sexta-feira, abril 17, 2009

A vida, parecendo por vezes querer ser piedosa ,deixando-nos somar anos, é em muitos casos , impiedosa, cruel .


Não sei se vai valer de nada. O certo é que o impossível fez-se. Demorou um pouco, mas fez-se.
Estranha sensação, esta teimosia obsessiva de não baixar braços, mesmo quando racionalmente ,para mim ,isso seria muito melhor.
Desatar os nós, ultrapassar barreiras podia (e pode!) trazer-me obrigações de consequências amargas. Mas se o não fizesse, acusar-me-ia de cobardia ou medo. E depois?
Ninguém sabe nada desta complexidade do não querer, mas aceitar o trágico do ter de ser. Não estou á espera que alguém o entenda, pois por vezes, eu próprio o acho incompreensível. Parece haver uma parte minha, racional, que facilmente se deixa sobrelevar por uma outra parte impulsiva, que domina e transcende o meu outro eu. Outro eu que decide por mim. Interrogo-me, viro tudo de trás para a frente ,analiso, durmo horas sobre o assunto e concluo: deixa-te estar quieto.E dito isto, logo dou comigo a aquecer motores e arrancar pelo caminho que ainda antes -momento antes – sabia, de certeza feita, ser desaconselhável.
Morrerei pois inédito.
Parece-me que sem o procurar, de repente, surge-me acabar sempre por ser igual, mesmo quando ensaio ser diferente. O instinto, em mim, leva a palma á racionalidade. Sou, não há dúvida, um contumaz do instinto. Gostaria de, por vezes, esperar que os gestos partissem dos outros para comigo. Mas por pudor – por pudor, é isso mesmo ! – adianto-me sempre, e procuro que o gesto primeiro, seja sempre, meu.
As imagens que ao sabor das situações se me foram colando, tornaram inútil e inglório o meu esforço para ser claro aos olhos do mundo que me rodeia. Valeria apenas parecê-lo, mais do sê-lo? O pior era aguentar a farsa.
Existe um temor que me vem assaltando.
Arrepia-me a certeza (ou pressentimento) que em breve poderá chegar o momento de incutir o cansaço e a pena, nos que me rodeiam. Pensar nisso quando ainda estamos (ou pensamos estar) perfeitamente activos, atenua. Mas não faz esquecer. Temos pois de prestar toda a atenção à avaliação da nossa inevitável perda de qualidades. Estou muito atento. Apontando todos os indícios nos mais pequenos gestos, testando-me nos outros.
Eu já assisti a isso; e custou-me perceber como o ser em destruição, por vezes, não percebe a dimensão da mesma.
Por mais que me prepare, temo que perca essa faculdade crítica, tão grande, que sempre me tem acompanhado. Tenho tanto medo de uma tragédia dessas, que pedi a pessoas muito chegadas, muito íntimas, a promessa que mo farão perceber, ao menor sinal vislumbrado de eu o não ter entendido primeiro. Uma espécie de eutanásia cobarde.
É que a vida, parecendo por vezes querer ser piedosa,torna-se, nessas circunstâncias, impiedosa, cruel.
Nada pior que tenham pena de nós. Nada pior que pressentir o murmúrio: - coitado!

Aladino

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