O Espelho
Por detrás de cada espelho
Há um acumular de silêncios por explicar,
Pedaços de vida amortalhada
Em tantos passos dados no ar.
Nos espelhos perdem-se os sonhos:
Estão lá coisas que não queremos mais ver
E não estão as que já não existindo,
Gostaríamos que lá estivessem ainda.
No espelho tudo dói,
Tudo magoa,
Tudo desilude,
O espelho é como o vento
Que leva o bom
E deixa o que de mau vai restando de nós.
Fui espreitar, curioso,
Atrás do meu espelho.
Vi
Choro, sorriso, lágrimas, olhares de dor, sentimento,
Vi
Desalento, quimeras, mágoas molhadas, razões esmagadas
Vi
Amores perdidos, amores vencidos, labirintos criados no tempo,
Vi
Crueldade, desespero, desengano, palavras mordidas, derrotas marcadas,
Vi
Direitos ofendidos, tortura de silêncio interior, surdo lamento.
Dizem que as dores acabam com a sua morte
Só uma perdura mesmo depois de morrer:
A Ingratidão…
Desta tralha havia muita, atrás do meu espelho.
Peguei na tralha e estendia-a.
Fiz então dos braços
Mastros erguidos ao céu,
Mezena e traquete cociados,
Fiz das mãos estênsulas postas ao léu,
E entre eles estendi o mariato.
Atei o que vi
No cordel imaginário do tempo.
Estava ali, eu!... de corpo inteiro.
Assim, nu, exposto ao vento.
Parti o espelho
Quero apenas me olhar
No espelho dos teus olhos
Ternos, profundos como o mar,
A não querer saber o que fui
Nem o que não fui,
Apenas saber o que ainda sou.
1 comentário:
Muito obrigado
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