segunda-feira, outubro 31, 2022

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  • E porque amanhã fazias anos…lembro-Te


  • Olha amor!
  • Anda! … junta as tuas mãos 
  • Mete-as aqui aconchegadas nas minhas
  • E vem fazer o que tantas vezes fizemos, sós:
  • Vamos falar aqui baixinho
  • Como que a rezar (o que eu nunca soube fazer)
  • Mas baixinho ouves melhor a minha voz.


  • Partiste há uma imensidão de tempo.
  • E nesse tempo turbulento e desesperante
  • Nunca soube ao certo de onde soprava o vento.
  • No recanto dos teus encantos, procuro-te a cada momento.
  • Olho para a ria, onde vejo cintilar os teus olhos verdes
  • E neles o reflexo das estrelas, estilhaços do coração
  • Então o nada será tudo…serão farrapos da emoção(?)


  • Tenho trabalhado, mas sem ter a tua crítica

  • Não consigo distinguir o bom do mau.
  • Ai daqueles que como eu perdem o ajuste!
  • Nunca mais o seu trabalho será alegria.
  • Nem o sono, acredita, disfarce de doçura
  • Não há mais noites de ternura, 
  • Exprimir-me mesmo, para quê?
  • O muito que tinha ainda para te dizer
  • Melhor será nunca ficar dito.
  • Olha amor:
  • A renúncia por vezes é bela!
  • Mesmo que por vezes seja dolorosamente fria
  • Porque aqueles que me ouvirão 
  • Não amarão o que eu digo 
  • Com os ouvidos com que tu me ouvias.


  • Se era erro: – lixo! 
  • Se era fantasia, amor, loucura paixão
  • Iam para o álbum.
  • Tu foste sempre a decisora das minhas grandes decisões
  • Tu foste a doçura de um longo passado
  • E se o recordo é porque Tu estás sempre presente.
      
          J  2022


terça-feira, outubro 18, 2022


 

Num cravo ruivo para Ti


Pudesse eu sentir o bafo dos dias quentes
(para deixar de sentir a dor
A dor tremenda de me ver ainda acordado
(em tudo o que escrevi.
Nessas folhas em que amei e fui amado
(ainda que noutras, não sei (?), odiado..


Sinto a dor tremenda de nelas não ver gestos,
(seria que lá não couberam?
Ou estando lá, eu não os vi, tão escassos eles eram,
(a vida é «soma e segue».
Por isso quem me dera morrer num instante
(antes que o inverno mos negue.

Ateio as poucas brasas que ainda há em mim
(frias dos beijos que não recebi
E recuso o sono, a paz e a solidão que só hei-de querer no fim
(quando então longe daqui;
Mas não deixo, hoje, de escrever num cravo ruivo para Ti
(o que já não sei dizer a mim.



Senos da Fonseca 


domingo, outubro 09, 2022


E nos papéis encontrei este  discurso louco,ininteligivel(?) ...ou talvez não....

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 Anfiguri …


Carapau/bacalhau/ e pitáu



O dique foi a pique

O farfalho foi ao alho.

O asno corou de pasmo

O corifeu fez-se ateu.

Comeu o bacalhau

Deu espinhas ao marau.

Falou com cagança

De uma grande vingança

Ninguém o atrapalha

Vai  daí,puxou da navalha.


Falou com vigor

De tudo que for.

Empenhou-se a fundo

A prometer meio mundo.

Abanou o chocalho

A um certo bandalho

Que cheio de riso

Mostrou pouco siso.

E disse a debique

Metendo-o a pique,

Cruel vadiagem

Fartai vilanagem.

Tão mau é o termo

Como este Governo.


Mostrando a dentuça

E o pelo na fuça

Prosápia balofa

Em orelha mouca.

Brilhante o dixote

De tão vazio pote.

Imbecil gargalhada

No meio d’ alhada

Plena de manha

Em soez artimanha.

Vazia de tino

Tamanho o cretino

Tão larga é a lauda

Como curta é a cauda

Do infeliz menino



Em feroz desatino,

Cuspindo borrões

Em vãos borbotões

Num tolo escarcéu,

De lhe tirar o chapéu.

Tão tolo e tão mau

Ó grande ribau !

C’a g’ande pitáu

Dá cá bacalhau!



Senos da Fonseca




sábado, outubro 01, 2022

 

Ciúmes da Ria


 



Surpreendes-me sempre que te visito...
Nunca pareces cansada de andar de um lado para o outro.
Serena,
Calma na tua frieza de hoje
Eras a mais bonita neste entardecer
Onde só a ausência do sol dava pena.

E eu parado
Cansado de tanto correr
Em mim ausente o prazer de viver
Olho para ti extasiado.
Que pena!..

Não encontrando semente para semear,
D.Quixote, atiro-me aos moinhos
Ergo o braço e ferro o punho,
Num desbaratar,até, de ilusões.
Apenas e só a desbaratar
Pois já nada, nem eu me ergo do chão.

Quem me quer nesta idade sonolenta?
Quem me leva a recriar desejos despidos(?)
A fazer-me lembrar pecados já esquecidos.

Parado enciúmo-me de ti
Desse amor que vens fazer à praia
A horas repetidas, não te cansando de amar,
Envolvida com o areal ainda estremunhado
A deixá-lo beber do teu ventre salgado.


Senos da Fonseca

(foto M.Bernardo Balseiro) 



  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...