As 101 propostas para UM FUTURO PARA AVEIRO
Alberto Souto
Li (e reflecti) com toda a atenção, as 101 sugestões de Alberto Souto em,“UM FUTURO PARA AVEIRO”. Não sendo natural de Aveiro, nem sequer lá residindo (e ainda bem!), não deixei de me debruçar sobre as propostas, avaliando-as, uma a uma. Detive-me, é natural, sobre aquelas que se estendem e procuram uma certa associação intermunicipal com a autarquia de Ílhavo. Até porque, muito curiosamente, há muita coincidência com propostas que, há muito (mesmo muito, antes até de Alberto Souto assumir a Presidência do Município de Aveiro) venho sugerindo (e ainda recentemente mantive) para Ílhavo.
Vamos então às 101 Propostas para um futuro,que, Souto “sonha” e propõe, para Aveiro.Desde logo parece-me que, as sugestões, se houvesse coragem de as levar à prática, trariam, efectivamente, uma mudança radical do paradigma urbano da cidade. Reconheço contudo que, a concretização das mesmas necessitaria um espaço temporal que iria para de dois ou três mandatos autárquicos. O que desde logo torna difícil a exequibilidade de todas. Mas e certo (como refere o autor): “há propostas absolutamente urgentes e factíveis” e outras menos urgentes para se irem concretizando,E até outras, talvez (aceita o autor), não exequíveis.
Julgo bem patente na ideia subadjacente às proposta de Alberto Souto, ao abarcar e propor mexer em áreas tão diversificadas, cobrindo todo o espectro urbano, existir como fio condutor, a procura do conceito prioritário de dar a cidade a quem nela habita ou vive, uma cidade onde o cidadão possa fruir de toda uma série de equipamentos, sejam de saúde, desportivos, lúdicos, educativos e ou culturais, sem constrangimentos de qualquer espécie, alcançados de uma maneira fácil, acessível, por isso convidativos ao seu usufruto. E só então, proporcionar, e por consequência oferecer, mobilidade adequada (sem ferir o bem estar das populações nativas), a todos os que vindos das redondezas trabalham na cidade, ou a visitam.
Todas as sugestões de A. Souto, podem e devem ser, publicamente discutidas. Aceites umas sem grande controvérsia (caso da correcção do atentado urbanístico da Av. Lourenço Peixinho, Rossio, as zonas de parques verdes, diversos equipamentos desportivos e de lazer, equipamentos culturais, as sugestões de novas dinâmicas no Urbanismo e Habitação etc), outras certamente merecerão critica ou sugestão para possível correcção.
Importa-nos por razões facilmente perceptíveis, abordar as ideias propostas em duas áreas: a Recuperação do Lago do Paraíso para fins diversificados. Intimamente ligado a esta recuperação, é sugerida numa hipótese intermunicipal entre Ílhavo e Aveiro, para recuperação das margens lagunares, seu tratamento e criação de projecto urbano, singular, na frente da Ria.
Propusemos e somos acérrimos defensores desse plano.
A cidade de Ílhavo nasceu e dispôs-se ao longo dos canaletes (muitos!) que despejavam na ria, dos quais o principal, era o Rio da Vila que desaguava na Malhada. Há muito que se impõe criar um novo perfil urbano para a cidade, desenvolvido e alinhado com o canal do Rio Boco, tendo o seu centro (de partida para montante e jusante), no perfil ligeiramente elevado da Malhada (Seca do Milena) onde se fixariam diversos equipamentos (fórum comercial, cultural, desportivo, e em anexo uma unidade hoteleira). Logo abaixo, a recuperação do esteiro da Malhada, para usufruto náutico adequado. De igual modo a poente, a zona ribeirinha das Gafanhas (Boavista e Aquém) seria minuciosamente tratada, recuperada com pontos de fruição específicos e diversificados.
No Lago do Paraíso poderia (e deveria!) ser inserido o
MUSEU DA LAGUNA –EMBARCAÇÕES E ARTES. Com esta unidade museológica, com o canal navegável do Rio Boco , estaríamos perante o Circuito dos 4 Museus (Aveiro, da Laguna, do Bacalhau (MMI) e da Vista-Alegra (cerâmica). Uma atração turística de notável expressão, fascinante diríamos, capaz de arrastar e promover um fluxo turístico, cultural e comercial de apreciável dimensão e expressão. Com as unidades hoteleiras a implantar com critério no portinho da Malhada, a acrescentar ao Hotel Montebelo (V.A), a oferta turística seria fortemente engradecida, ao ser tão completa como diversificada e rara.
Saliento nas ofertas de A. Souto a concretização descritiva de algo que sempre me bailou no espírito. Escrevi sobre um projecto nascido no séc. XVIII, no tempo de Pombal, sobre a navegabilidade do Rio Vouga até determinada cota: S. Pedro do Sul. O projecto estudado no reinado de D. Maria II, tinha então, a justificação de alargar a virtualidade da abertura da nova Barra (1808), ao interior Beirão. Expandir o comércio das mercadorias chegadas, levando-as ao interior das beiras, e trazer destas para serem exportadas pelo porto de Aveiro, as mercadorias ali produzidas, com o que lucraria Aveiro e as terras interiores. A tal suceder a nova Barra não serviria apenas Aveiro. Se apenas a isso se limitasse, pouco interesse teria para o desenvolvimento da urbe, fechada em si mesma. Então, por razões da não existência de meios de transporte, nem vias que permitissem levar ao interior mercadorias e dali trazer os produtos manufacturados, o desenvolvimento económico da região seria praticamente desprezível.
Aveiro é conhecida pela “Cidade dos Canais” uma marca identitária propagandeada. Bem poucos os ora aproveitáveis. Ora Souto recria e sugere a abertura (ou ampliação) de toda uma série de canais, com a finalidade de usufruto dos residentes mas que sirvam de ampliação à actividade turística: assim Souto avança: – novo canal à Universidade, canal da Redúzia, canal entre S. Roque à Ribeira de Esgueira e à Capela das Barrocas, canal entre o lago do Parque do Infante D. Pedro e o canal dos Santos Mártires, e last but not least, o canal de ligação do Canal das Pirâmides à Pateira de Fermentelos.
E porque não, numa acção intermunicipal, a recuperação da ligação da Pateira a Águeda?
Esta abertura de novas linhas de água permitiria, então sim, atribuir a Aveiro com toda a razão, o título da “Cidade dos Canais”. Creio bem que Aveiro passaria a um verdadeiro ”must”, no panorama citadino português.
São muitas e bem justificadas as propostas de A. Souto para um esforço de melhorar talvez, aquele que é no momento ou pelo menos mais complexo e direi, aflitivo problema, de Aveiro. Caótico!... Para o atenuar e em parte resolver a mobilidade na cidade e na acessibilidade à mesma, Souto propõe 23 sugestões de intervenção (ou melhoria) à priori para os que vivem na cidade, e logo depois para os que, por diferentes motivos, a ela pretendam aceder. Não tenho um conhecimento detalhado que me permita dar qualquer sugestão ou achega a este complexo (e ingrato) exercício. Direi apenas: parece-me que A. Souto “foge” a soluções que utilizem túneis para desencarceramento rodoviário (caso da obra de arte sugerida sobre a A25 no acesso Sá-Barroca, solução que me parece poder ser menos agressiva. Não seria a meu ver, em casos mais complexos de utilizar a via subterrânea como solução?
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E fico por aqui pois para mais não tenho “nem obra ou arte” que me permita acrescentar matéria útil ou aconchegante para a revolução urbana que A. Souto propõe para um sólido e coerente futuro para Aveiro: para os que ali viverão e para os muitos que ali procurarão futuro, no exercício da sua actividade profissional,.Mas e também para os que a visitam para deleite turístico.
Importaria que estas ideia fossem publicamente discutidas. Certamente algumas delas melhoradas ou até eliminadas. É tempo de pôr fim ao “fazer e desfazer” ao gosto de cada um, intervindo pontualmente aqui e ali, sem se seguir (antecipadamente) um plano sufragado por aqueles que suportarão (e pagarão) os erros das experiências voluntaristas e individuais de autarcas, muitas vezes caídos na urbe de paraquedas.
Senos da Fonseca
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