segunda-feira, novembro 01, 2010


RAÍZES

 
Ano após ano, fica-me cada vez mais nítida a imagem deste dia de maceração da alma, servindo para encontrar muitos dos que foram para longe, e, parece, voltam aqui, hoje, exclusivamente neste dia, ao encontro das suas raízes. Quem sabe se no íntimo de muitos não se sente já o chamamento da hora próxima para re-ganhar a identidade.

Depois do passeio por entre canteiros floridos, aproveita-se a oportunidade para uma boa panelada de papas de abóbora, quando não uns bons torresmos a nadar numa boa sarrabulhada.

Contraste este tratamento (de alimento) corporal a relembrar os hábitos dos que já partiram. Uma espécie de necessidade teimosa de os trazer para mais perto, para o nosso lado, de novo para a nossa mesa, em actos menos espirituais mas mais evidentemente próximos.

Gosto de ver a fé dessacralizada, prosaicamente misturada com o culto da razão : afinal ninguém foi para lado nenhum. E por isso é que é bom, fazer com que  regressem(?) de novo, ainda que por momentos, e como meros espectadores silenciosos ,ao nosso convívio.

Impressiona-me  que nos rostos que perpassam  num dia de tantos fieis sinceramente  devotos,não vislumbre um só crente perfeitamente convicto.
Dogma eclesiástico está em baixa;a tradição  o arreigamento ao sentido colectivo,o respeito e aconchego ao legado familiar ,apesar de tudo sobrevive.

SF (1 Nov 2010)

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