quarta-feira, janeiro 23, 2019






Joana "Maluca" a mais benquista das Gafanhoas (cont)










O povoamento sempre em crescendo, o número de almas que ia-se multiplicando; o fervor religioso daquelas gentes obrigava-as a, com frequência, deslocarem-se à Igreja da Nazaré, para aí cumprirem as boas regras de uma prática cristã. Joana e seu marido, António Pata, são tementes a Deus, cumpridores dos preceitos. Mas certo é que com o tempo vão adivinhando quão difícil e incómodo são essas deslocações à Gafanha da Nazaré. Joana, temente, cumpridora a preceito dos
seus deveres cristãos, gostaria de contactar e recolher-se em oração, mais do que uma vez ao dia. E tomara a decisão de solicitar autorização para construir uma pequena Capela na sua quinta. É certo: uma Capelinha aconchegada, pequena, de pouco mais que 25/30 palmos de comprimento. Em 1848, no tabelião de Vagos, Joana e António Pata lavram uma escritura em que se dizem prontos para, a custas suas, edificarem uma capelinha pública (isto é, para todos moradores e ou passantes da Gafanha da Maluca), capelinha que constituirá por sua morte, herança dos seus.
Ora terá sido esta Capelinha que deu às gentes uma noção da individualidade da Gafanha; para mais, foi colocada no altar, orago de referência, uma pequena (cerca 50 cm) imagem da Sr.a da Encarnação. Por vontade da Joana, logo o povo deu ao lugar o nome de Gafanha da Encarnação.

Começou aqui, precisamente, uma certa separação, uma certa individualização entre Gafanha da Nazaré e Gafanha da Encarnação.
Viria, assim, cada povo a orgulhar-se dessa individualidade e até a surgir uma certa disputa. Nem tudo será bom nesse virar de página, já que foram amolecendo os intercâmbios, perdendo-se certas vivências, vindas do tempo em que aquelas almas foreiras eram gentiaga errante entre um ou outro lugar. Famílias até certo ponto com laços fortes entre si, fruto da mesma cepa começaram a separar-se.

Desde cedo se notou que a capelinha da Joana Rosa era pequenina demais para acolher tanto fiel.
Nesta capelinha, foi criado o hábito de, pelas nove
horas da noite, fazer soar um búzio, a lembrar as almas dos fiéis defuntos. Só muito mais tarde, o búzio foi substituído pelo sino. O toque servia para orientar todos; os que andavam na pastorícia, ou lavra, e os que andavam na borda, na apanha de moliço. E era até sinal da última passagem da barca para a outra banda.
A população medraria a olhos vistos. A Capelinha tornou-se cada vez mais pequena. Em 1877, é, por isso, ampliada para um pouco mais que o dobro (11 a 12 m). E, ao lado do pardieiro (?!) da nave principal foi construída uma torre com dois sinos que iriam substituir o búzio. A imagem pequenina da Senhora da Encarnação será substituída por outra bem maior, até que, em 1935, se fez a substituição pela actual imagem de madeira.

Apesar da morte de Joana, o seu segundo marido, que entretanto casara novamente, na hora do seu passamento, pede à sua segunda mulher que cuide da Capela, que passara a ser propriedade da comunidade. E, por assim se entender, em 27 de Abril de 1884, é arrematada no Tribunal de Aveiro por esse Povo representado por um dos seus – Manuel Luís Ferreira –, adquirindo-a pela simbólica quantia de 175 mil réis.
Surge só então a funcionar na Capela a Irmandade da Nossa Senhora da Encarnação e Almas da Gafanha, Vila e Concelho de Ílhavo, aprovada pelo Governo Civil, em 2 de Setembro de 1901, e pela autoridade eclesiástica, em Coimbra, em 13 de Novembro de 1901. Foi a primeira Irmandade formada em todas as gafanhas.
Em 1907, é demolida a capela que retratamos. No mesmo local, com a mesma orientação, Nascente- Poente, irá erguer-se uma Igreja Paroquial, cuja construção, curiosamente, foi orientada por Manuel Bolais Mónica, o reputado construtor naval da vizinha Gafanha da Nazaré.

Em 1912, a Igreja está completamente acabada. Nela são colocados os altares do Sagrado. Em 1926, são construídos por artistas locais os altares laterais (Nossa Senhora de Lurdes e o das Almas).
A nova Igreja Paroquial media 29m x 9 m. Na sua torre, foram apostos dois sinos de 589 Kg. Foi seu primeiro Pároco o Rev. Quaresma.
A saga das Capelas e Igrejas não ficaria por aqui, pois foi planeada uma nova Igreja. Em 1970, é tomada a decisão (406 votantes, 231 a favor e 175 contra, para um total de 1000 fogos) de constituir um cofre para construção de nova Igreja paroquial digna da dimensão urbana atingida pela Gafanha da
Encarnação. Em reunião de 1977 é tomada a decisão de iniciar os trabalhos de construção. Em 11 de abril de.1985 iniciou-se, de facto, a construção. Em 1993, o Bispo D. Marcelino anuncia que a inauguração da Igreja está marcada para 22 de Agosto desse mesmo ano.

9- Escolas
A primeira Escola Mista da Encarnação esteve situada na rua Padre António Diogo, numa casa conhecida por Casa do Zé Pata (dos bois). Foram seus primeiros mestres o professor Cesário e esposa (1909).
Não significa que antes da escola oficial não
existissem locais onde se ministravam as primeiras letras. Tão necessário como altruísta, o exercício foi levado a cabo pelos chamados mestres (e mestras), como foi o caso de um tal Manuel Louro, ou Manuel das Neves. Curioso de assinalar que o irmão da Joana Gramata, o João Gramata, também é referido como um desses mestres das letras, antes da existência da escola pública.
Mais tarde, em 1924, a Escola foi desdobrada para a frequência separada dos dois sexos.
Em 1995, foi criado o Agrupamento da Escola Básica da Gafanha da Encarnação, grande salto no processo valorativo dos jovens, cujo efeito se virá a sentir fortemente no futuro desenvolvimento, social e cultural, da freguesia, guindando-a a outro estágio de participação e influência concelhias...
3



10- Cemitério
Até 1932, os funerais continuavam a fazer-se para Ílhavo.
A junta da Paróquia, encabeçada por João Ferreira Félix e pelos vogais João e José Ribau, consegue junto do Ministério da Agricultura, a cedência de um terreno (um hectare), sito na Mata Nacional, ao lado da estrada que vinha de Ílhavo, para aí instalar a área do sepulcro. Demarcado e muralhado, o terreno é vedado por muro e portão de acesso e erigida uma pequena Capela, dedicada ao Senhor dos Aflitos.

Em 24 de Junho de 1932, foi efectuado o primeiro enterramento, o de Manuel Maria Cardoso, segundo registo do Padre Lé.

(Cont)




Sem comentários:

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...