sábado, março 26, 2016


 

 
(que a ninguém lhe passe pela cabeça...)
 
O ESPELHO

 
Por detrás de cada espelho

Há um acumular de silêncios por explicar,

Pedaços de vida  amortalhada

Em tantos passos dados no ar .

 
Nos espelhos perdem-se os sonhos:

Estão lá coisas que não queremos mais ver

E não estão as que  já não existindo,

Gostaríamos que lá estivessem ainda.

 
No espelho tudo dói,

Tudo magoa,

Tudo desilude,

O espelho é como o vento

Que leva o bom

E deixa o que de mau vai restando de nós.

 
Fui espreitar, curioso,

Atrás do  meu espelho

Vi

Choro,sorriso ,lágrimas, olhares de dôr, sentimento,

Vi

Desalento, quimeras, mágoas molhadas, razões esmagadas

Vi

Amores perdidos, amores vencidos, labirintos criados no tempo,

Vi

Crueldade, desespero, desengano, palavras mordidas, derrotas marcadas,

Vi

Direitos ofendidos. tortura de silêncio interior, surdo lamento.

 

Dizem que as dores acabam com a sua morte

Só uma perdura , mesmo depois de morrer:

 A Ingratidão…

Desta tralha havia  muita, atrás do meu espelho.

 

Peguei  na tralha e estendia-a.

Fiz então dos braços

Mastros erguidos ao céu,

Mezena   e   traquete  cociados ,                     

Fiz das mãos estensulas  postas ao léu,

E entre eles desfraldei o mariato .

Atei o que vi  

No cordel imaginário do tempo.

Estava ali, eu!... de corpo inteiro,

Assim, nu , exposto ao vento.

 

Parti o espelho

Quero apenas me olhar

No espelho dos teus olhos

Ternos e profundos como o mar,

A não querer saber o que fui

Nem o que não fui,

Apenas saber o que ainda sou.

SF

 

 

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