Falemos hoje dessa vitualha que faz parte do cardápio tradicional do portuga, que democraticamente se apresenta, sem distinção, que não em quantidade, está bem de ver, à mesa do pobre o do rico: «O PITO», que por muitos também é apelidado de franga.
Há muitas e variadas maneiras de preparar um Pito. Desde logo depende da idade do dito cujo, já que os Pitos à medida que medram na idade medram na qualidade. Mas atenção: -isso é só até certo ponto, a partir do qual se tornam rijos, engelhados, secos, só comestíveis se a fome for danada.
Há «PITOS» de farta plumagem e outros carecas. Em norma trata-se apenas de sinais exteriores, já que interiormente tal aspecto nada tem a ver com a qualidade da xixa. Ao tacto, quando se afagam antes de se lhes meter o facalhão, um PITO de plumagem encaracolada pode proporcionar requintada fruição sensorial, e até permitir ousados e antecipados, e efésios, gozos, antes do repasto final.
«O PITO» pode comer-se de faca e garfo usando a mesa mesmo atoalhada a rigor para o pôr a jeito, isto é à beira da dita, de modo que o acesso, seja bocal, manual, ou se apressado lhe escanemos uma coxa para cada lado e mesmo de pé avancemos com a sua degustação. Neste caso há que ter cuidado pois é fácil trilhar as norsas ou os botões na esquina do tabuado, o que pode interromper a folgança antevista.

Bem pelo contrário, há mesmo quem prefira começar por estes, pegando-lhe pelas asinhas, puxando-as um pouco para trás de modo a que aqueles ressaiam em todo o seu esplendor, fartos e espigados, convidando a debicar na farta febra, deixando os baixios entre coxas para final do festival gastronómico.
De um modo geral «o PITO» apresenta-se sempre estendido de costas, exibindo as suas partes podengas para o comensal, que desse modo o pode apreciar com mais pormenor. Mas há também quem o goste de voltar de barriga para baixo, pois desse modo a arquitectura carnal do dito exibe-se com mais propriedade. E tal posição, ao contrário do que se pensa, não complica o acesso da tesoura da poda. E há mesmo quem deslumbrado com o que lhe é mostrado, por vezes se contente com o bochechudo e não menos saboroso postigo traseiro d’ «O PITO», entreaberto sem grande pocema e alarido por parte da dona do dito, já habituada a que lhe comam aquela parte, quase sempre destinada ao dono da capoeira.

Há os que mais lambisqueiros não se contentam com «O PITO» só por só. Para isso fazem-no acompanhar por outros grelos, em mistura, dando uma bicada ora num ora noutros frangainhos, de modo a desenjoar do adocicado que às vezes macula o repasto de um galfarro.
Para preparar «O PITO» deve seguir o seguinte procedimento: vá a um galinheiro bem recheado. Escolha «O PITO», mais jeitosinho. Nem muito gordo nem escanifobético. Nem muito novo (mínino sixteen ) nem muito velho (embora ás vezes aqui haja verdadeiras surpresas).Agarre-o e apalpe-lhe a plumagem. Acaricie a mesma, doce e meigamente, apreciando como à medida que o vai fazendo, «O Pito», ao principio desconfiado com o que julga ser chegada a sua hora de ir ao castigo, começa pouco a pouco a enlapar. Há uns mais resistentes. Quem não tiver paciência, torça (meigamente) o pescoço ao animal, para conseguir o seu sossego. Não aconselhamos –ou até denunciamos á protectora dos ditos - quem ouse tal .Pois «O PITO» só é bom ,se se entregar à degola, voluntariamente, e de cara alegre. Antes de lhe espetar a faca ,convença-o que o sacrifício é honroso e que do mesmo podem advir diversas benesses. Tenha contudo cuidado em não prometer mais do que as suas posses sejam capazes de cumprir. De seguida, depene-o. No polivan dá um jeitão. Aí já ficarão bem visíveis, e á mostra, as qualidades, que nem sempre uma farta plumagem permitem perceber. Não se esqueça de nos preparos, polvilhar com sal q.b.,pois nada há de pior do que comer um «PITO» desenxabido. Ponha-o em brasa, sem contudo o deixar estornicar. Vá-lhe dando as voltas, ora por cima ora por baixo, de modo que chegada a hora de lhe aferrar a dentuça todo «O PITO» esteja au point. Isto é:- um figo de mel, madurinho ,a pingar aquele odoroso e saboroso leite de anjos. Ele cairá de maduro, pronto para ser papado. Pape-o mas não abuse, porque que pode empaturrar-se .Coma «PITO»,regularmente, mas não abuse.«O PITO» é bom para a saúde. É comida recomendada, mesmo para doentes. Claro que para estes, uma canjinha chega. «PITO» …pito, nem vê-lo Só cheirá-lo.

Use mas não abuse...
NB. Qualquer interpretação descontextualizada, distorcendo ou enviesando a intenção do autor, é da pura responsabilidade do leitor. Não leitor; não falei daquilo, em que já …só pensa…
Aladino