Foi um tempo mais que concedi a mim próprio em busca de me conhecer (?). Ou melhor me entender. Será que esta constante vontade de me inquirir – ou solucionar - é comum às outras pessoas, ou existe só nos que sonham a vida? Eu fui - e sou - um eterno e constante sonhador .Não de coisas boas, mas de coisas diferentes. Querer sempre estar com quem não estou, ou estar onde não estou. Ou não estar onde estou, a fazer o que faço por não me atrever a fazer mais do que faço.
Por isso me ensaiei de diversas maneiras, e em diversos tempos. E não sei se gostei das maneiras que vivi, ou se depressa desejei mudar outra vez. Só por simples pensar que haveria de encontrar um modo de não sentir a saudade de um passado morto. Facto é que sonhar é sempre mais fácil, que viver. E por isso ainda não compreendi bem se o que faço é não querer viver, e desculpar-me com o sonho de...
Vivo constantemente intranquilo. Intranquilo que amanhã só me atreva a sentir o que sinto hoje, e não me atreva a sentir-me diferente. Vida perdida, insatisfeita. Difícil entender-me nesta quase doença de não ficar, sempre e só, pela satisfação do que é preciso. Estar sempre a criar mais - ainda que coisas inúteis -, a desejar o que não preciso para o corpo mas desejo para a mente. Preciso de a alimentar constantemente. A realidade nunca me apaga a sede. O sonho, esse, sim. Refresca-me; e por vezes se exagerado, embriaga-me.
Acodem-me sentimentos, quase ridículos. Porque impossíveis. Alguns dos meus sentimentos quando os tento explicar, parecem aos olhos comuns, ridículos.
Perturba-me a gratidão. Confrange, colocar-me na posição de agradecido. Se o que faço não requer agradecimento, quando são os outros a fazer-mo (mesmo que infimamente), não sei o que hei-de mostrar: agradecimento ou indiferença (?). Por isso reajo perturbado.Com extremo pudor.
Julgo por vezes – e atrevo absurdamente a citar-me - como homem livre. E o facto é que sou incapaz, de estar ou ser, só. Não conseguiria viver sem os outros. E com quantos mais, melhor. Deixo-me engolfar na vida por essa incapacidade de me pôr de fora. E desse modo perco a minha liberdade – não a de espirito – mas a de servidão. Sou uma espécie de servo livre, quando muito. E é bastante sê-lo.
Excluo de mim para os outros, confessar a amargura. A amargura de até aqui ter superado tudo, menos as lágrimas, não as exteriores, mas as interiores. Não as que se vêm mas as que se deixam correr para dentro. Só nossas. Violento-me a pensar …. E não querer pensar. Dói-me a inquestionável verdade de ter, finalmente (!), sabido que nem todos os impossíveis são possíveis. Que os há, mesmo impossíveis. As feridas que a vida foi deixando nada têm de comparável à ferida que só não é insuportável, porque por vezes perco a consciência dela.
E finjo.
SF
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