quinta-feira, dezembro 31, 2020

 

VAMOS ACABAR COM "OS RICOS"?!

Este mundo está, deveras, perigoso….

Anda por aí uma corrente de activistas que se propõe fazer o que Otelo em tempos tentou: acabar com os ricos.Sem mais...

Bem Vos tenho dito e avisado: os deuses devem estar loucos para consentir tais desmandos parvos.O fim dos «ricos»...e depois ?!

1- Acabando os «ricos», acabam-se com os «pobres». Evidente. Só há «pobres» porque há «ricos».

Passando os «pobres» a ser considerados – «ricos» - será tempo de os esmifrar  até ao tutano. Os mesmos de sempre, sacarão da cassete e apregoarão : os «novos ricos» que paguem a crise». 

A bíblia bolchevique di-lo, e a luta de classes continuará até ao último dos novos  «pobres ricos».

2- Mas preocupa-me ainda mais que sejam estes novos «pobres ricos» que tenham de sustentar os «velhos ricos» que aceitaram empobrecer. Sorridentes, colaborantes, e sem fazerem um manguito.

Teremos,  então, de  criar uma nova taxa que vá permitir que os ex-ricalhaços continuem ricos a valer. Por assim o merecerem. E há o perigo de que os ditos (ex -ricos), agora como trabalhadores, venham pedir indemnizações por despedimento  colectivo de classe, o que poderá atingir números  indemnizatórios assinaláveis (maiores que o Novo Banco). É mais fácil um tubarão comer carapau em vez de cherne, que um rico dispensar a sua dose diária de caviar. Desconfiem...   

3- É verdade! Ou pelo menos parece: - os «ricos» andam por aí  a oferecer-se para dar uma corda a quem lhes der um porco (cevado).

Eu ando preocupado porque, com este abaixamento de rating, ainda um dia posso aparecer, na Forbes, entre os mil «pobres ricos», e exposta a minha fortuna em dez patacos furados.

Não podem voltar atrás e arranjarem um subsidiozinho para manter os «ricos» ainda mais «ricos»?

Se os «pobres» já se habituaram a pagar as crises (esta e todas)…porra… é só mais uma.

E os rapazes ricalhaços lá continuariam a carregar com o fadário. Porque isto de se ser

«podre de rico» deve cheirar que fede.

Estes activista de meia leca ,cabecinhas delirantes,são perigosos....


Senos Fonseca





quarta-feira, dezembro 30, 2020

 POSTAL DA “CASA DO BICO”


S. Bartolomeu: dia do diabo à solta


Nem o despertador precisou de me chamar, nem o galo de cantar; parti no horário em que sabia apanharia as «faladeiras». E a meio do percurso, lá vinham as duas simpáticas pescadeiras, lestas e ainda desempenadas das pernas. Notei que vinham a gesticular fortemente, parando de vez em quando, especadas na marginal.

Máquina a meia força, fui-me aproximando. Pára a máquina!..., devo ter pensado. E fiquei a pairar, à espera que as duas, a Zefa e a Tibéria se aproximassem. E leme a bombordo, atraquei ao de labaró, e dei os louvados:

- Louvadas Vossorias, gente fina desta praia velhinha; mas ainda bonita e asseada como o são as as suas cachopas.

- Ah seu endrominador, você não perde tempo para, ainda não ter passado a mão da barca e já está na mangação, seu camanduleiro.

- Eh Ti Josefa, essa de camanduleiro é que eu nunca ouvi. Astão o que é lá isso? Perguntei interessado no léxico vernáculo.

- Ai não sabe?!... pois… pois… eram os rapazotes enganadores. Ou as beatas na camandula: de terço de contas grossas à vista, as banguinas a fingir que iam a rezar, aquelas calamantronas. O que elas estavam era a fazer horas para irem ao confesso, onde o Padre Horácio lhes despertava a cocegueira na cricalhada. Que eu diga, era um grande rascoeiro. Que diga-se, dava abêgo a todas, astisfazendo-lhes as necessidades.

De boa boca… tudo o que vinha à rede era peixe, desde que tivesse guelra a vermelhada. Não havia beata, saltarina ou cantadeira de missa, que lhe escapasse. Trambolhão por trambolhão, ia-se o paraíso. Que a Eva também era danada p’rà cambalhota. E p’ra home e mulher mais saborosa brincadeira, Deus não inventou. Disques.

- Ah mulher, vê lá como falas aqui com o senhor. És mesmo uma desausserbada. Língua ruim e envenenada. Emboitas qualquer um com a tua língua de vinagreira.

- Olhe aqui, amigo. Olhe c’a vida na companha não era só um enxogalho de má língua. Havia momentos de inquisilar a alma. Ó!... Zefa, alembras-te daquele dia do S. Bartolomeu? Já ouviu falar nesse santo?

- Olhe que sim, respondi. Quando era rapazinho, nesse dia, as mães nem nos deixavam sair de casa. Diziam que andava o diabo à solta… Ainda me lembro que, num deles, andava um tenente muito emproado, muito esturto, no cavalo, ali perto da antiga esplanada, a mostrar-se às garotas (que olhavam mais para o cavalo que para o pelingrino). O animal espantou-se, tomou o freio nos dentes, e foi como trovoada por ali até casa dos Taveiras. Estacou. E vai o pavante «tenentezeco» avoou e aterrou no Bico, no meio do lodaçal, emboitando a farda toda.

- Mas olhe c’até andava o raio malino à solta, desembolado. Eu conto-lhe:

(…) no dia desse santo, era costume não se ir ao mar, pois diziam, acontecia sempre que o pecadito fazia das dele. Mas, naquele ano, as semanas tinham sido tão más que já havia fome entre as gentes. O arrais Ti Cruz reuniu a companha e botou faladura:

- Eh…gente: eu ando desaquietado, esta vida está de morte. E morrer por morrer, mais vale morrer no meio daquele estupor, que por aqui, à fome. Por isso eu quero ver se tenho homens da minha ógalha. Ou meninas virgoleiras, com medo de serem espetadas com a padela. Maneiem-se os que querem embarcar. Fiquem os inxuns a rezar ao belzebu.

- Aqui me tem, Senhor, avançou o Bernardo rompendo a fila dos brejoeiros hesitantes.

 Cabeça alevantada, peito firme, alto como uma torre, forçudo capaz de erguer um mansarrão, pelos gorgomilhos, olhos verdes da cor do mar, quando manso. Mas, de onde saíam chispas quando irado. Ao verem o Bernardo, o Carlos, o «Negrote», o «Ranhoso» … e outro e outro…deram passo em frente.

- Ti Joana, encaneire o pessoal, e vamos lá com Deus, que ele nos cubra com o seu divino capote, vamos dar lanço nem que seja para o escabeche: – disse o Ti Cruz para a «arraisa» Joana, a chefa da companha em terra.

Foi ordem que provocou uma restolhada. Redes p’ra dentro, sacada à borda desenvencilhada, mangas enroladas, a que se juntou o càlão e a mão da barca. Chama-se o abegoeiro. Que trouxesse quatro juntas de hercúleos bois, pois há pancada rija; e meter o meia-lua a vogar obriga a que a muleta vá até à borda, e que os bois, enfeixados nas armelas, metam barriga mar dentro para dar impulso. E assim ajudar a embarcação a boiar. A entrar mar adentro.

E foi então, quando as duas juntas estavam com água pelos ruços, borregando em ir mais dentro, aguentando a vergastada e o aguilhão da vara inclemente que lhe zurrava nos costados, que uma vaga atravessa o meia-lua. O Arrais grita num vozeirão:

- Rema! Riba… Ó…Ó … riba… Eh! raios… diabos … riba para a vaga… Seus langões. Dai força aí no mieiro, ou ides hoje todos para o inferno das profundezas.

Numa arrancada, mistura de vontade com medo, o barco dá um esticão para aproar à vagalhoça. Mas, presa à embarcação, a junta de bois de estibordo é arrastada com a ré da embarcação. E eis que os bois perdem pé. Cabeça e cornadura de fora, tentam ferozmente desenvencilhar-se do cordame que os prende à embarcação. Num repente, vê-se o Bernardo astirar-se à auga e, com a navalha, libertar, do barco e do cabeçalho, os animais. E, nadando para terra, resoluto, entrega a ponta da corda ao pessoal, que água até ao pescoço, alam o pobre animal para terra.

- E o outro? Você sabe lá(?!), diz a Zefa, inquirindo-me…

- Pois e o outro Ti Zefa… adianto, pronto a ouvir o resto deste quadro vivo, expressivo, luta de gigantes com o mar.

- Pois: a Ti Joana mulher d’um carago, nadadora exímia, tinha-se atirado e saltara para os costados do boi que resfolegava. E atirando-lhe o saiote preto para os olhos, filada ao cornígero animal, forçara-o a virar-se para terra. O animal, sentindo areia por baixo das patas, pareceu ganhar alento. E zás que ala tarde. Recuperando «pé», ajudado pela vaga, e pegado pelos cornos pela Joana, o animal desenvencilha-se do mar e parte em corrida resfolegante pelo areal adentro. Vai por ali fora e… de repente escafedeu. Estaca e a boa arraisa Joana voa e aterra de barriga no areal. Só que o saiote e fralda ficam espetados nos cornos do boi. E a Joana, esparralhada no areal, mostra o alvo traseiro. Bonito e redondinho. Firme, parecia montanha amaciada por mão divina.

- E quereis saber Senhor(?): entra a Tibéria de quarto. Pois todos aqueles zamparinas, gadagem que cobiçava tudo que fosse mulher, virara a cara (e os olhos!) libertando a Joana de corar de vergonha, ao ver-se exposta como a sardinha na sacada.

- Todos? Todos, não, diz a Zefa, com um riso malino na cara. Não!... o Bentinho «Cagaréu», que diariamente mirava guloso aquela mulher tão liró, parecia hipnotizado ao ver a meia-lua da Joana tão ajeitadinha e torneadinha. E ògadinho não tirava os olhos daquele quadro que parecia um retábulo real. Até que a voz da Joana trovejou:

-Que estás a olhar, pelintra? Gálico(!), nunca viste o traseiro da balcória da tua mulher? Queres chari-lo? Anda, esculhambrado, astreve-te que eu filo-te pelo gasganete e amanho-te a tripa que tens entre pernas para escassso.

- Ah, chopa, morrendas se não falendas. Que tinhas tu de comentar que Bentinho viu o «rabinho» de anjo da Ti Joana? Òspodias ter terminado sem teres emboitado a estória. Assim: quando a arraisa Joana se pôs de pé, já o meia-lua atravessara o mar quebrado e fazia emposta à procura do cardume…


Senos da Fonseca




domingo, dezembro 27, 2020

 O que valeu ao «Cantigas» é que o raio do canário …era canária….


Intriguei-me nestes últimos dias por nunca mais ter posto a vista em cima, à Tibéria e à Josefa, que, como por encanto, desapareceram do mapa. Afinal, nesta última segunda-feira, novo encontro. Fiquei, então a saber, porque se eclipsaram: peixeiras na praça, esta fecha(agora) às segundas. E é só neste dia que elas vêm desenferrujar as pernas. La vie oblige…

- Ó Senhor: dantes era uma fona. Daqui p´ra «Ibalho«, fazer a venda,  voltar pela noitinha derreadas, esgalfas, mais tesas que o carapau ressequido que não tivera freguesa...Aí sim (!)...aí é que estas perninhas, que agora parecem mijadas (com sua licença), eram roliças, duras e torneadinhas como pitorras.  Ai do zamparilho que se astrevesse a meter-se no meio delas. 

- Era assim, era…. ajunta a Zefa. Às vezes era já noitinha e o que valia era que aquele caniné do Labareda nos esperava. Até que todo o pessoal arribasse à Maluca, feita a venda na Vila.

- Atão hoje não têm nenhuma estória para me contar? interroguei eu…a meter cúnfia.

- Credo, você parece q’uè bruxo. Olhe!...vinha agora a lembrar, com a Zefa, da história da Pauseira «Canária». A Pauseira era uma savelha de se lhe tirar o chapéu. Mulher danada.De sim ò sopas. Mulher de, ou fora ou adentro … a meio é que se não podia ficar.

- Conte lá Ti Tibéria….conte raios que sou todo  interessado.

E a Zefa não se fez rogada.

 - A Pauseira tinha na sua casinha, ali nas dunas, um canário que estimava muito. O raio do pássaro um dia apareceu esmorecido. Parecia que tinha lançado um grapelim ao trapiche e de lá não saía, nem para molhar o bico. E pior, nem piava. O estupor do canário, dizia o Luís «Cantigas», o serrazina do home da Pauseira: – dá-lhe uma «passarinha» a ver se o bicho desperta. Olha que o que o bicho tem, é falta da «passarinha». T’ asseguro.

- Pois, quem não tem falta da «passarinha» és tu, «Cantigas». Há benícias que nem lhe pões a vista em cima. A vista e o resto, raios, diz inquisilenta a Pauseira ao seu homem. P’ra ti esconjurado, «passarinha» é o garrafão do tinto. Ora vai-te, que eu tenho mais que fazer c’abanar o traseiro.


«O Cantigas» lá foi a resmungar, para a vida. A «Pauseira» ficou a fazer horas para ir p’rà escorcha, aproveitando para fazer um caldo de conduto para a ceia. A meio da manhã batem ao «portaló».

- Quem bate? E abre a portinhola do palheirote. Cá fora, especado, o Arnaldo «Mijinhas», uma espécie de botadinho à parte, atrapalhado e nervoso, diz à Ti Pauseira:

- O Ti Luís mandou-me aqui, dizendo para Vossemecê me dar «passarinha» que ele não teve tempo de lhe pôr a boca em cima.

- O Luís mandou-te mesmo, para eu te dar a «passarinha»? Ai ele quer mesmo enfeite? Anda cá filho, que eu dou-te a dita. E agarrando o «Fininho» puxou-o a si com força, atirando-o para o catre disposta a cumprir ordens, que Capitão manda imediato obedece.

Só que o Arnaldo pouco dado a empostas do género, incapaz de ciar em mar tão encapelado, fixou com pavor a trabuzana que para ele representava a Pauseira e, espavorido, dá de se libertar do corpo da fera desembolada, escapulindo-se ao lancão d’alentada mulheraça.

À noitinha, quando o Luis «Cantigas» voltou da faina, a Pauseira não esteve com meias palavras:

 – Olha lá ó seu zamparilho, atão tu agora já não te satisfazes com a «passarinha», e mandas substitutos p’ràconchegar?

- C’a estás tu pra aí a xanar, raios? Eu mandei o «Fininho» buscar o garrafão de vinho. A que tu chamas «passarinha», homessa (?!).

- Homessa (!) digo eu; o que te vale é que o raio do canário é canária. Senão a estas horas estavas mais enfeitado que o manso do boi amarelo do abegoeiro Ti Aparício.


- Á ganda Ti Zefa. Vamos lá acabar a voltinha, que para a semana vossemecê conta-me outra. Combinado, remato eu bardaleiro?

- Pois atão. Se lhe der volta, apareça lá pela praça. Há lá bom peixe. O que está a dar, agora, é «a
chaputa
». De entupir uma jaja.


Senos da Fonseca    



domingo, dezembro 20, 2020

 

 Hoje a noite apossa-se de mim.


Desta minha janela, lugar de privilégio que idealizei e fiz para mim (e para mais ninguém) vejo acontecer a tarde estranhamente escura. Plúmbea, tristonha, toldada de uma luz pardacenta, que parece – só! – existir superficialmente. Olho, a tentar perceber este estranho determinismo que leva a natureza a comportar-se como um ser humano. Tão risonhos éramos ontem, esquecidos da amargura de se ser consciente,quando não fingíamos. Sofre-se sempre mais com a consciência de que os outros sofrem, do que com a ilusão que só nós é que sofremos.

Hoje não encontro nada de belo no que me chega e envolve. Indisposto, vou e fecho a janela. Tento assim ficar só eu ….comigo , com a minha realidade interior. De fora não vem nada que me ajude a acordar. A perceber que uma flor qualquer está neste momento a despontar, não sei em que jardim. De certeza num jardim que não é o meu. Ligo a música: espero algo que me alimente e desperte, e me crie a ilusão de que não vale a pena pensar.

A tarde está tão carregada que as minhas penas com ela comparada parecem (tão) leves. E bondosas. Hoje não virão as estrelas. Das serranias a luz alourada da ria não virá fazer a estrada que vem bater no meu degrau. Será uma noite de luar oculto, noite adormecida cheia de nada.

A ria está um molhado indiferente. Sombras aqui e ali recortadas, sonolentas, carregadas de uma monotonia inquietante. Não há cheiro. Nem sequer há vida. Até os barquitos desapareceram. Ah! se eu me pudesse como eles amoirar, e, indolente, deixar-me rodopiar numa valsa à deux temps» a sonhar com o me substituir a mim próprio?!

Tento ficar desperto, a pensar sem pensar. Pois só pensa quem é iluminado por dentro.

Já nem os poentes fazem vogar em mim as caravelas da descoberta. Parece que já não consigo descobrir nada lá fora, pois já nem em mim descubro coisa que valha.

Estou farto de mentir para o prazer, para a glória, para o poder .”Tudo” a que miseravelmente não consegui escapar, apesar de o tentar (ou talvez não). Só desejo em cada dia que passa, ganhar a liberdade de ser eu.


Tudo o que faço para fora de mim me parece inútil.


Senos da Fonseca




sexta-feira, dezembro 18, 2020

 


CARPE  DIEM versus  BEATUS ILLE


Aproveita hoje que amanhã....


A propósito do CARPE DIEM , à medida que as horas  silenciosas vão correndo, vou   discorrendo….

Creio que sempre que a vida nos prega uma partida, paramos e juramos: é agora. Com esta história da pandemia, parece  chegada a altura de procurar viver segundo Horácio, o poeta  venesino.

Viver segundo as regras do poeta era viver na suprema virtude (perfeição )da vida.

Seguir Horácio –e muitos juraram segui-lo, e imitá-lo – tinha entre  outros saberes ( virtudes) o  beatus ille, que seria o viver «afastado», num modo (propósito) contemplativo. Ora manda a verdade dizer que os nossos Árcades, cantavam esse viver. Só que, não muito longe do bulício (e prazeres) da cidade. Era o tal viver lá fora, cá dentro. Quando muito cantavam as suas Odes nos jardins públicos, a paisagem citadina que imitava (?!)a «Arcádia» pastoril.

Por mim, também aderia (poeticamente) ao CARPE DIEM.

Só que prometi fazê-lo um ror de vezes, e voltei sempre ao mesmo. Tantas foram as vezes que jurei dizer palavras que afinal nunca disse; tantos foram os gestos ensaiados e logo fenecidos à nascença; tantos foram os sentimentos que guardei só para mim, quando os devia lançar ao vento e deixá-los ribombar por todos os cantos….,A cada promessa ensaiada, logo voltava à estaca zero.

 Chego pois á conclusão, que (já) não mudarei, embora o tenha prometido, agora, uma vez mais.

E  por isso continuarei a querer importar-me ;e continuarei a querer saber; e continuarei a aceitar sofrer. E continuarei a guardar a sete chaves muito dos meus sentimentos, que não contarei a ninguém. Que levarei comigo. Como levarei os gestos e as palavras, os sorrisos e as lágrimas.

E vou andando. Continuarei a deixar-me agir impulsionado por um qualquer sonho (mesmo que pequeno). Não tenho outro modo de me deixar existir. Parece que nunca aprendi. Ou não quis.

E discorro: os avisos e propósitos de Horácio ficaram registados nos compêndios literários. Morrem lá enterrados, bafientos. Utopia inalcançável..  


Senos da Fonseca


quinta-feira, dezembro 17, 2020

 

As ligações de Ílhavo ao Marquês de Pombal.

 .

É sem duvida interessante, embora cansativa, esta atitude de procurar entrelaçar os factos na história e conseguir perceber o que existe por detrás de simples acontecimentos. Mesmo que por vezes eles não tenham muita importância como facto histórico, mas apenas recompensem a curiosidade de quem trabalha embrenhado na procura documental.


No livro com que andei às voltas – uma biografia desse notável aveirense João Sousa Ribeiro da Sylveira, capitão mor de Ílhavo ,«pai da pátria» como publicamente foi reconhecido, uma personalidade de enorme grandeza moral, ética, magnânima na solidariedade com todos, e em especial, com os mais desprotegido. Figura que esteve na decisão Pombalina de elevação de Aveiro a cidade, e no perdão conseguido, afastando  o temor, tido na altura, de  represálias sobre a população, como consequência do atentado de lesa majestade, perpetrado pelo Duque de Aveiro, sobre o rei D. José. O dono da casa Ducal de Aveiro, que era a segunda maior do País ,logo atrás da de Bragança, nunca teria vindo a Aveiro, e muito menos aqui residido. E claro não haveria qualquer ligação de gentes de Aveiro ao regicídio. Mas João Sousa Ribeiro teve de ir a Lisboa prová-lo. E assim evitou o massacre de muita gente.


Sousa Ribeiro não só trouxe com ele a carta de elevação a cidade,a limpeza do nome das populações, como ainda trouxe a boa nova da isenção das habituais taxas de elevação hierárquica na orgânica administrativa, dos agregados populacionais, como era habitual suceder nessas situações.


Ora tenho andado embrenhado na documentação da época para explicar o que até hoje ninguém terá ainda explicado. Deixemos os pormenores da minha tese para quando da apresentação do Livro, já contratado com a Editora para ser editado no fim do ano ,data em que me comprometi a tê-lo pronto.


Ora neste arrumo final tenho «catado» ,e tentado imaginar, como não é possível encontrar uma gravura com figura de tanta importância(Arquivos históricos, Torre de Tombo ,Alfandega ,etc etc) .Claro que o fogo que consumiu o palacete da Familia (nessa altura na posse de seu bisneto Visconde Almeidinha), o palacete do Terreiro (onde hoje esteve o edifício do Governo Civil de Aveiro) que era ao tempo verdadeiro «museu», onde se encontrava um espólio de arte notável, incomparável, poderá explicar o facto.Com o fogo que transformou tudo em cinzas teriam desaparecido todos os retratos (pinturas) familiares. É possível.


É-me fundamental –para a tese que defendo – explicar a proximidade de João Sousa Ribeiro com o Marquês de Pombal. E julgo poder justificar a mesma. Ora há tempos  estava eu embrenhado no Arquivo Histórico da Universidade de Coimbra,na tarefa de encontrar os registos dos alunos da Universidade nas décadas de 1720 a 40,e, por um acaso, verifiquei que o Sebastião José tinha casado, ainda com apenas 23 anos, com a D.Teresa de Noronha e Bourbon(35 anos), filha de Bernardo d’Almada Castro Noronha e de D Maria Antónia de Almada,donatária de ílhavo.. Estremeci!!!!


Quereriam lá ver.O que a ninguém poderia interessar, a mim despertou-me total interesse.


Este senhor – D. Bernardo d’Almada  Noronha – eu sabia-o quando estudei os Donatários de Ílhavo( Ílhavo ¬- Ensaio Monográfico pp 58 e 505) era marido  de uma tal D. Maria Antónia de Almada , donatária de Ílhavo, senhora que até se pensava teria passeado por aqui, pela vila,(1721)quando dela tomou posse. Recebendo as chaves na Igreja e visitado o Pelourinho ali na Praça (leitura atenta levou-me, na altura, a concluir que, a  D.Antónia, afinal, nunca cá pôs os pés, e quem teria andado a fazer de figurante (por ela) terá sido o Prior ).


Por esta é que eu não esperava.


A primeira  mulher do Marquês de Pombal, filha da Donatária desta Ílhavo(cujo capitão mor era o próprio João Sousa Ribeiro..


Parece esclarecido o porquê, nunca bem entendido ,na altura, da forte influência de João Sousa Ribeiro ,sobre o Marquês, e tudo quanto dele obteve. Está pois explicado.


E esta heim?!!!


Registo o facto que teria passado a todos despercebido, até hoje.



Senos da Fonseca



quarta-feira, dezembro 02, 2020




 


A ZECA FAZIA HOJE, ANOS

Por cá tudo igual. Tudo mal.
Por «aí» não sei. Mas não tardarei a sabê-lo.
Hoje, ao lembrarem-me da tua falta, diziam-me à laia de consolo – certamente (!) – da minha sorte (?) de, ainda ir vivendo:
– Olhe que não, olhe que não… atalhei com doce comiseração. Isto de ir vivendo mais um dia, não é bem ter um dia a mais. É a lucidez de ter a consciência de se ter um dia a menos para fazer tanta coisa que se pretendia fazer.
Que Te dizer, hoje?...
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Acorda irmã,
Na manhã deste dia
Em que nasceste para a vida.
Abre os olhos no tempo sem tempo
Onde moras
Toma uma toalha para secares
As lágrimas do teu choro
Pelos que sofrem ainda hoje,
Mais do que ontem.
Vá...
Vem daí que eu dou-te a mão
Para veres de novo os que amaste.
Ficaram à tua espera
À espera que por eles, voltasses.
João

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...