NA REGIÂO DE AVEIRO. NO BAIXO VOUGA LAGUNAR
João Paulo Crespo
O título do livro “Na Região de Aveiro. No Baixo Vouga” era já suficiente para me despertar a atenção e o incluir nas leituras diárias. Sendo da autoria de João Paulo Magalhães Crespo, colega a quem me liga, um conhecimento de seus progenitores, especialmente a seu Pai, eng. Magalhães Crespo, por quem mantive consideração e até admiração (porque um qualificado engenheiro), mais interesse me motivou fazer uma abordagem ao livro.
Ainda há pouco tempo elaborei um pequeno livreto sobre uma matéria que me despertou muita curiosidade: – o “Plano de Navegabilidade do Vouga”. Nascido no tempo de Pombal, foi o estudo da sua viabilidade, concretizado, no reinado de D. Maria.
Nesse plano era já aflorada a importância económica da zona do Baixo Vouga(3.000 ha) provinda dos seus férteis terrenos, onde a interacção do homem com o meio geográfico(sempre em mutação na relação, terreno com a água do salgado lagunar) teve (e tem ) de ser constante para manter (e até melhorar) a produção agrícola do interland lagunar.
No livro de J.P Crespo, apercebemo-nos que, tal como naquele tempo já longínquo pombalino, as dificuldades burocráticas, o tramite dos processos num constante rodopiar por gabinetes, é desesperante para os técnicos planificadores proponentes, que ficam a aguardar, esperançosos, o “será agora que o “Vouga” vai avançar”.
Pelas páginas das memórias de Crespo, vê-se como as esperanças, quase por norma, repetidamente se finam ou, quando muito, se limitam a intervenções pontuais de amplitude muito reduzida.
O problema da subida e consequente extensão das marés, consequência do aumento das condições de acesso ao Porto de Aveiro (com notável incremento e com projecções que indiciam exigir o aprofundamento do canal de acesso e barra, a níveis até há pouco impensáv
eis),vai aumentar a necessidade de se tratarem as defesas das margens interiores, para manter uma gestão sustentável do solo e dos ecossistemas , evitando o seu encharcamento pelo salgado.
Crespo esclarece na Agenda de Inovação para a Agricultura (2020) que,”sendo os agricultores os verdadeiros gestores do território, assumem uma especial importância no baixo Vouga Lagunar ”.... e assim continuar a acreditar num sistema....simples de produção de um “regadio sem rega” ,em que a água salgada procura reclamar para si o seu território e a “minha” teimosia a procura contrariar até quando e enquanto me for possível”, alertando para importância do “Projecto de Defesa Primária do Baixo Vouga ”(enunciado e em circulação em despachos estéreis ministeriais, há mais de duas décadas ) . Na “linha do tempo”, Crespo aponta 2023/2024 como anos do Concurso Publico Internacional para Execução da Obra.
Será que o “Vouga vai avançar?. ....apetece-nos repetir.
Em resumo:um livro de memórias de um excelente e esforçado profissional ,apaixonado pelo Baixo Vouga-Memórias que se leem com muito prazer, e gosto porque, muito bem equacionadas, são excelentemente desenvolvidas em linguagem sucinta ,escorreita e directa, não maçando, antes despertando o interesse ao tempo em que enriquecem o conhecimento do ecossistema onde nos integramos. Que é preciso preservar.
Senos da Fonseca (Jan 2025)