DE SESIMBRA ...vieram notícias dos "Sesimbrões".Você sabia quem eram essa gente?
´Ás observações que o leitor João Augusto Aldeia,de Sesimbra,me enviou sobre o livro "Saga Maior",tive a oportunidade de Lhe responder ,solicitando autorização para aqui dar conhecimento da mesma.Já veio ,e por isso aqui publico a minha respostas anterior notícia aqui dada.
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Caro Senhor João Augusto Aldeia:
Agradeço todos os reparos que faz ao meu livro SAGA MAIOR. Importante,para mim,é a leitura do mesmo e, depois, a sua crítica.
Vou dar-lhe a minha perspectiva aquando da elaboração do trabalhoso livro,talvez aquele que elaborei com mais carinho, pois tive consciência de contar a história das minhas gentes que tão esquecida andava (mesmo por aqui...)
“Saga Maior” é a única história que assume contar o desiderato de um povo ‑ os “ílhavos” irredutíveis, que só tinham medo que o mar também secasse– ”expulsos” do seu habitat habitual por razões de mudanças irreversíveis do meio a que se acolhiam. Houve que decidir. Ficar era morrer...partir era começar de novo.... E decidiram partir. Partiam dolorosamente marcados pela surpresa, descalços, filhos pela mão calcorreando o areal, agasalhados apenas com o fatico que vestiam. Mas o alforge dos saberes ia repleto. Foram, emposta litoral “abaixo”, em procura de novos locais de subsistência. Levaram com eles, o saber único das Artes - de todas as Artes mareiras- a teimosia, a inquietude, o desígnio último de que aquela aventura - saga no litoral – vir a ser o prelúdio do sonho altieiro para que se supunham predestinados.
Na fuga à tragédia lagunar dos Séc.XVII-XVIII, os “ilhos”– como o meu caro refere, e bem– foram povoando as praias do litoral (aqui com as Artes Grandes de arrasto) ou embrenhando-se nos rios e sua foz, juntando-se(neste caso) a pescadores que já por ali fainavam com outras artes de pesca.
Globalmente, pareceu-me, depois de analisados todos os percursos e a história da vivência em cada local, ter havido dois grandes tipos de aproximação:
Nas Artes Grandes os “ilhos”impunham as regras .Havia regras repetidas no formar das companhas, no estar(tipo de assistência), na construção e disposição, de simples e rudimentares infra estruturas – poço comum, capela com orago entre caniços, abegoaria etc.Com os “ilhos” vinham as suas famílias que serviam nas companhas e tratavam das lides mínimas para no intervalo da alar e escolha do peixe - e depois venda -suportarem a vida nos palheiros construídos à borda. Cada companha era uma comunidade, vivendo e comportando-se com regras que em nada diferiam das comunidades da beira mar da Costa Nova (Ílhavo).Um reenquadramento.
As companhas tinham assim a sua organização, com a actividade fundamental de aliciamento de mão de obra provinda da lavra circundante, contratação de abegoeiros, organização de aquisição de fios, cabos, panos de rede,vinho , etc.
Poderemos dizer que neste tipo de “ajuntamento” o “ilho” pontificava,dominava.Era na verdade um verdadeiro demiurgo. Escolhia pesqueiros, fixava locais e disposições de abrigos, deslocava-se para novos pontos, assumindo que toda a cultura de que vinha impregnado(da origem lagunar) era resistente e se impunha ,sobrelevando todas as culturas estranhas(hábitos e costumes locais).
Certo porém é que muitos dos “ilhos” escolheram outro tipo de migração. Sem família atràs, gentes de “ir e vir” a fazer a safra, foram “misturar-se” com outros pescadores que já exerciam a pesca em locais específicos. Principalmente na embocadura dos rios (Douro,Mondego ,Tejo, Sesimbra ).Nestes locais, os pescadores idos da laguna(pois aos “ilhos” juntaram-se amiúde os murtoseiros),integravam-se nas companhas (pequenas ) já existentes, de arrasto ou cerco na borda, utilizando embarcações e métodos de pesca um pouco diferenciados. Adaptados às condições específicas). Se julgavam as embarcações estavam bem concebidas para os fins em vista, aceitavam e embarcavam(em Sesimbra as “Aiola” e os “Batéis”, foram disso exemplo).Se não aceitavam, propunham outros diferentes(Nazaré).Mas do que observámos e debatemos (ouvimos e lemos) a posição dos “ilhos”,nestes casos, não era tão sentida, tão nuclear,nem tão intensa como o era nas companhas das Artes(mesmo no Algarve mais tarde),embora deixasse rasto duradouro bem recordado(caso Sesimbra)
Sobre as fotos que gentilmente envia,julgo útil fazer um reparo. Como dissemos acima, muitas vezes, com os“ílhavos” iam os “murtoseiros”.Estes eram pescadores individuais de artes fixas individuais (botirão,covos,nassas, etc),usando para as mesmas,a sua bateira identificadora(da foto),a “LABREGA”. Bateira que lhes servia de habitação (para si e família) ,e por isso se apelidava na gíria de “CASA”.
Que houve uma significativa colónia de migrantes de “ílhavo” em Sesimbra? Sem dúvida. Damos conta disso nas pgs 241-245.Os nomes que me dá ,contêm, por curiosidade, muitos familiares meus (distantes).Os “ Sesimbrões” que, finda a safra, tinham por hábito vir em grupo ,trajados de capote a rigor,descalços, enfeitados por vistosos colares, faziam festa rija na visita à santa terrinha, no render homenagem ao orago S.Pedro, seu protector.
Repare: logo que puderam (depois de conhecer o local) “os ílhavos” atiraram-se á lagoa de St André´, zona de pesca atractiva ,porque possível em águas interiores e exteriores, bem mais piscosa.”
Havia pois durante a escrita do “ SAGA MAIOR”que relativizar .E foi o que fizemos.
Mas Sesimbra (para onde estava já marcada a apresentação do livro no inicio do anos, cancelada por razões da pandemia),está lá talvez não com a dimensão que desejaria.
Grato
Senos da Fonseca
Caro Amigo:
A sua carta é por demais interessante,Peço autorização para a publica.E já depois de publicar a resposta. Numa próxima ida a Sesimbra(muito próxima) gostaria de trocar impressões consigo e oferecer-lhe um exemplar,o Vol.IX da colecção Farol ‑ a “LABREGA”
Abraço
Senos da Fonseca
NB. AS fotos que envia são históricas.Os André Senos eram de minha família(o meu avô era o João André Senos). É ,creio a segunda maior família de Ílhavo,com ílhavos espalhados por todo lado. A inscrição do Senos parece.-me ser feita no ELITE.Ora este é um marco chave da pesca de Bacalhau,pois foi o primeiro arrastão a ir pescar aos mares da Terra Nova.No meu livro "Os Últimos Terranovas Portugueses" (que terei muito gosto em lho levar) conto isso mesmo.E vou colocá-las aqui.
Grande Abraço
Senos da Fonseca
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