quarta-feira, dezembro 13, 2017




 Palestra na Sociedade de Geografia " Os Descobrimentos para Ocidente"

Integrado numa sessão,tendo por referência o excelente livro do Prof. Dr José F.Coelho " A Pedra de Dighton", voltei à aquela vestuta sala, para uma intervenção,focando-me em novas questões que me vão ocorrendo sempre que mexo nesta matéria  " Os Descobrimentos para Ocidente",pela qual sempre mostrei forte predilecção.

E creio que tudo correu bem,salvo o tempo concedido.
Tão bem que  logo  fui convidado para estar presente numa outra sessão,na próxima quinta feira ,amanhã,o que,naturalmente, não dá.
E mais um desafio me foi lançado : porque não fazer uma nova abordagem,em livro,sobre esta matéria ?

Curioso: quando vinha, com pressa, para apanhar o comboio,na rua  junto ao D Maria II,ouvi dois  individuos que alto me "gritaram" :obrigado pela lição".Eu não os reonheci.Mas quem vinha comigo ,reconheceu.E logo me disse :olha eram aqueles que se mostraram sempre muito interessados ,activos,na palestra.
Tempo,então de ser eu a agradecer.
E lá vim,bem disposto,certo do dever cumprido,em meio tão exigente.
E hoje,nesta manhã pardacenta,às oito o trabalho começou,de novo.Assim vou entretendo a vida.
Senos da Fonseca

quarta-feira, novembro 01, 2017


Só o vento é eterno....

E enquanto nesta noite enevoada
As estrelas descansam
Dormindo sobre a frescura da ria,
Meu coração
Volta a estar longe
Como a perguntar:
Porquê meu Deus?
Que deus seria este, o meu (?!)
Esquecido, desinteressado, ausente...
Outro Outono em que estarás ausente?
E eu (?) -o que fico aqui  fazer, folha no álamo
Que teima resistir ao vento
A olhar sonolento a ria a adormecer comigo,
Feita leito de prata velha
Onde as gaivotas mergulham sonolentas
Nas suas funduras frias.
Olho as formas, os lugares, os recantos,
Que incendiámos com o nosso amor, um dia,
há tanto tempo que já nem eu o sei,
 sei : foi  neste dia!...
Deixo-me dissolver no tempo.
Sem dor
Sigo a jornada feito peregrino do destino,
À espera que a candeia que me ilumina o caminho
Cansada, deixe o vento apagá-la.
Só vento é eterno, amor.

SF (1.11.2017)

sexta-feira, outubro 27, 2017

Postal nº 13

E assim vai a Costa-Nova do Prado.

Bonita, airosa e vistosa, segue vaidosa de ser o mais lindo presépio colorido deste País.
Terra ainda criança, onde apenas lavram duzentos anos de historial desde  que o homem violou pela primeira vez a virgindade do seu areal, a Costa Nova do Prado é, talvez, o mais belo rincão pátrio, postado entre o mar e a ria, que lhe deram vida e prazer.
A Costa Nova é um bodo  alargado para o sensório das gentes, inebriadas pelo despertar do  sol garimpando  lá da serra, a fazer ressair o verde da sua paisagem, enquanto vai toldando  de um avermelhado suave, as águas azuis da Ria. Tão azuis  que encharcam o olhar dos mirantes. A Costa Nova é uma paleta de pintor consagrado, em que o artista vai, hora a hora, misturando as cores pródigas da natureza, num contínuo mudar de tom. Ao meio dia, o azul das águas, tinge o azulão do céu, onde parecem pairar, olhudos, os anjos que nele habitam, olhando ciosos e ciumentos, a amplidão de frescura que paira cá por baixo.
Enquanto isso, o passeante olha, admirado  e estupefacto, os palheirinhos riscados de cores fortes, encostados beiral com beiral, como para se manterem erectos da trabuzana ameaçadora. Dos beirais  penduram-se  varandas de branco imaculado, púlpitos onde antigamente  se acantonavam mirantes, olhar perdido, embarcado na  proa de um qualquer ronceiro moliceiro, onde se lia ”bamos lá cum Deus”. Era vê-los para cá e para lá, catando pachorrentamente a ria, ensarilhando   os seus cabelos dourados nos ancinhos calados na borda, para com eles engordar as leiras ainda enlodadas, na suada feitura dos largos e deslumbrante milheirais, prados enverdecidos, que  completaram o nome à Costa Nova, postados ali, na Maluca, bem à sua frente.
Hoje, é certo, falta à Costa Nova do Prado, a beira mar ruralizada, prenhe de gente afadigada, num corrupio de entontecer, correndo duna acima, duna abaixo, na entre ajuda, a trazer do mar a rede que o meia-lua, foi lá longe esparralhar. O mirante, hoje, não   observa, arrepiado, o encabritar do barquito na vaga. A apontar a bica ao céu, para logo se enterrar na vagalhoça seguinte, impulsionado por meia centena de rijos pescadores embarcados, obedecendo, fiéis, á ordem do arrais:  Rema!!!!....rema...é agora ...vá...
E o mulherio na praia depois de saber os seus, mar adentro, salvos desta primeira investida, esconjurado o perigo, logo tocam os  bois que parecem descer ao areal para na sua borda lavrarem o mar.Tudo mexe a preparar  a longa e penosa puxada da rede para terra. Até que, porfírio cortado, saco esventrado, nele  ressalte em lampejos cintilantes de mil espelhos prateados, a bela sardinha debatendo-se no estertor do seu fim. Era uma correria atropelada. Onde se esqueciam regras, onde tudo era luta, tumulto, vigor escorrido no ressoar de corpos, para  ganho de pobre espórtula que (mal) dava para viver.
Se é certo que hoje esse espectáculo já não existe, porque o tempo corre célere na mudança, uma coisa não mudou:  o adormecer do sol que, à tardinha, vem, cansado de tão longa volta, espreguiçar-se no mar.
É sempre um bodo o entardecer neste recanto luxuriante onde a natureza foi pródiga em oferta: o azul vivo  do mar tinge-se de um afogueado quente, vivo, que preanuncia o fim do afadigado dia. Momentos únicos onde  a cor permanece em  continua transmutação de vermelhões em variadas gradações, aqui e ali, por vezes, entrecortados por farrapos de uma ou outra nuvem, transmitindo a sensação de por ali existir na paisagem, alma!. Alma de êxtase, que prodigamente se transmite à alma do mirante a deixar-se  envolver por tão soberbo momento. Uma e outra gaivota ziguezagueiam os ares, parecendo com esses requebros doces virem despedir-se do barbazanas de fogo que lentamente vai mergulhando nos confins do horizonte.

A Costa Nova, menina ainda, parece adormecer, ao de lábaro :suave, docemente, embrulhada na esfarrapada neblina que se estende pela ria.



Mas logo vindo do outro lado desponta uma lua cheia, a reflectir  o vermelhão do astro rei. Sobe às alturas, enquanto à sua volta a mutação e cambiantes de cor são um manjar de enlevo para o olhar. À medida que sobe, desaparecido o “rei”, logo a lua se cobre de um prateado extreme. E é esse prateado que vai tingir uma ria serena, dando-lhe um aspecto de inaudita tranquilidade. Só aqui e ali rompida pelo chape..chape...de um peixito que se deixou apanhar pela traquina gaivota.
E a noite convida ao repouso.
Embalada neste luar, a Costa-Nova, espreguiça-se no areal ...e adormece o  corpo afadigado .
Até que de manhã o estrídulo piar de um maçarico errante, ecoa na lusco fusco de uma luz indecisa da madrugada, a despertar no vermelhão que desce lá da serra.
E o bulício recomeça...


Senos da Fonseca (Postal nº13)

sábado, setembro 30, 2017




Livro “A Pedra de Dighton”
Prof.Doutor José Manuel Ferreira Coelho


Com muito prazer e satisfação, estive presente na Academia de Marinha,a convite do Prof. Doutor José Manuel Ferreira Coelho, na apresentação do seu interessante livro “A Pedra de Dighton - Seu Significado Histórico-Valores e Contra valores”.
Trouxe o livro que me despertou elevado interesse, e já o devorei. É um livro que defende, abordando com clarividência e saber, a intrincada, estranha e misteriosa questão, da  célebre pedra de Dighton que, o Prof Delabarre, descobriu na foz do rio Taunton, em Berkley, Fall River. E que o médico-historiador Dr.Manuel  Luciano Silva, (luso descendente , daqui bem perto, de Vale de Cambra) ,lutou, para não só tratar, preservar (e divulgar- Iº Congresso Internacional dos Descobrimentos, Lisboa-1960) ) a pedra que, nas opiniões daqueles estudiosos(a que se vem agora juntar o Prof.Dr.Coelho),provaria que Miguel Corte Real, teria pisado terras do continente americano, e aí se impondo aos nativos.
Talvez por influência do meu Prof.Luis Albuquerque,um dos maiores contestatários da verdade das inscrições na pedra, eu, por tudo quanto tinha lido(ouvi o Dr Luciano duas vezes, em Ílhavo.Lembro-me interrogá-lo) nunca fiquei  muito convencido .
Ora do livro do Prof. Dr Coelho, que já li atentamento, como o merece, saí um pouco mais convencido de que tal acontecimento poderia ter mesmo acontecido.
Porquê estou,então, mais convencido?
A inscrição segundo Delabarre e Luciano dirá :
MIGUEL CORTEREAL  V DEI
HIC DVX IND
A.D. 1511
Albuquerque  e seus seguidores, opunham
Dux -Duque (o que e que isso significaria???) ......IND –Indios?...como se naquele tempo ainda não se sabia....
E a principal residia na datação 1511- a data naquele tempo, era inscrita por algarismo romano, e não por números cardinais.
Ora o dr. Luciano, e agora o prof Coelho, acrescentam na inscrição a gravura de um escudo da Ordem de  Cristo, perfeitamente igual aos inseridos nos padrões deixados na costa africana nos Descobrimentos. Sem duvida algo que faz pensar e eliminar muitas dúvidas.
E logo o aparecimento de armas (espada do período de Afonso V)e  um canhão de culatra aberta, serão as melhores provas(?) de que a nossa presença naquelas Terras (então bem chamadas de Terra dos  Corte Reaes) indicia  presença portuguesa anterior, até (provavelmente) 1500.
Mas  então, levanto agora eu, a convicção de Armando Cortesão,de que a carta de 1424[1] demonstrava (já), navegações e visitas dos portugueses ao continente americano, muito antes de Colombo ter julgado chegar ás Índias, quando apenas teria  chegado às Antilhas, viria confirma-se e logo baralhar totalmente a história
Por isso o livro do Prof.Dr.Coelho ,profusamente ilustrado e cheios de pormenores históricos correlacionados, é um excelente trabalho, merecedor dos maiores aplausos.  
Senos da Fonseca



[1]  Consultar  meu livro “João Álvares Fagundes”

            Os nós da vida.... ..  INQUIETUDE... A VIDA COMO ELA É ...  Neste cantinho recomendado que, a natureza prodigalizou, e que a e...