quinta-feira, maio 24, 2007

E A VIDA LÁ CORRE ...OU MELHOR, CÁ CORRE .



Chegamos a uma altura em que qualquer dia é bom para morrer …e mau para viver .

Não estou obcecado com isto .Para já ,não estou .Como a minha Mãe me dizia ,com o tempo vamos cortando ligações , distanciando-nos das coisas e pessoas ,e só nos resta a dignidade .Há que a manter .

Mas é certo que nisto de finações qualquer dia serve ,se bem que é , atendível que para os que cá ficam ,para os amigos, sempre é mais cómodo um dia da semana .Mas não é isso que aqui me traz .

Agora chegados aqui ,qualquer dos dias me começa a parecer mau-ou pelo menos muito difícil - para viver .Engendrar coisas diferentes para os viver de um modo diferente , é coisa difícil. Insuportável .Sempre me esforcei –e esforço –para que todos os dias fossem diferentes do anterior .Irrepetíveis. Por isso em cada um tentei dar de mim o melhor –e por vezes o pior !-mas sempre diferente. Tento e lá vou conseguindo, manter viva essa chama ,às vezes a muito custo .Até quando?..essa é a questão.

Ser diferente …mas sempre igual. Diferente para mim , para o que me ofereço ,ou desafio .Mas igual para os outros a quem me dou.


Por falar em distanciamento …

Hoje é-me insuportável , suportar as futilidades e o desútil . E nem me dou ao trabalho de o encobrir .

O socialmente correcto, é-me pouco mais do que indiferente .As coisas ou valem a pena ,ou não vale a pena perder tempo com elas.

Com as pessoas …o mesmo.

Se não fui capaz de mudar as coisas por aqui –e não fui! - não desisto de manter –e preservar –toda a minha liberdade interior .

Refugio-me na minha casa e, de lá, atento contra tudo que seja postiço , inverdadeiro,e contenha exclusão .

Por vezes o silêncio pesa ,mas sempre é melhor que ver e ouvir estupidez desbragada.

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Do tempo em que se ouviam, nesta Terra , grandes pregadores egrégios .sermoar com a palavra e o gesto ,veio-me à ideia a história de um famoso frade que, ao apontar as profundezas do inferno, o fazia com a destra erguida ,dedo espetado dirigido aos céus .Ao contrário, quando das moradas divinas enaltecia as virtudes, exortando o seu caminho aos atentos ouvintes, fazia-o apontando ,hirsuto e decidido ,o chão.

Inquirido das razões da inadequação do gesto com o verbo, o frade apenas disse :

-Há céu e inferno em todos os lados ; façam como eu conto ,não liguem ao que eu aponto.

Vem isto a propósito de quê ?, perguntar-se -à

Ora bem: há dias ouvi um prolixo palrador, em tão demorada como redonda prédica ,que á partida se propunha com o fim próprio e intencional de evocação de alguém desaparecido –ainda por mais amigo ,julgo eu! - a afivelar, do principio ao fim ,um sorriso azamboado ,despropositado, algo imbecil, por norma patente em patologias bi-polares . .Mesmo quando dirigiu à família do «ausente» as condolências pelo seu desaparecimento -o que afirmou ,e eu acredito, sentir profundamente - não escondeu, antes sublinhou e aprofundou ,o referido despropósito .

Não é a primeira vez que me confronto com tal esgar .Que me perturba profundamente.

Não há ninguém que diga ao frade falhado –ele o disse – para adequar o gesto, à palavra farta?

Neste caso ,apetece dizer :

-Olha como ri ,não ouças o que ele diz …

ALADINO

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