sábado, março 16, 2019



-->





Nos 500 anos da viagem de Fernão Magalhães

Julgamos que sem sentido e despropositadamente, nasceu ,ou quer alimentar-se ,polémica sobre a ideia sobre o facto de Portugal e Espanha organizarem   a candidatura conjunta da primeira viagem de circum-navegação do globo, praticada por Magalhães sob égide de Espanha  a Património da Humanidade da UNESCO
A polémica instalou-se próximo de círculos xenófobos, nacionalistas  exacerbados, onde se entende que a viagem e o seu seu significado não deverem ser compartilhados, fora de um âmbito redutor espanhol. Não admitem esses círculos que,se em estrita  verdade, a viagem  foi paga e suportada, por Espanha,  a mesma só foi possível pelo apport da  ciência náutica portuguesa, que lhe deu forma, e concretizou em grande parte.

                                                                                                                                                                                    Fernão Magalhães


Registamos o pouco empolgamento por parte dos 
“historiadores” portugueses, em descer a terreiro no sentido de  clarificar questões fundamentais desse feito, onde  o selo do “born  in Portugal” é inquestionável .
Vejamos então alguns pontos de referência que envolvem o feito:
 1-Fernão Magalhães, nascido no Porto(ou talvez Gaia),em 1481,esteve embarcado na esquadra que acompanhou o 1º vice rei da Índia,D. Francisco de Almeida, tendo permanecido e navegado por oito longos anos,  em derrotas contínuas pelos mares  do oriente. Incluído na expedição a Malaca, teve nela  papel de grande relevância. Há  notícias de lhe ter concedido o comando  de um dos três navios que fizeram a expedição que, de Malaca procurou as Molucas, onde se sabia “ estariam as ricas especiarias que os portugueses procuravam afincadamente”. E se o temporal não permitiu a Magalhães levar a viagem a bom termo,certo, é ter recebido preciosas informações de outro capitão,Francisco Serrão,  sobre o modo como lá chegar.
Magalhães teve assim, acesso a um dos segredos mais guardados da época,sobre paragens ignoradas na Europa, que  lhe será precioso no arquitectar da sua (futura) viagem.
Regressado a Portugal com valiosa fortuna, Magalhães, de estirpe fidalga, integra-se na expedição que guerreou em Ormuz(onde por sinal, é ferido).No regresso, acusado  de comerciar ilicitamente,  ou por erros cometidos na divisão dos saques aos mouros, certo é que Magalhães parece ter sido, repudiado, e afastado, de cargos de mando, pelo Rei D.Manuel. Este   recusou, desde logo, financiar a viagem que Magalhães arquitectara,: a de atingir as índias por ocidente, procurando para isso descobrir a passagem que supunha certa nos extremos do novo continente (americano),depois de Balboa ter feito a expedição que lhe permitiu lobrigar o novo oceano do lado oeste do continente.
2- Magalhães  ao ver-lhe negado o financiamento,perante o alheamento do Rei português,vai assim oferecer a viagem, à coroa espanhola. Nesse momento  a situação,em Espanha, era deveras complicada. O rei Fernando “O Católico”,depois da morte de sua mulher, renunciara  e entregara  a coroa espanhola, a sua filha, Joana “a Louca”, casada com Felipe de Habsburgo (O Formoso).Morto este, Fernando voltou a ser chamado para a regência, dada a demência de sua filha. Veio Fernando a falecer  (1516) quando Magalhães decide ir oferecer os seus préstimos a Espanha. A Fernando “o Católico”,segue-se Carlos.Um jovem impreparado, que nunca teria vivido em Espanha, e que nada conhecia dos usos e costumes, e políticos do País.Com Carlos  vem enorme côrte da Flandres o que não é bem recebido pela parte espanhola.. Anos pois, turbulentos, que levarão a tomar a decisão de “nunca mais se entregar o trono a um estrangeiro”.
Magalhães foi então auxiliado por Faleiro (cosmógrafo português que o acompanhara a ESpanha),conseguindo apoio do bispo Fonseca (presidente da Casa das Índias).Em  22 de Março de 1518 ,Carlos V, concede e entrega as capitulações, nomeando Magalhães  “adelantado y Capitan de la Armada para el descubrimento de la Especiaria”.Comandante de uma esquadra de cinco navios para, dos mares do sul, passar ao outro oceano, e confirmar se haveria terras, e se estas estavam incluídas na parte que o tratado de Tordesilhas, outorgava a Espanha.
3- Os custos da viagem foram suportados em  ¾ pela coroa, e ¼ por um Cristobal de Haro .
Os cinco navios armados  para a expedição foram : a Trinidad (110 toneis), a San Antonio (110 tonéis) a Conception(90 tonéis), a Victoria (85 tonéis) e a Santiago(75 tonéis). Faleiro foi, entretanto,sem que Fernão conseguisse evitar, afastado da expedição. A frota zarpou de Saluncar de Barrameda,em 20 de Setembro de 1519. Com Magalhães seguiu um italiano Pigafetta, com o encargo de relatar a viagem. Rapidamente, depois de, como Colón, tocar nas ilhas Canárias, foi a Costa do Brasil  alcançada numa viagem já assaz conhecida para Magalhães, desembarcando na baia do Rio de Janeiro (13 Dezembro de 1519). Zarparão passados treze dias, depois de carregar água e mantimentos, iniciando então a viagem perto da costa,sempre  para  sul, chegando ao rio da Prata em, Março de 1520. Continuando, atingiram a Baía de S Julião onde tiveram uma estadia deveras complicada, levando à revolta de um grupo de oficias e tripulantes, espanhóis,que queriam obrigar Magalhães a regressar. Magalhães com pulso de ferro,domina astutamente os revoltosos e castiga-os impiedosamente. O capitão da  Conception,o espanhol Quesada, foi decapitado. Luis de Mendonça, tesoureiro da armada, foi esquartejado; .Juan de Cartagena e o clérigo Sanchez abandonados em terra. Desapareceram para todo o sempre. Aos marinheiros (porque deles precisava), Magalhães perdoa .A nau “ Santiago” que entretanto se adiantara,afundou-se. Momento em que Magalhães decide substituir os capitães espanhóis por portugueses da sua confiança .Em Outubro o tempo  melhorou. Magalhães, navegando a sul,diz ter encontrado o estreito que permitiria a travessia, afirmando, segundo relata  Pigafetta “ter visto esse estreito num mapa da autoria de Martin da Bohemia”, excelente cosmógrafo  a trabalhar para o rei de Portugal.
Viagem circum-navegação


Magalhães manda à frente as naus “Concepcion” e “san António” .Aproveitando a noite,esta, comandada pelo espanhol Álvaro Mesquita,dá a volta, foge e regressa a Espanha. Magalhães penetra no canal, tardando a dar conta da “Concepcion” e da “san Antonio”.O canal é um perfeito labirinto de enseadas e baías,tendo-lhes chamado a atenção, inúmeras fogueiras que os indígenas acendiam de noite (Terra do Fogo, assim lhe chamaram).E em 27 de Novembro de 1520,finalmente,as três naus entram num mar de águas tão  calmas,que decidiram dar-lhe o nome de Oceano Pacífico .
4- Rumando a O-NO percorreram 4.000 milhas sem encontrar terra, durante mais de três meses. Só em 16 de Março de 1521,avistaram uma ilha a que deram o nome de ilha dos  Ladrões.
Magalhães tinha instruções  exaradas nas capitulações, de que não deveria entrar em conflito com os indígenas “achados”, mas tão só, avistar  terras, exercer o apostolado e determinar exacta posição para saber se essas terras  estavam dentro do hemisfério de Tordesilhas. Sucede porém que,  ao arribar ao Arquipélago de San Lázaro (hoje Filipinas),Magalhães  decidiu  obter à força, dos indígenas,  submissão   ao Rei de Castela. Decidido a mediar conflitos, Magalhães acudiu, assim, a Macatàn, disposto a submeter os indígenas desta ilha .No  conflito  havido é ferido mortalmente pois, como refere Pigafetta ”como conheciam o nosso capitão concentraram nele todos os ataques”. Apesar de ferido, Magalhães dá prova de uma força indomável tendo arremetido  bravamente até ao último minuto em que foi trespassado por lança índigena.

Morte de Magalhães

5- Para Magalhães era o fim da aventura.
Das três naus (“Trinidad”,”Concepcion”, e”Victoria”) foi eleito capitão português Lopes de Carvalho. Da “Victoria” ficou capitão Gomez Espinosa. Da “ Concepcion” foi eleito Elcano .Dado o mau estado da “Concepcion” foi  então decidido abandoná-la. Lopes Carvalho não mostrou conhecimentos, e foi demitido. As decisões ficaram assim, entre El cano -que decidira cumprir as instruções de Magalhães: regressar atravessando o Pacifico em latitudes asuficentemente a sul(40º ou mais) e dobrar o Cabo da Boa Esperança. A “Trinidad”,em muito mau estado, foi decidido abandoná-la em Tidore, à guarda do Rei.
Após   carregar a “Victoria” com especiarias valiosas,depois de atribulada viagem em que foi fustigada por fortes temporais, Elcano  conseguiu, a muito custo, dobrar o Cabo da Boa Esperança, em18 de Maio. Logo que o vento amainou tomou a decisão de se dirigir a fazer aguada, a  Cabo Verde. Aqui estiveram em risco de serem aprisionadas por ordem do Governador, que reteve  parte da tripulação em terra. Elcano decide não esperar por aqueles, e faz-se ao mar.nEm 6 de Setembro de 1522 ,desembarcam,finalmente, em Sanlucar de Barrameda,onde chegaram apenas, 18  dos 237 tripulantes, da frota de Magalhães. Estava assim concluída a primeira viagem de volta ao mundo.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 Elcano
5 –Do que sucintamente relatámos salta à vista.
5-1- Todo o conhecimento que permitiu esta grande navegação teve a sua origem em Portugal. Não só a experiência náutica de Magalhães, os conhecimentos de navegações no oriente, como os conhecimentos induzidos por Faleiro ;e até pelos mapas de Martin da Bohemia referidos por Pigafetta.
5-2 – A coroa Espanhola assumiu um encargo de ¾ do custo da expedição.
5-3- A partir de certo momento, anterior à  travessia da ligação do Atlântico ao Pacífico,as naus foram comandadas por portugueses.
5-4-Magalhães tinha nos seus planos ir às Molucas, o que El Cano não conseguiu concretizar.

Por tudo isto, não é demasiado Portugal desejar associar-se às Comemorações dos 500 Anos da Viagem de Magalhães, e muito menos censurável, incluir-se no pedido de reconhecimento mundial da mesma.

Senos da Fonseca

Sem comentários:

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...