FREDERICO DE MOURA
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Ora Frederico de Moura foi um exemplo superior dessa inquietação permanente, apostado numa aprendizagem contínua e prolongada, em verdadeiro sacerdócio « de colher muito, de muitas coisas». A formação assim conseguida enraizava-se na ânsia desmedida de conhecer -e dar a conhecer – o resultado do permanente «diálogo» que travava com os mestres,em cujos livros, insaciavelmente, abafava a exegese do saber e que, depois, incapaz de os «pôr em reclusão» só para gozo intimista , vertia-os de uma maneira viva e apaixonada sobre os companheiros de vida ou, tão só, de esporádica jorna .Tudo e todos, lhe mereciam o acto fraterno de partilha . Discorria com uma segurança incrível, não programada, genuína e de momento, com uma referência que ia da clareza e disciplina metódica de Descartes, à filosofia critica de Kant ,ou ao koinos –logós Socrático , numa imensidão temporal povoada de referências a «quem pensou e por isso existiu» ; ora rumando a um outro campo,para aí patrocinar «providência cautelar» contra (alguma) novel literatura de cordel escanzelada, se confrontada com a arte dos Senhores de Seide ou de Tormes,de Sernancelhe ou de Anta . Deleitosamente sensível à criação artística , Frederico de Moura não perdia a ocasião, se ela se ajustasse ao momento ,de nos dar conta do contexto económico ,religioso e social vertido na linguagem do maneirismo de Domenikos Greco ,ou, levando-nos pela mão para a “Aula de Anatomia” de Rembrandt, ou ainda , maliciosamente, descrevendo-nos as obscenidades de “Las Majas” de Goya , sublinhando-nos a atmosfera –temporal e espacial - em que se teriam desenvolvido as mais belas peças saídas do génio artístico do Homem. E quando o voar tinha tectos mais baixos, sublinhava com « ternurenta » amizade a teia, díspar mas frutuosa, em que se enredou João Carlos, colega de proscénio na profissão e na cultura , degustando com requinte de apreciador insaciável o multifacetado empenhamento do «ílhavo», na resposta aos sinais que lhe inundavam a imensidão da inquietude artística. Que procurava satisfação nas mais variadas formas em multifacetados ensaios (pena ,goiva ou simples lápis)Difícil é, em Frederico de Moura ,distinguir o homem do intelectual, pois nele as duas afirmações conviviam em permanente e absoluta simbiose .Mostrou uma insaciável disponibilidade para tudo quanto à condição humana se põe em desafio, assumindo o desassossego de uma alma inquietada pala necessidade do renovo permanente do «sujeito» da mesma .
Era um espírito «em graça» de recolha de impressões maravilhadas da natureza Nesta , deteve-se em particular atenção ao espaço geográfico onde fincou as suas raízes . Desconfio que ninguém –e foram muitos e grandes que o tentaram fazer – descreveu, como ele, o Homem da Laguna no confronto suado com a paisagem. Um dia confessou-me emocionado ; “Sabes – disse-me enquanto vertíamos o olhar deslumbrado sobre os tons em constante mutação, que a ria nos ia exibindo –das coisas de que levarei saudade quando me for ,é da maravilha desta ria que me preenche o ser e me desperta o afago de todo o meu olhar”. A admiração é o principio da ciência de todas as ciências ;mas é-o também da própria transmissão dessa ciência..Isso era –Lhe intrínseco…
Tinha uma minúcia de observação para a paisagem humana contemporânea , vincada nas pinceladas impressionistas com que retratou, numa perfeição estética sublime, figuras que o tocaram profundamente. Tinham um fio comum esses retratos que nos legou : exaltavam com a mesma força com que o escopro deixa ruga na pedra , numa minúcia de observação e de rigor anatómico , de um modo objectivo,probo e escrupuloso , os valores vitais dos biografados , catando minuciosamente os sinais com que justificava a impoluta compleição moral ,intelectual ou humana do retratado.
Foi um Homem fiel ao Povo da Terra que serviu em sacerdócio de entrega, com um grau de competência invulgar .Mais do que invulgar : notável, a excepcional bitola profissional que lhe era reconhecida por todos os Colegas com quem convivia de perto ;mais ainda , por muitos daqueles com quem ,por razão profissional , longe do seu meio , conferenciava .
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Senos da Fonseca
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