A «ílhava» – Parte II
As visitas tinham um ponto muito
curioso. Quando lá chegávamos, já a Etelvina Almeida, uma interessada e
excelente fotógrafa – e mais do que isso (!) uma amante das vivências da Ria –
por lá cirandava, alcandorada ao escadote ou metida pelos recantos da
embarcação, procurando o melhor ângulo, a «disparar» para registar todos os
pontos da execução do projecto (as suas fotografias, em boa hora expostas no
MMI, são preciosas).
Ora uma das fotos despertou-me a
curiosidade. Atente-se …
Esta perspectiva recorda a lenda
que já insistentemente referi noutros locais. Numa visita Viking, os temíveis
nórdicos, no sentido de libertar uma princesa do clã, cativa lá bem para
montante do rio, teriam construído, aqui,
embarcações pequenas de fundo chato bicudas
nos extremos para poderem navegar nos rios estreitos, nos dois sentidos
(etc…etc.)
Esta feliz imagem não pode deixar
de nos trazer à memória a tal lenda. Então não está ali criada a ilusão de
estarmos perante um pequeno «Knarr» de fundo chato?
Pode dizer-se que a construção
decorreu em ritmo acelerado.
A feitura da vela, cujo plano era
um pouco diferente das velas actuais, levantou ligeira preocupação.
Desapareceram, praticamente, todos os mestres veleiros. Foi então lembrado o
Marco Silva, arrais da Xávega da Torreira, uma excelente personagem que tem
velejado no moliceiro da Junta de
Freguesia de S. Salvador. Um campeão nato. Desafiado no seu Armazém à borda do
mar pela AML, logo ele, auxiliado pela esposa, se agarraram aos planos
fornecidos e, na garagem, iniciaram a feitura. Difícil hoje encontrar pano (10 ou
semelhante) para a execução, como nos tempos antigos. Houve, assim, que
aproveitar pano de duas outras velas de bateira.
E mesmo assim, a vela da «ílhava» ficou sem menos uma teada do que se pretendia.
Tal facto fez-me concordar com a montagem do calcador. Creio (ou estou certo) que a vela de pendão inicial das «ílhavas» não tinha calcador, pois armavam na amura de barlavento. Claro que houve evolução, e as últimas tinham já velas tipo das desenvolvidas nos moliceiros (sei-o bem!)
Tal facto fez-me concordar com a montagem do calcador. Creio (ou estou certo) que a vela de pendão inicial das «ílhavas» não tinha calcador, pois armavam na amura de barlavento. Claro que houve evolução, e as últimas tinham já velas tipo das desenvolvidas nos moliceiros (sei-o bem!)
Dado que nesta embarcação não
existia o varão para a escota, porque
tal atrapalharia a manobra da rede (e porque a vela era apenas para deslocação
aos largos), a mesma manobrava através de dois furos abertos na borda a ré.
Admito que a posição desses furos, depois de armada a vela, reflecte que, para
boa manobra do leme de xarolo (gualdropes),
os mesmos deveriam avançar cerca de 20 cm. Coisa sem grande importância.
Claro que a Sala da Ria é exígua
para a quantidade de embarcações que alberga. Mas isso é um outro problema.
E volto à ideia que venho
defendendo desde há muito. A criação, num outro local (e nenhum será melhor que
a Costa-Nova) para aí implantar, um simples mas folgado Museu da Ria e da Xávega, onde se incluísse a exposição de todas as
artes inventadas e usadas na Laguna. Já imaginaram o plano (turístico) de
visita museológica aos três Museus: da Ria, MMI, e VA, feito sobre água, com
programa de entretenimento (Palácio VA) apelativo?
Ora…ora. Temos os diamantes e não
sabemos, é, vendê-los.
Estou a terminar (depois de longo
tempo) o II Vol. das Embarcações Lagunares. Agora no capítulo
das Bateiras. Trato nesse livro, uma a uma, em 2D. Mandei fazer modelos à escala,
de todas. E depois, desenhei-as todas em 3D. Mas não satisfeito, atirei-me a tratar de todas as «artes» de pesca
lagunares. UfaA!!!!!. Recuperá-las, desenhá-las, descrevê-las, também elas
para memória futura, já que a maior parte desapareceu, e de algumas ter
sido mesmo difícil encontrar referências
exactas : nem Vos digo! Consegui a sua reprodução a uma escala dessas artes, para
apreciação visual concreta.
Assim, a Laguna é o único meio
geográfico, em que todos os tipos de embarcações tradicionais que nela
trabalharam, ou navegaram, estão, completa e rigorosamente recuperadas, para
memória futura. É minha intenção oferecer todos os modelos e Planos (e seus
direitos) ao MMI.
(CONT).
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