segunda-feira, fevereiro 01, 2021

 Choro este País 


Do «Grande Afonso» a mais querer que um País 

Partindo em gloriosa cruzada, gladiou com o mouro infiel]    

Para fazer do seu Condado um Portugal de raiz  

Numa mão a espada, a cruz na outra mão empunhada]

A mim! A mim! Gritava Afonso, foge o infiel em debandada.]  


Choro este País,

Onde a arraia-miúda se exalta e se faz graúda

 Parecendo já um povo por inteiro em que se torna 

Ao expulsar o intruso e pérfido castelhano então

Atirando do cimo da torre, à turba, o castelhano Andeiro:]

Aqui há um povo a sonhar com Portugal nas suas mãos.]


Choro este País,

Do grande el-rei João Segundo 

Os mares assombrosos, terríveis e solitários

Mandou serem navegados, e desvendados

E as trevas e os medos, passaram a estórias

A mostrar a grandeza de Portugal ao Mundo.


Choro este País

De onde saíram cabrais

Albuquerques e outros tantos gamas,

Heróis a quem o mundo ouviu contar os mistérios, 

Tão grandes como ditosas e louváveis foram, suas famas]

Ao fazer de um País, vasto e grandioso Império.


Choro este País

Do imortal vate que nossa epopeia descreveu. 

Em versos vertidos da sua pena prodigiosa

Dando ao mundo a conhecer ínclitos Varões

E os feitos de gesta brava lusitana, grandiosa (!)

Para sempre ficaram gravados no lirismo épico do imortal Camões.] 


Choro este País

Que teve de Vieira a palavra eloquente

Para defender os fracos dos abusos dos fortes.

Falando aos peixes por mor do Homem ausente,

E aos homens por mor de Deus sempre presente, 

Espalhando a sublime palavra, botão florido do mais fino recorte.]



Choro este País 

De Pessoa, o Mensageiro, poeta desassossegado

Cuja genialidade, por louca, só em si não cabia,

Dispersando-se por outros «eus» que não era o seu,]

E por não o ser, foi sempre obra inacabada,

De laborioso mestre a extrair beleza, onde beleza não havia.]       



Porque choro, então, País tão grandioso?


Choro este País, não pelo que foi, mas pelo que é

Choro o dia em que anunciou não querer, nunca mais!, ser escravo

País onde mais do que mandar, era preciso saber obedecer

A si, e não aos outros, a ser livre, não Senhor de nenhuma guerra

A ser o Povo que aqui mandasse, a ser o Povo que aqui reinasse. 


Choro pois este País, pelo que prometeu ser

E por afinal hoje ser, aquilo que não queria ser 

País este, o meu, onde afinal se soube melhor «arrancar» que colher

Onde cuidámos mais do vício «de ter», do que do «ser»

Em que alimentámos por demais, as ambições dos novos corifeus.


E assim o País que parecia voltar a querer nascer

Não nasceu – Morreu!......


SF



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