quarta-feira, novembro 22, 2023

 A  CAMINHO DA VILA


Assim eram as mulheres da nossa terra; este linguajar foi a minha « pátria »......



-Ah!, chopa,... Maria!... «atão» «disque» c’a Josefa do Tarinca lá de cima, a «fidalgota», deu pra «contribar» o casório da sua Luísa com o «Toino» Labareda?... aquilo é que m’a saiu uma «mancatufe»... 

- Assim o dizes, rapariga... «Canté» (?!): - o que c’ria a «inchada»?!... o rapaz a modos não é nada «cible», nem é nada «calamantrão», muito menos um «simpras», pois inté nem parece nada um «caminé botadinho à boa parte»... Não senhor, «crendas» lá ver o «estendal» que o pai do Toino fez ; «apracia banéga ao rossaló»... o estipôr. 

- S’ta p’rece...o coitado do rapaz não é um «mal catufo»... «nem ó vida!»... mulher; e «inté» dizem que tem umas «ecolomias». 

- Tens rezão cachopa... O «Toino» Lavareda não é nada «xana» n’a senhor ; c’a o meu Zé, Deus lhe dê «voa biaje» - venza-o Cristo e S.Savastião, trê abés e um pai nosso - diz, inté!, q’é um bom «reçoeiro», nada como «oitros zamparilhas» que não maneiam o cú no safar da rede ; o arrais Tomé da catralga já o embar-cou de «camboeiro» e ele «astreveu-se na t’refa». A Luísa que parece uma «tísica» - deus me perdoe!,... em nome do Pai, Filho Esp’rito Santo... - inté ia «vem...vem». Quisera-o pr’á minha, que «vem» o merecia... que eu fazia uma festa de «arromba» com «zabumba» e tudo... 




- «Cal-te óspois» aí... vai mulher..., andas desocupada dessa cabeça... deixa a cachopa q’ela chegada a hora tem muito quem lhe meta as três «cavernas» adentro... «inté p’reces augada». 

- Tendas razão - que ao «labaró» é que as coisas se fazem «d’reitas»... e ele anda p’ra aí tanto «manca- trefe», tantos «langões»... nosso senhor, «libre-nos» S. Bartolomeu e as Alminhas da Toira. 

- É assim mesmo, anda p’aí a «inquisitar», ca qualquer dia, um «zamparilho» apanha-a de costas, e vai com’a lâmpada : só «c’o viés» de ficar limpa como a Igreja do Prior Zé, deixa-a de barriga maior c’ a sardinha da «desoba» ; anda aí tanto «pixano» e ela parece bem «augada» do «ca tu sabes»... É «simpras»,... mas gulosa. 

- ... «Mogadinha de mim» se isso «assuceder»... é uma «restrabulha»... «astrevesse-se» algum, c’a o pai faz um «serrafaçal» que levava tudo na frente... Olha c’a «fúfia» da Zefa lá de cima, quando o P. Morgado lha disse c’o rapaz não era um «probezinho», «quinté» tinha uma chincha, a «merdrosa arrespondeu-lhe» 

– “Olhe senhor abade, «inté o TI ESSE», tem uma chincha”... «asfazer» pouco dos nossos homes, a «fúfia»! E não lhe deu mais «corrume» nenhum... c’o abade desandou inxerido com o frieldade da Zefa. 

- Olha sabas o que te digo : - A Zefa é uma «opiniática» mal “cosida”... preceves? 

- Ah mulher, cal’te sua desbocada : - «u c’astás» tu p’ra aí a dizer... 

- É o que  tedigo Ti Maria, se fosse como aqui a cachopa “ c’a té tenho «calo» dos trimbaldes do meu Zé, de tanto me vaterem nas «náudegas»”... 

- Ah! mulher de «labishomme» q’uessas coisas n’a se apregoam com’a sardinha c’aí levas... depois, s’é fraca - dizem que é «ogalho» a ti... 

- Conversas... sabes o «ca penso»?! ; a Luisinha na tinha era remada pró Toino, «q’ué cá dos noissos», e quando chegada a hora de meter o remo ao «escalamão», «aborregava». E o rapaz c’a dizem ser «píxaro» e «pediqueiro» de saias, inda ficava a ver navios... 

- «Cal-te aí...» oh! alma penada, não digas isso... que «t’a podem oibir» raios... de estrafego!... olha vamos é «avusacar» aqui um bocado, aproveitar para «escofenar» o peixe, «c’a óspois» na «benda» é uma «fona» e a «gadagem» d’ibalho diz c’andámos ao «mal mainço» por aí, «inbez» de vir a «d’reito»... 

- Olha, «cal’te» que vem ali a Josefa... 

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- Boas tardes Sra. Josefa... - sorri prazenteira a Ti Maria, chegada à faladura com a Zefa ... - «Nóis» a falar dos santos e eles «oprecem». «Vons olhos a beijam»... a sua Luisinha?... cada vez mais bonita... a santa!... a Sra do Pranto lhe dê um fidalgo da sua igualha, c’a bem «m’rece» a «coitadinha» : Olhe Sra Josefa, quer sardinha da nossa, «bibinha a vrilhar» como um «buzelicum?..... olhe «c’inda ri» - viemos numa «corriola» p’rà trazer fresquinha «com’ àuga»... 

Senos da Fonseca 


sábado, novembro 18, 2023



    LAVRAR O MAR






                                                                      Grav   ABIO DE LÁPARA


Olho aqueles corpulentos

Majestosos e hercúleos 

Bois da velha companha.

Enlaçados ao calão da rede

Vão-na alando até a deixar ofegante na praia

A parir do ventre estripado

O prateado peixe roubado ao mar.


Animais vindos do lado de lá

Do perfume adocicado da resina

Dos pinheirais,

Trouxeram-nos à borda a lavrar o mar.

Vêm nas manhãs de nevoeiro  em parelhas ,

Cabeça baixa, olhar torvo, parecem citados pelo mar,

A investir por ele,vaga adentro encharcados.


Afagados pela maresia

Nos dias de sol espraiado,

Vejo-os resfolgarem, nariz no ar

À procura de uma sombra no areal caiada,

Que ali não existe. 


Parecem velhos...

Os bois nasceram já velhos

Na cor pardacenta do seu costado.

Velhos no sossego da sua existência

Vão ruminando no alento da noite, a sua ausência,

Para no amanhã prateado, voltarem ao fadário,

Sob sol escaldante

Ou chuva na manhã desmaiada.

Fustigados pelo vento gélido da madrugada

Seguem de olhos turvos despidos de um qualquer sudário,

Parecendo amarrados a uma existência amargurada.



Sigo-os duna abaixo

Ao encontro do mar ousado...

Mar quebrado, mar amargo, 

Mar azul de tão salgado

Em que a  onda  açoita o xávega 

Que,alevantado, teima ir

Lá longe onde moram as sereias,

Largar a rede para tirar do ventre do mar

A prata que a terra não pode parir.



E lá vão, 

Dobrados, encabrestados

 Ao tropeço na areia lassa da duna,

Fustigados pelo aguilhão do abegão

Levando  à sua frente, aos tropeções,

Os mirones que vindos de madrugada

De chapéu e botifarras,

Calça arregaçada, 

Desertam em louca debandada

Em tropel, fugindo na frente do estoiro da « manada ». 


Na praia já se alinham os xalavares.

Os bois doridos pela jornada

Parecem perdidos no areal 

Semeado de escasso espezinhado, 

Prateado, ensanguentado .

Hoje não há mais ir e voltar

Hoje mar... podes ir  acolher o sol dourado

E com ele ir, lá longe, nos longes teus, namorar.


[para que as gaivotas voando sobre os vossos beijos me venham de madrugada contar  a estrela  do pássaro e  a  estrela  do  grito teu...MAR!]








sexta-feira, novembro 17, 2023

 



A ideia que o 25 de Abril trouxe a ladroeira com ele...Chega  à A.M. de Ílhavo



Alertado para uma inserção em “O Ilhavense” (15/11/2023) por várias chamadas de atenção que me foram chegando, só hoje quando recebi (aqui em casa), o jornal, pude ler o que nele vem publicado, ao abrigo de um protocolo celebrado com a Assembleia Municipal (creio que bem) de esta solicitar (regularmente) aos partidos que a compõem, um artigo de opinião política para publicação em espaço reservado para a mesma.

Li hoje, então, o titulado “FADO DO 25 de ABRIL”, assinado por um elemento que deputa na referida Assembleia. Se na mesma se canta (ou defeca), assim, o faduncho da saudade do antes 25 de Abril – quem canta seu ódio espanta – é lá com os que já nem distinguem, pão de bosta. Faça-lhes bom proveito, que a mim não me incomoda o cheiro nauseabundo defecado, já que o dito chega não se dá com os ares lavados do mar.

Certamente (creio), a Direcção do jornal quando estabeleceu o protocolo, estaria convicta (ciente) que o Sr. Presidente da A.M., teria a responsabilidade (e o bom senso) de filtrar a linguagem vertida em artigos enviados para  inserção, em “O Ilhavense”, ao abrigo do referido acordo de que  é responsável último. Porque se o jornal devolvesse o articulado bafiento onde abunda palavreado de tasca vadia, logo seria acusado de censura. O que era completamente diferente se, a devolução ao autor (ou a quem lhe borrou o papel), fosse feita por quem se comprometeu em nome da A.M., a que preside, a não admitir palavreado de recalcado, indecoroso e reles, na classificação generalizada do “são todos ladrões”. Quanto ao escrevinhador chorar de pena e cantar o seu fadário pelo sucedido no 25 de Abril, está no seu pleno direito. É livre de o fazer, desde que respeite a dignidade dos outros que pensam diferente. Ou se apenas intui que todos – mas é que todos (!...), de direita ou de esquerda –  são ladrões,  vá sem delongas   queixar-se ao MP que agradece, e ao qual parece, chega,  a intuição de que...

  Sirvo-me de Aleixo para glosar:

                               Sei que a todos chamo ladrão

                               Mas há muitos que eu conheço

                               Que não parecendo que o são

                               São aquilo que pareço. 


Senos da Fonseca


NB: aceito as opiniões dos que pensam não ser bastante o que está inserido em rodapé pela Direcção do Jornal, a explicar a “razão (?)” da publicação. “Furar o protocolo” talvez se impusesse, neste lamentável caso.


quinta-feira, novembro 09, 2023

 Visitas, acesso a gabinetes ministeriais, almoços, etc etc. 


Esta fugas informativas que vão sendo cirurgicamente entregues à  Comunicação Social(visitas de empresários a gabinetes, telefonemas, acessibilidade ,almoços etc. etc) fazem -me lembrar um caso em que fui protagonista.

Quando se passou a desenhar o inevitável desaparecimento da indústria das chamadas “empresas de veículos motorizados”, o então Secretário de Estado CC(que tinha sido meu colega de curso, no Marinha de Guerra) telefonou-me, pedindo-me uma   reunião. Pretendia (e bem) fazer um estudo abrangente que cobrisse todo o sector, distribuindo fabricos, fundindo empresas, criando novas oportunidades, no sentido de evitar o desaparecimento do mesmo. Caso eu aceitasse ,seria acompanhado no mesmo, por um economista de renome ,o Dr. António de Sousa ,mais tarde Governador do Banco de Portugal.

Aceite o encargo (dado que me foi assegurado haver opinião unânime de aceitação dos nossos nomes, por parte dos industriais), o trabalho obrigou a várias reuniões com o Secretário de Estado e equipa do Ministério da Indústria, em Lisboa. Por isso, visitei várias vezes o Gabinete Ministerial, almoçava nesses dias com o Senhor Secretário, por amizade, embora inevitavelmente, no almoço particular, o estudo viesse à colação (paguei sempre o almoço).Telefonava regularmente, quer ao Sr Secretário ou a Adjunto, a dar conta do andamento (ou de dificuldades surgidas)  do estudo (muito complexo pela abrangência e metodologia ). Num dia em que    C.C. veio em serviço, ao Porto, fui, a pedido do Sr João Casal, reunir com o Sr Secretário para tentar desbloquear um problema surgido na Metalurgia Casal. Claro: o Sr. Casal pagou o almoço. Naturalmente.

Estudo concluído, o mesmo foi entregue, seguindo o percurso dentro do Ministério. O Dr. António Sousa foi nomeado Governador do Banco de Portugal. Decisão muito acertada.

Quando me foi falado em pagamento, a resposta foi, de imediato: 

–  nada há a pagar. Fi-lo por amizade e consideração de todos os industriais do sector que bem conheço ,e sempre me respeitaram. E que, unanimemente, deram o acordo ao meu nome para o estudo. Isso me basta....

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Perante as notícias que vão sobrando, tudo o que ouço (ou quase tudo) me cheira a delírios carregados de intenção vingadora, justiceira, e acima de tudo totalmente  desconhecedores  das relações entre empresários e governantes. Sim; haverá casos de polícia. Mas aí saltem provas e não a poeira delirante, levantada por processos ínvios escondidos, tortuosos, onde, quem sabe(?) haverá tentativa da dita “corrupção”. Diferente.  Outro tipo de corrupção: moral e ética da boa fé dos ouvintes,


Senos da Fonseca


segunda-feira, novembro 06, 2023

 A  discussão sobre a data do início da pesca do bacalhau, pelos portugueses, ter acontecido já no Século XV (e não XVI), continua....


Sempre curiosa a observação e leitura(obrigatória) da história contada por outros intervenientes. Manifestei (ainda recentemente na Sociedade de Geografia) ser obrigatório comparar a história que fazemos sobre a pesca do bacalhau(início) com as posições assumidas por historiadores franceses ou até bascos. Agora chega-me às mãos este curioso documento de outra proveniência, curioso e muito estranho:




 

Viagem de Albizzi a Inglaterra e França em 1429.Seria já interessante. Mas logo surge a informação trazida pelo navegador toscano, assim referenciada :


Cuja tradução será (assumo)



Mais do que curioso....

Senos da Fonseca


sábado, novembro 04, 2023

 “O ÍLHAVO”

O ílhavo é mais do que um vulgar arquétipo resultante das influências (boas ou más) do meio geográfico: o fruto das suas circunstâncias.

O seu projecto, a sua teimosia, a sua perseverança, a sua resistência à adversidade, a sua ânsia de lonjuras fez dele figura com lugar destacado na história pátria.

Mas quem foi,e o que foi ,esse “ílhavo”?

Ao fim e ao cabo, foi o que sempre me motivou: perceber os meus anteriores...libertá-los do anátema redutor de serem, só e apenas, actores de  um único acontecimento(período histórico). 



Esquecidos que, afinal, somos o produto de um projecto áureo (único)de cinco séculos (?) que se integrou e se relevou, na determinação   lusíada de abandono do projecto mediterrânico. Os ílhavos foram os atlantistas de plena convicção. Foi com gentiaga como esta que demos passos decisivos civilizacionais.

Sim!,creio que era chegada a hora de me concentrar e arrumar de uma vez por todas a questão da singularidade do arquétipo ilhavense: o ílhavo.

Ao contrário do que muitos pensaram e verteram em textos pouco ou nada consistentes, a semelhança das variantes humanas regionais lagunares, foram escassas. As diferenças foram muito maiores e exprimiram-se com muita maior intensidade no aspecto psicológico,cultural e até social. É certo que o homem lagunar ,enraizado e limitado a um espaço geográfico vizinho, teria de absorver e transmitir alguns caracteres onde se catam identidades. Os contactos teriam sido intensos, mas a aculturação esteve sempre presente. A diversidade cultural do homem lagunar não se deixou inquinar pela diversidade da sua proveniência ancestral.

O ílhavo é profundamente diferente do murtoseiro, como o é do ovarino e como o é do cagaréu.

De onde lhe veio essa identidade diferente?


De onde lhe veio predomínio da imaginação para o longínquo do mar, numa identidade sonhadora que durou séculos? De onde lhe veio a conciliação terra /mar? De onde lhe veio a inquietude e a aventura? Que linha divisória–e como se manteve– com diferenciação absoluta, a vizinhança? Uns acreditando e esperando a boa vontade dos deuses para ungir a terra promissora, com os mitos e rituais de fertilidade, vivendo o passar do tempo entre o berço e o túmulo. Outros “os da água”, alimentados pelo sonho que neles  despertou e os impulsionou, à partida, em procura do novo. Pouco lhes importando que o túmulo venha a ser a causa do sonho (da paixão): o mar. Importou-lhes o descobrimento do desconhecido, do distante. De varadouro em varadouro em procura da rampa de lançamento para a partida perseguida.

Mas ao querer avançar- vem de longa data esta pretensão- pergunto para quê? Ílhavo é hoje um fantasmagórico deserto cultural. Destruir foi fácil.E falar diferente,parece hoje inutilidade sem sentido.

A palavra “cultura” deixou de ter qualquer sentido. Vende-se ”disso “ a cada canto,em cada cais,em cada malhada, em cada fundeadouro. Vende-se sem se fazerem contas ao retorno. Vende-se cultura a metro, a milhas, a pés. Bem hajam os promotores de tantos cantautores.

 Deles será o reino da “Nocha”.

Senos da Fonseca

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...