segunda-feira, março 30, 2020




    Pesadelo....

Estou triste com este estado de alma, em me sentir coartado de liberdade. Este sentido de limitação – espécie de quadratura do círculo– perturba-me. Mesmo quando me levanto e vou até à porta, encostar a testa à vidraça para lhe sentir o frio, a ver se desperto da letargia difusa em que me vou(duplamente), deixando enterrar, sinto uma pressão abafante no peito, e por mais que tente fixar as recordações que o olhar (longe)me provoca, estas são apenas e só, angústias.
Verdadeiramente, só o bater das teclas, ainda que sem finalidade aparente, me distrai.


Claramente : vivo já fora de mim, sem grandes esperanças de voltar.
Constato uma evidência que há muito me acorria: nunca soube viver...ou talvez melhor :-a existir fora de mim.

SF

sábado, março 28, 2020





À  LARACHA com o Capitão LARUNCHO (São Marcos)....



Pois: em boa verdade, o digo. Quando aqui há uns cinco anos fiz uma visita ao Cap. João São Marcos, a mesma tinha apenas um enquadramento de boa cortesia para com uma pessoa que admirava, com quem assiduamente conversava, no velho hábito de identificar figuras do passado(e seus laços familiares).O Capitão tinha uma memória prodigiosa!. Muito fora do corrente. Direi que havia três memórias privilegiadas, com quem contactava, ouvindo e apreendendo, as preciosas informações: eram elas o doutor Malaquias(felizmente ainda vivo), o Cap. Manuel Machado(amigo que desapareceu há pouco) e, claro, o Capitão São Marcos.

Sucedeu numa das visitas, que a conversa me tenha surpreendido pelas veredas da vida que começou a percorrer. Conversa puxa conversa e, ao longo do percurso das mesmas, sou deslumbrado com pormenores que um poder de observação invulgar,muito atento e muito sagaz,do velho capitão, me dá a conhecer sobre o Ílhavo do início do século XX.

Os pormenores, logo entendi, assumiam um valor histórico, a justificar registo para memória futura. E logo ali lhe lancei o repto:

- Capitão : vamos gravar o que me diz, vamos fazer isso em várias conversas e depois ,no fim, vamos rever ponto por ponto. Se justificar(e eu creio que sim,e muito!), publicaremos.

O Capitão ficou entusiasmado. E – não direi semanalmente, mas quase – batia-lhe à porta. Na sala, confortavelmente sentados, os dois deambulávamos sobre factos e figuras históricos. Interminavelmente...porque as referências, como era habitual nele, deambulavam ao sabor da conversa e estendiam-se aos confins das referências familiares, mais esconsas .À medida que fomos andando, o Capitão consegue entrelaçar, magistralmente, o seu percurso desde o rapazito “esperto”, funcionário da ourivesaria do Sr. Tomás e, passo a passo, cerzindo observações da terrinha e suas gentes, fundindo-as no seu percurso profissional fulgurante , justifica,sem dar conta disso, ser um produto claramente influenciado–no bem e no mal– pelo meio onde se insere. Percebe-se que assume (ou pretende assumir)que a sua forte personalidade o tenha limpo” de algum pecado original. Mas creio que era ,claramente,um produto genuíno da Terra que lhe serviu de berço.

Odiando os dias passados no mar- estranho "aversão" de quem era o campeão dos campeões– justificava "a sua sorte" em duas ou três máximas :
                 – o navio só pesca com a rede na água; 
                  –o bacalhau não vem ter connosco  nós é que temos de perceber, por e para onde
                      vai.

 Conta-se que durante a viagas viagens não saía  so local (ou anexo) do comando, dia e noite, desprezando o conforto do beliche.Só assim regressaria o mais rápido possível a casa. 

Na pesca, dizia, não há sorte. A sorte faz-se. E quanto mais depressa melhor!”

ou...

“A pesca ,não se ensina; aprende-se na reflexão continuada dos pequenos pormenores”.

Vem isto a propósito:

Ílhavo tem ao dispor um trabalho histórico publicado ,porque recolhido ao tempo,que todos os que  queiram conhecer o espaço, as gentes, os hábitos e a vida comunitária do período Séc. XVIII/XIX, não poderão deixar de ler e estudar. Trata-se de um trabalho de referência do Conselheiro Ferreira da Cunha. É a “bíblia” desse período em que Ílhavo começa a ganhar alforrias de comunidade de certa dimensão, ao tempo de forte mutação.

Ao ouvir o Capitão São Marcos falar, observar, dilucidar sobre (agora) um outro tempo(fins Séc. XIX, início Séc. XX) percebi que os dois documentos se equiparavam, porque resultantes de um poder de síntese, de observação, de interpretação, verdadeiramente notáveis

Editarei em breve ,em memória e homengaem ao amigo( preito que outros Lhe devem com maioria de razão e obrigação),a longa entrevista.
Senos da Fonseca
(foto cedida por AML)

quinta-feira, março 26, 2020



AS viagens da Grande Armada de ZHENG




Já num outro trabalho, publicado em Blog especial, aqui há uma dezena de anos, trouxemos  à baila o que a abertura dos Arquivos chineses,  e a sua consulta, vieram revelar, no respeitante às grandes navegações.(Este assunto fora-nos levantado pelo amigo Cheng durante uma visita ao Grande Museu)
Referenciámos, então, no Blog, as viagens do grande Almirante Zheng He (eunuco cortesão) que na dinastia Ming (1371-1433) comandou  uma esquadra(62 navios de grande tonelagem e 255 de pequena /media tonelagem ) de juncos de dimensão impensável (alguns atingindo as 1.500 ton), com 120 m de comprimento  e 50 metros de boca. A equipagem destes navios incluía mercadores, astrólogos,carpinteiros, etc. Poderiam acolher 1.500 passageiros.
Os casco já tinham a forma de V, quilhas longas, lemes muito largos, e comportavam lastro pesado. Eram navios com grandes salões, alguns ricamente decorados.

                  Comparação dimensão


As viagens teriam uma finalidade que se supõe, com elas pretender dobrar o Cabo, mais tarde denominado de Boa Esperança. Estiveram na Índia, subiram a Ormuz, e terão descido a latitude de Melinde.
Por razões políticas, a GRANDE ARMADA  foi obrigada a regressar à China,  quando já navegavam em direcção ao Cabo..
Se a viagem tivesse continuado o mundo seria hoje bem diferente. Tal como sucede com outras viagens, há muita especulação, entre verdades indesmentíveis. Especulação que chega a garantir ter a armada chinesa  atravessado  o Atlântico e chegado a costa americanas.
Uma coisa parece certa: o mapa que D.Pedro trouxe de Fra Mauro, para a coroa portuguesa, tinha indicações claras do contorno sul da passagem para o Índico. Indicações que lhe teriam sido fornecidas por Conti. Por isso D.João II estava tão seguro de que aquele era o caminho correcto.






                                                         Mapa de Fra Mauro

 
Senos da Fonseca

quarta-feira, março 18, 2020






MITOS QUE GAGO COUTINHO DERRUBOU....


Nos inícios do Séc. XX, ainda poucas as certezas haveria  sobre a historia dos descobrimentos  portugueses. O que se sabia ,era mais a fazer fé nos relatos dos cronistas de então que ,claramente, nada(ou pouco sabendo)de navegação, não mais eram que contadores exaltados dos feitos acontecidos(ou recriados), quase sempre destinados para satisfação do Rei;  momentos épicos ,de superação de tempestados, nevoeiros, encontros fortuitos, medonhos, a que só a bravura dos navegadores portugueses era capaz de superar.
E se a história no referente às viagens no Atlântico Sul e Índico,tinham relatos em que fixavam lugares identificados, e rotas (exemplo das que levaram Vasco da Gama à Índia com uma certeza indiciadora de ser viagem habitual para os mouros), as viagens do norte do Atlântico ,feitas segundo intenções, fins e sem  regimento rigoroso, obrigatório, pareciam apagadas da história, deliberadamente.
Seja.
Importa insistir que no inicio do referido século, historiadores  que com diversos ramos de saber, foram, passo a passo, clarificando e desmistificando a aventura, tornando-a mais humana, com  uma dimensão mais próxima do homem do que do acaso.
De entre esse grupo de historiados do princípio do século, distingue-se Armando e Jaime Cortesão ,Gago Coutinho ,   Luís Albuquerque, Damião Góis e uns poucos outros.
Achamos do maior interesse os elementos carreados por Gago Coutinho que mostrou por ciência vivida, experimental, provada, que muito dos mitos expressos nas crónicas e croniquetas avulsas que nas bibliotecas pululavam, eram claramente deturpados e induziam a uma leitura distorcida da realidade.
Gago Coutinho, oficial da Armada com mais de cincoenta travessias do Atlântico ,dispôs-se a embarcar na barca “Foz Do Douro”, capitaneda pelo Experiente Cap Fernandes Mano Agualusa, levando como imediato e piloto, os capitães Domingos Magano e Fernandes Matias, todos de Ílhavo. Homens experimentadissimos, conhecedores exímios das pilot charters americanas, com a indicação,para cada época do ano, dos ventos no Atlântico.

A Gago Coutinho interessava-lhe demonstrar o pequeno erro entre as leituras feitas no seu pequeno seu astrolábio de latão, propositadamente mandado construir,e as leituras feitas pela tripulação com o sextante moderno. Assim, a cada medida Gago Coutinho praticava lado a lado com os oficiais,estes equipados com sextantes e cronómetro, ele com o seu astrolábio.
Até ali haveria a ideia de que o astrolábio teria tido importância e permitido a navegação para fora do alcance de terá,com a permissão da leitura da Estrela Polar.
Gago Coutinho  veio demonstrar é que a leitura que interessou, e foi fundamental,(já conhecida no tempo do Infante) nas navegações(leitura da latitude) foi a observação do Sol ,e nunca a observação da Estrela , porque de resultados e prática duvidosas(até porque a Estrela não coincide com o polo,pois descreve em seu torno uma circunferência de sete graus de diâmetro). Ora o Regimento do Sol era já conhecido anteriormente ao tempo do Infante(Libros de Saber).
Que era o astrolábio o utilizado isso parece bem claro no Roteiro da Viagem de D.João de Castro.
E terá sido depois de 1481 que feitas tabelas mais correctas se construíram as- trolábios de grande dimensão, que em terra montados sobre cavaletes permitiam tomadas de posição com erro inferior a 1/10 do grau.(2 léguas).
Claro que o erro a bordo com a oscilação do navio era maior.(Gago Coutinho assume 1/6 de grau).

Outro mito desfeito por Gago Coutinho nas suas inúmeras navegações Atlânticas, centra-se na absoluta e categórica prova que as rotas atlânticas de Gama e Cabral ,não foram obra de acontecimentos fortuitos (ou empurrados por terríveis ciclones, ou tormentas)pois ,como conclui  Gago Coutinho ,quer ele nas suas travessias do Cabo ,cinco vezes), quer nas informações colhidas nos CLIPPERS da altura, constataram (e isso era conhecimento de todos os bons práticos) que as rotas adoptadas por Gama e Cabral-diferentes porque a partida foi diferente na época-denotam firme certeza de que os ventos dominantes ,em várias estações do ano ,sempre permitiam montar a terra saliente entre os actuais cabo São Roque e Santo Agostinho, da costa ocidental – aliàs prevista no tratado de Tordesilhas de 1497). Isto é: essas rotas tinham sido intensivamente estudadas e delineadas, de modo a dobrar-se o Cabo da Boa Esperança na abordagem correcta . Gago Coutinho  diz que em todas as dobragens que fez (e de que tem conhecimento das mesmas )que  a travessia foi feita sempre com bom tempo, sem dificuldade alguma, tão longe do modo  como os cronistas exaltados e verbo hiperbólico , descreveram (talvez para infundir medo á concorrência).A dobragem custou nove dias a Gama, muito longe dos terríveis seis meses das Lendas,onde o descrevem,  sujeito a terríveis e medonhas procelas.





Resta por fim uma clarificação sobre o achamento do Açores. Coutinho refere que já antes de 1.300 os Açores vinham mapeados. A abordagem feita directamente por acaso ou por decisão, directamente da costa africana(aquando das viagens para as Canárias) era complicada e havia por isso sempre a tendência a colocar tais ilhas a mais de 300 léguas do que efectivamente  estavam.Por isso as ilhas continuavam a ser cobertas. Só quando dominámos a volta do largo no retorno  da Mina, é que facilmente as descobrimos.

Os portugueses(Gama) encontraram os mouros ,no Índico utilizando para lá do quadrante e da  da balestilha,certamente já com o astrolábio.De facto Coutinho  equaciona que a viagem guiada pelo piloto mouro de Melinde, apesar de ser feita com a monção, demorou três semanas tendo passado  (certeiramente)entre as ilhas Laquidivas e Maldinas,no canal dos 9,5,o que só poderia ter acontecido se feita pelos astros.

SEnos 



  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...