quinta-feira, dezembro 31, 2020

 

VAMOS ACABAR COM "OS RICOS"?!

Este mundo está, deveras, perigoso….

Anda por aí uma corrente de activistas que se propõe fazer o que Otelo em tempos tentou: acabar com os ricos.Sem mais...

Bem Vos tenho dito e avisado: os deuses devem estar loucos para consentir tais desmandos parvos.O fim dos «ricos»...e depois ?!

1- Acabando os «ricos», acabam-se com os «pobres». Evidente. Só há «pobres» porque há «ricos».

Passando os «pobres» a ser considerados – «ricos» - será tempo de os esmifrar  até ao tutano. Os mesmos de sempre, sacarão da cassete e apregoarão : os «novos ricos» que paguem a crise». 

A bíblia bolchevique di-lo, e a luta de classes continuará até ao último dos novos  «pobres ricos».

2- Mas preocupa-me ainda mais que sejam estes novos «pobres ricos» que tenham de sustentar os «velhos ricos» que aceitaram empobrecer. Sorridentes, colaborantes, e sem fazerem um manguito.

Teremos,  então, de  criar uma nova taxa que vá permitir que os ex-ricalhaços continuem ricos a valer. Por assim o merecerem. E há o perigo de que os ditos (ex -ricos), agora como trabalhadores, venham pedir indemnizações por despedimento  colectivo de classe, o que poderá atingir números  indemnizatórios assinaláveis (maiores que o Novo Banco). É mais fácil um tubarão comer carapau em vez de cherne, que um rico dispensar a sua dose diária de caviar. Desconfiem...   

3- É verdade! Ou pelo menos parece: - os «ricos» andam por aí  a oferecer-se para dar uma corda a quem lhes der um porco (cevado).

Eu ando preocupado porque, com este abaixamento de rating, ainda um dia posso aparecer, na Forbes, entre os mil «pobres ricos», e exposta a minha fortuna em dez patacos furados.

Não podem voltar atrás e arranjarem um subsidiozinho para manter os «ricos» ainda mais «ricos»?

Se os «pobres» já se habituaram a pagar as crises (esta e todas)…porra… é só mais uma.

E os rapazes ricalhaços lá continuariam a carregar com o fadário. Porque isto de se ser

«podre de rico» deve cheirar que fede.

Estes activista de meia leca ,cabecinhas delirantes,são perigosos....


Senos Fonseca





quarta-feira, dezembro 30, 2020

 POSTAL DA “CASA DO BICO”


S. Bartolomeu: dia do diabo à solta


Nem o despertador precisou de me chamar, nem o galo de cantar; parti no horário em que sabia apanharia as «faladeiras». E a meio do percurso, lá vinham as duas simpáticas pescadeiras, lestas e ainda desempenadas das pernas. Notei que vinham a gesticular fortemente, parando de vez em quando, especadas na marginal.

Máquina a meia força, fui-me aproximando. Pára a máquina!..., devo ter pensado. E fiquei a pairar, à espera que as duas, a Zefa e a Tibéria se aproximassem. E leme a bombordo, atraquei ao de labaró, e dei os louvados:

- Louvadas Vossorias, gente fina desta praia velhinha; mas ainda bonita e asseada como o são as as suas cachopas.

- Ah seu endrominador, você não perde tempo para, ainda não ter passado a mão da barca e já está na mangação, seu camanduleiro.

- Eh Ti Josefa, essa de camanduleiro é que eu nunca ouvi. Astão o que é lá isso? Perguntei interessado no léxico vernáculo.

- Ai não sabe?!... pois… pois… eram os rapazotes enganadores. Ou as beatas na camandula: de terço de contas grossas à vista, as banguinas a fingir que iam a rezar, aquelas calamantronas. O que elas estavam era a fazer horas para irem ao confesso, onde o Padre Horácio lhes despertava a cocegueira na cricalhada. Que eu diga, era um grande rascoeiro. Que diga-se, dava abêgo a todas, astisfazendo-lhes as necessidades.

De boa boca… tudo o que vinha à rede era peixe, desde que tivesse guelra a vermelhada. Não havia beata, saltarina ou cantadeira de missa, que lhe escapasse. Trambolhão por trambolhão, ia-se o paraíso. Que a Eva também era danada p’rà cambalhota. E p’ra home e mulher mais saborosa brincadeira, Deus não inventou. Disques.

- Ah mulher, vê lá como falas aqui com o senhor. És mesmo uma desausserbada. Língua ruim e envenenada. Emboitas qualquer um com a tua língua de vinagreira.

- Olhe aqui, amigo. Olhe c’a vida na companha não era só um enxogalho de má língua. Havia momentos de inquisilar a alma. Ó!... Zefa, alembras-te daquele dia do S. Bartolomeu? Já ouviu falar nesse santo?

- Olhe que sim, respondi. Quando era rapazinho, nesse dia, as mães nem nos deixavam sair de casa. Diziam que andava o diabo à solta… Ainda me lembro que, num deles, andava um tenente muito emproado, muito esturto, no cavalo, ali perto da antiga esplanada, a mostrar-se às garotas (que olhavam mais para o cavalo que para o pelingrino). O animal espantou-se, tomou o freio nos dentes, e foi como trovoada por ali até casa dos Taveiras. Estacou. E vai o pavante «tenentezeco» avoou e aterrou no Bico, no meio do lodaçal, emboitando a farda toda.

- Mas olhe c’até andava o raio malino à solta, desembolado. Eu conto-lhe:

(…) no dia desse santo, era costume não se ir ao mar, pois diziam, acontecia sempre que o pecadito fazia das dele. Mas, naquele ano, as semanas tinham sido tão más que já havia fome entre as gentes. O arrais Ti Cruz reuniu a companha e botou faladura:

- Eh…gente: eu ando desaquietado, esta vida está de morte. E morrer por morrer, mais vale morrer no meio daquele estupor, que por aqui, à fome. Por isso eu quero ver se tenho homens da minha ógalha. Ou meninas virgoleiras, com medo de serem espetadas com a padela. Maneiem-se os que querem embarcar. Fiquem os inxuns a rezar ao belzebu.

- Aqui me tem, Senhor, avançou o Bernardo rompendo a fila dos brejoeiros hesitantes.

 Cabeça alevantada, peito firme, alto como uma torre, forçudo capaz de erguer um mansarrão, pelos gorgomilhos, olhos verdes da cor do mar, quando manso. Mas, de onde saíam chispas quando irado. Ao verem o Bernardo, o Carlos, o «Negrote», o «Ranhoso» … e outro e outro…deram passo em frente.

- Ti Joana, encaneire o pessoal, e vamos lá com Deus, que ele nos cubra com o seu divino capote, vamos dar lanço nem que seja para o escabeche: – disse o Ti Cruz para a «arraisa» Joana, a chefa da companha em terra.

Foi ordem que provocou uma restolhada. Redes p’ra dentro, sacada à borda desenvencilhada, mangas enroladas, a que se juntou o càlão e a mão da barca. Chama-se o abegoeiro. Que trouxesse quatro juntas de hercúleos bois, pois há pancada rija; e meter o meia-lua a vogar obriga a que a muleta vá até à borda, e que os bois, enfeixados nas armelas, metam barriga mar dentro para dar impulso. E assim ajudar a embarcação a boiar. A entrar mar adentro.

E foi então, quando as duas juntas estavam com água pelos ruços, borregando em ir mais dentro, aguentando a vergastada e o aguilhão da vara inclemente que lhe zurrava nos costados, que uma vaga atravessa o meia-lua. O Arrais grita num vozeirão:

- Rema! Riba… Ó…Ó … riba… Eh! raios… diabos … riba para a vaga… Seus langões. Dai força aí no mieiro, ou ides hoje todos para o inferno das profundezas.

Numa arrancada, mistura de vontade com medo, o barco dá um esticão para aproar à vagalhoça. Mas, presa à embarcação, a junta de bois de estibordo é arrastada com a ré da embarcação. E eis que os bois perdem pé. Cabeça e cornadura de fora, tentam ferozmente desenvencilhar-se do cordame que os prende à embarcação. Num repente, vê-se o Bernardo astirar-se à auga e, com a navalha, libertar, do barco e do cabeçalho, os animais. E, nadando para terra, resoluto, entrega a ponta da corda ao pessoal, que água até ao pescoço, alam o pobre animal para terra.

- E o outro? Você sabe lá(?!), diz a Zefa, inquirindo-me…

- Pois e o outro Ti Zefa… adianto, pronto a ouvir o resto deste quadro vivo, expressivo, luta de gigantes com o mar.

- Pois: a Ti Joana mulher d’um carago, nadadora exímia, tinha-se atirado e saltara para os costados do boi que resfolegava. E atirando-lhe o saiote preto para os olhos, filada ao cornígero animal, forçara-o a virar-se para terra. O animal, sentindo areia por baixo das patas, pareceu ganhar alento. E zás que ala tarde. Recuperando «pé», ajudado pela vaga, e pegado pelos cornos pela Joana, o animal desenvencilha-se do mar e parte em corrida resfolegante pelo areal adentro. Vai por ali fora e… de repente escafedeu. Estaca e a boa arraisa Joana voa e aterra de barriga no areal. Só que o saiote e fralda ficam espetados nos cornos do boi. E a Joana, esparralhada no areal, mostra o alvo traseiro. Bonito e redondinho. Firme, parecia montanha amaciada por mão divina.

- E quereis saber Senhor(?): entra a Tibéria de quarto. Pois todos aqueles zamparinas, gadagem que cobiçava tudo que fosse mulher, virara a cara (e os olhos!) libertando a Joana de corar de vergonha, ao ver-se exposta como a sardinha na sacada.

- Todos? Todos, não, diz a Zefa, com um riso malino na cara. Não!... o Bentinho «Cagaréu», que diariamente mirava guloso aquela mulher tão liró, parecia hipnotizado ao ver a meia-lua da Joana tão ajeitadinha e torneadinha. E ògadinho não tirava os olhos daquele quadro que parecia um retábulo real. Até que a voz da Joana trovejou:

-Que estás a olhar, pelintra? Gálico(!), nunca viste o traseiro da balcória da tua mulher? Queres chari-lo? Anda, esculhambrado, astreve-te que eu filo-te pelo gasganete e amanho-te a tripa que tens entre pernas para escassso.

- Ah, chopa, morrendas se não falendas. Que tinhas tu de comentar que Bentinho viu o «rabinho» de anjo da Ti Joana? Òspodias ter terminado sem teres emboitado a estória. Assim: quando a arraisa Joana se pôs de pé, já o meia-lua atravessara o mar quebrado e fazia emposta à procura do cardume…


Senos da Fonseca




domingo, dezembro 27, 2020

 O que valeu ao «Cantigas» é que o raio do canário …era canária….


Intriguei-me nestes últimos dias por nunca mais ter posto a vista em cima, à Tibéria e à Josefa, que, como por encanto, desapareceram do mapa. Afinal, nesta última segunda-feira, novo encontro. Fiquei, então a saber, porque se eclipsaram: peixeiras na praça, esta fecha(agora) às segundas. E é só neste dia que elas vêm desenferrujar as pernas. La vie oblige…

- Ó Senhor: dantes era uma fona. Daqui p´ra «Ibalho«, fazer a venda,  voltar pela noitinha derreadas, esgalfas, mais tesas que o carapau ressequido que não tivera freguesa...Aí sim (!)...aí é que estas perninhas, que agora parecem mijadas (com sua licença), eram roliças, duras e torneadinhas como pitorras.  Ai do zamparilho que se astrevesse a meter-se no meio delas. 

- Era assim, era…. ajunta a Zefa. Às vezes era já noitinha e o que valia era que aquele caniné do Labareda nos esperava. Até que todo o pessoal arribasse à Maluca, feita a venda na Vila.

- Atão hoje não têm nenhuma estória para me contar? interroguei eu…a meter cúnfia.

- Credo, você parece q’uè bruxo. Olhe!...vinha agora a lembrar, com a Zefa, da história da Pauseira «Canária». A Pauseira era uma savelha de se lhe tirar o chapéu. Mulher danada.De sim ò sopas. Mulher de, ou fora ou adentro … a meio é que se não podia ficar.

- Conte lá Ti Tibéria….conte raios que sou todo  interessado.

E a Zefa não se fez rogada.

 - A Pauseira tinha na sua casinha, ali nas dunas, um canário que estimava muito. O raio do pássaro um dia apareceu esmorecido. Parecia que tinha lançado um grapelim ao trapiche e de lá não saía, nem para molhar o bico. E pior, nem piava. O estupor do canário, dizia o Luís «Cantigas», o serrazina do home da Pauseira: – dá-lhe uma «passarinha» a ver se o bicho desperta. Olha que o que o bicho tem, é falta da «passarinha». T’ asseguro.

- Pois, quem não tem falta da «passarinha» és tu, «Cantigas». Há benícias que nem lhe pões a vista em cima. A vista e o resto, raios, diz inquisilenta a Pauseira ao seu homem. P’ra ti esconjurado, «passarinha» é o garrafão do tinto. Ora vai-te, que eu tenho mais que fazer c’abanar o traseiro.


«O Cantigas» lá foi a resmungar, para a vida. A «Pauseira» ficou a fazer horas para ir p’rà escorcha, aproveitando para fazer um caldo de conduto para a ceia. A meio da manhã batem ao «portaló».

- Quem bate? E abre a portinhola do palheirote. Cá fora, especado, o Arnaldo «Mijinhas», uma espécie de botadinho à parte, atrapalhado e nervoso, diz à Ti Pauseira:

- O Ti Luís mandou-me aqui, dizendo para Vossemecê me dar «passarinha» que ele não teve tempo de lhe pôr a boca em cima.

- O Luís mandou-te mesmo, para eu te dar a «passarinha»? Ai ele quer mesmo enfeite? Anda cá filho, que eu dou-te a dita. E agarrando o «Fininho» puxou-o a si com força, atirando-o para o catre disposta a cumprir ordens, que Capitão manda imediato obedece.

Só que o Arnaldo pouco dado a empostas do género, incapaz de ciar em mar tão encapelado, fixou com pavor a trabuzana que para ele representava a Pauseira e, espavorido, dá de se libertar do corpo da fera desembolada, escapulindo-se ao lancão d’alentada mulheraça.

À noitinha, quando o Luis «Cantigas» voltou da faina, a Pauseira não esteve com meias palavras:

 – Olha lá ó seu zamparilho, atão tu agora já não te satisfazes com a «passarinha», e mandas substitutos p’ràconchegar?

- C’a estás tu pra aí a xanar, raios? Eu mandei o «Fininho» buscar o garrafão de vinho. A que tu chamas «passarinha», homessa (?!).

- Homessa (!) digo eu; o que te vale é que o raio do canário é canária. Senão a estas horas estavas mais enfeitado que o manso do boi amarelo do abegoeiro Ti Aparício.


- Á ganda Ti Zefa. Vamos lá acabar a voltinha, que para a semana vossemecê conta-me outra. Combinado, remato eu bardaleiro?

- Pois atão. Se lhe der volta, apareça lá pela praça. Há lá bom peixe. O que está a dar, agora, é «a
chaputa
». De entupir uma jaja.


Senos da Fonseca    



domingo, dezembro 20, 2020

 

 Hoje a noite apossa-se de mim.


Desta minha janela, lugar de privilégio que idealizei e fiz para mim (e para mais ninguém) vejo acontecer a tarde estranhamente escura. Plúmbea, tristonha, toldada de uma luz pardacenta, que parece – só! – existir superficialmente. Olho, a tentar perceber este estranho determinismo que leva a natureza a comportar-se como um ser humano. Tão risonhos éramos ontem, esquecidos da amargura de se ser consciente,quando não fingíamos. Sofre-se sempre mais com a consciência de que os outros sofrem, do que com a ilusão que só nós é que sofremos.

Hoje não encontro nada de belo no que me chega e envolve. Indisposto, vou e fecho a janela. Tento assim ficar só eu ….comigo , com a minha realidade interior. De fora não vem nada que me ajude a acordar. A perceber que uma flor qualquer está neste momento a despontar, não sei em que jardim. De certeza num jardim que não é o meu. Ligo a música: espero algo que me alimente e desperte, e me crie a ilusão de que não vale a pena pensar.

A tarde está tão carregada que as minhas penas com ela comparada parecem (tão) leves. E bondosas. Hoje não virão as estrelas. Das serranias a luz alourada da ria não virá fazer a estrada que vem bater no meu degrau. Será uma noite de luar oculto, noite adormecida cheia de nada.

A ria está um molhado indiferente. Sombras aqui e ali recortadas, sonolentas, carregadas de uma monotonia inquietante. Não há cheiro. Nem sequer há vida. Até os barquitos desapareceram. Ah! se eu me pudesse como eles amoirar, e, indolente, deixar-me rodopiar numa valsa à deux temps» a sonhar com o me substituir a mim próprio?!

Tento ficar desperto, a pensar sem pensar. Pois só pensa quem é iluminado por dentro.

Já nem os poentes fazem vogar em mim as caravelas da descoberta. Parece que já não consigo descobrir nada lá fora, pois já nem em mim descubro coisa que valha.

Estou farto de mentir para o prazer, para a glória, para o poder .”Tudo” a que miseravelmente não consegui escapar, apesar de o tentar (ou talvez não). Só desejo em cada dia que passa, ganhar a liberdade de ser eu.


Tudo o que faço para fora de mim me parece inútil.


Senos da Fonseca




sexta-feira, dezembro 18, 2020

 


CARPE  DIEM versus  BEATUS ILLE


Aproveita hoje que amanhã....


A propósito do CARPE DIEM , à medida que as horas  silenciosas vão correndo, vou   discorrendo….

Creio que sempre que a vida nos prega uma partida, paramos e juramos: é agora. Com esta história da pandemia, parece  chegada a altura de procurar viver segundo Horácio, o poeta  venesino.

Viver segundo as regras do poeta era viver na suprema virtude (perfeição )da vida.

Seguir Horácio –e muitos juraram segui-lo, e imitá-lo – tinha entre  outros saberes ( virtudes) o  beatus ille, que seria o viver «afastado», num modo (propósito) contemplativo. Ora manda a verdade dizer que os nossos Árcades, cantavam esse viver. Só que, não muito longe do bulício (e prazeres) da cidade. Era o tal viver lá fora, cá dentro. Quando muito cantavam as suas Odes nos jardins públicos, a paisagem citadina que imitava (?!)a «Arcádia» pastoril.

Por mim, também aderia (poeticamente) ao CARPE DIEM.

Só que prometi fazê-lo um ror de vezes, e voltei sempre ao mesmo. Tantas foram as vezes que jurei dizer palavras que afinal nunca disse; tantos foram os gestos ensaiados e logo fenecidos à nascença; tantos foram os sentimentos que guardei só para mim, quando os devia lançar ao vento e deixá-los ribombar por todos os cantos….,A cada promessa ensaiada, logo voltava à estaca zero.

 Chego pois á conclusão, que (já) não mudarei, embora o tenha prometido, agora, uma vez mais.

E  por isso continuarei a querer importar-me ;e continuarei a querer saber; e continuarei a aceitar sofrer. E continuarei a guardar a sete chaves muito dos meus sentimentos, que não contarei a ninguém. Que levarei comigo. Como levarei os gestos e as palavras, os sorrisos e as lágrimas.

E vou andando. Continuarei a deixar-me agir impulsionado por um qualquer sonho (mesmo que pequeno). Não tenho outro modo de me deixar existir. Parece que nunca aprendi. Ou não quis.

E discorro: os avisos e propósitos de Horácio ficaram registados nos compêndios literários. Morrem lá enterrados, bafientos. Utopia inalcançável..  


Senos da Fonseca


quinta-feira, dezembro 17, 2020

 

As ligações de Ílhavo ao Marquês de Pombal.

 .

É sem duvida interessante, embora cansativa, esta atitude de procurar entrelaçar os factos na história e conseguir perceber o que existe por detrás de simples acontecimentos. Mesmo que por vezes eles não tenham muita importância como facto histórico, mas apenas recompensem a curiosidade de quem trabalha embrenhado na procura documental.


No livro com que andei às voltas – uma biografia desse notável aveirense João Sousa Ribeiro da Sylveira, capitão mor de Ílhavo ,«pai da pátria» como publicamente foi reconhecido, uma personalidade de enorme grandeza moral, ética, magnânima na solidariedade com todos, e em especial, com os mais desprotegido. Figura que esteve na decisão Pombalina de elevação de Aveiro a cidade, e no perdão conseguido, afastando  o temor, tido na altura, de  represálias sobre a população, como consequência do atentado de lesa majestade, perpetrado pelo Duque de Aveiro, sobre o rei D. José. O dono da casa Ducal de Aveiro, que era a segunda maior do País ,logo atrás da de Bragança, nunca teria vindo a Aveiro, e muito menos aqui residido. E claro não haveria qualquer ligação de gentes de Aveiro ao regicídio. Mas João Sousa Ribeiro teve de ir a Lisboa prová-lo. E assim evitou o massacre de muita gente.


Sousa Ribeiro não só trouxe com ele a carta de elevação a cidade,a limpeza do nome das populações, como ainda trouxe a boa nova da isenção das habituais taxas de elevação hierárquica na orgânica administrativa, dos agregados populacionais, como era habitual suceder nessas situações.


Ora tenho andado embrenhado na documentação da época para explicar o que até hoje ninguém terá ainda explicado. Deixemos os pormenores da minha tese para quando da apresentação do Livro, já contratado com a Editora para ser editado no fim do ano ,data em que me comprometi a tê-lo pronto.


Ora neste arrumo final tenho «catado» ,e tentado imaginar, como não é possível encontrar uma gravura com figura de tanta importância(Arquivos históricos, Torre de Tombo ,Alfandega ,etc etc) .Claro que o fogo que consumiu o palacete da Familia (nessa altura na posse de seu bisneto Visconde Almeidinha), o palacete do Terreiro (onde hoje esteve o edifício do Governo Civil de Aveiro) que era ao tempo verdadeiro «museu», onde se encontrava um espólio de arte notável, incomparável, poderá explicar o facto.Com o fogo que transformou tudo em cinzas teriam desaparecido todos os retratos (pinturas) familiares. É possível.


É-me fundamental –para a tese que defendo – explicar a proximidade de João Sousa Ribeiro com o Marquês de Pombal. E julgo poder justificar a mesma. Ora há tempos  estava eu embrenhado no Arquivo Histórico da Universidade de Coimbra,na tarefa de encontrar os registos dos alunos da Universidade nas décadas de 1720 a 40,e, por um acaso, verifiquei que o Sebastião José tinha casado, ainda com apenas 23 anos, com a D.Teresa de Noronha e Bourbon(35 anos), filha de Bernardo d’Almada Castro Noronha e de D Maria Antónia de Almada,donatária de ílhavo.. Estremeci!!!!


Quereriam lá ver.O que a ninguém poderia interessar, a mim despertou-me total interesse.


Este senhor – D. Bernardo d’Almada  Noronha – eu sabia-o quando estudei os Donatários de Ílhavo( Ílhavo ¬- Ensaio Monográfico pp 58 e 505) era marido  de uma tal D. Maria Antónia de Almada , donatária de Ílhavo, senhora que até se pensava teria passeado por aqui, pela vila,(1721)quando dela tomou posse. Recebendo as chaves na Igreja e visitado o Pelourinho ali na Praça (leitura atenta levou-me, na altura, a concluir que, a  D.Antónia, afinal, nunca cá pôs os pés, e quem teria andado a fazer de figurante (por ela) terá sido o Prior ).


Por esta é que eu não esperava.


A primeira  mulher do Marquês de Pombal, filha da Donatária desta Ílhavo(cujo capitão mor era o próprio João Sousa Ribeiro..


Parece esclarecido o porquê, nunca bem entendido ,na altura, da forte influência de João Sousa Ribeiro ,sobre o Marquês, e tudo quanto dele obteve. Está pois explicado.


E esta heim?!!!


Registo o facto que teria passado a todos despercebido, até hoje.



Senos da Fonseca



quarta-feira, dezembro 02, 2020




 


A ZECA FAZIA HOJE, ANOS

Por cá tudo igual. Tudo mal.
Por «aí» não sei. Mas não tardarei a sabê-lo.
Hoje, ao lembrarem-me da tua falta, diziam-me à laia de consolo – certamente (!) – da minha sorte (?) de, ainda ir vivendo:
– Olhe que não, olhe que não… atalhei com doce comiseração. Isto de ir vivendo mais um dia, não é bem ter um dia a mais. É a lucidez de ter a consciência de se ter um dia a menos para fazer tanta coisa que se pretendia fazer.
Que Te dizer, hoje?...
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Acorda irmã,
Na manhã deste dia
Em que nasceste para a vida.
Abre os olhos no tempo sem tempo
Onde moras
Toma uma toalha para secares
As lágrimas do teu choro
Pelos que sofrem ainda hoje,
Mais do que ontem.
Vá...
Vem daí que eu dou-te a mão
Para veres de novo os que amaste.
Ficaram à tua espera
À espera que por eles, voltasses.
João

terça-feira, novembro 03, 2020




 



A Peste Negra do Séc.XIV



A noite longa,  o desejo de espreitar a CNN ,nervoso ou inquieto com o Trump e as suas “boutades”,( só possíveis de terem um mínimo de aceitação por um país em claro retrocesso, social e cultural), levaram-me a uma leitura que,começada, foi até ao fim. Noite perdida ou ganha?

Assim li sobre o flagelo da peste negra. O assunto é de  uma flagrante  actualidade.

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Inicialmente vista como punição divina,castigo dos deuses  pelos pecados humanas, foi a sua “cura” entregue à boa vontade dos oragos  S. Sebastião e S.Roque.Logo receitadas punições tipo flagelação em procissão,  e outras penitências que se acreditavam  salvadoras. Curiosamente percebeu-se,á falta de virologistas como os que hoje no arengam diariamente com opinões contraditórias,mas sempre categoricamente doutorais, que os “ares“estavam carregados de vapores nocivos”, eventualmente provenientes da putrefação de variadas matérias ou provenientes de acontecimentos cosmológicos, provindos da  conjunção de planetas que provocariam os ditos vapores. A sua origem, sabe-se hoje, teve origem na Ásia. Dali ,comerciantes ,e até exércitos invasores. mongóis, fizeram-na chegar ao mediterrâneo. Em cinco anos (1374 -1352) alastrou a toda a Europa (excepção Finlândia e Islândia), terrivelmente mortífera, admitindo-se ter atingido uma taxa de mortalidade de 60%. Assim,admite-se, a peste originaria  cerca 6.000.000( seis milhões) de mortos.

Em Portugal foi arrasadora, levando a crer que teria provocado uma verdadeira razia, reduzindo a população a 1.500.000(um milhão e quinhentos mil) sobreviventes.

Não sendo aqui lugar de pormenorizar mais, adiantamos consequências sociais e económicas que o flagelo ocasionou no nosso país.


A mortandade originou que, muitos tementes a Deus, fizessem testamentos orais ou escritos (para salvação da alma) ao clero, transferindo a propriedade dos seus haveres a familiares e ou até á igreja.Sucedeu que muitos dos referidos cléricos(notários ao tempo),por morte dos testamentários, resolviam não dar conhecimento aos familiares do defunto,do facto, e assim ficarem na posse das propriedades. Os mosteiro, também entravam neste açambarcamento. E  como a Igreja não tencionava reparti-los ,o aumento da sua riqueza pela propriedade de novas propriedades e de outro tipo, tornou-se notório e preocupante.

Afonso IV resolve actuar. Logo tornou lei que os testamentos deixassem de ser feitos pelos clérigos e passassem ,obrigatoriamente, a  ser lavrados pela Coroa ou seus representantes(Juízes de Fora).

Sucede porém que, apesar de tal obrigatoriedade ,muitas terras ficaram abandonadas, por falecimento doproprietário sem prévio testamento. Passou assim,a ser vulgar, pequenas propriedade, alódios,casais, póvoas etc, ficassem abandonadas sem dono. E isso levou a que muitos  laboratores,  locupletassem  a propriedade abandonada. E de pobres fornecedores de mão de obra, passassem a “ricos” proprietários.




A perda de tantos braços conduziu a uma falta intensa de mão de obra disponível. E assim o custo da mão de obra disparou. Alguns trabalhadores da lavoura recusaram-se a exercer porque se tinham tornado proprietários. O trabalho ao ano,passou a trabalho precário. A escassez de braços para a lavoura, a criação de gado ou o artesanato viu subir fortemente os salários. Assim Afonso IV teve de intervir novamente:  mandou arrolar os assalariados, favoreceu os empregadores, e fixou o preço da mão de obra. E se não obrigou os assalariados a trabalharem ao ano,obrigou os proprietários a pagarem muito melhor e atempadamente. Aos falsos pobres(que mendigavam  sem terem disso necessidade ) mandou identificá-los,  obrigando-os a trabalhar.

A escassez   da força de trabalho, levando a uma continuado aumento dos salários,levou a que, nas cortes de 1352, fosse fixado uma tabelamento dos mesmos.

Fica assim  claro, que, a terrível pandemia, se teve custos brutais em vidas ceifadas, trouxe múltiplas transformações económicas, sociais e culturais, que vieram influenciar o panorama de equilíbrio de rendimentos, já que os pequenos e médios proprietários  foram surgindo e os assalariados conheceram um período de extrema e rápida melhoria das condições de prestação de trabalho. 


Nesse sentido apatece tentar perceber que alterações trará a pandemia do COVID19,questão que começa a ser abordada e equacionada. Concerteza alterações profundas, que poderão levar a novos arranjos geo-estratégicos ou até a profunda avaliação da globalização


SF


sábado, outubro 10, 2020

 

Nos 500 anos da viagem de Fernão Magalhães

 

Julgamos que, sem sentido e despropositadamente, nasceu,ou quer alimentar-se,polémica sobre o facto de, Portugal e Espanha, organizarem   a candidatura conjunta da primeira viagem de circum-navegação do globo, praticada por Magalhães sob égide de Espanha  a Património da Humanidade da UNESCO

A polémica instalou-se próximo de círculos xenófobos, nacionalistas  exacerbados, onde se entende que a viagem e o seu seu significado não deverem ser compartilhados, fora de um âmbito redutor espanhol . Não admitem esses círculos que,se em estrita  verdade a viagem s foi paga e suportada por Espanha,  a mesma só foi possível pelo apport da  ciência náutica portuguesa que lhe deu forma, e concretizou em grande parte.

Registamos o pouco empolgamento por parte dos “historiadores” portugueses, em descerem a terreiro no sentido de  clarificar questões fundamentais desse feito, onde  o selo do “born  in Portugal” é inquestionável .

Vejamos então alguns pontos de referência que envolvem o feito:

 1-Fernão Magalhães, nascido no Porto(ou talvez Gaia),em 1481,esteve embarcado na esquadra que acompanhou o 1º vice rei da Índia,D. Francisco de Almeida, tendo permanecido e navegado por oito longos anos,  em derrotas contínuas pelos mares  do oriente. Incluído na expedição a Malaca, teve nela  papel de grande relevância. Há  notícias de lhe ter concedida o comando  de um dos três navios que fizeram a expedição que, de Malaca procurou as Molucas, onde se sabia “ estariam as ricas especiarias que os portugueses procuravam afincadamente”. E se o temporal não permitiu a Magalhães levar a viagem a bom termo,certo é ter recebido preciosas informações de outro capitão,Francisco Serrão,  sobre o modo como lá chegar.




Magalhães teve assim, acesso a um dos segredos mais guardados da época,sobre paragens ignoradas na Europa, que  lhe será precioso no arquitectar da sua (futura) viagem.

Regressado a Portugal com valiosa fortuna, Magalhães de estirpe fidalga, integra-se na expedição que guerreou em Ormuz(onde por sinal é ferido).No regresso, acusado  de comerciar ilicitamente,  ou de erros cometidos na divisão dos saques aos mouros, certo é que Magalhães parece ter sido repudiado e. logo  afastado de cargos de mando, pelo Rei D.Manuel. Este   recusou, desde logo, financiar a viagem que Magalhães arquitectara, na pretensão de atingir as índias por ocidente, procurando para isso descobrir a passagem que supunha certa nos extremos do novo continente (americano),depois de Balboa ter feito a expedição que lhe permitiu lobrigar o novo oceano do lado oeste do continente.

2- Magalhães  ao ver-lhe negado o financiamento,perante o alheamento do Rei português,vai assim oferecer a viagem à coroa espanhola. Nesse momento  a situação ,em Espanha, era deveras complicada. O rei Fernando “O Católico” ,depois da morte de sua mulher, renunciara,  e entregara  a coroa espanhola a sua filha, Joana “a Louca”, casada com Felipe de Habsburgo (O formoso).Morto este, Fernando voltou a ser chamado para a regência, dada a demência de sua filha. Veio Fernando a falecer  (1516) quando Magalhães decide ir oferecer os seus préstimos a Espanha. A Fernando “o Católico”,segue-se Carlos.

  



  Um ovem impreparado, que nunca teria vivido em Espanha e nada conhecia dos usos e costumes, e políticos do País.Com Carlos  vem enorme corte  da Flandres o que não é bem recebido pela corte espanhola.. Anos pois, turbulentos, que levarão a tomar a decisão de “nunca mais se entregar o trono a um estrangeiro”.

Magalhães foi então auxiliado por Faleiro (cosmógrafo português),conseguindo apoio do bispo Fonseca.Em  22 de Março de 1518 ,Carlos V, concede e entrega as capitulações, nomeando Magalhães  “adelantado y Capitan de la Armada para el descubrimento de la Especiaria” ,uma esquadra de cinco navios para, dos mares do sul, passar ao outro oceano, e confirmar se haveria terras e se estas estavam incluídas na parte que o tratado de Tordesilhas, outorgava a Espanha.

3- Os custos da viagem foram suportados em  ¾ pela coroa, e ¼ por um Cristobal de Haro .

Os cinco navios armados  para a expedição foram : la Trinidad, la San Antonio ,La Conception, la Victoria e la Santiago. Faleiro foi, entretanto,sem que Fernão conseguisse evitar, afastado da expedição. A frota zarpou de Saluncar de Barrameda,em 20 de Setembro de 1519. Com Magalhães seguiu um italiano Pigafetta, com o encargo de relatar a viagem. Rapidamente, depois de, como Colón, tocar nas ilhas Canárias, foi a Costa do Brasil  alcançada,numa viagem já assaz conhecida para Magalhães, desembarcando na baia do Rio de Janeiro (13 Dezembro de 1519). Zarparão passados treze dias, depois de carregar água e mantimentos, iniciando entãoa viagem perto da costa para  sul, chegando ao rio da Prata, em Março de 1520. Continuando, atingiram a Baía de S Julião, onde tiveram uma estadia deveras complicada, levando à revolta de um grupo de oficias e tripulantes espanhóis que queriam obrigar Magalhães a regressar. Magalhães com pulso de ferro ,domina astutamente os revoltosos e castiga-os impiedosamente. O capitão da la Conception ,o espanhol Quesada, foi decapitado. Luis de Mendonça, tesoureiro da armada foi esquartejado; .Juan de Cartagena e o clérigo Sanchez abandonados em terra. Desapareceram para todo o sempre. Aos marinheiros ( porque deles precisava), Magalhães perdoa .A nau “ Santiago”, que entretanto se adiantara ,afundou-se. Momento em que Magalhães decide substituir os capitães espanhóis por portugueses da sua confiança .Em Outubro o tempo e melhorou. Magalhães, navegando a sul ,diz ter encontrado o estreito que permitiria a travessia, afirmando, segundo relata  Pigafetta “ter visto esse estreito num mapa da autoria de Martin da Bohemia” ,excelente cosmógrafo  a trabalhar para o rei de Portugal.

Magalhães manda à frente as naus “Concepcion” e “san António” .Aproveitando a noite,esta, comandada pelo espanhol Álvaro Mesquita ,dá a volta, foge e regressa a Espanha. Magalhães penetra no canal, tardando a dar conta da “Concepcion” e da “san Antonio”.O canal é um perfeito labirinto de enseadas e baías,tendo-lhes chamado a atenção, inúmeras fogueiras que os indígenas acendiam de noite( Terra do Fogo, assim lhe chamaram).E em 27 de Novembro de 1520,finalmente ,as três naus entram num mar de águas tão  calmas,que decidiram dar-lhe o nome de Oceano Pacífico .






4- Rumando a O-NO percorreram 4.000 milhas sem encontrar terra, durante mais de três meses. Só em 16 de Março de 1521,avistaram uma ilha a que deram o nome de ilha dos  Ladrões.

Magalhães tinha instruções  exaradas nas capitulações, de que não deveria entrar em conflito comos indígenas “achados”, mas tão só avistar  terras, exercer o apostolado e determinar exacta posição para saber se essas terras  estavam dentro do hemisfério  r de Tordesilhas. Sucede porém que,  ao arribar ao Arquipélago de San Lázaro(hoje Filipinas),Magalhães  decidiu  obter á força  dos indígenas a submissão   ao Rei de Castela. E decidido a mediar conflitos, Magalhães acudiu, assim, a Macatàn disposto a submeter os indígenas desta ilha .No  conflito  havido é ferido mortalmente pois, como refere Pigafetta”como conheciam o nosso capitão concentraram nele todos os ataques”. Apesar de Magalhães, mesmo ferido, dando prova de uma força indomável ter combatido bravamente até ao último minuto em que foi trespassado por lança índigena. 

5- Para Magalhães era o fim da aventura.

Das três naus (“Trinidad”,”Concepcion”,e ” Victoria”) foi eleito capitão português Lopes de Carvalho. Da “Victoria” ficou capitão Gomez Espinosa. Da “ Concepcion” foi eleito El cano .Dado o mau estado da “Concepcion” foi  então decidido abandoná-la. Lopes Carvalho não mostrou conhecimentos, e foi demitido. As decisões ficaram assim, entre El cano -que decidira cumprir as instruções de Magalhães: regressar atravessando o Pacifico em latitudes asuficentemente a sul(40º ou mais) e dobrar o Cabo da Boa Esperança. A “Trinidad” ,em muito mau estado, foi decidido abandoná-la em Tidore, à guarda do Rei.

Após   carregar a “Victoria” com especiarias valiosas ,depois de atribulada viagem ,fustigada por fortes temporais,Elcano  conseguiu, a muito custo, dobrar o Cabo da Boa Esperança em18 de Maio. E   logo que o vento amainou tomou a decisão de se dirigir, a fazer aguada,a  Cabo Verde. Aqui estiveram em risco de serem aprisionadas por ordem do Governador, que reteve  parte da tripulação. Elcano decide não esperar por aqueles, e faz-se ao mar.Em 6 de Setembro de 1522 desembarcam ,finalmente em Sanlucar de Barrameda ,onde chegaram apenas 18  dos 237 tripulantes da frota de Magalhães. Estava assim concluída a primeira viagem de circun-navegação.

5 –Do que sucintamente relatámos salta á vista.

                      5-1- Todo o conhecimento que permitiu esta grande navegação teve a sua origem em Portugal. Não só a experiência náutica de Magalhães, os conhecimentos de navegações no oriente, como os conhecimentos induzidos por Faleiro ;e até pelos mapas de Martin da Bohemia referidos por Pigafetta.

                        5-2 – A coroa Espanhola assumiu um encargo de ¾ do custo da expedição.

                        5-3- A partir de certo momento, anterior à  travessia da ligação do Atlântico ao Pacífico,as naus foram comandadas por portugueses.

                        5-4-Magalhães tinha nos seus planos ir às Molucas, o que El Cano não conseguiu concretizar.

 

Por tudo isto, não é demasiado Portugal desejar associar-se às Comemorações dos 500 Anos da Viagem de Magalhães, e muito menos censurável incluir-se no pedido de reconhecimento mundial da mesma.

 

Senos da Fonseca

domingo, setembro 27, 2020

   DE SESIMBRA ...vieram notícias dos "Sesimbrões".Você sabia quem eram essa gente?


´Ás observações que o leitor  João Augusto Aldeia,de Sesimbra,me enviou sobre  o livro "Saga Maior",tive a oportunidade de Lhe responder ,solicitando autorização para aqui dar conhecimento  da mesma.Já veio ,e por isso aqui publico a minha respostas anterior notícia aqui dada.

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Caro Senhor  João Augusto Aldeia:

 

Agradeço todos os reparos que faz ao  meu livro SAGA MAIOR. Importante,para mim,é a  leitura do mesmo e, depois, a sua crítica.

 

Vou dar-lhe a minha perspectiva aquando da elaboração do trabalhoso livro,talvez aquele que elaborei  com mais carinho, pois tive consciência de contar a história das minhas gentes que tão esquecida andava (mesmo por aqui...)

 

“Saga Maior” é a única história que assume contar o desiderato de um povo ‑ os “ílhavos” irredutíveis, que só tinham medo que o mar também secasse– ”expulsos” do seu habitat habitual por razões de mudanças irreversíveis do meio a que se acolhiam.  Houve que  decidir. Ficar era morrer...partir era começar de novo.... E decidiram partir. Partiam   dolorosamente marcados pela surpresa,  descalços, filhos pela mão calcorreando o areal, agasalhados  apenas com o fatico que vestiam. Mas   o alforge  dos saberes ia repleto. Foram, emposta litoral “abaixo”, em procura de novos locais  de subsistência. Levaram com eles, o saber único das Artes - de todas as Artes mareiras- a teimosia, a inquietude, o desígnio último de que aquela aventura -  saga no litoral – vir a ser o prelúdio do sonho altieiro para que se supunham predestinados.

Na fuga à tragédia lagunar dos Séc.XVII-XVIII, os “ilhos”– como o meu caro refere, e bem–  foram povoando as praias do litoral (aqui com as Artes Grandes de arrasto) ou embrenhando-se nos rios e sua foz, juntando-se(neste caso) a pescadores que já por ali fainavam com outras artes de pesca.

 

Globalmente, pareceu-me, depois de analisados todos os percursos e  a história da vivência em cada local, ter havido dois grandes tipos de aproximação:

 

Nas Artes Grandes os “ilhos”impunham as regras .Havia regras repetidas no formar das companhas, no estar(tipo de assistência), na construção  e disposição, de simples e rudimentares infra estruturas – poço comum, capela com orago entre caniços, abegoaria etc.Com os “ilhos” vinham as  suas famílias que serviam nas companhas e tratavam das lides  mínimas para no intervalo da alar e escolha do peixe - e depois venda -suportarem a vida nos palheiros construídos à borda. Cada companha era uma comunidade, vivendo e comportando-se com regras que em nada diferiam das comunidades da beira mar da Costa Nova (Ílhavo).Um reenquadramento.

 

As companhas tinham assim a sua organização, com a actividade fundamental de aliciamento de mão de obra provinda da lavra circundante, contratação de abegoeiros, organização de aquisição de fios, cabos, panos de rede,vinho , etc. 

Poderemos dizer que neste tipo de “ajuntamento” o “ilho” pontificava,dominava.Era na verdade um verdadeiro demiurgo. Escolhia pesqueiros, fixava locais e disposições de abrigos, deslocava-se para novos pontos, assumindo que toda a cultura de que vinha impregnado(da origem  lagunar) era resistente e se impunha ,sobrelevando todas as culturas estranhas(hábitos e costumes locais).

 

Certo porém é que muitos dos “ilhos” escolheram outro tipo de migração. Sem família atràs, gentes de “ir e vir” a fazer a safra,  foram “misturar-se” com outros pescadores que já  exerciam  a pesca em locais específicos. Principalmente na embocadura dos rios (Douro,Mondego ,Tejo, Sesimbra ).Nestes locais, os pescadores idos da laguna(pois aos “ilhos” juntaram-se amiúde os murtoseiros),integravam-se nas companhas (pequenas ) já existentes, de arrasto ou cerco na borda,  utilizando embarcações e métodos de pesca um pouco diferenciados. Adaptados às condições específicas).  Se julgavam as embarcações estavam  bem concebidas para os fins em vista, aceitavam e embarcavam(em Sesimbra as “Aiola”  e os “Batéis”, foram disso exemplo).Se não aceitavam, propunham outros diferentes(Nazaré).Mas do que observámos e debatemos (ouvimos e lemos) a posição dos “ilhos”,nestes casos, não era tão sentida, tão nuclear,nem tão intensa como o era nas companhas das Artes(mesmo no Algarve mais tarde),embora deixasse rasto duradouro bem recordado(caso Sesimbra)

 

Sobre as fotos que gentilmente envia,julgo útil fazer um reparo. Como dissemos acima, muitas vezes, com os“ílhavos” iam os “murtoseiros”.Estes eram pescadores individuais de artes fixas individuais (botirão,covos,nassas,  etc),usando para as mesmas,a sua bateira identificadora(da foto),a “LABREGA”. Bateira que lhes servia de habitação (para si e família) ,e por isso se apelidava na gíria de “CASA”.

 

Que houve uma significativa colónia de migrantes de  “ílhavo” em Sesimbra? Sem dúvida. Damos conta disso nas pgs 241-245.Os nomes que me dá ,contêm, por curiosidade, muitos  familiares meus (distantes).Os “ Sesimbrões” que, finda a safra, tinham por hábito vir em grupo ,trajados de capote a rigor,descalços, enfeitados por vistosos colares, faziam festa rija na visita à santa terrinha, no render homenagem ao orago S.Pedro, seu protector.

Repare: logo que puderam (depois de conhecer o local) “os ílhavos” atiraram-se á lagoa de St André´, zona de pesca atractiva ,porque possível em águas interiores e exteriores, bem mais piscosa.”

 

Havia pois durante a escrita do “ SAGA MAIOR”que relativizar .E foi o que fizemos.

Mas Sesimbra (para onde estava já marcada a apresentação do livro no inicio do anos, cancelada por razões da pandemia),está lá talvez não com a dimensão que desejaria.

Grato

Senos da Fonseca

 

Caro Amigo:

 A sua carta é por demais interessante,Peço autorização para a publica.E já depois de publicar a resposta. Numa próxima ida a Sesimbra(muito próxima) gostaria de trocar impressões consigo e oferecer-lhe um exemplar,o Vol.IX da colecção Farol ‑ a “LABREGA”

Abraço

 

Senos da Fonseca


NB. AS fotos que envia são históricas.Os André Senos eram de minha família(o meu avô era o João André Senos). É ,creio a segunda maior família de Ílhavo,com ílhavos espalhados por todo lado. A inscrição do Senos parece.-me ser feita no ELITE.Ora este é um marco chave da pesca de Bacalhau,pois foi o primeiro arrastão a ir pescar aos mares da Terra Nova.No meu livro "Os Últimos Terranovas Portugueses" (que terei muito gosto em lho levar) conto isso mesmo.E vou colocá-las aqui.

Grande Abraço

Senos da Fonseca










sexta-feira, setembro 25, 2020

 


Deum leitor de Sesimbra recebi esta curiosa carta sobre o conteúdo do livroA SAGA MAIOR.Uma  chamada de atenção .Para mim, sempre aberto a criticas, gostei e apressei-me a responder ,justificando o que o leitor considerou falta. Publico a carta do leitor pois entre outras considerações, a listagem que insere é, para os "ílhavos", muito curiosa.Há nomes que referimos e conhecemos.Pedaços da nossa história.

SAGA MAIOr foi talvez o livro que escrevi com mais carinho.Relevei uma tremenda falta.A parte da história dos Ílhavo que foi  encoberta pelo delirante pedantismo do brasão dito(só dito!) fenício.E logo depois, apagada com a grande aventura(mas não tão grande!) do bacalhau, que rendia mais lustre..Por ignorância a grande migração do litoral foi esquecida.E por isso,para corrigir o erro a ela me atirei.Em Ílhavo como era de esperar teve a aceitação que teve,Mas num ápice, o livro esgotou-se.

Assim é Ílhavo,hoje....


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       Caro Senos da Fonseca: 


só hoje descobri o seu livro Saga Maior, que vou ler com atenção. Mas, sendo de Sesimbra, não resisti a dirigir-me de imediato ao capítulo correspondente, e com grande surpresa li que "Os «ílhavos» parecem, assim, não fazer parte do património histórico de Sesimbra".
Vejamos:

a) o livro "O que veio à rede... Vocabulário, alcunhas e topónimos de Sesimbra". (Sesimbra: Câmara Municipal, 2007) tem uma entrada dedicada aos "Ilhos", cuja imagem anexo;

b) as redes de emalhar, utilizadas a partir de pequenas embarcações com um ou dois pescadores, têm aqui a designação de "redes dos ilhos". Numa saída ao mar que fiz, ainda na década de 1960, com um pescador meu familiar (João do Cravo), ele próprio me explicou que essa designação decorria de serem essas redes as que eram utilizadas em Sesimbra pelos pescadores oriundos da zona de Ílhavo. Mas ainda hoje a designação se usa. Uma jovem investigadora publicou recentemente um fraco artigo na revista Musa, onde refere estas redes como sendo "redes de ilhós" (não percebeu...)

c) Sesimbra também guarda a memória fotográfica dos Ilhos: anexo uma foto do lado poente da baía de Sesimbra, com barcas das armações em primeiro plano, e várias embarcações de Ilhos (que poderão ser de pescadores residentes em Setúbal, que pescavam em toda esta costa). A foto deve ser da década de 1930 (já se veem traineiras) ou de 1940 (o molhe é anterior ao que foi construído no final desta década)

d) Os livros de matrícula de pescadores da Capitania de Sesimbra (actualmente no Arquivo da Marinha, em Lisboa) registaram muitos pescadores de Ílhavo e região; dos naturais de Ílhavo, tenho as seguintes notas:
António Cecílio, matrícula em 27-1-1894, filho de Casimiro e de Libânia
Francisco António de Pádua, matrícula em 31-1-1894, filho de Domingos António de Pádua
António de Figueiredo, matrícula em 9-2-1894, filho de Tomás Figueiredo
João Bogacheira (?), matrícula em 13-2-1894, filho de José Fernandes Parracho Bogacheira e de Josefa Maria
Bernardes de Pinho (?), matrícula em 14-2-1894, filho de José Pinto e de Luisa Rosa
João Nunes da Barbeira, matrícula em 14-2-1894, filho de Manuel Nunes da Barbeira e de Maria Rosa de Jesus
Manuel Nunes da Cruz, matrícula em 14-2-1894, filho de Francisco Nunes da Cruz e de Luísa Rosa de Jesus
Gabriel Baptista Coelho, matrícula em 17-2-1894, filho de Bento (?) Baptista Coelho e Luisa Rosa de Jesus
António Gonçalves Chacha (?), matrícula em 14-2-1894. filho de José Pequeno Gonçalves Chacha e Luisa Maria de Jesus
João Nunes da Cruz, matrícula em 14-2-1894, filho de João Nunes da Cruz
José Baptista Caramelete (?), matrícula em 27-2-1897, filho de Marçalo Baptista (?)
Manuel Maria Ratola Simões, matrícula em 6-3-1894, filho de António Simões Ratola e Josefa de Jesus
António André Senos, matrícula em 11-11-1894. filho de Joaquim André Senos e Luísa de Jesus
João Penela, matrícula em 22-3-1894, filho de José Penela e de Maria Rosa do Carmo
António Alexandre da Magra, 10-1-1895 José Alexandre da Marga e Maria Luisa de Jesus
Francisco Pinto, matrícula em 3-2-1898, filho de José Fernandes Pinto e Maria de Jesus
Tomás Fernandes da Rocha, matrícula em 12-5-1898, filho de José Fernandes da Rocha e Luisa de Jesus
José Cecílio, matrícula em 28-1-1899, filho de Manuel José Cecílio e Maria de Jesus
João Gonçalves Andias, matrícula em 28-03-1900, filho de Roque Gonçalves Andias e Maria Clara de Jesus
António Domingues Magano, matrícula em 22-11-1900, filho de Manuel Domingues Magano e Rita Nunes
António Fernandes Parracho, matrícula em 04-01-1901, filho de José Fernandes Parracho e Maria Madalena
Sebastião Moreira, matrícula em 04-02-1901, filho de filho natural de Rosa de Oliveira
Jaime Domingues Magano, matrícula em 01-04-1901, filho de Luís Domingues Magano e Josefa dos Santos
José dos Santos Boia, matrícula em 31-12-1902, filho de Anacleto dos Santos Boia e Joana de Jesus
Manuel dos Santos, matrícula em 10-02-1903, filho de João dos Santos e Rita de Jesus
Manuel Domingues Magano Novo, matrícula em 03-02-1904, filho de Manuel Domingues Magano Novo e Rita Nunes
Manuel dos Santos Marnoto Júnior, matrícula em 29-12-1904, filho de Manuel dos Santos Marnoto e Josefa Rosa Panseira
Jerónimo André Senos, matrícula em 15-05-1905, filho de Tomás André Senos e Luísa de Jesus Pereira
Luís da Maia Romão, matrícula em 14-03-1910, filho de Manuel da Maia Romão; Rosa de Jesus Braga
Amadeu Simões Picado, matrícula em 26-04-1911, filho de João Simões Picado e Rosa Clemencia
José Maria dos Santos Marcelo, matrícula em 13-06-1911, filho de Manuel dos Santos Marcelo; Maria de Jesus
Manuel André Senos, o Carriça , matrícula em 13-06-1911, filho de António André Senos e Palmira Violante
Manuel Lourenço Catarino, matrícula em 13-06-1911, filho de João Lourenço Catarino e Rita da Piedade
Rafael André Panela, matrícula em 13-06-1911, filho de José André Panela e Ana de Jesus
Álvaro Lopes, matrícula em 06-01-1912, filho de João Lopes e Joana de Jesus de Oliveira
Manuel Fernandes Parracho, matrícula em 09-05-1913, filho de João Fernandes Parracho; Cândida de Jesus Carica
Manuel dos Santos Mendes Júnior, matrícula em 20-06-1914, filho de Manuel dos Santos Mendes; Joana Rosa de Jesus
José da Maia Guerra, matrícula em 27-01-1915, filho de António da Maia Júnior; Rosa Aléu da Conceição Guerra
João António Lavrador, matrícula em 11-01-1916, filho de Manuel António Lavrador; Maria de Jesus
João dos Santos Redondo Júnior, matrícula em 11-01-1916, filho de João dos Santos Redondo; Maria do Céu Caiada
António Nunes Branco, matrícula em 28-04-1916, filho de Francisco Nunes Branco; Filomena Nunes Vidal
Carlos Simões Ratola, matrícula em 17-04-1916, filho de António Simões Ratola; Maria Rosa de Oliveira
Francisco Baptista Coelho, matrícula em 22-06-1916, filho de António Baptista Coelho; Emília Rosa
Benjamim Fernandes Parracho, matrícula em 28-12-1917, filho de João Fernandes Parracho e Cândida de Jesus Larica
Armando Fernandes Pinto, 08-03-1919, filho de Custódio Fernandes Pinto; Olímpia Ferreira das Neves
Domingos dos Santos Mendes, matrícula em 12-07-1920, filho de Manuel dos Santos Mendes e Joana Rosa de Jesus
José dos Santos Redondo, matrícula em 13-12-1920, filho de João dos Santos Redondo e Maria Caianda (?)
João da Maia Russo, matrícula em 05-03-1921, filho de José da Maia Russo e Joana Matias
Amílcar dos Santos Parada, matrícula em 19-07-1921, filho de Domingos dos Santos Parada e Maria de Jesus
João André Panela, matrícula em 16-02-1923, filho de António Panela e Maria da Anunciação
Manuel Pereira Cageira, matrícula em 26-02-1924, filho de José Pereira Cageira e Maria Antónia Samagaia
Hermínio Pinto, matrícula em 28-02-1925 , filho de António Fernandes Pinto e Rosa Marta
Marcos Simões Ratola, matrícula em 10-03-1925, filho de António Simões Ratola e Maria Rosa Oliveira
Francisco Nunes Torrão, matrícula em 09-10-1925, filho de João Nunes Torrão e Henriqueta Nunes da Fonseca
Eduardo Fernandes Pinto, matrícula em 11-03-1926 , filho de Francisco Fernandes Pinto e Silvina de Jesus
David Panela, matrícula em 22-10-1927, filho de António Panela e Maria da Anunciada
José Matias da Maia, matrícula em 21-06-1927, filho de José da Maia e Maria Matias
António da Cruz Pinto, matrícula em 25-02-1928, filho de Fernando Pinto e Hermínia Campante
Benjamim Carapichano Branco, matrícula em 04-05-1931, filho de José Alexandre Branco e Ascenção Carapichano
Joaquim Fernandes Pinto ou Bonito, matrícula em 04-06-1931, filho de Joaquim Fernandes Pinto ou Bonito e Maria de Jesus Gil
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Cordiais saudações
João Augusto Aldeia



quarta-feira, setembro 02, 2020




TEMPO QUE FOI NOSSO





Nenhuma ausência

Apagará o gosto dos beijos

Que demos por dentro das casas, vielas, ou ruas de cantos apagados

Por onde deambulámos sedentos de amor.

De nós inteiros,

A desejar viver a vida numa sofreguidão

Avassaladora

A percorrer as dunas do teu corpo, até de madrugada.



Dá-me a tua mão, amor

E vamos de novo percorrer as ruas onde nos beijámos

As dunas onde nos amámos

Eterna e sofregamente apaixonados.

Livres.

Vem de novo misturar

Os teus lábios nas minhas mãos

A entregar-me o rio violento que era o teu corpo.



Vem prolongar cada minuto,

Vem de novo para Te amar loucamente

Como se o tempo nosso

Já não tivesse tempo

E fosse pouco,

Ou já nem houvesse tempo

Para com tempo

Te amar de nessa madrugada




Senos da Fonseca 02.09.2020

domingo, agosto 30, 2020



FOI VOCÊ QUE PEDIU UM PÊSSEGO ?

...SABE COMÊ-LO ?...

Chegou com um ar desiludido, sorriso fechado ,gestos tensos –em completa «fossa» :


-Então como vai a bizarria (?):- disparei …


-Ácida ,amarga .-monótona, retorquiu
.Uma pessegada ! Os Homens começam a ser uma raridade pouco ao alcance de quem vai ficando sobrecarregada com aniversários. Que ,ainda festejemos, mais razões tínhamos,era,de os lamentar …


Deixa –Te de pieguices : atalhei .


E para que sorrisse lá lhe fui dizendo .


- Por falares em fruta :-Olha que ainda és um bom «pêssego» ! Anima-te !...Sabes (?) : há dois tipos de pêssegos.Uns lindos por fora,charmosos,gulosos :já vi muita gente deles se fartarem à primeira trincadela .Sensaborões …Verdes ...E olha que não é a fábula da «raposa» ...


Depois, há os que mantêm a atracção; macios por fora ao tacto, e quando se trincam,para além de muito doces , são polpa apetecida. Desfazem-se em gostusura húmida. Apetece ir até ao fim.


Um bom «pêssego» deve-se comer à trincadela e nunca – mas nunca !- descascado com faca.Com dentadas suaves ou esfomeadas, vamos avançando e eles derretem-se na boca, fazendo soar as campainhas que ainda dentro de nós se dispõe a festejar a ditosa vitualha…


Ora deves, é reparar que, os «pêssegos» verdes exibem-se na praça pública em caixotes, às dúzias ,alardeando impúdica oferta .Um «pêssego» –um bom« pêssego!» - sugere-se em oferta íntima –mesmo que misturado com outra peças -numa taça de cristal onde faz valer o seu perfume .E a sua macieza E mesmo que ao toque não seja tão durinho,isso mesmo é a sua virtude,convidando à trincadela…



Vi-lhe um sorriso e pensei: está feita a minha boa acção de escuteiro, por hoje …


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Passados dias voltei a encontrá-La .


- Então ?... aos costumes, não dizes nada!
-Como posso dizer (?!); com a míngua de homens interessantes que por aí vai… atalhou …



-Não me digas …Então já todos comem de faca …?!…


-Pior; “de faca e garfo” .E chegado ao caroço atiram-no fora, ainda cheio de carninha
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Este mundo está perigoso …E a distribuição horrível. Uns com tanto; e tantos só com o caroço…Ainda falam do capitalismo selvagem…


Ou será que é mesmo assim: as coisas murcham com o desbotar dos sentidos

Senos da Fonseca

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...