Nos 500 anos da
viagem de Fernão Magalhães
Julgamos que sem
sentido e despropositadamente, nasceu ,ou quer alimentar-se ,polémica sobre a
ideia sobre o facto de Portugal
e Espanha organizarem a candidatura conjunta da primeira viagem de
circum-navegação do globo, praticada por Magalhães sob égide de Espanha a Património da Humanidade da UNESCO
A polémica
instalou-se próximo de círculos xenófobos, nacionalistas exacerbados, onde se entende que a viagem e o
seu seu significado não deverem ser compartilhados, fora de um âmbito redutor
espanhol. Não admitem esses círculos que,se em estrita verdade, a viagem foi paga e suportada, por
Espanha, a mesma só foi possível pelo
apport da ciência náutica portuguesa, que
lhe deu forma, e concretizou em grande parte.
Fernão Magalhães
Registamos o pouco empolgamento por parte dos
“historiadores” portugueses, em descer a terreiro no
sentido de clarificar questões
fundamentais desse feito, onde o selo do
“born in Portugal” é inquestionável .
Vejamos então
alguns pontos de referência que envolvem o feito:
1-Fernão Magalhães, nascido no Porto(ou talvez
Gaia),em 1481,esteve embarcado na esquadra que acompanhou o 1º vice rei da Índia,D.
Francisco de Almeida, tendo permanecido e navegado por oito longos anos, em derrotas contínuas pelos mares do oriente. Incluído na expedição a Malaca,
teve nela papel de grande relevância. Há
notícias de lhe ter concedido o comando de um dos três navios que fizeram a expedição que,
de Malaca procurou as Molucas, onde se sabia “ estariam as ricas especiarias
que os portugueses procuravam afincadamente”. E se o temporal não permitiu a
Magalhães levar a viagem a bom termo,certo, é ter recebido preciosas
informações de outro capitão,Francisco Serrão, sobre o modo como lá chegar.
Magalhães teve assim,
acesso a um dos segredos mais guardados da época,sobre paragens ignoradas na
Europa, que lhe será precioso no arquitectar
da sua (futura) viagem.
Regressado a Portugal
com valiosa fortuna, Magalhães, de estirpe fidalga, integra-se na expedição que
guerreou em Ormuz(onde por sinal, é ferido).No regresso, acusado de comerciar ilicitamente, ou por erros cometidos na divisão dos saques
aos mouros, certo é que Magalhães parece ter sido, repudiado, e afastado, de
cargos de mando, pelo Rei D.Manuel. Este recusou, desde logo, financiar a viagem que Magalhães
arquitectara,: a de atingir as índias por ocidente, procurando para isso descobrir
a passagem que supunha certa nos extremos do novo continente (americano),depois
de Balboa ter feito a expedição que lhe permitiu lobrigar o novo oceano do lado
oeste do continente.
2- Magalhães ao ver-lhe negado o financiamento,perante o
alheamento do Rei português,vai assim oferecer a viagem, à coroa espanhola. Nesse
momento a situação,em Espanha, era
deveras complicada. O rei Fernando “O Católico”,depois da morte de sua mulher,
renunciara e entregara a coroa espanhola, a sua filha, Joana “a Louca”,
casada com Felipe de Habsburgo (O Formoso).Morto este, Fernando voltou a ser
chamado para a regência, dada a demência de sua filha. Veio Fernando a falecer (1516) quando Magalhães decide ir oferecer os
seus préstimos a Espanha. A Fernando “o Católico”,segue-se Carlos.Um jovem
impreparado, que nunca teria vivido em Espanha, e que nada conhecia dos usos e
costumes, e políticos do País.Com Carlos vem enorme côrte da Flandres o que não é bem recebido pela parte espanhola.. Anos pois, turbulentos, que levarão a tomar a decisão de “nunca
mais se entregar o trono a um estrangeiro”.
Magalhães foi
então auxiliado por Faleiro (cosmógrafo português que o acompanhara a ESpanha),conseguindo apoio do bispo
Fonseca (presidente da Casa das Índias).Em 22 de Março de 1518 ,Carlos V,
concede e entrega as capitulações, nomeando Magalhães “adelantado y Capitan de la Armada para el
descubrimento de la Especiaria”.Comandante de uma esquadra de cinco navios para, dos mares
do sul, passar ao outro oceano, e confirmar se haveria terras, e se estas estavam
incluídas na parte que o tratado de Tordesilhas, outorgava a Espanha.
3- Os custos da
viagem foram suportados em ¾ pela coroa,
e ¼ por um Cristobal de Haro .
Os cinco navios
armados para a expedição foram : a Trinidad (110 toneis), a San Antonio (110 tonéis) a Conception(90 tonéis), a
Victoria (85 tonéis) e a Santiago(75 tonéis). Faleiro foi, entretanto,sem que Fernão conseguisse
evitar, afastado da expedição. A frota zarpou de Saluncar de Barrameda,em 20 de
Setembro de 1519. Com Magalhães seguiu um italiano Pigafetta, com o encargo de
relatar a viagem. Rapidamente, depois de, como Colón, tocar nas ilhas Canárias,
foi a Costa do Brasil alcançada numa
viagem já assaz conhecida para Magalhães, desembarcando na baia do Rio de
Janeiro (13 Dezembro de 1519). Zarparão passados treze dias, depois de carregar
água e mantimentos, iniciando então a viagem perto da costa,sempre para sul, chegando ao rio da Prata em, Março de
1520. Continuando, atingiram a Baía de S Julião onde tiveram uma estadia
deveras complicada, levando à revolta de um grupo de oficias e tripulantes, espanhóis,que queriam obrigar Magalhães a regressar. Magalhães com pulso de
ferro,domina astutamente os revoltosos e castiga-os impiedosamente. O capitão da
Conception,o espanhol Quesada, foi
decapitado. Luis de Mendonça, tesoureiro da armada, foi esquartejado; .Juan de Cartagena
e o clérigo Sanchez abandonados em terra. Desapareceram para todo o sempre. Aos
marinheiros (porque deles precisava), Magalhães perdoa .A nau “ Santiago” que entretanto se adiantara,afundou-se. Momento em que Magalhães decide substituir os capitães espanhóis por
portugueses da sua confiança .Em Outubro o tempo melhorou. Magalhães, navegando
a sul,diz ter encontrado o estreito que
permitiria a travessia, afirmando, segundo relata Pigafetta “ter visto esse estreito num mapa da
autoria de Martin da Bohemia”, excelente cosmógrafo a trabalhar para o rei de Portugal.
Viagem circum-navegação
Magalhães manda
à frente as naus “Concepcion” e “san
António” .Aproveitando a noite,esta, comandada pelo espanhol Álvaro Mesquita,dá a volta, foge e regressa a Espanha. Magalhães penetra no canal, tardando a
dar conta da “Concepcion” e da “san Antonio”.O canal é um perfeito labirinto
de enseadas e baías,tendo-lhes chamado a atenção, inúmeras fogueiras que os indígenas
acendiam de noite (Terra do Fogo, assim lhe chamaram).E em 27 de Novembro de
1520,finalmente,as três naus entram num mar de águas tão calmas,que decidiram dar-lhe o nome de Oceano Pacífico
.
4- Rumando a
O-NO percorreram 4.000 milhas sem encontrar terra, durante mais de três meses. Só
em 16 de Março de 1521,avistaram uma ilha a que deram o nome de ilha dos Ladrões.
Magalhães tinha
instruções exaradas nas capitulações, de
que não deveria entrar em conflito com os indígenas “achados”, mas tão só, avistar terras, exercer o apostolado e
determinar exacta posição para saber se essas terras estavam dentro do hemisfério de Tordesilhas. Sucede porém que, ao arribar ao Arquipélago de San Lázaro (hoje
Filipinas),Magalhães decidiu obter à força, dos indígenas, submissão ao Rei
de Castela. Decidido a mediar conflitos, Magalhães acudiu, assim, a Macatàn, disposto a submeter os indígenas desta ilha .No conflito havido é ferido mortalmente pois, como refere
Pigafetta ”como conheciam o nosso capitão concentraram nele todos os ataques”. Apesar
de ferido, Magalhães dá prova de uma força indomável tendo arremetido bravamente até ao último minuto em que foi trespassado por lança índigena.
Morte de Magalhães
5- Para Magalhães
era o fim da aventura.
Das três naus (“Trinidad”,”Concepcion”, e”Victoria”) foi eleito capitão
português Lopes de Carvalho. Da “Victoria”
ficou capitão Gomez Espinosa. Da “ Concepcion” foi eleito Elcano .Dado o mau estado
da “Concepcion” foi então decidido abandoná-la. Lopes Carvalho não
mostrou conhecimentos, e foi demitido. As decisões ficaram assim, entre El cano
-que decidira cumprir as instruções de Magalhães: regressar atravessando o
Pacifico em latitudes asuficentemente a sul(40º ou mais) e dobrar o Cabo da Boa
Esperança. A “Trinidad”,em muito mau
estado, foi decidido abandoná-la em Tidore, à guarda do Rei.
Após carregar a “Victoria” com especiarias valiosas,depois de atribulada viagem em que foi fustigada por fortes temporais, Elcano conseguiu, a muito custo, dobrar o Cabo da Boa
Esperança, em18 de Maio. Logo que o vento amainou tomou a decisão de se
dirigir a fazer aguada, a Cabo Verde. Aqui
estiveram em risco de serem aprisionadas por ordem do Governador, que reteve parte da tripulação em terra. Elcano decide não esperar
por aqueles, e faz-se ao mar.nEm 6 de Setembro de 1522 ,desembarcam,finalmente, em Sanlucar de Barrameda,onde chegaram apenas, 18 dos 237 tripulantes, da frota de Magalhães. Estava
assim concluída a primeira viagem de volta ao mundo.
Elcano
5 –Do que
sucintamente relatámos salta à vista.
5-1- Todo o conhecimento que permitiu
esta grande navegação teve a sua origem em Portugal. Não só a experiência
náutica de Magalhães, os conhecimentos de navegações no oriente, como os conhecimentos
induzidos por Faleiro ;e até pelos mapas de Martin da Bohemia referidos por
Pigafetta.
5-2 – A coroa Espanhola
assumiu um encargo de ¾ do custo da expedição.
5-3- A partir de certo momento, anterior à travessia da ligação do Atlântico ao Pacífico,as
naus foram comandadas por portugueses.
5-4-Magalhães tinha nos
seus planos ir às Molucas, o que El Cano não conseguiu concretizar.
Por tudo isto,
não é demasiado Portugal desejar
associar-se às Comemorações dos 500 Anos da Viagem de Magalhães, e muito menos
censurável, incluir-se no pedido de reconhecimento mundial da mesma.
Senos da Fonseca
Sem comentários:
Enviar um comentário