, direitos e outras formalidades,pedindo ratificação à mesma. Desta informação receberá a total concordância de D. João, Regente do Reino.

Ora o espantoso facto lateral que sempre me meteu terríveis engulhos, foi meu Pai relatar-me que tal(a entrada da esquadra) se ter processado em hora e meia. Como terá sido possível ?!.Que precisão e arte de bem velejar não teriam sido necessárias para meter 41 embarcações de elevado porte ,à vela, dentro da barra( e fundear com disciplina, manobrar já no interior etc. etc.),em tão pouco tempo? Eu, que apreciei tantas vezes os lugres bacalhoeiros quando, regressados da campanha dos mares do norte e já com meios auxiliares  de reboque, e as dificuldades e tempo, necessários, quando se juntavam dois ou três numa mesma maré, espanta-me como poderia ter acontecido aquele record com 41 navios!

Mas certo é que, posteriormente, passaram-me pelas mãos inúmeros documentos que atestam o feito. São vários,e de diversa fonte, os documentos que confirmam este espantoso acto de elevada perícia náutica. Adiante…Continuemos na 2ª Invasão…e por aqui.

Garantido o abastecimento aos exércitos libertadores, o primeiro confronto deu-se entre Albergaria-a-Velha e Albergaria a Nova.Iniciado às 4-30 horas da manhã, viria a terminar, rapidamente, às 10 horas. Os franceses, vencidos, recuaram para Pinheiro da Bemposta e Oliveira de Azeméis. Sempre acossados pelos ingleses, refugiaram-se em Grijó, de onde tiveram que fugir á pressa.

É destes episódios que ressaem dois acontecimentos (sem referir o anterior desastre da Ponte das Barcas,em Março de 1809) dignos de registo. Um dramaticamente lamentável ,quando o General Thomières (francês) ,na Arrifana ,mandou sortear 71 mancebos e os mandou fuzilar de imediato, por pura retaliação.

Outro, de espantoso cinismo, aconteceu quando os generais franceses jantavam lautamente no convento de Grijó, outros dizem, no Palácio das Carrancas, avisados de terem os ingleses á perna , tiveram de interromper o repasto, à pressa, e fugir, lestos, mesmo com o estômago a dar horas, salvando a pele. E o facto é que estavam tão perto que foram eles (os ingleses) que deram cabo das vitualhas, já na mesa, ainda fumegantes..

Soult é obrigado a abandonar o Porto que é finalmente liberto do invasor. Que atravessando serranias irá refugiar-se na Galiza.




                                                                           Soult

Terminava a 2ª invasão.

Retenho ainda de então, uma série de explicações: porque teria Napoleão invadido Portugal? Várias… e se calhar nenhuma em especial. Precisava dos portos portugueses por onde passava uma boa parte do comércio europeu (quase 10%)? Esperava Napoleão ,como em Espanha, obter a capitulação do Príncipe, e assim tomar de bandeja as riquezas incomensuráveis do Brasil? Teria sido a retirada  do Regente uma decisão«estratégica» ou uma simples fuga para o Brasil?

Quando foi exigido a Portugal ,por Napoleão, integrar-se no Bloqueio Continental, Portugal precisou de
grande perícia diplomática para não afrontar os ingleses,adiando a decisão. Se o não fizesse, a Inglaterra apossar-se-ia unilateralmente do Brasil.Mas se entregasse o poder aos franceses, perderia na mesma, a fonte das patacas brasileira.


                                              Retirada «estratégica», ou «fuga» para o Brasil?
Hellas!!! …percebi então que o D.João tinha, assim, justificação para a sua fuga,feita servindo os altos interesses pátrios. Com ele foram 15.000 ( para outros, 7.000) inúteis cortesãos. E assim, aquele futuro rei – algo badalhoco – ,que guardava o comer nos bolsos da casaca de onde os retirava para os comer à mão, subiu ligeiramente na minha (pouca) consideração. Fez bem a Carlota se lhe deu um purgantezito para o mandar desta para melhor (dizem!).

SF (Out. 2011)

[1] Este Junot,  figura com que nunca engracei, tinha apenas 28 anos e teria sido um mero sargento .Quando Napoleão lhe ditava uma ordem  em simultâneo com outras(dizia-se que ditaria sete ao mesmo tempo)  uma bala de canhão caiu próximo. Todos os escribas das ordens fugiram, à excepção de Junot ,que impassivel se deixou ficar do seu Imperador ,comentando «a terra levantada até foi boa para secar a tinta».E com tal dito terá sido promovido a General.

terça-feira, outubro 18, 2011


A BANDEIRA de 1838


A referida Bandeira é descrita por Madahil do seguinte modo :

« A Bandeira que se encontra na Câmara (CMI), é a que acompanhou o batalhão daqui nas lutas liberais de 1838 ,bordada a seda,ostenta a legenda RAINHA E CONSTITUIÇÃO DE 1838,sobre cores nacionais da época(branca e azul) e na fita donde pende a Cruz de Cristo bordada lê-se B. da G.N. de Ílhavo »

Ora parece haver, nestas afirmações, um lapso informativo. A Bandeira, se acompanhou algum Batalhão, tal teria acontecido na Guerra da Patuleia, que teve lugar em 1846. Continuação da participação nas lutas de sublevação da Junta do Porto contra o Golpe Cabralista (6 de Outubro de 1846),e que terá entrado na cidade em 27 de Outubro, sob o comando do Visconde Sá da Bandeira.

Aparecem, assim contradições entre historiógrafos da época.Diniz Gomes - familiar de Rocha Madahil - em «Costumes e Gentes de Ílhavo» ,(II Vol –ed Companhia Editora do Minho pp 93) refere-nos o acontecimento com a data de 14 de Maio de 1844.

Certo é que a Patuleia teve lugar em 1846.

Marques Gomes em «Noticias de Aveiro e Seu Distrito»,parece estar certo quando nos refere a presença do Batalhão no acontecimento de Valpaços, em 20 Novembro de 1846.

Mas duvida que a Bandeira pudesse ter sido levada ,pois, afirma,  não era crível que por ocasião da Patuleia ,o batalhão se apresentasse no Porto com tal bandeira, por nessa ocasião já ali ninguém pensar sequer na Constituição de 1838 (…) mas o grito terá acontecido:

“Portugueses às Armas ! Às Armas pela liberdade e pela Rainha ! (….)

Viva a Rainha ! Viva a Carta Constitucional !... Palácio da Junta Provisória 11 de Outubro de 1846.

Marques Gomes poderá ter razão.

Mas certo é que a revolução da «Maria da Fonte» sendo um movimento espontâneo, bateu-se contra a lei que impedia os enterros nas igrejas (Lei de Saúde) e contra a reforma do sistema tributário(os papeletas da ladroeira), pretendendo um regresso ao antes de 1842,ao sufrágio directo, o que significava o abandono da Carta .

Pelo que pensamos não estaria tão deslocada a «Bandeira da Constituição de 1838».É pois, possível - ao contrário do que afirma Marques Gomes - que tivesse sido levada aos campos da batalha pelos Setembristas de que eram apoiantes, Alberto Pinto Bastos e o irmão Augusto Ferreira Pinto Bastos(comproprietários da Fábrica da Vista Alegre), que integravam a Junta Governativa.

Outra situação diz respeito ás razões porque teria aparecido esta bandeira com estas inscrições, pois, refere Marques Gomes, existem duas e só duas portarias, determinando as inscrições na Bandeira da Guarda Nacional .



A primeira portaria, de 29 de Março de 1834 (art 6ºe7º), determinava que cada Batalhão tivesse uma Bandeira,azul e branca, com a legenda “ Rainha e Carta”


A segunda, a portaria de 14 de Setembro de 1836, pretende que a inscrição acima passe a “Rainha e Constituição de 1822”


Depois disso nunca mais existiu nenhuma Portaria a fixar inscrição diferente, das referidas .A inscrição inserindo o ano de 1838 ,não teria, pois, validade comprovada.

Como teria,então, aparecido a Bandeira do Batalhão de Ílhavo (da V.A)?

Marques Gomes sugere que a mesma é apócrifa “resultante do afecto de alguns ilhavenses por estas ideias

Poderia de facto assim ter sucedido :– os irmãos Pinto Bastos tê-la-iam mandado executar (bordar ) e acharam que a mesma, e os ideais que representava ,poderiam ser válidos para acompanhar o Batalhão dos Artistas da V.A. Independentemente de ter, ou não, validade fixada por decreto .

A Bandeira, que foi entregue à Câmara Municipal de Ílhavo juntamente com as quatro condecorações atribuídas ao Batalhão e ao seu comandante, estará , agora, no Museu .As condecorações ,parece ,ninguém sabe onde param; ou pelo menos ,ninguém sequer me soube informar de que conheceriam a sua existência.



Senos da Fonseca



2007

sábado, outubro 15, 2011


Pode um velho ter direito à indignação…ou tão só à resignação?

A onda ,o tsunami que aí vem – as imagens esclarecem como se forma a tempestade perfeita –, é um movimento de jovens indignados. Por isso não se diluirá. Crescerá até se tornar desbastador.

No meu tempo a indignação tinha um inimigo absoluto, único: - Salazar ,e o estado fascista.

Pelo menos tinha sentido.Era pacifico e não enganava ninguém : uns dum lado, outros do outro. 

Ora a indignação ora iniciada, não é contra o sistema – ninguém quer perder a democracia – mas tão só contra os que o servem (mal).O guião serve;quem não serve são os actores.

E não se apressem uns «patriotas» a embarcar, algures, na próxima estação, porque a hora é de desembarcar e não de embarcar. É hora de acabar com esta farsa em que temos vivido (nós e os outros lá por fora), a de uma pseudo democracia. Esta é a palavra de ordem do movimento espontâneo: -acabar com a « farsa da democracia» em nos deixámos emalhar. Que é apenas uma caricaturara do que deveria e poderia ter sido.E por esse equivoco,  todos nós, os das gerações anteriores, somos responsáveis. . Fomos traídos ? Talvez….mas isso não nos desculpa.

Mas deixem-se de sonhos: nós já não temos lugar no comboio. Resta-nos aconselhar esta geração que se não deixe enganar, como nós fomos enganados.Isso não será de menor importância.

A democracia, é hoje evidente, não se alcança com os partidos, mas por uma representatividade muito mais sã e próxima. De compromisso, responsável, e com rosto.

Talvez seja verdade que nem todo o tempo foi de pura perda. Talvez estejamos a ser alinha avançada, a «carne para canhão», numa batalha que perdemos, de uma guerra em que os vindouros vencerão.Outros o fizeram ,também,por nós.

A conclusão a que já se não pode fugir,é só uma: se isto é democracia…não serve. Reinvente-se,pois, uma «nova»,uma outra democracia.Com  pessoas (o individuo nunca se sentirá pessoa  antes de se sentir e assumir,cidadão)  e não com marionetas manipuladas por detrás da cortina.

E como vai acontecer ? …pois: - com uma outra revolução. Não se duvide. Pacifica ao princípio…violenta se não for às boas.

Ela está aí, em marcha. Só uns desatentos poderão pensar que isto não vai dar uma cambalhota de todo.

Em 25 Abril de 2010,na costumada versalhada evocativa, eu prenunciava:

(....)
Num outro Abril qualquer

A gente ainda saberá o que quer

Ainda saberemos dizer não …

(...)

Por isso não me resigno. E se eu já não posso (não tenho o direito de) sonhar,pelo menos torço para que esta cambada não tenha mais uma hora de sono …

Mais uma vez acredito; perdi muitos sonhos.Mas sempre na esperança de que ainda iria adormecer embalado pelas trombetas que anunciam um novo caminho para chegar ao ideal da esperança. Utópico? Talvez…que se lixe…
Este é o primeiro dia  do resto...deixem -me que para ele olhe com um olhar de inocência cristalina.  

SF (15 Out 2011)









quinta-feira, outubro 13, 2011


A deficiência está apenas na diferença.



A vivência diária, directa ou indirecta, com a deficiência,deu-me um conhecimento mais aprofundado no entender de uma parte da natureza humana.

Hoje tenho uma noção clara de que todos, em maior ou menor grau, somos deficientes.

Por isso abomino essa palavra. E substituo-a por «diferentes».

A vida no seu exercício é um fardo; um cumprimento, ou incumprimento, de vários parâmetros.

Julgo que todos – ou quase todos – ao querermos afirmar a nossa sã mentalidade, não fazemos mais do que tentar maximizar os diversas posturas – parâmetros - de vida no lidar com «todos». Podemos ter uma mente muito forte (inteligência vocacionada), cheia de atributos (ferramentas), para isto ou para aquilo em especial, sem que isso signifique que temos os (as) suficientes para viver a vida no seu todo. E porque esse dito «ferramental» é sempre, nisto ou naquilo, deficitário, a vida é, no extremo, um fardo.

Neste negócio de postura há maus desempenhos. Eu aceito-me um deficiente em relação a determinadas posturas. Veja-se: não saber conviver com o poder -não sabendo por mais esforço que faça dizer, sim! quando devo dizer, não!; não saber curvar-me para obter qualquer beneficio;sentir-me bem melhor na pele de devedor que na de credor; não saber trocar de amizades – ou acrescentá-las – só por conveniência.
Sei de uma maneira clara, assumida, quanto sou intolerável para os que mais quero, quando estes me desiludem. Mesmo nas pequenas coisas que tolero aos outros. E constato a minha deficiência que me não deixa auto-corrigir, sobrepondo-se à minha racionalidade (e muito mais haveria a dizer…)

Enfim: sou um «deficiente profundo» na lide com a vaidade material humana.

E por isso, é verdade, sentir-me cansado por tentar ser «normal». Andar anos e anos, a fio, a parecê-lo, que não a sê-lo.

A pureza dos deficientes é algo de belo. Percebe-se ao fim de uns tempos.

Um exemplo: aqueles que cumprindo uma tarefa lidam com os «diferentes», por norma, apegam-se, criam laços profundos com eles, muito mais sólidos e intensos, por vezes, que os demonstrados pelos familiares directos.

Já o não é assim – de modo nenhum! –, naqueles que lidam com os «sãos» no seu crepúsculo. Por que nessa fase da vida é mais nítido que afinal somos todos muito mais semelhantes.
Incrivelmente semelhantes, na exposição da deficiência que levámos uma vida a esconder.



SF (Out 2011)

            Os nós da vida.... ..  INQUIETUDE... A VIDA COMO ELA É ...  Neste cantinho recomendado que, a natureza prodigalizou, e que a e...