domingo, setembro 27, 2020

   DE SESIMBRA ...vieram notícias dos "Sesimbrões".Você sabia quem eram essa gente?


´Ás observações que o leitor  João Augusto Aldeia,de Sesimbra,me enviou sobre  o livro "Saga Maior",tive a oportunidade de Lhe responder ,solicitando autorização para aqui dar conhecimento  da mesma.Já veio ,e por isso aqui publico a minha respostas anterior notícia aqui dada.

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Caro Senhor  João Augusto Aldeia:

 

Agradeço todos os reparos que faz ao  meu livro SAGA MAIOR. Importante,para mim,é a  leitura do mesmo e, depois, a sua crítica.

 

Vou dar-lhe a minha perspectiva aquando da elaboração do trabalhoso livro,talvez aquele que elaborei  com mais carinho, pois tive consciência de contar a história das minhas gentes que tão esquecida andava (mesmo por aqui...)

 

“Saga Maior” é a única história que assume contar o desiderato de um povo ‑ os “ílhavos” irredutíveis, que só tinham medo que o mar também secasse– ”expulsos” do seu habitat habitual por razões de mudanças irreversíveis do meio a que se acolhiam.  Houve que  decidir. Ficar era morrer...partir era começar de novo.... E decidiram partir. Partiam   dolorosamente marcados pela surpresa,  descalços, filhos pela mão calcorreando o areal, agasalhados  apenas com o fatico que vestiam. Mas   o alforge  dos saberes ia repleto. Foram, emposta litoral “abaixo”, em procura de novos locais  de subsistência. Levaram com eles, o saber único das Artes - de todas as Artes mareiras- a teimosia, a inquietude, o desígnio último de que aquela aventura -  saga no litoral – vir a ser o prelúdio do sonho altieiro para que se supunham predestinados.

Na fuga à tragédia lagunar dos Séc.XVII-XVIII, os “ilhos”– como o meu caro refere, e bem–  foram povoando as praias do litoral (aqui com as Artes Grandes de arrasto) ou embrenhando-se nos rios e sua foz, juntando-se(neste caso) a pescadores que já por ali fainavam com outras artes de pesca.

 

Globalmente, pareceu-me, depois de analisados todos os percursos e  a história da vivência em cada local, ter havido dois grandes tipos de aproximação:

 

Nas Artes Grandes os “ilhos”impunham as regras .Havia regras repetidas no formar das companhas, no estar(tipo de assistência), na construção  e disposição, de simples e rudimentares infra estruturas – poço comum, capela com orago entre caniços, abegoaria etc.Com os “ilhos” vinham as  suas famílias que serviam nas companhas e tratavam das lides  mínimas para no intervalo da alar e escolha do peixe - e depois venda -suportarem a vida nos palheiros construídos à borda. Cada companha era uma comunidade, vivendo e comportando-se com regras que em nada diferiam das comunidades da beira mar da Costa Nova (Ílhavo).Um reenquadramento.

 

As companhas tinham assim a sua organização, com a actividade fundamental de aliciamento de mão de obra provinda da lavra circundante, contratação de abegoeiros, organização de aquisição de fios, cabos, panos de rede,vinho , etc. 

Poderemos dizer que neste tipo de “ajuntamento” o “ilho” pontificava,dominava.Era na verdade um verdadeiro demiurgo. Escolhia pesqueiros, fixava locais e disposições de abrigos, deslocava-se para novos pontos, assumindo que toda a cultura de que vinha impregnado(da origem  lagunar) era resistente e se impunha ,sobrelevando todas as culturas estranhas(hábitos e costumes locais).

 

Certo porém é que muitos dos “ilhos” escolheram outro tipo de migração. Sem família atràs, gentes de “ir e vir” a fazer a safra,  foram “misturar-se” com outros pescadores que já  exerciam  a pesca em locais específicos. Principalmente na embocadura dos rios (Douro,Mondego ,Tejo, Sesimbra ).Nestes locais, os pescadores idos da laguna(pois aos “ilhos” juntaram-se amiúde os murtoseiros),integravam-se nas companhas (pequenas ) já existentes, de arrasto ou cerco na borda,  utilizando embarcações e métodos de pesca um pouco diferenciados. Adaptados às condições específicas).  Se julgavam as embarcações estavam  bem concebidas para os fins em vista, aceitavam e embarcavam(em Sesimbra as “Aiola”  e os “Batéis”, foram disso exemplo).Se não aceitavam, propunham outros diferentes(Nazaré).Mas do que observámos e debatemos (ouvimos e lemos) a posição dos “ilhos”,nestes casos, não era tão sentida, tão nuclear,nem tão intensa como o era nas companhas das Artes(mesmo no Algarve mais tarde),embora deixasse rasto duradouro bem recordado(caso Sesimbra)

 

Sobre as fotos que gentilmente envia,julgo útil fazer um reparo. Como dissemos acima, muitas vezes, com os“ílhavos” iam os “murtoseiros”.Estes eram pescadores individuais de artes fixas individuais (botirão,covos,nassas,  etc),usando para as mesmas,a sua bateira identificadora(da foto),a “LABREGA”. Bateira que lhes servia de habitação (para si e família) ,e por isso se apelidava na gíria de “CASA”.

 

Que houve uma significativa colónia de migrantes de  “ílhavo” em Sesimbra? Sem dúvida. Damos conta disso nas pgs 241-245.Os nomes que me dá ,contêm, por curiosidade, muitos  familiares meus (distantes).Os “ Sesimbrões” que, finda a safra, tinham por hábito vir em grupo ,trajados de capote a rigor,descalços, enfeitados por vistosos colares, faziam festa rija na visita à santa terrinha, no render homenagem ao orago S.Pedro, seu protector.

Repare: logo que puderam (depois de conhecer o local) “os ílhavos” atiraram-se á lagoa de St André´, zona de pesca atractiva ,porque possível em águas interiores e exteriores, bem mais piscosa.”

 

Havia pois durante a escrita do “ SAGA MAIOR”que relativizar .E foi o que fizemos.

Mas Sesimbra (para onde estava já marcada a apresentação do livro no inicio do anos, cancelada por razões da pandemia),está lá talvez não com a dimensão que desejaria.

Grato

Senos da Fonseca

 

Caro Amigo:

 A sua carta é por demais interessante,Peço autorização para a publica.E já depois de publicar a resposta. Numa próxima ida a Sesimbra(muito próxima) gostaria de trocar impressões consigo e oferecer-lhe um exemplar,o Vol.IX da colecção Farol ‑ a “LABREGA”

Abraço

 

Senos da Fonseca


NB. AS fotos que envia são históricas.Os André Senos eram de minha família(o meu avô era o João André Senos). É ,creio a segunda maior família de Ílhavo,com ílhavos espalhados por todo lado. A inscrição do Senos parece.-me ser feita no ELITE.Ora este é um marco chave da pesca de Bacalhau,pois foi o primeiro arrastão a ir pescar aos mares da Terra Nova.No meu livro "Os Últimos Terranovas Portugueses" (que terei muito gosto em lho levar) conto isso mesmo.E vou colocá-las aqui.

Grande Abraço

Senos da Fonseca










sexta-feira, setembro 25, 2020

 


Deum leitor de Sesimbra recebi esta curiosa carta sobre o conteúdo do livroA SAGA MAIOR.Uma  chamada de atenção .Para mim, sempre aberto a criticas, gostei e apressei-me a responder ,justificando o que o leitor considerou falta. Publico a carta do leitor pois entre outras considerações, a listagem que insere é, para os "ílhavos", muito curiosa.Há nomes que referimos e conhecemos.Pedaços da nossa história.

SAGA MAIOr foi talvez o livro que escrevi com mais carinho.Relevei uma tremenda falta.A parte da história dos Ílhavo que foi  encoberta pelo delirante pedantismo do brasão dito(só dito!) fenício.E logo depois, apagada com a grande aventura(mas não tão grande!) do bacalhau, que rendia mais lustre..Por ignorância a grande migração do litoral foi esquecida.E por isso,para corrigir o erro a ela me atirei.Em Ílhavo como era de esperar teve a aceitação que teve,Mas num ápice, o livro esgotou-se.

Assim é Ílhavo,hoje....


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       Caro Senos da Fonseca: 


só hoje descobri o seu livro Saga Maior, que vou ler com atenção. Mas, sendo de Sesimbra, não resisti a dirigir-me de imediato ao capítulo correspondente, e com grande surpresa li que "Os «ílhavos» parecem, assim, não fazer parte do património histórico de Sesimbra".
Vejamos:

a) o livro "O que veio à rede... Vocabulário, alcunhas e topónimos de Sesimbra". (Sesimbra: Câmara Municipal, 2007) tem uma entrada dedicada aos "Ilhos", cuja imagem anexo;

b) as redes de emalhar, utilizadas a partir de pequenas embarcações com um ou dois pescadores, têm aqui a designação de "redes dos ilhos". Numa saída ao mar que fiz, ainda na década de 1960, com um pescador meu familiar (João do Cravo), ele próprio me explicou que essa designação decorria de serem essas redes as que eram utilizadas em Sesimbra pelos pescadores oriundos da zona de Ílhavo. Mas ainda hoje a designação se usa. Uma jovem investigadora publicou recentemente um fraco artigo na revista Musa, onde refere estas redes como sendo "redes de ilhós" (não percebeu...)

c) Sesimbra também guarda a memória fotográfica dos Ilhos: anexo uma foto do lado poente da baía de Sesimbra, com barcas das armações em primeiro plano, e várias embarcações de Ilhos (que poderão ser de pescadores residentes em Setúbal, que pescavam em toda esta costa). A foto deve ser da década de 1930 (já se veem traineiras) ou de 1940 (o molhe é anterior ao que foi construído no final desta década)

d) Os livros de matrícula de pescadores da Capitania de Sesimbra (actualmente no Arquivo da Marinha, em Lisboa) registaram muitos pescadores de Ílhavo e região; dos naturais de Ílhavo, tenho as seguintes notas:
António Cecílio, matrícula em 27-1-1894, filho de Casimiro e de Libânia
Francisco António de Pádua, matrícula em 31-1-1894, filho de Domingos António de Pádua
António de Figueiredo, matrícula em 9-2-1894, filho de Tomás Figueiredo
João Bogacheira (?), matrícula em 13-2-1894, filho de José Fernandes Parracho Bogacheira e de Josefa Maria
Bernardes de Pinho (?), matrícula em 14-2-1894, filho de José Pinto e de Luisa Rosa
João Nunes da Barbeira, matrícula em 14-2-1894, filho de Manuel Nunes da Barbeira e de Maria Rosa de Jesus
Manuel Nunes da Cruz, matrícula em 14-2-1894, filho de Francisco Nunes da Cruz e de Luísa Rosa de Jesus
Gabriel Baptista Coelho, matrícula em 17-2-1894, filho de Bento (?) Baptista Coelho e Luisa Rosa de Jesus
António Gonçalves Chacha (?), matrícula em 14-2-1894. filho de José Pequeno Gonçalves Chacha e Luisa Maria de Jesus
João Nunes da Cruz, matrícula em 14-2-1894, filho de João Nunes da Cruz
José Baptista Caramelete (?), matrícula em 27-2-1897, filho de Marçalo Baptista (?)
Manuel Maria Ratola Simões, matrícula em 6-3-1894, filho de António Simões Ratola e Josefa de Jesus
António André Senos, matrícula em 11-11-1894. filho de Joaquim André Senos e Luísa de Jesus
João Penela, matrícula em 22-3-1894, filho de José Penela e de Maria Rosa do Carmo
António Alexandre da Magra, 10-1-1895 José Alexandre da Marga e Maria Luisa de Jesus
Francisco Pinto, matrícula em 3-2-1898, filho de José Fernandes Pinto e Maria de Jesus
Tomás Fernandes da Rocha, matrícula em 12-5-1898, filho de José Fernandes da Rocha e Luisa de Jesus
José Cecílio, matrícula em 28-1-1899, filho de Manuel José Cecílio e Maria de Jesus
João Gonçalves Andias, matrícula em 28-03-1900, filho de Roque Gonçalves Andias e Maria Clara de Jesus
António Domingues Magano, matrícula em 22-11-1900, filho de Manuel Domingues Magano e Rita Nunes
António Fernandes Parracho, matrícula em 04-01-1901, filho de José Fernandes Parracho e Maria Madalena
Sebastião Moreira, matrícula em 04-02-1901, filho de filho natural de Rosa de Oliveira
Jaime Domingues Magano, matrícula em 01-04-1901, filho de Luís Domingues Magano e Josefa dos Santos
José dos Santos Boia, matrícula em 31-12-1902, filho de Anacleto dos Santos Boia e Joana de Jesus
Manuel dos Santos, matrícula em 10-02-1903, filho de João dos Santos e Rita de Jesus
Manuel Domingues Magano Novo, matrícula em 03-02-1904, filho de Manuel Domingues Magano Novo e Rita Nunes
Manuel dos Santos Marnoto Júnior, matrícula em 29-12-1904, filho de Manuel dos Santos Marnoto e Josefa Rosa Panseira
Jerónimo André Senos, matrícula em 15-05-1905, filho de Tomás André Senos e Luísa de Jesus Pereira
Luís da Maia Romão, matrícula em 14-03-1910, filho de Manuel da Maia Romão; Rosa de Jesus Braga
Amadeu Simões Picado, matrícula em 26-04-1911, filho de João Simões Picado e Rosa Clemencia
José Maria dos Santos Marcelo, matrícula em 13-06-1911, filho de Manuel dos Santos Marcelo; Maria de Jesus
Manuel André Senos, o Carriça , matrícula em 13-06-1911, filho de António André Senos e Palmira Violante
Manuel Lourenço Catarino, matrícula em 13-06-1911, filho de João Lourenço Catarino e Rita da Piedade
Rafael André Panela, matrícula em 13-06-1911, filho de José André Panela e Ana de Jesus
Álvaro Lopes, matrícula em 06-01-1912, filho de João Lopes e Joana de Jesus de Oliveira
Manuel Fernandes Parracho, matrícula em 09-05-1913, filho de João Fernandes Parracho; Cândida de Jesus Carica
Manuel dos Santos Mendes Júnior, matrícula em 20-06-1914, filho de Manuel dos Santos Mendes; Joana Rosa de Jesus
José da Maia Guerra, matrícula em 27-01-1915, filho de António da Maia Júnior; Rosa Aléu da Conceição Guerra
João António Lavrador, matrícula em 11-01-1916, filho de Manuel António Lavrador; Maria de Jesus
João dos Santos Redondo Júnior, matrícula em 11-01-1916, filho de João dos Santos Redondo; Maria do Céu Caiada
António Nunes Branco, matrícula em 28-04-1916, filho de Francisco Nunes Branco; Filomena Nunes Vidal
Carlos Simões Ratola, matrícula em 17-04-1916, filho de António Simões Ratola; Maria Rosa de Oliveira
Francisco Baptista Coelho, matrícula em 22-06-1916, filho de António Baptista Coelho; Emília Rosa
Benjamim Fernandes Parracho, matrícula em 28-12-1917, filho de João Fernandes Parracho e Cândida de Jesus Larica
Armando Fernandes Pinto, 08-03-1919, filho de Custódio Fernandes Pinto; Olímpia Ferreira das Neves
Domingos dos Santos Mendes, matrícula em 12-07-1920, filho de Manuel dos Santos Mendes e Joana Rosa de Jesus
José dos Santos Redondo, matrícula em 13-12-1920, filho de João dos Santos Redondo e Maria Caianda (?)
João da Maia Russo, matrícula em 05-03-1921, filho de José da Maia Russo e Joana Matias
Amílcar dos Santos Parada, matrícula em 19-07-1921, filho de Domingos dos Santos Parada e Maria de Jesus
João André Panela, matrícula em 16-02-1923, filho de António Panela e Maria da Anunciação
Manuel Pereira Cageira, matrícula em 26-02-1924, filho de José Pereira Cageira e Maria Antónia Samagaia
Hermínio Pinto, matrícula em 28-02-1925 , filho de António Fernandes Pinto e Rosa Marta
Marcos Simões Ratola, matrícula em 10-03-1925, filho de António Simões Ratola e Maria Rosa Oliveira
Francisco Nunes Torrão, matrícula em 09-10-1925, filho de João Nunes Torrão e Henriqueta Nunes da Fonseca
Eduardo Fernandes Pinto, matrícula em 11-03-1926 , filho de Francisco Fernandes Pinto e Silvina de Jesus
David Panela, matrícula em 22-10-1927, filho de António Panela e Maria da Anunciada
José Matias da Maia, matrícula em 21-06-1927, filho de José da Maia e Maria Matias
António da Cruz Pinto, matrícula em 25-02-1928, filho de Fernando Pinto e Hermínia Campante
Benjamim Carapichano Branco, matrícula em 04-05-1931, filho de José Alexandre Branco e Ascenção Carapichano
Joaquim Fernandes Pinto ou Bonito, matrícula em 04-06-1931, filho de Joaquim Fernandes Pinto ou Bonito e Maria de Jesus Gil
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Cordiais saudações
João Augusto Aldeia



quarta-feira, setembro 02, 2020




TEMPO QUE FOI NOSSO





Nenhuma ausência

Apagará o gosto dos beijos

Que demos por dentro das casas, vielas, ou ruas de cantos apagados

Por onde deambulámos sedentos de amor.

De nós inteiros,

A desejar viver a vida numa sofreguidão

Avassaladora

A percorrer as dunas do teu corpo, até de madrugada.



Dá-me a tua mão, amor

E vamos de novo percorrer as ruas onde nos beijámos

As dunas onde nos amámos

Eterna e sofregamente apaixonados.

Livres.

Vem de novo misturar

Os teus lábios nas minhas mãos

A entregar-me o rio violento que era o teu corpo.



Vem prolongar cada minuto,

Vem de novo para Te amar loucamente

Como se o tempo nosso

Já não tivesse tempo

E fosse pouco,

Ou já nem houvesse tempo

Para com tempo

Te amar de nessa madrugada




Senos da Fonseca 02.09.2020

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...