BREVES NOTAS SOBRE A PESCA AO BACALHAU ESPANHOLA
No que se escreve sobre a pesca do bacalhau, no país vizinho, constata-se que, praticamente, apenas é referido ter a mesma sido iniciada nos primeiros decénios de novecentos. Ou pelo menos essa é a minha impressão.
É compreensível.
Os bascos no séc. XVI, eram um povo, cultural e historicamente “separado” de Espanha, ocupando um território (na região conhecida como País Basco) que incluía quatro províncias na Espanha e três na França. Localizadas em volta da borda ocidental dos Pirinéus e estendendo-se na região costeira do golfo da Biscaia. Ora a história da pesca do bacalhau, hoje já bem conhecida, refere terem sido os bascos, com a companhia dos portugueses, quem, no séc. XVI (alguns documentos parecem anteceder essa data para finais séc.XV) teriam sido os primeiros a exercerem a pesca(os bascos a baleia,os portugueses o bacalhau) nos mares da Terra Nova. Eram predominantemente oriundos das províncias situadas em solo francês: Saint Jean de Luz, Bordéus Arcachon etc. Cremos que essa é a razão porque as referências no historial são muito escassas, e quando aparecem nos trabalhos conhecidos. são mais do que ligeiras.
Assim os autores consagrados, referem as pescas espanholas ao bacalhau ,nos mares da Terra Nova, como iniciadas, timidamente, nos primeiros decénios de novecentos (1930),e só com expressão a partir de 1950.
De facto, só em 1926, grupos ligados à importação de bacalhau, de S.Sebastian, preocupados com os valores crescentes de divisas que saíam do País, despertados por estudos que clamavam a necessidade urgente de constituir uma frota de navios de arrasto, reúnem-se e formam uma empresa armadora a que puseram o nome de PYSBE. Há contudo outras referências que dão conta que primeiro navio enviado aos mares do norte tinha o nome de “Melton Dominguez”,pertencendo à casa D.Manuel Dominguez y Hermanos, de Panjon(Pontevedra).Teria sido enviado em 1920.
A PYSBE arma de imediato três navios de arrasto,o “Afonso XIII”(que posteriormente se chamou “Hispania”) e o “Euskal Erria”.Quando estes navios chegam aos Bancos da Terra Nova, já nele pescavam 33 navios a vapor,71 veleiros(portugueses e francesas) , embarcando um total de 3.379 homens.
Muitos dos capitães e tripulantes especializados daquelas unidades espanholas, tiveram de ser recrutados na Bretanha francesa dada a completa falta de experiência espanhola.
Será depois da guerra civil, e com ajuda governamental, que se irá desenvolver a frota bacalhoeira ,embora de um modo muito particular, baseada na utilização de “parelhas”.
As “parelhas” eram embarcações de pequena tonelagem, utilizadas com óptimos resultados (chegavam a capturar dez toneladas por dia) na pesca da pescada no golfo da Biscaia, mesmo durante o período da guerra..As “parelhas” exerciam uma modalidade de pesca de origem mediterrânica.Cada uma das embarcações da parelha tinha o nome de bou. Na “parelha” as duas embarcações puarrastavam amesma rede .Este tipo de pesca importado de França em 1718 tinha uma tripulação de 10 a 12 homens.
Em 43/ 44, o governo proibiria as embarcações de atravessar o Atlântico. Em 1945 será levantada a proibição. Logo a “Pysbe” envia os navios “ Ábrego” e o “Cierzo”.Curiosamente estavam impedidos de entrar em St John’s, pelo que se abasteciam em “Bay Bulls”,um pouco a sul daquele porto. Em 1945, aberta autorização generalizada, a Pysbe envia os navios “Mistral” “Hispania” e o “Euskal Erria” e o “Galerma”.A partir da sexta unidade, a “Pysbe” muda a motorização, que até aí era a vapor, para “diesel”. Em finais de 50 os espanhóis acompanham algumas modificações na técnica de pesca, entretanto surgidas : arrasto apenas por bombordo, redes de nylon e diversas melhorias nos equipamentos de detecção, na ponte de comando.
Terminada a guerra, verificou-se um abaixamento significativo nas capturas da pescada.
Então surge a ideia de enviar as parelhas utilizadas naquela pesca, ( dois pequenos navios de cerca de 26 m comprimento) aos bancos da Terra Nova, fazendo períodos de pesca que não excediam os dois meses. O bacalhau pescado era conservado no gelo. As primeiras parelhas enviada tinha o nome de “Rande”e “ Rodeira”da casa Alvamarde Pasajes. Logo a seguir demandam o mar da Terra Nova a parelha “Irlanda” e a “Rochella”.
A frota espanhola vai assim crescer exponencialmente. Em 1960 aparecerão os arrastões de pesca pela popa (1960).
Parelha da pescada no Golfo da Biscaia (parecidas com as portuguesas traineiras)
A pesca, inicialmente praticada, exclusivamente, nos bancos da Terra Nova, estende-se então por outras paragens: Lavrador, Groenlândia e mar de Barents. Todas as frotas (francesa, portuguesa, polaca, alemã e russa) intensificaram, sem qualquer controlo, uma sobre pesca que iria conduzir a uma tomada de posição por parte do Canadá (1977), de fixação unilateral da ZEE(zona exclusiva de pesca).
Técnica da pesca da "parelha"
Nas pequenas enseadas costeiras da Terra Nova, a pesca local ,feita em dóris e ou em pequenas embarcações, começa a ressentir-se dos efeitos da sobre pesca (a partir de 1960),e clama medidas ao governo canadiano .Essa actividade (das poucas possíveis na ilha) tinha já forte expressão na comunidade terranovense, existindo na ilha fábricas de tratamento do peixe que começaram a sentir a alta de produto para laborar. A população irá criar o movimento que assume o lema “Our Newfoundland way of life “. Em 1960 estima-se que os stocks costeiros terão descido 30%.
Em 1966 aparece novo movimento, agora sobre o mote. “ Save our fisheries Organization”,clamando para que o governo tomasse atitude em relação às frotas estrangeiras.
Parelhas na Terra Nova
Arrastão de popa espanhol
Em 1977 tinha 119 navios a pescar
1986 tinha 84. ,, ,,
1990 tinha 24. ,, ,,
,, 2003 tinha 8 ,, ,,
Estes são breves apontamentos sintetizados (voltarei a eles) colhidos em alguns dos trabalhos de investigadores espanhóis, que me parecem dar uma ideia, ainda que breve, sobre a evolução e tipologia da sua frota.
Senos da Fonseca
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