sexta-feira, fevereiro 17, 2012


Que «mar» és tu ,hoje?!

Aquele para quem o Arrais olhava
Quando raivoso lhe rugias, parecias louco (?)
Ele sorria, cuspia, e de ti fazia pouco.
Não sei que « mar» és
Mas sei que foste mar de dor e sofrimento
Em cada tempo, houve um momento.

Saudade …,saudade…ai saudade.

Que «mar» és tu ,hoje?!

Aquele  mar tenebroso ,estendido
Para lá do «Cabo Não»(?)
Onde só  iam os destemidos
Levados pela cobiça, ou talvez pela glória
De um mundo novo achar
Depois de Alcácer,fazer História.

Saudade …saudade …ai  saudade.

Que «mar»és tu,hoje?!

Aquele por onde os lugres mareavam  
Levando lá dentro ao engano
Homens que não sabiam ao que iam(?)
Certeza de coisa nenhuma, só dano….
Nem sequer se voltariam.
Mas iam ….

Saudade…saudade…ai  saudade.




Que «mar» és tu, hoje?

O mar das paletas dos pintores
Ou das odes dos poetas (?)
O mar onde moram os meus amores
Ninfas bonitas, inquietas pela ausência
Perdidas no teu azul sem fim
Vai a correr levar-lhes recados de mim.

Saudade…saudade….ai  saudade


Que «mar» és tu hoje ?!

O do sonho da ilusão (?)
Eu quero ir.
Embarcar, partir agora,
Sonhar com mil  enleios
Carregado de mil anseios
Ser de novo como outrora.

Saudade…saudade …ai  saudade



SF (Fev 2012)

domingo, fevereiro 12, 2012

Desistir (?) de quê ?!




Temo. A verdade é só uma :, temo, dia após dia, fazer o balanço final. E de repente, ele aparece-me como uma necessidade fim de estação….

Continuo a não perceber porque tenho, ainda, sonhos….E só o explico porque tê-los-ei – mas sonhos desencantados , conscientemente, enganosos. Falta-lhes o tempero: – a ilusão. E não há sonho sem ilusão. Apenas teimosia de o ter. Porque sonho sem ilusão, leva-nos a esquecer de o levar à concretização.

Então mais pareço um construtor de castelos de areia. Vou fazendo, vou edificando, e de repente, tudo se desmorona.

É chato ter uma noção exacta do que devemos ser, e não o que quereríamos ser.

Isto de ter consciência da necessidade de agir, torna-se maçã amarga.

Neste exacto momento já não vivo para adiante, mas para agora.

Como já não posso – nem devo! – fazer amigos, vou cada vez mais interiorizando a necessidade de manter a minha lucidez. Não é nada fácil….porque não quero nada de artificialismo no estar. A vida começa a doer-me, a magoar-me.

Então : – ou desisto de mim ou da vida.

Talvez que desta ultima seja mais fácil.

SF



quinta-feira, fevereiro 09, 2012

LENDA DA TERRA DA LÂMPADA.



Há muitos…. muitos anos ,tantos que já ninguém o sabe ao certo, quando(?) ,«aconteceu» em Ílhavo uma história que virou lenda.

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Era uma vez …uma Terra que em menina foi surrada pelo mar que lhe surriava os pés. E que depois, já crescida, viu aquele amainar aprisionado pelos braços da sereia lagunar.

O mar foi empurrado para longe, obrigando as suas gentes, pescadores da borda, a atravessar o prado já então a revessar de verde que se estendia, qual tapete macio , para os levar à Costa Nova em demanda da sardinha. Que, diziam, tal como a mulher, se quer rechonchuda e pequenina. Como todo o «gentio» do mar, pescadores ou mareantes, sempre os «ilhavos» foram mais tementes a Deus que a esse «cão» danado – o mar! – que por vezes amuado de tanta ousadia ,enraivado, ronronava ameaçador, em ondas espúmeas ao embater contra os frágeis barquitos em que aqueles ganhavam o pão para os seus .

Era nesses momentos dantescos que o arrais Ançã lhe gritava:«Ah!... danado, se fosses d’aguardente bebia-te só de um trago!» .E o certo,conta-se, logo o mar parecendo amedrontado com o desafio do arrais gigante, alquebrava e, ás arrecuas, tolhido, desembestava a tramontana e serenava .

Mas com Deus não se brinca, ou ofende. E os «ílhavos», criaturas de fé devota, muito embora confiassem nos «seus arrais» – que não havia outros de tal «igualha» por essa costa abaixo –quando chegados os momentos de aflição faziam as suas promessas ao S Pedro, orago da sua devoção, que na Igreja da santa terrinha, no altar, atento, velava pelas suas vidas. Acreditavam. Apesar da Vila ser, naqueles tempos idos ,aconchegada e pequena, era escufenada, tendo já desde os nossos primeiros Reis uma igreja REAL. Vistosa e imponente, que lhe conferia merecido destaque nas redondezas .Os pescadores e famílias , principalmente o «mulherio», era gentio muito religioso, comparecendo diariamente á missa pelas matinas, levando consigo uma esmola que entregavam às Almas para protecção dos seus .Esta Igreja desde muito cedo passou a ser das mais importantes e mais ricas de toda a região de Aveiro, exibindo valiosas imagens de Santos de terracota.Adornada de ricas alfaias de ourivesaria, muito faladas e, por isso, também, muito cobiçadas.

De tal modo que, aquando das invasões Franceses, os soldados do General Junot a esbulharam das suas riquezas para assim recomporem o cofre da estranja, já depauperado.

Conta-se então, que só uma rica «Custódia» de ouro de lei - que hoje ainda existe – e uma valiosíssima Lâmpada (vistoso e artístico candeeiro de prata que descia do tecto alumiando bruxeleante a capela do Santíssimo ) se salvaram. Porque um tal Malaquias –O Raposo – , antecipando-se à soldadesca francesa, as encapotou na batina, levando-as consigo, e as enterrou. Só passados muitos anos, vendo que o perigo, tinha então já passado, resolveu desenterrá-las para as entregar ao Prior, que, muito agradecido pela esperteza do acólito, logo mandou preparar grande festa para celebrar o acontecimento do retorno das valiosas peças, Festança com direito a pregão prodigamente trombeteado pelos párocos das redondezas, que do alto dos seus púlpitos prometiam foguetório de arromba e procissão solene que fosse testemunha da virtude da hora. A que não faltaria o ignito dominicário frei Elias, cuja voz tonante faria ribombar os Evangelhos, mailas ameaças da Santa Inquisição, alevantando abundosas tremuras em todos aqueles que, pecando, tresmalhados, andariam mais perto de trambolhão no caldeiro onde frigiam as almas penadas do que no azul celeste do paraíso – promessa habitual do sermonário – por onde ricos e pobres se passeiam, irmanados(como se tal fosse possível?) na dádiva de graças ao altíssimo. Vá-se lá acreditar. Mas nestas coisas do alto mais vale precaver do que ver.

Tanto alvoroço faria acorrer à Vila gentiaga estranja para render tributo aos tesouros que voltavam a arejo, para regalo dos fiéis, crentes. Que se iam aboletando por toda a vila em palheiro de compadre, de amigo ou de simples conhecido. Tudo gente de boa crença e fulanagem .

Andara o povo em grande folgança a doidejar, havia já três dias, com visita obrigatória à esprândiga Igreja que, aperaltada com vestes de gala, mostrava, envaidada, as relíquias, a quantos as quisessem admirar : - um ror de gente!.

No final da festarola, era já segunda feira, dia para estas gentes voltarem à labuta diária depois de reconfortados com a missa da madrugada, ainda os galos cucuritavam nos poleiros, na Igreja restavam abusacadas apenas algumas beatas. Que ouvida (?!) a missa ali ficaram a fazer as suas rezas. E assim palrando esperavam pela missa seguinte, a da manhã.Que «duas sempre reconfortavam mais do que uma só » .

Como eram mulheres de palanfrório, daquelas que todas as tardinhas vinham ao «rebate» contar as «últimas», aproveitavam aqueles momentos para pôr a conversa em dia, pois que a festança as afastara daquele convívio diário da má língua, onde as bocas baladeiras falavam «disto e daquilo… desta ou daquela : – de toda a gente do sítio !.O tempo dava para isso. Era tanto que ainda crescia para rezar um pai nosso e três avé marias »

-Oi.. chopa!- olha para quem entrou… –disse às tantas a Maria Calatró da Malhada, interrompendo a conversa, virando-se para a Josefa do Arnal que ali estava engrunhada, encapuchada no xaile de burel que lhe cobria a cabeça, como se o frio da manhã a tivesse entorpecido.Ao tempo em que indicava dois indivíduos, que, de escada na mão, com umas cordas aos ombros, tinham entrado na Igreja. Onde ainda, apenas, a luz mortiça das velas e as das lamparinas da majestosa Lâmpada, quebravam o negrume. Tinham parado debaixo da mesma assumindo um ar de consternação e espanto, dizendo em voz alta, um para o outro, mas de modo a que as «beatas» ouvissem:

- Ora vai-te …que raio de negócio fizemos… Quem é que a há-de limpar por semelhante preço?! …dizia  o mais baixote, parecendo arrependido com o negócio. Logo responde o outro :

-Bem… já que justamos o preço, agora não há nada a fazerToca a baixá-la que se faz tarde…diz o outro ,homem de barba cerrada, de aspeito desconfiado, olhar de aspe decidida a saltar sobre a presa. Ou fugir lesta, se inimigo se abeirasse .

E se melhor o disse, mais rápido o fez : pondo mãos á obra subiu a escada e arriou a Lâmpada perante os olhares assarapolhados da Josefa e amigas, logo a metendo num saco.

E dá de sair tranquilamente da igreja, de escada às costas …sobraçando ao ombro o saco onde restava a «lâmpada».

-Estais a ver …«chopas», como o Senhor prior manda tratar das coisas da Igreja para esta luzir ?!…diz a Josefa Carqueja para a Calatró ….E e agora inda hás-de dizer que o «home» é um mancatufe que nem prás novenas serve . És uma mal «dizente» …raios ! –que ainda hás-de ir «estorricar» no fundão do inferno …«morrendas se não falendas» –VADE RETRO SATANÁS .

Tocadas as sete badaladas da manhã, o Prior lá veio com o sacristão para rezar a segunda missa do dia.

Vinha ofegante, o abade , face espaçosa onde ressaiam as bochechas avermelhadas que uns diziam ser do afã do ministério, mas que outras, maldosas, diziam ser fruto das barrigadas das caçoilas do carneiro avinhado .Ou de se alambazar – á farta! – com a chispalhada que servia de lastro ás enguias de escabeche. Tudo regado por tinto corrido, vindo lá das bairradas, que lhe provocava aziumados borbotões.O cabeção manchado pelas manápulas pouco asseadas que tentavam aliviar o nó de enforcado, inchava-lhe o pescoço, exsudando-lhe os refegos que serviam de caneja para o suor que escorria para a sebada sotaina ruça. .

É então que a Calatró, alvoroçada e já desconfiada de tanto cuidado do prior, pois no seu entender ”não era «arrais» p’ra tão grande barca”, lhe salta ao caminho e diz :

-“oh!... senhor Abade .. tanta pressa para quê( ?!) santo Deus …,a limpeza podia esperar mais um poiquinho, e acabar-se a festa com a nossa Lâmpada, cá !...

-que limpeza estás tu a dizer ?.. ,oh mulher!…e de que Lâmpada…está para aí a falar?! resfolga o padre João dos Mártires.
-A que o senhor Prior mandou «alimpar» - «hom’ essa» !- que estes olhos que o chão hão-de comer, viu ali …E q’uinda agora a levaram ,a mando de V. Reverência » …responde a Calatró apontando para o tecto vazio da igreja.

E foi então que o Prior olhou para o sitio onde era suposto estar a Lâmpada e, vendo-o vazio, de olhos esbugalhados, gritou :

-Ah! Ladrões. Ah cães que me roubaram… …grita o aporrinhado abade, vermelho como um «pilado da praia » acto contínuo «arriando-se» das pernas» ,caindo para o lado…a bufar em apoplético estertor.

-Ide depressa buscar auga da benta …que o pobre homem vai-se … grita a Luísa dos Sete Carris para as restantes: – ao tempo em que amparava o desfalecido Abade nos seus braços de «pimpona pescadeira» .

-Que vá… «olhendas»!… é como a Lâmpada ,«assome-se» que é um ar que lhe deu …logo diz a Calatró que não perdoava ao Prior tê-la um dia mandado para casa onde, disse, “tinha mais que fazer que estar ali sentada no rebate da Igreja á espera da missa da madrugada”. .E logo a Calatró , acrescenta :

-q’uinté» tenho mais pena da Lâmpada que do «corvo » que não faz falta aos filhos, que os não tem ,referindo-se ao pobre abade que, pouco a pouco, depois de «rebaptizado» pela Josefa, começava a dar acordo de si. Uns gorgolhões de cachaça que o sacrista tinha ido, lesto, buscar ao passal, acabaram por recompor o pobre diabo.

-Ai! … filhas …diz a Luísa …desta vez nem o Raposo nos vale !!!

Em Ílhavo ,durante três dias ,os sinos dobraram a finados por ordem do Prior João dos Mártires. Tantos…quantos os da festa.

A Lâmpada – essa ! – levada pelos larápios, levou um sumiço …

Até hoje.
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Já sabes : quando quiseres fazer corar de vergonha um «ílhavo», basta dizeres :

-T’imbora» homem …que és da Terra da Lâmpada » …
Mas olha !...segue um conselho: – foge da terra,não te vá acontecer ficares pendurado na borda ….que a um «ílhavo» desembolado, nem o campino de «Garret», habituado a suster os cornígeos brutos, consegue fazer peito ….
SF

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