sábado, maio 01, 2010

1º de Maio.
Recebo um texto.Aprecio-o e pressinto nele algumas sólidas particularidades.
Não sendo meu subscrevo a justeza do significado da leitura: o confronto presente no desafio que poderá ser sempre o ultimo.
Publico.
SF
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Dia do Trabalhador.

Manhã serena, maré baixa, laje descoberta, brisa refrescante.
Desço a calçada do Algodio e chegando à estrada, sigo para norte. Subo pelo passeio junto à praia. Mais ou menos a meio, o muro interrompe-se e umas escadinhas na rocha dão acesso à plataforma rochosa, a laje,. Desço-as e ando com cuidado.A rocha está molhada e escorregadia. Um homem está dentro de água, a pescar. Estou na areia. Encontro o abrigo confortável de uma grande pedra. Parece um “fauteuil”. Acomodo-me. O mar olha para mim. Percebo o que me está a dizer.
Primeiro Ele. Sempre. Descalço-me e vou ao encontro dos pés do mar, por enquanto só os pés. Ao sentir a quente frescura da água, é só o tempo necessário para levantar o ferro e ir fundeá-lo ao meio da praia onde as ondas já o são, embora timidamente
[Soube da detenção de Pinochet numa auto estrada italiana e, depois de a celebrar, apressei-me a telefonar à minha companheira.]
A esteira às riscas brancas e azuis,estirada sobre a areia. O saco em cima onde procuro um fato de banho. Hoje é o encarnado, só o encarnado pode ser. Os óculos, a touca.Por fim as botas de borracha. O mar espera-me. Está só. Na praia, em toda a praia apenas dois jovens. Deitados para se ampararem do vento. Começo por cumprimentar com cerimónia, baixando-me até que as mãos toquem com devoção na água. Lentamente vou avançando para que a temperatura do corpo e a do mar se harmonizem. Nunca sei quando é o ultimo encontro, por isso cada um pode ser esse. Nada se repete, muito menos no amor. A vida é um permanente recomeço.

[Foi longa a luta no Chile no exílio. Os camaradas da resistência interna não lhes deram um único dia de descanso.]
Vem a primeira onda, estou preparada para me entregar e para recebê-la. Elevo o corpo e sinto o embate do mar contra o peito.Tem força,o mar, tem muita força.O fogo é a cor do fato de banho, mas isso não é para vencer-te.Mas sim para te convencer. Estamos completamente sós:eu e o mar mar. Todo inteiro para mim e eu para ele . Os que estão na areia presenciam o nosso delírio. Invejam-me,com certeza. Uma mulher e um mar abraçados em desmesurada entrega.
[Agitámos, escrevemos artigos verdadeiramente agitadores, subversivos, porque a verdade é sempre subversiva……Mas tenho a certeza de que os nossos artigos foram apreciados pelos que sofreram, pelos que sofrem, pelos que ainda mantém a esperança e não se cansam de afirmar que um outro mundo é possível.]
Deixei o relógio em casa. Para que quero horas? Hoje não o largo enquanto não o vir saciado.
A maré sobe como um ventre grávido, primeiro lentamente e no fim do tempo avolumando-se como um gigante.
[Numa dessas pausas conheci as duas irmãs e o irmão mais novo de Oscar Lagos Rio. Os quatro possuíam uma beleza inquietante…E os quatro olhavam para o mundo através de umas pupilas que passavam velozmente do castanho a um verde suave e transparente.]
Ainda um mergulho, um afundar em busca do que está para além, há sempre um mais além a desafiar a imaginação. A despertar os sentidos para emoções novas.
[Oscar Lagos Rios tinha sonhos dos quais às vezes falava: gostava de ser piloto de Fórmula Um e era, além disso, um óptimo mecânico de automóveis. Também gostava de estudar agronomia me confessou uma tarde em casa dos pais durante uma festa familiar.]
Agora é tempo de sair, estamos tão bem que nem damos pelo Sol a esconder-se por detrás das nuvens. O mar quererá descansar? Ou tem receio que eu adormeça? Quem estava na praia deve ter ido almoçar ou merendar, que horas são mar?
[Algum dia se escreverá a verdadeira história daqueles dias ,algum dia escreverei sobre aqueles anos felizes de compromisso e entrega total…]
Lentamente dirijo-me ao lugar onde está o saco. Retiro a touca os óculos as botas o fato. Seco ligeiramente o corpo, visto o biquíni, penteio o cabelo, ponho o panamá , os óculos graduados e deito-me e de barriga para cima à espera que o sol reapareça para me aquecer.

[Oscar Lagos Rios foi visto pela última vez no regimento Tacna de Santiago. Ferido em La Moneda, juntamente com outros elementos do GAP, foi brutalmente torturado pela soldadesca.
Amarraram-lhes as mãos com arame farpado, suportaram os interrogatórios mais inumanos e degradantes…e nenhum deles falou, entregou ou traiu aqueles que ainda resistiam]

E enquanto assim estou vou pensando
[Algum dia se escreverá a verdadeira história e então os audazes ocuparão o lugar a que tem direito]
Sonho...levada pela mão de Sepulveda.Que não escreve.Esculpe a pedra da memória.
Chamo-me M.R.

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A « magana » que espere....  Há dias que  ainda me conseguem trazer interesse renovado, em por cá estar  por mais uns tempos. Ao abrir logo ...