Choro este País
Do «Grande Afonso» a mais querer que um País
Partindo em gloriosa cruzada, gladiou com o mouro infiel]
Para fazer do seu Condado um Portugal de raiz
Numa mão a espada, a cruz na outra mão empunhada]
A mim! A mim! Gritava Afonso, foge o infiel em debandada.]
Choro este País,
Onde a arraia-miúda se exalta e se faz graúda
Parecendo já um povo por inteiro em que se torna
Ao expulsar o intruso e pérfido castelhano então
Atirando do cimo da torre, à turba, o castelhano Andeiro:]
Aqui há um povo a sonhar com Portugal nas suas mãos.]
Choro este País,
Do grande el-rei João Segundo
Os mares assombrosos, terríveis e solitários
Mandou serem navegados, e desvendados
E as trevas e os medos, passaram a estórias
A mostrar a grandeza de Portugal ao Mundo.
Choro este País
De onde saíram cabrais
Albuquerques e outros tantos gamas,
Heróis a quem o mundo ouviu contar os mistérios,
Tão grandes como ditosas e louváveis foram, suas famas]
Ao fazer de um País, vasto e grandioso Império.
Choro este País
Do imortal vate que nossa epopeia descreveu.
Em versos vertidos da sua pena prodigiosa
Dando ao mundo a conhecer ínclitos Varões
E os feitos de gesta brava lusitana, grandiosa (!)
Para sempre ficaram gravados no lirismo épico do imortal Camões.]
Choro este País
Que teve de Vieira a palavra eloquente
Para defender os fracos dos abusos dos fortes.
Falando aos peixes por mor do Homem ausente,
E aos homens por mor de Deus sempre presente,
Espalhando a sublime palavra, botão florido do mais fino recorte.]
Choro este País
De Pessoa, o Mensageiro, poeta desassossegado
Cuja genialidade, por louca, só em si não cabia,
Dispersando-se por outros «eus» que não era o seu,]
E por não o ser, foi sempre obra inacabada,
De laborioso mestre a extrair beleza, onde beleza não havia.]
Porque choro, então, País tão grandioso?
Choro este País, não pelo que foi, mas pelo que é
Choro o dia em que anunciou não querer, nunca mais!, ser escravo
País onde mais do que mandar, era preciso saber obedecer
A si, e não aos outros, a ser livre, não Senhor de nenhuma guerra
A ser o Povo que aqui mandasse, a ser o Povo que aqui reinasse.
Choro pois este País, pelo que prometeu ser
E por afinal hoje ser, aquilo que não queria ser
País este, o meu, onde afinal se soube melhor «arrancar» que colher
Onde cuidámos mais do vício «de ter», do que do «ser»
Em que alimentámos por demais, as ambições dos novos corifeus.
E assim o País que parecia voltar a querer nascer
Não nasceu – Morreu!......
SF
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