MITOS QUE GAGO COUTINHO DERRUBOU....
Nos inícios do Séc. XX, ainda poucas as certezas haveria sobre a historia dos descobrimentos portugueses. O que se sabia ,era mais a fazer fé nos relatos dos cronistas de então que ,claramente, nada(ou pouco sabendo)de navegação, não mais eram que contadores exaltados dos feitos acontecidos(ou recriados), quase sempre destinados para satisfação do Rei; momentos épicos ,de superação de tempestados, nevoeiros, encontros fortuitos, medonhos, a que só a bravura dos navegadores portugueses era capaz de superar.
E se a história no referente às viagens no Atlântico Sul e Índico,tinham relatos em que fixavam lugares identificados, e rotas (exemplo das que levaram Vasco da Gama à Índia com uma certeza indiciadora de ser viagem habitual para os mouros), as viagens do norte do Atlântico ,feitas segundo intenções, fins e sem regimento rigoroso, obrigatório, pareciam apagadas da história, deliberadamente.
Seja.
Importa insistir que no inicio do referido século, historiadores que com diversos ramos de saber, foram, passo a passo, clarificando e desmistificando a aventura, tornando-a mais humana, com uma dimensão mais próxima do homem do que do acaso.
De entre esse grupo de historiados do princípio do século, distingue-se Armando e Jaime Cortesão ,Gago Coutinho , Luís Albuquerque, Damião Góis e uns poucos outros.
Achamos do maior interesse os elementos carreados por Gago Coutinho que mostrou por ciência vivida, experimental, provada, que muito dos mitos expressos nas crónicas e croniquetas avulsas que nas bibliotecas pululavam, eram claramente deturpados e induziam a uma leitura distorcida da realidade.
Gago Coutinho, oficial da Armada com mais de cincoenta travessias do Atlântico ,dispôs-se a embarcar na barca “Foz Do Douro”, capitaneda pelo Experiente Cap Fernandes Mano Agualusa, levando como imediato e piloto, os capitães Domingos Magano e Fernandes Matias, todos de Ílhavo. Homens experimentadissimos, conhecedores exímios das pilot charters americanas, com a indicação,para cada época do ano, dos ventos no Atlântico.
A Gago Coutinho interessava-lhe demonstrar o pequeno erro entre as leituras feitas no seu pequeno seu astrolábio de latão, propositadamente mandado construir,e as leituras feitas pela tripulação com o sextante moderno. Assim, a cada medida Gago Coutinho praticava lado a lado com os oficiais,estes equipados com sextantes e cronómetro, ele com o seu astrolábio.
Até ali haveria a ideia de que o astrolábio teria tido importância e permitido a navegação para fora do alcance de terá,com a permissão da leitura da Estrela Polar.
Gago Coutinho veio demonstrar é que a leitura que interessou, e foi fundamental,(já conhecida no tempo do Infante) nas navegações(leitura da latitude) foi a observação do Sol ,e nunca a observação da Estrela , porque de resultados e prática duvidosas(até porque a Estrela não coincide com o polo,pois descreve em seu torno uma circunferência de sete graus de diâmetro). Ora o Regimento do Sol era já conhecido anteriormente ao tempo do Infante(Libros de Saber).
Que era o astrolábio o utilizado isso parece bem claro no Roteiro da Viagem de D.João de Castro.
E terá sido depois de 1481 que feitas tabelas mais correctas se construíram as- trolábios de grande dimensão, que em terra montados sobre cavaletes permitiam tomadas de posição com erro inferior a 1/10 do grau.(2 léguas).
Claro que o erro a bordo com a oscilação do navio era maior.(Gago Coutinho assume 1/6 de grau).
Outro mito desfeito por Gago Coutinho nas suas inúmeras navegações Atlânticas, centra-se na absoluta e categórica prova que as rotas atlânticas de Gama e Cabral ,não foram obra de acontecimentos fortuitos (ou empurrados por terríveis ciclones, ou tormentas)pois ,como conclui Gago Coutinho ,quer ele nas suas travessias do Cabo ,cinco vezes), quer nas informações colhidas nos CLIPPERS da altura, constataram (e isso era conhecimento de todos os bons práticos) que as rotas adoptadas por Gama e Cabral-diferentes porque a partida foi diferente na época-denotam firme certeza de que os ventos dominantes ,em várias estações do ano ,sempre permitiam montar a terra saliente entre os actuais cabo São Roque e Santo Agostinho, da costa ocidental – aliàs prevista no tratado de Tordesilhas de 1497). Isto é: essas rotas tinham sido intensivamente estudadas e delineadas, de modo a dobrar-se o Cabo da Boa Esperança na abordagem correcta . Gago Coutinho diz que em todas as dobragens que fez (e de que tem conhecimento das mesmas )que a travessia foi feita sempre com bom tempo, sem dificuldade alguma, tão longe do modo como os cronistas exaltados e verbo hiperbólico , descreveram (talvez para infundir medo á concorrência).A dobragem custou nove dias a Gama, muito longe dos terríveis seis meses das Lendas,onde o descrevem, sujeito a terríveis e medonhas procelas.
Resta por fim uma clarificação sobre o achamento do Açores. Coutinho refere que já antes de 1.300 os Açores vinham mapeados. A abordagem feita directamente por acaso ou por decisão, directamente da costa africana(aquando das viagens para as Canárias) era complicada e havia por isso sempre a tendência a colocar tais ilhas a mais de 300 léguas do que efectivamente estavam.Por isso as ilhas continuavam a ser cobertas. Só quando dominámos a volta do largo no retorno da Mina, é que facilmente as descobrimos.
Os portugueses(Gama) encontraram os mouros ,no Índico utilizando para lá do quadrante e da da balestilha,certamente já com o astrolábio.De facto Coutinho equaciona que a viagem guiada pelo piloto mouro de Melinde, apesar de ser feita com a monção, demorou três semanas tendo passado (certeiramente)entre as ilhas Laquidivas e Maldinas,no canal dos 9,5,o que só poderia ter acontecido se feita pelos astros.
SEnos
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