segunda-feira, abril 27, 2009

Mais «bota abaixo que bota acima».


Li algures (Montanelli) que o Fascismo é a tentativa mais cómica de instaurar a seriedade.
Não creio que se possa ser tão brincalhão sobre um rasto da História de um tempo de tão má memória, se nos recordarmos o que foi o Fascismo de Hitler ou o de Mussolini.

Já o Fascismo Salazarista teve muito de cómico na pretensão de pretender ser sério, no fim ultimo de servir(desinteressadamente) a Pátria , sem chegar a ser totalmente trágico (houve excepções, não esqueçamos).Apoiando-se numa trilogia patética, dos três F.- Fado ,Futebol e Fátima- que teve o seu quê de comicidade na lamuria lamecha de amores desavindos perdoados entre dois copos de tinto, ou no desvio de multidões distraídas com o pontapé na bola ,quando não na canela, ou convidadas á aceitação da pobreza e do sofrimento , exaltados com a golgota, como se esta fosse o preço justo a pagar pela conquista do ganho em outra vida (qual(?!) é que nunca se provou ,até hoje).
As encenações do Salazarismo ,vistas hoje, à distância, eram uma espécie da «conversa da treta»: falava-se muito para um povo que só «ouvia» porque nem ler sabia. Por isso os discursos teatrais dos trogloditas do regime, abençoados pela água benta espargida pelo hissope, mais do que reproduzidos na Imprensa (só para uso externo), eram fundamentalmente levados aos corifeus locais pelas ondas sonoras da rádio, ou repetidos nas suas virtudes, ao povo, nos púlpitos da igrejas. Igreja e Regime, toleravam-se sem se adorarem, servindo-se mutuamente : a Igreja desconfiando das virtudes do pequeno ditador, fazendo de conta que aquele lá estava por vontade soprada do alto; aquele irritado, quando não assanhado, com a ostentação sa santa madre igreja, ao perceber o «custo» da bênção que lhe era concedida . A ver, claramente visto,que a parte mais apetitosa do «Deus ,Pátria e Família», ficava nos cofres almofadados a púrpura.E «o botas» a ter de pôr meias solas nas ditas ,para mostrar que no poupar estava a virtude.
Claro que o regime não dispensou, à cautela, manter a matilha quieta, açulando-lhe a PIDE. Uns milharzitos de bufos cobardolas, fatico coçado do coçar nas cadeiras do café da esquina ,orelha à escuta, pagos á tarefa com uma côdea e um prato de lentilhas, para soprar aos ouvidos de umas centenas de torcionários mal encarados, umas suspeitas sobre um perigoso pai de família que não vai em missas. Comunas : -relatavam eles. E perigosos… logo acrescentavam.
O POVO- a grande maioria do Povo,o Zé - era «sereno», muito mais calhado a sofrer do que a chatear-se, salvo raras excepções de um ou outro tresmalhado que ia ,de vez em quando ,furando a regra.
Até que um dia ouviu-se um tiro e a corja de «valentaços» dá de fugir com o rabo entre as pernas, como o fez D João VI e o séquito, para os brasis. Agora já não para fazer um Império ,mas para mendigar espórtula, esquençados por terem escapado com o «canastro inteiro».
Claro que mudámos de regime; mas a massa com que moldam os políticos continua ,mais ou menos, amassada com os mesmos ingredientes.
Mudámos de actores mas a conversa nem sempre mudou de forma, nem de conteúdo. Mais bota abaixo que bota acima.
Ao primeiro estrondo foge tudo, postos a rasgar os cartões ,a gritar :
- eu?!.politico... Era o que faltava …eu nem os conheço.

Aladino


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