sexta-feira, setembro 03, 2021

 

 Ouves o mar a chamar por nós? 


Fui passear à noite ao mar. Fui só para cumprir um ritual, pois parece mal, estar aqui há sete meses, e nunca me ter apetecido ir ao mar. 

Vai-se ao mar, creio eu, olhando o passado, quando a vida  era alegre e despreocupada. 

Certo que em novo, fui dezenas de vezes, à noite, acompanhado (bem acompanhado!) ao mar. Estranhamente parecia que o som das ondas, à noite, tinha o seu quê de toque estranho. Parece que nós próprios, nos tornávamos diferentes ao ouvi-lo. 

Parece naquele som vago da onda que rebenta e nos envolve, se resume a quantidade de esperanças que ganhamos ou perdemos. 

Quando no mar a onda rebenta contra a areia, fica um longo sussurro (choro) que se prolonga, audível, pela noite fora. 

Ontem pareceu que a vida tinha parado. Oh! que sentido de leveza. Coração e vida parados, vagueei no sonho, arremessei, desenhei formas e palavras, regressando àquelas brincadeiras de garotos, em que escrevíamos na areia: 

– AMO-TE (como se existisse de verdade, e em verdade, o amor). 

Ou mais simplesmente se desenhavam dois corações dilacerados por impiedosa seta (unificadora na glória da ....). Todos aqueles símbolos (oi!!!!, tantos...tantos ....) eram uma expressão de sentir ou querer, logo – sei lá se felizmente apagados pela onda seguinte. Claro: a vida a apagar, nós a teimar, na afirmação. Quem sabe nessa idade o que pensa ou até o que deseja (fora do natural e humano desejo (?!). 





A verdade era que,

Aquela música sensual ouvida,

Ritmada com a vaga a enrola,

Na areia da praia parada,

Parecia ser uma ordem

Para que os corpos se alinhassem ao comprido, 

E cumprissem a razão da sua diferença. 

Amei muito ao som da música (enlevo do mar). 

Quando disso me recordo, não choro de saudade. 

Ergo uma taça, brindo, e repito:


Oh! tempo bendito 

Tempo infantil;

De duna em duna

A sussurrar-te ao ouvido:

Ouves o mar a chamar por nós? 

A duna foi a nossa cama florida

O doce colchão do nosso amor

Em festa....de vida nua,

No pulsar aflito sob a paz que vinha Do céu... 

E do mar que a areia, de branco debrua. 


Senos da Fonseca 


  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...