terça-feira, outubro 05, 2010


A Comemoração de um dia lindo:a implantação da República
Tão lindo como o 25 de Abril…..


A República espera ainda ser LIBERTADA para se cumprir.

Durante finais dos anos sessenta, inicio de setenta, o 31 de Janeiro e o 5 de Outubro eram os únicos momentos em que a torneira libertária de Salazar se abria (condicionadamente) para que, falando da República, se pudesse ousar dizer mal do regime do ditador. Inicialmente acompanhante de minha Mãe a todos esses momentos, não demorei a saltar para o palco, e passar de espectador a orador.
Claro que o regime tinha os seus PIDES na sala. Por acaso um desses esbirros convivia intensamente  connosco de  muito de perto, como mais tarde(depois do 25 de Abril)  viemos a saber, quando os processos da PIDE  nos vieram parar à mão.. Corria-se pois um certo risco.Lembro-me de um comício no Teatro Aveirense, trabalhava eu já na Celulose. Lembro-me de, ao outro dia do aviso de colegas : - eu corria sérios riscos. O que de facto nunca sucedeu, já um dia expliquei porquê.
Para poder arengar na altura tive naturalmente de estudar a História da Republica. Em casa de meu Pai (e agora na minha) havia muito material para estudar e um excelente professor para ensinar. Assim não me foi difícil apanhar alguma relevância, pois muita coisa do que dizia tinha sentido (o que diga-se, em boa verdade, não sucedia com outros oradores muito mais comicieiros, muito mais efervescentes, muito mais tonitroantes:caso exemplar do Carlos Candal) que achavam que o importante era falar «alto e grosso».
Para mim exaltar a Republica era mais apanhar o mote para dizer mal de Salazar. Certo é que desde logo percebi  que as grandes promessas Republicanas foram por água abaixo. E que se houve coisas boas e bem intencionadas, a gestão corrente do País foi tragicamente um falhanço.
Chamar 2ª Republica ao 28 de Maio sempre me pareceu excessivo. A ditadura tinha apenas da Republica o símbolo de um Presidente que fazia de conta, sem que a sua eleição fosse proveniente de sufrágio universal.
Creio que as Comemorações de hoje, do centenário da implantação da Republica, foram apenas a recordação do sentimento que em 1910 o Povo das elites deveria ter sentido, tal como nós sentimos o 25 de Abril. Sonhávamos com muito que afinal também posteriormente ficou pelo caminho. Hoje aqui chegados  não deixa de se sentir um certo amargo.
Em 25 de Abril, tal como em 5 de Outubro de 1910, quis-se indubitavelmente o que se viu, embora mais tarde (num caso e noutro) não se viu  o que (todos!) queríamos, de facto. De qualquer modo valeu a pena.
Hoje numa encruzilhada difícil, eu tenho boas razões para pensar que encontraremos a boa soluções para dela sairmos. Nunca como hoje o Homem teve ao seu dispor meios para a tarefa incessante de criar novos valores. Importante é que de uma vez por todas não se falhem  os ideais democráticos, colocando esses meios ao serviço de País e não apenas de uma sua pequena parte.
A questão da Republica se cumprir ,é hoje a de ser ou nãos capaz, de concretizar um socialismo (verdadeiro, na forma, conteúdo e acção) um socialismo com rosto, preocupado em resolver as necessidades reais dos mais desfavorecidos, gerando sistemas onde as suas qualidades possam ser aproveitadas. O drama da produção nacional não é a qualificação da mão-de-obra  (que em todo o caso tem de melhorar) mas os sistemas que aproveitam essa mão-de-obra que se mostra excepcional quando lá fora se integra em sistemas responsáveis.
Por isso venho defendendo que a qualificação mais urgente é a das classes ou grupos que irão dirigir; esses são que terão de ser submetidos a intensivo treino para se habituarem a conviver com o risco, avaliando-o e tomando as decisões certas para o minimizar.
SF -5-10-2010   

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