sexta-feira, março 30, 2012



(Nota prévia : só agora me chegou às mãos,  uma pasta de documentos (meus), arquivados desde há vinte ou trinta anos. De que nem sabia a existência, mas que pessoa amiga foi arquivando,e agora me fez a entrega. De entre os documentos escritos, saltou-me este, referenciando a apresentação da reedição do livro de Mário Sacramento, «Fernando Pessoa –Poeta da Hora Absurda». É agradável passados tantos anos, saber que não retiraríamos uma palavra ao que então escrevemos. E desagradável, reconhecer que nada mudou por aqui).

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Ainda e uma vez mais Mário Sacramento

Viemos de assistir ao lançamento da 3ª Edição do livro de Mário Sacramento, "Fernando Pessoa Poeta da Hora Absurda".   E, uma vez mais, a interrogação surge : porquê o alheamento de Ilhavo a mani­festações sobre Mário Sacramento?; porquê este "não assumir" de paternida­de daquele que foi sem dúvida - a clara e inquestionável distância - o inte­lectual de maior dimensão e projecção de entre os que tiveram a nossa Terra por berço?

Entre a numerosa assistência, dois ou três ílhavos presentes; nada mais. De­solador, este ostracismo a que “votamos" Mário Sacramento. Porquê? …interrogamo-nos: ­

- Teria sido Mário Sacramento um mau "cidadão ilhavense" apesar de ser um "cidadão" de eleição ao nível do País?

A resposta - um categórico não: como cidadão ilhavense ele foi um  interessado, constante e participativo  nos problemas da sua Terra natal: deu-se às Associações, como seu Pai se deu aos Bombeiros de ÍIlhavo, de quem foi um dos principais pilares; interveio no Illia­bum Club onde foi um dos dinamizadores da sua legalização e estruturação, de­finitivas; foi seu animador ao longo dos anos, sempre disponível para o hon­rar - para o Honrar, sim! - com notáveis conferências que ali proferiu. E ainda na­queles tempos bem difíceis esteve na Misericórdia de Ilhavo, dedicando-se ao seu Hospital, tendo para ele planos bem objectivos  que a política da época logo cerceou...

- Teria sido, então Mário Sacramento, um profissional desinteressado que tenha deixado sequelas nos seus doentes?

Não, não foi. Categoricamente. Foi antes um notável profissional com êxitos assinaláveis - quem não se lembra de alguns deles, na fase  de lu­ta contra o flagelo da tuberculose (?!); de uma dedicação extrema aos mais carenciados, era o “médico dos pobres". Assim era conhecido :Diziam-no todos os que, necessitados, dele se abeiravam, um ror deles dispensados (por falta de meios) de pagar a consulta.

- Teria sido o Mário Sacramento um intelectual desligado dos problemas con­cretos do seu tempo, mantendo-se numa observação distanciada dos mesmos, e por isso afastado dos seus concidadãos?­

Precisamente o contrário. O que teve de extraordinário este Homem, talvez como nenhum outro intelectual da sua geração, é que sacrificou o seu amor pe­la literatura - a grande paixão da sua vida! - em benefício duma intervenção directa,  sacrificada, permanente e arriscada. Envolvimento cívico que o martirizou. E o matou!...precocemente. 
O que existe de assombroso na estatura enorme desta figura, é que não se reconhece com nitidez o campo onde Ela derramou com mais fulgor a sua tor­rente de intervenção: se na sua oficina de escritor de fim de semana, se na sua oficina do artífice construtor dum novo País, se na “forja" onde pretendeu moldar o novo Homem: o Homem do devir com quem já não caminhou lado a lado no dia da liberdade, em presença física, mas em presença espiritual, pela certeza de que esse dia iria chegar.Que  não apenas desejou ...mas pelo qual  lutou e arriscou , como só alguns poucos, o fizeram..
Em Mário Sacramento conviveu em permanência a grandeza moral do homem com a firmeza do cidadão,que nenhuma ditadura persecutório conseguiu deitar abaixo.Em Mário Sacramento nunca houve vacilação: a liberdade não tinha preço, e eu 

Então porquê este alheamento?

Quando no momento de "psicose Pessoana", perante uma torrente nem sempre inovadora de trabalhos de abordagem ao poeta do desassossego, quer feita por nacionais quer feita por especia­listas estrangeiros, é sentida a ne­cessidade de reeditar o trabalho feito há trinta anos por aquele jovem ensaísta, que, sem referências e sem a companhia de livros de consulta, preso em Caxias, fez uma abordagem polémica (e como muito bem assinalou Vital Mo­reira) sem preconceitos da incomodidade de posicionamento do grande poeta pe­rante a visão do mundo do autor, é porque o trabalho é de sobra valoroso, reflectindo a seriedade da abordagem e a justeza das ilacções no contexto da apreciação. Como já tinha si­do a abordagem a Eça, como o foi a abordagem às obras de muitos outros (Flor­bela Espanca, Raul Brandão, etc. etc.).Discutível – e MS virá a reconhecer a necessidade de a ajustar, sem em momento algum a enjeitar.

Mas então porquê? Porque é que esta Terra cujos horizontes culturais se resumem ao «vamos indo e vamos vendo” como escorre a moda, onde parece tudo no fundamental, parado, onde o essencial se atola no lameiro fétido do desinteresse, se alheia, agora e uma vez mais, de um dos seus mais proeminentes filhos:- Mário Sacramento?

Excelente madrasta, desnaturada mãe, Ílhavo é uma terra que parece perdida na sua história. Parece aceitar, comiseradamente o destino: fomos mas nunca mais voltaremos a sê-lo. Perdemos a memória e perdemos o desejo de ser. Recuperar a memória seria ir ao encontro de exemplos que já não há. Então, vulgarizou-se a ideia de conviver, comoda e interessadamente com os que há., E sendo estes arrivista, corifeus da traulitada verbal, medíocres, há que nivelar pela moda do triunfalismo trauliteiro. A mediocridade tem uma capacidade infinita de vir á tona; com as invejas a tomar de assalto o lugar do merecimento dos que foram grandes. Disso se encarrega a retórica diletante e balofa dos títeres que vão subindo à cena. 
Desse modo deixámos de tentar um futuro coerente com o passado. Vivemos num atolado imerecimento.  
A resposta às minhas perguntas é pois: PCDC .Pandemia Colectiva de Demissão de Consciências. Alheamento,indiferença.Ausência.

SF

(PS- Aqui não comentei  a qualidade do livro,feita,já então,  em outra altura. Aqui o que me importou foi realçar a ingratidão) 

quarta-feira, março 28, 2012



(Nota: Há dias o Ábio Lapa deu o mote.E alguém me mandou esta versalhada do saudoso Quintino.Verdadeira enciclopédia .Aqui vai o guia das tascas d'IBALHO)


 AS TASCAS

Muitos eu vi em beleza
Par'ciam dançar a valsa
A beber na TI TERESA
Ou a beber na TI SALSA

Anda beber um copinho
Que eu já o deixo ficar pago
Ou em casa do PAULINHO
Ou na tasca do SANTIAGO

O beber é um grande vício
É mesmo grande fadário
Bebia-se no MAURÍCIO
E bebia-se no HILÁRIO

A beber era fatal
Era mesmo o fim do mundo
Bebiam no PASCOAL
E também no EDMUNDO

Diziam sempre que sim
Fosse do Branco ou doPreto
Bebia-se no CACHIM
E em casa do LORÊTO

Fosse sentado ou em pé
Era de toda a maneira
Era em casa da TI FÉ
Ou na loja do RIGUEIRA

Só p'ra minha paciência
Eu nem sei como vou tê-la
Bebiam na TI VICÊNCIA
E bebiam na CABÊLA

P'ra cá e p'ra lá da ponte
Fosse à tarde ou de manhã
Copos no JOÃO DA FONTE
E copos no CAMPANHÃ

Nunca os vi ir ao Carôcho
O que seria até belo
Mas entravam no ZÉ NÔCHO
E também no PARALELO

Bebiam num desatino
O Ricaço e o Pedincha
Iam beber ao QUINTINO
Ou na MARIA LABRINCHA 

P'ra eles era um idílio
Podiam fazer a escolha
Ou bebiam no VIRGÍLIO
Ou em casa do TI SÔLHA

Minha alegria se expande
Dizia um dia o Razoilo
Aqui no JOÃO DO GRANDE
E ali no CATRAPOILO

Eu quase que apanho um susto
Porque esquecia, sou franco,
Essa do TI ZÉ AUGUSTO
E a outra do ZÉ BRANCO

Sempre o vinho faz milagre
Representou bom papel
Lá na tasca do VINAGRE
Mais tarede do ISMAEL

Digo-vos num instantinho
E nisso sou bem certeiro
Que havia o ESCONDIDINHO
E a tasca do ZÉ PADEIRO

O REDONDO (O Latoeiro)
E se não lhe falha a tola
Ponho a loja do RAFEIRO
E a casa da TI CAROLA

Bebiam de que maneira
Sou eu quem aqui o diz
Era em casa do MADEIRA
Ou na Tasca do TI XIS

Lembrar a todas é um frete
Mas vou andando contente
Com a da ROSINHA TOPETE
Das LÉLÉS e do VALENTE

E encontro ao fazer o giro
A da ILDA e da MATEIRA
Loja do TI CASIMIRO
Mas continua a canseira

Também para meu contento
A da IRENE pois então
A da ROSITA DO BENTO
Da LANCHA e MANEL PATRÃO

Só se eu fosse um Calhau
Deixava em anonimato
A GRUTA e o MÁRIO LAU
E também o ZECA PATO

COVA DA ONÇA na ementa
O MATOS e JOÃO GAIO
Assim faço CINQUENTA
Mais nada senão desmaio

JUNHO DE 1994
J. QUINTINO TELES
ÍLHAVO

segunda-feira, março 26, 2012



 MOLICEIROS-MEMÓRIA DA RIA

Na apresentação da reedição  do livro  O MOLICEIRO – Memória da Ria – de Ana Maria Lopes (concepção ,organização, recolha  e texto) e Paulo Godinho(fotografia),quase tudo terá sido dito(e bem ).
Sobre o livro que elogiei largamente aquando da sua primeira apresentação ,por motivos que incluo ,agora, no Prefácio da actual edição ,para que fui convidado  pela autora, julgo ter dito o bastante, e talvez, o adequado.  .E o que pudesse dizer,agora, não traria mais achega que constitua novidade.
Mas foi para mim muito interessante que o Arq.Paradela tenha sublinhado na sua (excelente) apresentação do livro, o seguinte:
 Belíssimo não só pela qualidade gráfica e da documentação fotográfica executada naquela época pelo seu filho, Paulo Godinho, a qual não se limitou a ser apenas um registo analítico da investigação, mas que aborda a fotografia no seu campo estético, enquadrando o objecto de estudo, o moliceiro, na paisagem das suas evoluções, explorando a luz diáfana da laguna quando o tema é mais livre, com a sensibilidade e o olhar de um artista.

Ora isto é um facto que importa sublinhar. Porque por vezes o facto da autora ser a Mãe do excelente fotógrafo, Paulo Godinho, ofusca a justeza do elogio. O conjunto de trabalhos de Paulo Godinho, na Ria, seja na faina do Moliceiro, seja na do sal,é verdadeiramente notável. E se é certo que Ana Maria Lopes fugiu a fazer um corriqueiro livro sobre o Moliceiro como bem fez notar o Arq.Paradela ao afirmar :

Nesse âmbito, o livro dedica especial atenção aos elementos simbólicos e decorativos, tipificando-os, criando, talvez pela primeira vez, uma espécie de taxinomia dessas obras de arte popular.

Os painéis, bem como as bandas pintadas e as siglas com motivos geométricos, são uma ocorrência intermitente nas artes de pendor decorativo, pelo menos desde os frisos dos antigos gregos, até aos desenhos celtas e aos intricados geometrismos da civilização árabe, que por cá se detiveram durante vários séculos.

Mas esses elementos não são abordados no livro nos seus aspectos estéticos matriciais ou nas suas evoluções formais. Na verdade eles não correspondem a um substrato cultural erudito, mas  a uma moda decorativista popular, que se terá instalado em altura incerta, no norte da laguna.

Em vez disso, esses elementos foram objecto de uma organização sistematizada dos temas pictóricos e da sua interligação com os textos que os acompanham, que são também analisados e interpretados pela autora, recorrendo à sua formação linguística, para igualmente os agrupar e classificar tematicamente.

Os textos e os painéis correspondentes que no livro se contam por muitas centenas, constituem só por si um manancial enorme de património artístico de expressão popular que a autora nos oferece num deleitamento total, sem se alongar, como disse, sobre a génese de tais elementos evitando assim cair em especulações do tipo do ovo e da galinha”.

Certo é, porém, que também Paulo Godinho –então com  apenas 14 anos – foge ao trivial e já algo «estafado» cliché do Moliceiro, de frente, de lado …e até de «cócaras». PG   procura  mostrá-lo como instrumento de trabalho(e por isso focaliza pormenores acessórios, caso do vertedouro ,uma imagem notável) e por isso cata-lhe as entranhas. Utilizando com maestria invulgar a luz da Laguna, ora exuberante, ora  macia e doce,  obtém  imagens de extraordinária beleza. No seu conjunto, do melhor que conheço.  
Por tudo –do excelente traçado da apresentação  do livro feita pelo  Arq.Paradela, à  escorreita, sóbria, mas clarificadora explicação do que a autora pretendeu (e hoje de novo pretende) com o seu trabalho ,e à justa chamada «à boca de cena» do autor das imagens –tudo esteve bem.
E era precisamente ali que a sessão deveria ter acabado.  

SF

terça-feira, março 20, 2012



«BUSTEIRO» ou «BOSTEIRO»

Uma leitora faz-me um pedido de esclarecimento: a palavra «Busteiro» deve ser escrita com U ou com O.
Ora ainda bem que o novo  acordo ortográfico nada tem a ver com isto.
Mas a pergunta parece-me interessante, pois tenta esclarecer uma figura típica de Ílhavo, que ainda executava com verdadeiro profissionalismo a sua catividade no SÉC. XX.
Vamos pois se consigo elucidar a leitora.
Desde tempos longínquos (refiro Séc. XVII) que homens de Bustos (da Gândara) vinham com regularidade, a ílhavo, recolher a enorme quantidade de junco que quinzenalmente (ou mensalmente) se colocava às portas, junco que cobria o chão das casas simples alinhadas ao longo da rua Directa e Espinheiro. (lembro-me ainda da casinha de dentro da minha avó,que era coberta a junco fresco, semanalmente!) Esta herbácea, muito utilizada para fazer cama aos animais, era também utilizada nos chamados celeiros e cozinhas, concedendo-lhes uma agradável frescura. Assim os «BUSTEIROS» originais de Bustos, vinham com carroços recolher o junco amarelecido.E com ele faziam negócio, trocando-o ora por vinho, ora por outros produtos agrícolas Para eles o junco era fundamental para as «camas» dos animais. Eram também eles que tinham o monopólio da recolha dos juncos e erva-doce com que se suavizava os passos de quem conduzia o Senhor e Oráculos, nas procissões das festas locais. Vinham com uns carroços, demoravam-se um ou dois dias, albergados num ou outro palheiro da Vila, e depois partiam.
Ora no século XIX  esta gente  de Bustos deixou de se interessar pelos juncos.
E passaram o ofício a uns rapazes de Vale de ílhavo que vinham, de gabão enfiado e de tamancos, varal ao ombro onde pendiam uns cabazes de vergueiro (tipo «enxalabares»), percorrer rua a rua a recolher os excrementos dos animais, varrendo-os com uma vassoura de giesta para dentro do cabaz. Estes eram, de facto «OS BOSTEIRO», recolhendo a bosta dos animais, assim exercendo uma admirável tarefa de saúde pública, mantendo as nossas ruas bem limpas.

                                             «BOSTEIRO»

Resumindo: há as duas grafias: «BUSTEIROS» refere homens de Bustos a recolherem juncaria. «BOSTEIROS», rapaziada vinda de lá de cima, de Vale de Ílhavo e redondezas, a limpar as ruas da Vila, de excrementos(bosta),alimento fértil para as suas leiras.

 Infelizmente, hoje já os não há.
Porque hoje, «bosta»  é o que há mais pelas ruas citadinas.
E pronto. A explicação aqui vai ,ainda que trate de coisas mal cheirosas.

SF

domingo, março 18, 2012


De vez em quando Escolas pedem-ma. E eu gosto de a recontar...


LENDA DA TERRA DA LÂMPADA.


Há muitos…. muitos anos,tantos (!) que já ninguém o sabe ao certo quando ,«aconteceu» em Ílhavo uma história  que virou lenda.
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Era uma vez …uma Terra que em menina foi surrada pelo mar que lhe sucumbia aos pés e que depois, já crescida, viu aquele amainar   aprisionado pelos braços da sereia  lagunar. Logo logrou escapulir-se,    obrigando as suas  gentes, pescadores da  borda, a atravessar o prado já então a revessar  de verde que se estendia, qual tapete  macio, para  os levar à Costa Nova em demanda  da sardinha, que, diziam ,tal como a mulher, se quer rechonchuda e pequenina.  Como todo o «gentio» do mar, pescadores ou mareantes, sempre os «ílhavos» foram mais tementes a Deus que a esse «cão» danado – o mar! –!que por vezes amuado de tanta ousadia ,enraivado, ronrona ameaçador em ondas espúmeas  ao embater contra  os  frágeis barquitos em que aqueles  ganham o pão para os seus .
Era nesses momentos dantescos que o arrais Ançã lhe gritava:«Ah!... danado, se fosses d’aguardente bebia-te só de um trago!» .
E logo o mar parecendo amedrontado com o desafio do arrais gigante, alquebrava e, ás arrecuas, tolhido,desembestava a tramontana, serenando .
Mas com Deus não se brinca, ou ofende, e os «ílhavos» , criaturas de  fé devota, muito embora confiassem nos «seus arrais» – que não havia outros de tal «igualha» por essa costa abaixo–quando chegados os momentos de aflição, faziam as suas promessas ao S Pedro.Orago da sua devoção, que na Igreja da santa terrinha, no altar, atento, velava pelas suas vidas. Acreditavam. Apesar da Vila ser, naqueles tempos, idos ,aconchegada e pequena, era escufenada, tendo já desde os nossos primeiros Reis uma igreja REAL, vistosa e imponente, que  lhe conferia merecido destaque  .Os pescadores e famílias, principalmente o «mulherio», eram gentio muito religioso, comparecendo  diariamente á missa pelas matinas,levando consigo  uma esmola que entregavam às Almas para protecção dos seus .Esta Igreja desde muito cedo passou a ser das mais importantes e mais ricas de toda a região de Aveiro, exibindo valiosas imagens de Santos de terracota, adornada de ricas alfaias de ourivesaria, muito faladas e, por isso, também, muito cobiçadas.
 De tal modo que aquando das invasões Franceses, os soldados do General Junot a esbulharam das suas  riquezas para assim recomporem o seu cofre depauperado.
Conta-se,então, que só uma rica Custódia de ouro – que hoje ainda existe – e uma valiosíssima Lâmpada (vistoso e artístico candeeiro de prata que descia do tecto alumiando bruxuleante a capela do Santíssimo )  se salvaram ,porque um tal Malaquias –O Raposo –, antecipando-se à soldadesca francesa, as encapotou na batina, levando-as consigo e as enterrou. Só passados muitos anos, vendo que o perigo tinha então já passado, resolveu desenterrá-las para as entregar ao Prior.Que muito agradecido pela esperteza do acólito, logo mandou preparar grande festa para celebrar o acontecimento do retorno das valiosas peças, festa com direito a pregão prodigamente trombeteado pelos párocos das redondezas, que do alto dos seus púlpitos prometiam foguetório de arromba, procissão solene que fosse testemunha da virtude da hora e a que não faltaria o ignito dominicário frei Elias,  cuja voz tonante faria ribombar os Evangelhos mailas ameaças da Santa Inquisição alevantando abundosas tremuras em todos aqueles, que pecando,  tresmalhados ,andariam mais perto de trambolhão no caldeiro onde  frigiam as almas penadas,do que no azul celeste do paraíso por onde ricos e pobres se passeiam, irmanados, na dádiva de graças ao altíssimo. Vá-se lá acreditar. Mas nestas coisas do alto mais vale precaver, do que ver .
Tanto alvoroço faria acorrer à Vila gentiaga estranja para render tributo aos tesouros que voltavam a arejo, para regalo dos fiéis crentes, aboletados por toda a vila em palheiro de compadre, de amigo ou de simples conhecido, tudo gente de boa crença e fulanagem . Andara o povo em grande folgança, a doidejar havia já três dias, com visita obrigatória à esprândiga Igreja que aperaltada com vestes de gala  mostrava, envaidada,as relíquias a quantos as quisessem admirar, um ror de gente.
No final da festarola, era já segunda feira ,dia para estas gentes voltarem à labuta diária  depois de reconfortados com a missa da madrugada, ainda os galos  cucuritavam  nos poleiros , na Igreja restavam  abusacadas  apenas algumas beatas que ouvida a missa, ali ficaram a fazer as suas rezas –e assim palrando – esperavam pela missa seguinte, da manhã ;que «duas sempre reconfortavam mais do que uma só » .
Como eram mulheres de palanfrório, daquelas que todas as tardinhas vinham ao«rebate» contar as «últimas», aproveitavam aqueles momentos para pôr a conversa em dia, pois que a festança  as  afastara daquele convívio diário da má língua, onde as bocas baladeiras falavam «disto e daquilo… desta ou daquela –de toda a gente do sitio» .O tempo dava para isso; era tanto que ainda crescia para rezar um pai nosso e três avé marias » 
-Oi.. chopa!- olha para quem entrou… –disse às tantas a Maria Calatró da Malhada, interrompendo a conversa, acto contínuo virando-se para a Josefa do Arnal que ali estava engrunhada, encapuchada  no xaile de burel que lhe cobria a cabeça  como se o frio da manhã a tivesse entorpecido,ao tempo em que indicava dois indivíduos que,de escada na mão,com umas cordas aos ombros, tinham entrado na Igreja. Onde ainda, apenas  a luz mortiça das velas e as das lamparinas da majestosa Lâmpada, quebravam o negrume. Tinham parado debaixo da mesma assumindo um ar  de consternação e espanto, dizendo em voz alta  um para o outro, de modo a que as «beatas» ouvissem:
- Ora vai-te …que raio de negócio fizemos… Quem é que a há-de limpar por semelhante preço?! …dizia …o mais baixote, parecendo arrependido com o negócio. Logo responde o outro :
-Bem… já que justamos o preço, agora não há nada a fazer …Toca a baixá-la que se faz tarde…diz o outro ,homem de barba cerrada ,de aspeito desconfiado, olhar de aspe decidida a saltar sobre a presa ou fugir lesta, se inimigo se abeirasse .  
E se melhor o disse, mais rápido o fez : pondo mãos á obra subiu a escada e arriou a Lâmpada perante os olhares assarapolhados da Josefa e amigas, logo a metendo num saco e saindo tranquilamente da igreja, de escada às costas …sobraçando ao ombro o saco onde restava a «lâmpada».
-Estais a ver …«chopas», como o Senhor prior manda tratar das coisas da Igreja para esta luzir ?!…diz a Josefa Carqueja para a Calatró ….E e agora « inda hás-das dizer que o «home» é um mancatufe que nem prás novenas serve . És uma mal «dizente» …raios ! -que ainda hás-de ir «estorricar» no fundão do inferno …«morrendas se não falendas» –VADE RETRO SATANÁS .
Tocadas as sete badaladas da manhã, o Prior lá veio com o sacristão para rezar a segunda missa do dia.
 Vinha ofegante o  abade, face espaçosa onde ressaiam as bochechas  avermelhadas que uns diziam ser do afã do ministério ,mas que outras, maldosas, diziam ser fruto das barrigadas das caçoilas do carneiro avinhado.Ou de se  alambazar – à farta! –com a chispalhada que servia de lastro ás enguias de escabeche, tudo regado por tinto farto vindo lá das bairradas, que lhe provocava  aziumados borbotões.O cabeção, manchado pelas  manápulas pouco asseadas que tentavam aliviar o nó de enforcado, inchava-lhe  o pescoço, exsudando-lhe os refegos do pescoço que serviam de caneja para o suor que escorria para a sebada sotaina ruça. . 
  É então que a Calatró , alvoroçada  e já  desconfiada de tanto cuidado do prior, pois no seu entender ”não era «arrais» p’ra tão grande barca”, lhe salta ao caminho e diz :
-“oh!... senhor Abade .. tanta pressa para quê( ?!) santo Deus …,a limpeza podia esperar mais um«poiquinho» e acabar-se a festa com a nossa lâmpada, cá !...
-que limpeza estás tu a dizer ?.. ,oh mulher!…e de que Lâmpada…está para aí a falar?!  resfolga o padre João dos Mártires.
-A que o senhor Prior mandou «alimpar» - «hom’ essa» !- que estes olhos que o chão hão-de comer, viu ali … e « q’uinda» agora a levaram ,a mando de V. Reverência » …responde a Calatró apontando para o tecto vazio da igreja. 
E foi então que o Prior olhou para o sitio onde era suposto estar a Lâmpada e, vendo-o vazio, de olhos esbugalhados, gritou :
-Ah! Ladrões. Ah cães  que me roubaram… …grita o aporrinhado abade , vermelho como um «pilado da praia »  logo se «arriando» das pernas» ,caindo para o lado…a bufar em  apoplético estertor.
-Ide depressa buscar «auga» da benta …que o pobre homem vai-se … grita a Luísa dos Sete Carris para as restantes, ao tempo em que amparava o desfalecido Abade nos seus braços de «pimpona  pescadeira» .
-Que vá… «olhendas»!… é como a Lâmpada ,«assome-se» que é um ar que lhe deu …logo diz a Calatró que não perdoava ao Prior tê-la um dia mandado para casa onde, disse, “tinha mais que fazer que estar ali sentada no rebate da Igreja á espera da missa da madrugada”. .E logo a Calatró , acrescenta :
-q’uinté» tenho mais pena da Lâmpada que do «corvo » que não faz falta aos filhos, que os  não tem ,referindo-se ao pobre abade que, pouco a pouco , depois de «rebaptizado» pela Josefa, começava a dar acordo de si. Uns gorgolhões de cachaça que o sacrista tinha ido, lesto, buscar ao passal, acabaram por recompor o pobre diabo.  
-Ai! … filhas …diz a Luísa …desta vez nem o Raposo nos vale!

Em Ílhavo, durante três dias, os sinos dobraram a finados por ordem do Prior João dos Mártires ; tantos…quantos os da festa. 
A Lâmpada – essa – levada pelos larápios, levou um sumiço …
Até hoje.

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Já sabes : quando quiseres fazer corar de vergonha um «ílhavo», basta dizeres :
-T’imbora» homem …que és da «Terra da Lâmpada »

Mas olha !...segue um conselho :- foge da terra ,não te vá acontecer ficares pendurado na borda ….que a um «ílhavo» desembolado, nem o campino de «Garret»,habituado a suster os cornigeos brutos , consegue «fazer peito» ….

ALADINO 
  

sexta-feira, março 16, 2012



Ponto final……em mais uma etapa

Despeço-me, hoje, do CASCI, cumprida que está (inteiramente) a missão. Ver de novo um CASCI pujante, uma obra-prima exsudando solidariedade, por todos os poros.
Ílhavo (ainda) não merece o CASCI. Feito contra o individualismo ancestral, pedra no charco a provocar permanentes ondas de despeito nos poderes instituídos locais, o CASCI foi (e vai continuar a ser) uma mão de amparo para aqueles que, por uma ou outra situação, se vêm fragilizados.
A história do CASCI é um longo caminhar solitário de quem abdicou de uma vida possível, perante a impossibilidade de se abstrair das diferenças medonhas do mundo. De alguém que se soube desvestir do seu próprio ser, para ser apenas e totalmente para os outros.
Sossego hoje…Já vai sendo tempo. Amo a vida por mor dela. Mas sei que não podemos nem devemos fazer perdurar os equívocos, isto é o fazer de conta que somos necessariamente eternos, não descartáveis. Sempre soube excluir-me das coisas, sem que desse desfazer me nascesse mágoa ou desconforto. Não, dessa estou livre: -Cristo não morreu por minha causa, disso tenho a certeza.

SF  (16/03/2011)

terça-feira, março 13, 2012


 Sinfonia à beira -mar……

Olha amor:
Esta noite a lua não virá.
Vem tu que outro luar não há
Tão bonito como o teu olhar;
Vem daí antes da madrugada
Vamos juntos, de mão dada percorrer a estrada
Vamos pelos becos e congostas
Por onde andámos na nossa meninice
De novo ganhar o tempo que nos foge.


Vamos encher os olhos de nós.
Entretidos na doçura dos nossos beijos
Esqueceremos as vastas constelações
Vamos semear esperanças
E colher as flores
Para com elas enfeitar o bragal dos sonhos.
Entre gestos e abraços ternos
Tomarei nas minhas mãos as rosas dos teus seios
Que cobrirei de doces beijos.

Chega-te a mim:

Anda, vem daí
Enlaçados vamos até ao mar que nos anseia;                                                                                                                                                                  
Mergulhar nas suas águas
A matar a sede dos nossos corpos,
Que o mel da maresia, sopra e ateia.
Ver inquietos pássaros vadios
A sair do branco farfalho da vaga
Para  branquear o negrume da noite;

Deixa-te te ficar no meu regaço
A ouvir a rouquidão do seu choro noturno.

E até que a maré alta nos entrelace
Deixa-me vadiar nas ameias do teu corpo
Numa caravana de beijos, de abraços
E carinhos,
Mil feitiços, enleios tais    
A despertar as estrelas que há no mar
Para as colar no azul do teu olhar,
E dele fazer um firmamento estrelado.

Ò mar, ó noite, venham ouvir a melodia
É o teu sussurro, rumor amado
A implorar uma e outra vez….
                                      [Mais! …quero mais…… 

SF 

segunda-feira, março 12, 2012



 Nota prévia:
 Anda para aí um novo «vasconcelos» a oferecer o Concelho de Ílhavo,com o fim de o integrar no Concelho de Aveiro.E o curioso é que o motivo é o mesmo : tráfico de VOTOS. 



Anexação e Desanexação do Concelho de Ílhavo
 (1895-1898)


Em 1865, à profunda crise politica viria juntar-se a pior colheita agrícola de sempre. O desemprego e a criminalidade atingiriam níveis nunca alcançados; o país via nos suicídios individuais que grassavam por todo o lado, a aproximação do suicídio colectivo. Os tumultos surgem por toda a parte, em particular pela região de Aveiro, com o povo a indignar-se contra o imposto de consumo, entretanto criado. Tentado um plano de emergência e de estabilidade, não se vislumbraram, contudo, quaisquer consequências positivas. Importadas do exterior vão chegando as críticas demolidoras do liberalismo. Oliveira Martins é um dos arautos da transmissão desse estado de espírito, acusando os políticos, o parlamentarismo e os partidos, de serem «a causa de todos os males». A política – afirmava-se – quando reduzida a uma mera competição partidária e parlamentar, era um estorvo, sendo por isso preciso, inadiável – apregoava-se nos últimos anos do século – «engrandecer a realeza» para a transformar no poderoso agente da civilização, necessário para defrontar os «novos» desafios. Era assim justificada a necessidade de um novo governo, que apoiado na «autoridade real» e sustentado pela apoio e pela adesão das camadas populares, fosse capaz de pôr de lado as práticas conciliatórias, empreendendo reformas vigorosas, musculadas, que permitissem ir de encontro aos interesses instalados.

Desta situação irá surgir, de novo, integrado num governo regenerador, João Franco, que assumirá papel determinante na função legislativa, ainda que levada a cabo com o Parlamento encerrado o que pré- configurou a prática de uma ditadura, desculpabilizada com o facto de ser provisória e condicional. João Franco vai assim proceder a uma profunda reforma administrativa com que pretendeu acabar com os influentes e com o interesse dos «campanários», na qual, para lá das mudanças no ensino, reformulou o exército, estabeleceu quotas de representação no parlamento, e introduziu profundas mudanças Constitucionais. E assim classificou os Concelhos por ordem (1ª, 2ª e de 3ª categorias), fixando que os pequenos concelhos sem capacidade para satisfazer as necessidades básicas, deverão ser agregados aos maiores:  é nesta mudança, neste novo panorama administrativo, que se irá decretar a inclusão do Concelho de Ílhavo no de Aveiro.
Para a esquerda progressista os concelhos deviam ser comunidades independentes; para Franco, «positivista», o que contava “eram os factos históricos”: - os municípios e paróquias só faziam sentido, “conforme tivessem, ou não, recursos para prestar serviços de modo a poderem cumprir uma função social”. Por isso, na sua ideia, haveria que acabar com os municípios inviáveis, integrando-os nos grandes municípios.

Mas o que a reforma administrativa – que centralizou o País em trinta e três círculos eleitorais– visava, era, acima de tudo e fundamentalmente, controlar o voto, no sentido de a que a votação dos grandes centros urbanos não fosse pulverizada pelos votos rural (normalmente reaccionário, clerical).

O decreto de 28 de Março revogando a Lei eleitoral vai permitir que a área dos círculos eleitorais coincida com os distritos administrativos, com o que se pretendeu conceder representatividade às forças minoritárias. Para conseguir esse desiderato, alguns pequenos concelhos irão ser anexados aos concelhos mais representativos da área.

O decreto de 21 de Novembro de 1895 vai nesse sentido fixando a anexação do concelho de Ílhavo por Aveiro. Em acta da Câmara Municipal de Ílhavo dessa data [1], dá-se por extinto o Concelho, de que era na altura Presidente, Augusto Oliveira Pinto, e Vereadores João César Ferreira, Henrique Cardoso Figueira e José Maria da Silva Valente, nomeando-se para administrador na nova orgânica, o Dr. Mário Duarte (conhecida figura do desporto aveirense, que contava em Ílhavo com grandes amizades).

Naturalmente, e apesar disso, o facto não foi bem aceite na Terra, tendo-se formado uma «COMISSÃO PARA A RESTAURAÇÃO DO CONCELHO», encabeçada por Manuel Ferreira da Cunha(ver Figuras Ilhavenses no site www.senosfonseca.com ) cujos ecos se fizeram ouvir em toda a imprensa da região, e que chegariam ao Parlamento.

A integração iria durar pouco tempo e não teria nenhuns efeitos perduráveis. A situação económica e financeira do País piorava, e era já previsível a queda do Governo de Hintze Ribeiro e João Franco. A lei eleitoral, já em 1896 fora corrigida; Franco reconheceria “que a sorte dos Governos dependia da prosperidade do País”. O próprio Luís de Magalhães ilustre aveirense, seu amigo, ter-lhe-ia afirmado: - «tenho graves dúvidas sobre o êxito da sua politica”·.

Portugal definhava e o rei D. Carlos concluiu que aquele governo já não tinha qualquer préstimo: - nem para o Rei, nem para o País.

O Governo cairá a 6 de Fevereiro de 1897. Era o fim de quatro anos de governo regenerador e o regresso do Partido Progressista com José Luciano de Castro.

Por decreto de 15 de Janeiro de 1898, o concelho de Ílhavo será novamente reformulado e irá recuperar a sua autonomia administrativa. Forma-se nova Câmara; a primeira acta pós este período de anexação, data de 28 de Janeiro de 1898, sendo o cargo de Presidente ocupado por Ferreira Pinto Basto.
Em Ílhavo uma comissão encabeçada pelo  Sr Manuel Cunha, via assim recompensada uma luta  ininterrupta de oposição à perda  de identidade que a anexação produzira.

Nessa data o «ilhavense» José Barreto·, dedicou ao acontecimento um soneto que por curiosidade aqui se reproduz:
                    
 Assente sobre um vasto e fértil plano,
                        Em ruas amorosamente repartida,
                        De estradas, largos, praças, guarnecida,
                        Com mui saudável clima em todo o ano






                        Perfumada pela brisa do Oceano
                        Por aldeias Formosas envolvida
                        Mãe de nautas valentes, cuja vida
                        É um poema d’ingente esforço humano



                        Marítima, piscosa, industrial,
                        Formosa, alegre, activa e ilustrada
                        De importante labor comercial,

                        Este é d’Ílhavo a terra abençoada
                        Hoje enfim, do concelho a capital
                        «Esta é a ditosa pátria minha amada»



SF 

sexta-feira, março 09, 2012



Sr Presidente :EMIGRE !


Pior do que a banca rota material, é o facto de este país estar numa absoluta e indigente bancarrota  moral e intelectual.
E como o não poderia estar, se o exemplo vem de cima?
Cavaco veio hoje  demonstrar o que de há muito os portugueses já tinham descoberto: é um político por acaso. Claro eu sei que os Srs. já sabiam isso ,desde aquele dia em que levou a Maria no pópó novo, à Figueira, a comprar uma queijada, e deu por si ,à falta de pior ,presidente dos laranjinhas. Daí até hoje, este homem que até crê que nunca se engana-quem assim se julga é obviamente um enganado – trepa pelo sistema acima, e vê-se um dia sentado no cadeirão de Belém. Tem sido do caixão à cova: pobre País!
Homem de espirito e visão demasiadamente curtas, sem generosidade na alma – um deserto humano! – e muito menos nos bolsos, figura tensa, azeda e exaltada, sempre profundamente enervado consigo e com os outros, mostra um aspecto frio e um estado de alma embreada por medos interiores de que a sua ineptidão saia na próxima frase . Inegavelmente de  uma clara apetência ambiciosa ,sempre apostado em ir mais longe no ser e no estar, que a sua fraca capacidade intelectual lhe deveria  e poderia aconselhar:-tenha tino e não arranje esfarrapadas e tontas explicações para a sua (propositada) ausência do processo de demissão do anterior governo.Assuma a sua clara e iniludível incapacidade para o cargo que ocupa.  
Ora todo o ser desmedidamente ambicioso é um ser vingativo, empaturrado de ódios mesquinhos, carregado de invejas e sempre disposto, ao dobrar da esquina e no escuro, puxar do varapau e zás….
Cavaco na sua função (onde o puseram) deveria, enquanto desempenha o cargo, guardar da história do seu tempo, reservado e prudente silêncio. Não será ele a escrevê-la por muito que isso lhe convenha, e estija de acordo com a sua hiperbólica redundância de ser o juiz  em causa própria.
E o que fez? - atirou as pedradas e escondeu a mão,pois não deu direito ao contraditório. Politicamente cometeu um verdadeiro erro, só possível num político medíocre. Verdadeiramente entulhado de casos ridículos, avaliou ineptamente o alvo sobre que disparar, pensando com isso reaproximar-se dos já seus descrentes aliados.
Estes que se cuidem:- quem tem em si ineptidão, tem ainda em muito maior grau, a maldade cruel. E este Presidente de que me envergonho, parece-me alguém onde a cupidez convive harmoniosamente (?) com a ferocidade insensível.
Por isso,eu fui um dos que assinei a petição a «exigir» a sua demissão,a bem deste país. Hoje, estamos já,«tocados»; dentro de pouco, a continuar, estaremos podres até ao caroço(pois até este se vai)
Sr Presidente : calce o chapéu castanho que lhe dava o ar perfeito do que parece,indubitavelmente ser …e vá gozar a sua pobre «reforma». Emigre.

SF    

quarta-feira, março 07, 2012



Arquivador de momentos

Não há duvida que chegados à velhice (não sei porque se lhe quer chamar idade sénior…) somos, diariamente, confrontados com a necessidade de ir buscar toda uma boa dose de fortaleza (coragem?!) para ir suportando os sinais evidentes com que ela se manifesta.
Este tipo de coragem (se assim quiserem) é bem diferente daquela de que tivemos de fazer uso, quando ao longo da vida defrontámos momentos assustadores (borrascas que sabíamos passariam breve).Depois …? Bem depois era só largar pano, ajustar o rumo e partir de novo.
Agora, neste fim de viagem, o que me faz temer, é a possibilidade de me faltar coragem para o ultimo acto. O que seria uma pena.
Por enquanto vou-me iludindo a cada decepção que interiorizo. Verdade é que dantes a desilusão trazia consigo amargura a juntar-se ao desapontamento. Agora, cada desilusão traz-me apenas a vontade de ser um céptico estoico.
Ser novo implica não ter tempo para perder a esperança. Ser velho implica ser um arquivador de momentos que já só são importantes para nós mesmo.

Milagre da Vida

Gosto de vir a correr dar um salto à Costa-Nova e fortalecer-me. É incrível como só aqui me sinto seguro. E mais: ganho a certeza da minha (re) orientação.
Aqui sei perfeitamente sem necessidade de agulha, o Norte (e até as quartas ….).
 A ria (mais do que o mar) continua a fascinar-me – e a pasmar-me! E todos os horizontes que enxergo parecem recrear a minha imaginação. Quase direi que não consigo imaginar nada fora de mim, sem abrir os olhos e enchê-los daquela paisagem que me desafia o reavivar do sonho. Mas e também das perguntas inquietantes para as quais continuo a não encontrar resposta.
Milagre da vida? Para uns será.
 Para mim o milagre só aparece quando um poeta bate de mansinho à porta, que logo escancaro, entra e reincarna (por breves momentos) neste tosco e enfezado escriba. E então parece que sucede o milagre de me merecer.
Não se é poeta. Acontece….Por breves momentos
SF  

terça-feira, março 06, 2012




Prémio

Não sei porque raio é que nunca fiquei á janela, postado em sossego, a ver a vida passar.
Imaginar que essa postura me daria o prazer de, sossegadamente, ver os outros bulirem, de manhã ao crepúsculo da noite…e eu  distanciado desse desassossego.
Não….
 Não queria ser ninguém do que não fui. Que fique claro. Quis ser, um permanente desconforto, um desassossegado e inconformado ser. Comigo e com os outros. Cada presente, cada degrau da vida, deu-me sempre uma dolorosa sensação de derrota a ultrapassar.«Chego», e logo dou por mim a desejar fazer outra coisa. Discuto comigo como não seria capaz de discutir com um inimigo. Desalento-me propositadamente, só com a intenção de me provocar uma reacção para tentar de novo.  
Por tudo isto olho com uma certa distância e até displicência para os bem  intencionados que olham, sem perceber, afinal, o que sou(ou fui). Pois se nem eu sei o que desejaria ser – sabendo apenas o que não queria ser – como poderiam os outros saber o que fui em cada «reincarnação» do mesmo individuo. Fui um nómada da vida a procurar um moirão onde me ancorasse definitivamente. Não o enxerguei…e por isso reiniciei por várias vezes a navegação.
Ah!... se eu pudesse aqui ver realizados todos os meus sonhos para ver se então pararia de sonhar . Ficava a  desconhecer-me,  mais perto de mim, que os outros. A maioria da gente é outra gente (OW)
Na vida não há prémios nem derrotas. Há intervalos. Os insultos (ou os elogios) que nos infligem (ou oferecem),não devem ser capazes de furar a nossa carapaça : os  primeiros a da indiferença. Os segundos,a da (nossa) consciência de que serão sempre, nem de todo, merecidos.  
SF ( 2012)

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...