A morte da Cina
«Resende» ou
O ZIG-ZAG da vida
Esse temível anunciador de más noticias a cuja companhia por
causa dos outros me submeto ,tocou cedo para me dar a má nova (?) que também a Cina Resende ,não tinha
conseguido furtar-se à morte anunciada. Que
a é aquela terrível doença.
É mais uma amiga da geração anterior que desaparece. Vão
começando a escassear os poucos que ainda navegam aos empurrões, por cá.Nos últimos contactos tidos com a Cina, a propósito da doença da Zida, admirava a firmeza da sua convicção,que me parecia alicerçada numa fé inquestionável. Eu ficava amargurado se por acaso lhe dava nota da insinceridade com que amargamente lhe queria demonstrar que também ainda «acreditava», quando o certo é que nunca acreditei desde o primeiro dia.
Mas a verdade é que nunca sabemos quando somos sinceros nesta vida do faz de conta. Eu talvez nunca o seja. Custa-me dizê-lo : mas é a verdade.
Porque continuadamente dá-me a impressão que sou outro, que penso como outro, que vejo a vida como outro.
Olho para o que se passa á minha volta e vejo-me mero espectador de um espectáculo para que não paguei.
A Cina sempre me pareceu uma rapariga que amava demasiadamente a vida.
Não sei onde li um dia qualquer, um poeta dizer que se se amou qualquer coisa, pode bem morrer-se. Estas poetas são de um lirismo confrangedor.
Eu que não sou – nem quereria ser – poeta, digo o contrário: quem assim ama a vida, não tem dia para morrer. Nunca!
E assim vai aqui mais um intervalo doloroso da minha vida. Não por ser uma pessoa muito chegada à Cina ; mas porque me custa ver morrer quem não merece.
Desapoquento-me escrevendo isto. Se eu tivesse fá zangava-me
com Deus. Como não tenho, fico-me : – cansado de descrença.
SF
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