Eu e a minha má relação com os «Natais»
Gostaria de viver utopicamente
num mundo onde não fosse necessário haver «natais», para, por vezes e só aí, nos
lembrarmos para fora, para todos os
que nos rodeiam. Uns, para quem olhámos mais. Outros de quem até certamente,
apesar de tão próximos, nem demos por eles.
Parece que só no Natal, nos
apercebemos de que durante o ano errámos (inadvertidamente?) os gestos.
Bem, valha-nos ao menos termo-nos
apercebido, momentaneamente, disso.
Os «natais» foram sempre um tempo
de grande amargura, de mal-estar e inquietação. Tempo de avaliar que o que fui
fazendo, que quase sempre esteve em desacordo com o que queria realmente fazer.
Afinal fui um acomodado. Aqui
chegado, concluía que não valia a pena ter pena de mim por me não atrever a
mudar. Também nos meus «natais» havia pratos fingidos, postos em cima de toalhas
fingidas, com trenós e renas, cheios de vitualhas que fingidamente se
acreditava existirem em todas as mesas, porque o fingido «Pai Natal», não
cometeria o sacrilégio de as dar só a alguns.
Andei uma vida a prometer-me que
um dia iria finalmente para um qualquer lado, onde houvesse um qualquer rio,
para nele voltar a pôr a navegar os barcos de papel que
levavam as pedras preciosas dos meus sonhos de criança.
Agora que já não há rios,nem barquinhos,e muito menos sonhos,abstraio-me,esperando que as horas corram.E minimizo ,aqui e ali, só pontualmente, as coisas.Como já não estou em lugar algum que me permita modificar seja o que for,não o altero.E não me incomodo.Vou para a cama sem projectos .E percebo então porque há muitos que dormem sempre bem !São os que andam uma vida a acreditar que os «pais natais» chegam e sobram para resolver os problemas dos outros....
SF
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