A «ílhava» - Parte III
Tenho sido interrogado com alguma insistência, sobre se a «ílhava»
ia por mar para Lisboa (?). Creio que a leitura de algumas referências trapalhonas,
pouco assertivas (quase nunca!), cheias de confusão e certa ignorância, têm permitido
a duvida.
É do conhecimento, registo, e até fotos, a construção na
Laguna de «Varinos», «Barcos de Água Acima», «Fragatas» e «Enviadas»[1],
na área Lagunar. As quais eram levadas para Lisboa, na chamada aventura de
«varar o mar» de que há muitas (e excelentes!) referências. Eram embarcações de
tonelagem já elevada, embarcações quase fechadas, de borda alta, de 40, 60, 80,
até 120 ton. (leia-se tonéis)
Enviada (Gravura Ilustração Portuguesa -Diniz Gomes)
Era nestas embarcações que se aproveitava para carregar
lenha, sal, peixe… e claro as bateiras
abertas, embaratecendo o frete. Nestas e nas de cabotagem…e até nos lugres do bacalhau. Há até
fotografias de um Varino carregado com duas bateiras no seu tombadilho.
Varino com duas bateiras
A ílhava era uma
embarcação de baixo pontal (60 /70 cm). Frágil e completamente aberta.Sem
qualquer reforço longitudinal. Os «ílhavos» eram gente irredutível que só
tinham medo do santo cair do altar. Mas não eram loucos…
Por outro lado a capacidade real (de segurança) de carga da «ílhava» não ultrapassaria as 2,5
a 3 toneladas. Não confundir esta com a arqueação, coisa como sabem, os que da
matéria mais do que a simples Wikipédia, é coisa bem diferente. Se nem lastradas
quanto mais carregadas com 5 toneladas ????????
Por isso embora pudesse admitir que nas idas para o Douro, a
viagem pudesse ser feita por mar, não
há um único registo que prove a loucura de a levar até Lisboa.
Esta é a minha convicção…. A convicção de quem preparou a
viagem de um «moliceiro» a Lisboa… mas concluiu pela loucura inconsciente de
tal aventura (ainda que acompanhada, em viagem de conserva) .
A outra hipótese é boa
para urdir lendas… tão só.Bem, concluindo:
Ílhavo começou a
contar a sua história pelo princípio (que nada tem a ver com o seu (embora) bonito, mas
delirante Brasão).
O MMI, os AMMI, todos os que viveram este projecto, estão,
pois, de parabéns. Agradeço a oportunidade que me deram de comprovar que estava
certo. O que nem sempre sucede a quem pede demasiado à vida e vê muitos
projectos seus, mortos e enterrados na gaveta. Nas felicitações destaco o mestre
Esteves que não me desiludiu (bem pelo contrario) a família Marco ( e
desembaraço e paixão da mulher e filhos, por estas coisas, e o entusiasmo e
qualidade de trabalho fotográfico da Etelvina Almeida. A AML foi boa companheira de jorna,e creio
que para ela foi uma boa fonte de aprendizagem, com os constante s apontamentos e
registos, feitos. Do Cap. Marques da Silva já falei acima. Simplesmente
impecável. E por fim o entusiamo do Presidente dos AMMI que viveu a o «feito».
Agora que todos se agarrem à matéria e corrijam, melhorem, ou
refaçam, o que outros até aqui fizeram.
Levem-se por mim: há sempre a possibilidade de melhorar os
nossos conhecimentos. Façam-no!
SF
[1]
A palavra «enviada» foi confundida generalizando-se a qualquer embarcação ida
da Laguna. Mas «enviada» era no Tejo um tipo próprio de embarcação, barco
redondo de quilha, e vela bastarda.
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