Caros amigos
Minhas Senhoras
Meus Senhores
Autor
E de novo -e cria-me eu já afastado destas andanças-, a voz serena, pausada, mas sempre algo
imperativa, de Valdemar Aveiro - tique que lhe vem da fundura dos tempos
desarcados de chefia marinheira -, chamou por mim
-
João tens de voltar de novo ao lanço
.
Traduzindo…
Com este ir à rede queria o Valdemar que eu lhe
desatasse a bossa da coada - ano caso este
seu último livro -«Ecos do Grande Norte-
o último da quadriologia de
uma quase
auto biografia - que decorre nos tempos em que andou a procurar «ecos» nas
profundezas do mar longínquo. Profissão abraçada ,que desempenhou dum modo profícuo e onde atingiu relevante posição. A fadiga provocada pela vultuosidade
da mesma, enquanto nela envolvido, pouco lhe deixou - de tempo e disposição - para a contar com lucidez quando pousou o
saco no cais, definitivamente. Mas e também,talvez porque, nestas questões de
evocar o passado, conveniente é dar
resguardo avisado - como se diz na
gíria marinheira -que o mesmo é dizer, guardar a necessária distância aos
acontecimentos, para deles ter uma visão mais límpida, transparente e cristalina, expurgados, entretanto, dos vícios
de uma avaliação próxima. E só há um par
de anos,Valdemar começou a escrever sobre esses tempos.
Debruçar-nos, agora, em
sua companhia , navegando pelos meandros dos quatro livros dados à estampa , é
ter o privilégio de penetrar em parte na biografia do homem - pescador, que aceitando o mando do destino, foi o autor de
um dos mais bem recheados capítulos da luta incessante do homem pescador com esse mar longínquo, inquieto e por vezes
desmedido.
Não me podia negar à nova ordem, agora recebida
!
Longe
disso. Que não é meu feitio borregar às tarefas solicitadas por amigos . O pedido
de um amigo é uma ordem a satisfazer com todo o gosto - direi mesmo
reverencialmente - ainda que para o seu
cumprimento tenha parca qualificação. Principalmente para adequado, elegante e
eloquente, sermonário, o que é o caso, quando se fala de personagem singular.E
Valdemar é-o indubitavelmente.
Cumpro-a, pois..... e desde
logo porque me apraz publicamente agradecer ao autor o seu contributo - precioso
contributo diga-se desde logo ! - para as páginas da Epopeia que as Gentes da minha Terra ousaram escrever
naquela que foi sua opção assumida,
cumprida em ousio que lhes vem de longe.
Quase de tão longe como o seu registo baptismal de 1037.
Faço-o, sabendo o risco
de comparação que a minha entibiada exposição sofrerá, no confronto com os seus
anteriores apresentadores
Fico-me pois pela única pretensão - dera que a consiga ! - de deixar
um apontamento - naturalmente fugaz -, sobre a personalidade, o carácter e o
traço, que enformam a figura humana de Valdemar Aveiro.E abordar ,como não
poderia deixar de ser ,do seu ultimo livro.
A personalidade do autor está bem patente no conjunto de normas de
conduta que exibiu ao longo do seu fadário. Provenientes umas da
hereditariedade, outras colhidas no exercício da sua exigente profissão.
Poderemos desde logo afirmar, sem temer desmentido, que estamos perante uma
personalidade rica no seu todo.Una e coerente - no estilo e no modo de pensar/,
no sentir e no actuar/, no identificar e se comportar/. O Valdemar - pouco ou
nada esconde .Lê-se no seu rosto, com
extrema facilidade, o que lhe vai no interior da alma. O rosto, é nele, uma
demonstração viva das paisagens que lhe povoam os sentimentos interiores. E por
isso nos é fácil descortinar em Valdemar a paixão, o desagrado, a ternura - e
também a irritação - na escancarada exterioridade da sua «interioridade».
O
carácter de Valdemar foi-se elaborando ao longo da vida, como resultado das
influências psicológicas, sociais e culturais, que sobre ele desabaram. Poder-se-ia
aqui, antever uma dificuldade. O hermetismo da profissão, o distanciamento dos uma
cultura viva,presente, eram - como o foram para uma maioria dos colegas de
profissão - um terrível e redutor anátema a sobrelevar. Mas o Valdemar soube
suplantar esse distanciamento inerente à profissão Estamos perante um ser dialogante por excelência, introspectivo,
próximo, que convence por via da persuasão de onde lhe provém a
necessária autoridade. Essência primária para o cabal desempenho da sua missão
- no seu caso obtida mais pela via do
consentimento dos mandados, do que por
imposição a qualquer preço.
Culturalmente, soube
munir-se - em quantidade e qualidade possíveis - de leituras fundamentais que lhe permitiram compensar o afastamento forçado de
outras alternativas .Passíveis de o enformarem
mais facilmente, mas talvez não tão solidamente. Terá lido muito.Mas mais importante : - sobre o que leu,
exerceu o acto de pensar, avaliar e reflectir.
Fixemo-nos um pouco
sobre o traço - ou se assim
quiserdes - na postura previsível em Valdemar Aveiro. Ao navegar pelos seus livros, apercebemo-nos estar perante uma figura constante, segura, arredia
de imprevisibilidade,
respondendo de igual modo - com o mesmo tipo comportamental - a situações de
estímulo diferenciadas. Pela via da
Caros amigos :
Reafirmada a minha pouca
destreza para tamanha tarefa, resta-me o brio de bem fazer. Tentarei que a
neblina da minha disartria se não transforme em névoa cerrada, negra e túmida, capaz
de impedir a expectante assistência de divisar o posicionamento de Valdemar
Aveiro, mergulhado numa vida de «excessos humanos» que, no dizer de Valdemar
Aveiro é «cruzada de nómadas feita em todos os sentidos, num deserto infinito
onde o vento arrasta um hálito salgado, espécie de espuma amarga que tudo pica
e queima» .
Desde logo situemos o
autor, no espaço geográfico e no tempo, sem o que, o retrato «à la mimuta» ficará irreconhecível.
Mesmo que ele próprio não
tivesse expresso nas primeiras linhas do seu «80 Graus Norte» a assumpção da
sua condição de um «ílhavo» - aqui nascido e criado ,pelo menos até á juventude,
tendo por isso tempo bastante para lhe beber
da seiva identificadora -por diversas vezes ao longo da sua obra, Valdemar exibe com orgulho os galardões da sua origem natal. Já lá vão quase
oito décadas, quando para os lados da Rua
Nova, num esconso beco- um dos muitos
capilares que alimentam as veias daquele povoado e onde se amontoavam as gentes
humildes - pescadores, sardinheiros e marnotos - que Samuel e Maria Aveiro,
gentios iguais, viram chegar o seu
rapazelho.
Ele é pois por nascimento
:um «ílhavo» .E até diremos: se há figura que tão cabalmente se enquadre nos
tiques que configuram esse perfil de gente inquieta, obstinada e saltitante,
gente inconformada com o destino, obcecada com a pretensão de o subverter a seu
favor, o Valdemar é incontestavelmente o protótipo fiel de um deles. Um «ílhavo»
no ser e modo de estar. No carácter, no traço e no temperamento.
Valdemar quando no berço,
quiçá simples canastra desempachada para o aconchegar - berço pobre na farpela,
mas milionário nos afectos - aspirou o primeiro perfume evolado do salgado da
mar: a chamada maresia. Aroma doce/acre, com salsugem misturada, estonteante e
penetrante, verdadeiro consolo para alma
e remedeio para o corpo - prodigamente espargido pela natureza sobre a terra
que lhe abriu os braços.
E no ensaio dos primeiros
tropeções pelos becos nascidos ao desbarato das ruelas da vila, foi contactando
com as gentes da terra. Gentes, filhos de outras gentes, que há séculos vinham escrevendo laudas imensas
onde se amontoavam golpes de arrojo e
audácia, para suster o endemoniado
rancor, e a gana danada desse mar, quebrando-lhe a ira dos seus estrambotos.
Então - ele o diz num dos seus escritos - reparou, desde logo muito cedo, naquelas figuras simples, que com o cestito do conduto no
porta bagagens das bicicletas, lá iam para o apresto dos seus lugres : - que a
hora de largar se aproximava.
Inevitável que não ousasse sonhar ser um
daqueles.
Os miúdos desse Ílhavo do
passado, «começavam bem cedo a sentir a
nostalgia dos carinhos, a tortura dos abandonos - espécie de exílio onde a
saudade e as lágrimas alternavam com a fome e a luta pela vida», acolhendo-se
ao chamamento, qual cantilena soprada em búzio perdido nas lonjuras do mar, por
onde andavam os seus, encavalitados no
dorso hercúleo das ondas,E para junto dos quais pretendiam partir. O desafio
era conto e chamamento, oferta e encantamento, a que só uns poucos logravam
escapar.
Mas para isso acontecer,
Valdemar foi obrigado a tragar do pão azedo que as mãos do diabo amassou. E é
dessas suadas etapas que nos foi dando conta , ao referir as suas habilidades
de tosquiador de arraia miúda - no Jaquim Panela. Já que na terra, os Srs.
Capitães tinham barbeiro adequado ao seu estatuto de classe distinta - O
Leopoldo ; e logo o vemos
largar a tesoura, trocando-a pelo malho com que se exercita a bater o
duro ferro na bigorna, malhadelas de
onde certamente lhe terá vindo o exemplo de tenacidade, que tão útil lhe foi
p’ra vida. Mas o ensaio para ser homem, ainda lhe exigiria maior tributo,
saldado na tarefa de ajudante de pedreiro. E terá sido aí que intui que a
construção é tanto mais segura, quanto mais sólida for a sua base de apoio,
facto sobre que, atentamente, reflecte. Aquele tirocínio esfalfante, exsudado,
principio penoso de vida na idade em que outros mais bafejados aproveitavam
para, despreocupadamente, dar uns chutos na trapeira, foram, no dizer do autor,
«amadurecimento para, chegada a idade dos
quinze anos seguir ao encontro» da chamada, e lhe dar idêntica resposta, a
mesma que os seus anteriores - seus avós - tinham eles, também assumido.
E em um dos seus
quadrigêmeos , acompanhamo-lo moço de Câmara e do Convés, embarcado no Lugre
Viriato, um daqueles tradicionais lugres, palco privilegiado de actos de
destemor demente, sem os quais a Faina Maior não teria passado, de um menor
e «vulgus» acontecimento. E o que vamos
descortinar no moço auto-biografado - que julgamos merecedor de maior realçe -
é a sua insinuação junto do Senhor
Imediato, que, perspicaz, certamente não deixou de notar «o frenesim com que o
rapazito se atirava, terminada a tarefa na ré - limpa a mesa, levantados as malgas da chora, e aconchegadas as
cobertas dos beliches para onde na mor das vezes os senhores oficiais se
arremessavam para umas breves horas de descanso, extenuados, enfarpelados e com
as botifarras apegadas aos pés, - lesto e solícito, afadigado, a cumprir as
pesadas tarefas do convés, no trote, na escolha de cabeças e fígados, a baldear
etc. etc . Tal entrega não enganava o atento imediato, permitindo-lhe a premonição
certeira de ver no mocito, matéria prima suficiente para dela enformar um
futuro oficial da pesca. E não deixava mesmo de sentir, curiosidade pela
apetência do fedelho para a leitura dos livros, que esquecidos na prateleira
aguardavam os dias de capa à vagalhoça onde sobraria tempo - se disposição houvesse - para lhe pôr os olhos
em cima.
Foi tempo de o autor nos
fazer perceber que o «moço do Viriato» -
já então - não teria muitas dúvidas sobre o rumo que queria dar à vida.
Cada vez se lhe desenhava com mais nitidez no espírito, sem tibiezas, o desejo
- o sonho ! - de atingir o oficialato. Essa iria ser - posto o saco no cais - a
próxima etapa da sua vida
Passados que foram meia
dúzia de anos em que de um modo sôfrego acumulou os anos lectivos que lhe deram
acesso à Escola Náutica, eis que sobe
de novo a escada do portaló para se apresentar no Santa Mafalda, agora já,
praticante de Oficial. Desígnio cumprido, é chegada a hora da afirmação ; o
estatuto era agora, outro já. Só lhe restava queimar as etapas em aprendizagem
atenta para, quando chegada a hora, concretizar o que desde há muito
ambicionava.
Mas agora, a sua
proveniência de gentes sem recursos, sem recomendações ou conhecimentos que o
ajudassem, sem hissope bispal a espargir a sua entrada no Clube dos maiorais,
tal falta - temia Valdemar um pouco complexadamente, então -, poder-lhe-ia ser
perniciosa para uma afirmação, que ele queria fosse meteórica, ou pelo menos
inusual, jeito com que se habituara a olhar a vida. Porque o Valdemar não queria,
simplesmente - e só ! - afirmar-se. Não!!!, o Valdemar, agora, queria
satisfazer a ambição, de não ser - apenas e só, mais um -, mas, ser um -
DIFERENTE.
E um dia,sonhando com o eldorado em outras bandas,ei-lo
emigrante. E como emigrante sofreu as agruras bastantes,para, desiludido,
regressar. E pegando de novo no saco de
viagem, volta aos mares do Norte, disposto a vencer.Teve de vencer ingratidões
que nunca perdoará.Que homem que se não sente...não é filho de boa gente.e o Ti
Samuel Aveiro,era-o.
.Mas recebeu também
afecto, de quem o queria de volta.E mais umas viagens, e chegaria o dia em que
na ponte do «St Joana», já capitão, deu a ordem: larga a rede....
E fui um pulinho de
tempo, o suficiente para um dia dar um salto para o navio da sua vida: o
excelente «Coimbra». No Coimbra abriu o livro ...e deu a lição de cátedra.
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Terminados o vai-vem das
viagens, esfalfado por tão desarcada vida, é chegado o tempo de o autor conviver
com as saudades - mas e também -com os fantasmas que sempre perduram da mesma. Fantasmas
que regressados à memória no rebobinar do filme, se projectam agora com mais
nitidez e nos deixam (por vezes) estarrecidos - ou pelo menos resfriados - quando
intuímos que as coisas se poderiam ter passado
de outra forma bem diferente. É que mesmo os melhores itinerários
pessoais não estão imunes a escolhos pontualmente neles semeados.
É tempo para avaliação
distanciada, em exorcismo de consciência inquieta na procura da verdade e da
compreensão do que fomos, e porque o fomos. Para uns, avaliação intima guardada
a sete chaves no mais profundo da consciência. Para outros - felizmente é o
caso do autor - dando-nos o prazer de partilhar as suas vivências e experiências,
transmitindo-as com rara sensibilidade, a que acrescenta apreciável garridice.
Como ele próprio afirma, insuflando
vida nas recordações arquivadas, para
projectar no futuro um sonho do passado.
O que fomos, é, sempre ao
fim e ao cabo, um produto das circunstâncias. E Valdemar não se esquivou a
muitas várias com que
sucessivamente foi deparando.
O autor neste ultimo recordar, neste livro dos« Ecos do Grande
Norte», traz consigo e no-las oferece, figuras circunstanciais, algumas mesmo
marginais, projectando-as em curiosa dimensão humana, mesmo quando dá relevo aos
seus menos adequados padrões sociais, ou até enaltecendo, pontualmente,
pequenas desvirtudes virtuosas da sua
fraqueza..
Sem dúvida ! : - estamos perante
um assumido romântico da escrita. Estamos
indubitavelmente e desde logo, perante um grande contador de estórias, não sei
se algo gongórico por vezes,talvez um pouco indisciplinado - o que é estranho em quem se afirmou pelo
oposto - mas, acima de tudo, afirmando-se
como um
cerzidor de páginas escritas de
elevado cunho humanista.
Meus Amigos:
Senhoras e Senhores :
É verdade- reconheço-o
facilmente-que este ultimo livro não tem o fulgor épico do «80 Graus Norte», onde existia um capitulo IX
bem ao jeito dos Lusiades, preenchido com longas e pitorescas - e apimentadas !
- estórias, contadas no jeito muito peculiar, muito próprio e inconfundível do
autor. Em St Jonhs, onde a costa faz uma enseada curva, e as águas amansam, ainda
o navio não passaria amarras, já os olhos gulosos e o desejo incendiado, procuram
no cais de St. John’s - e aqui peço licença
a V Exªs para citar o poeta - “por
entre ramos de várias cores… lã fina e seda diferente, que mais incite a força
dos amores …fazendo-se por arte mais fermosas. De uma os cabelos louros de ouro
o vento leva”
O curioso é que Valdemar,aí,
na sua descrição da caçada às ninfas (Betty, Milicento, Carol’s e Mary’s,
Ramonas, etc.), mais nos parece - e
volto a socorrer-me do vate –
Cão caçador, sagaz e ardido.
Que Salta na água e da presa não duvida
Nadando vai e latindo …
Oh que famintos beijos
Que afagos tão suaves ! Que ira honesta !
com mil refrescos e manjares,
vinhos
e odoríferas vitualhas
os
esperarem as ninfas amorosas de amor
feridas
para lhes entregarem ,quanto delas os olhos cobiçam.
Contador exímio, insinuante
conversador, sagaz apreciador do belo feminino, o Valdemar - acreditem - é
daqueles que «o que com cem olhos vê …o
que vê, com mil bocas apregoa»
Meu caro Valdemar :
Parafraseando o nosso
comum amigo Paradela :
-
Ah meu gande malandro. Julgavas que eu não te lia com a atenção suficiente para
não perceber de que chegada a hora, até o Capitão se atirava vestido e calçado,
“a matar na água o fogo que nele ardia”!.. como diz o poeta ?...
Meus Senhores
Minhas Senhoras
Detenhamo-nos ainda então
no livro, «Ecos do Grande Norte».
Não ousarei dizer que é,pois
o melhor Longe disso. Mas é claramente um remate dos anteriores, talvez uma
busca de algo que teria sido esquecido na «sacada» virada dos anteriores.
Os livros de Valdemar são como uma pescaria, em que nó a nó, se ata a
rede,e malha a malha se vai construindo, para «caçar» os seus leitores. E que
boa sacada já tem dos ditos. A rede que tece, como nas pescarias, tem
cortiça(boias) que a faz nadar em cima, e chumbada (ou bolas) que a faz
mergulhar para os fundos. Valdemar manuseia com mestria a dita;
as ideias próprias que deposita nos seus livros vai Valdemar
buscá-las ao entendimento.
as alheias vai buscá-las
à memória.
E assim os seus livros têm
peixe miúdo- é facto- quase sempre fêmea(leve), misturado com peixe grosso(pesado)
das profundeza do Mar do Norte. Caçando á superfície, desfia com mestria as estórias
dos outros, apimentando-as,recheando-as,
como diz, não de miolo mas salsicha
esfomeada, dando-lhe um paladar mais apetecível. Entrando no peixe grosso, percorre as
«beiradas» da profissão, e desfia a sua dureza , a inclemência do tempo,o cavado
dos seus vagalhões, os ajustes e
desajustes entre caçadores. E até com
ironia distingue aqueles que caçam nas
profundezas, e «uns» outros que só caçam no restolho,
onde outros já encharcaram. E semeia o tenebroso espectro do Ku Klux Clan. Numa
frèchada dirigida a quem não aprecia, ou a quem lhe mordeu os calcanhares.
Há clareza nos livros de
Waldemar.E isso é o mais importante.
Disse-nos P António
Vieira que o importante é a clareza da escrita, mais do que o seu classicismo. Na
escrita, aquele tratador supremo da escrita portuguesas, esclarece:
Há que pregar uma só matéria, há que defini-la para que se conheça, há que
dividi-la para que se distinga, há que prová-la... declará-la com a razão, há que confirmá-la com
o exemplo.....e depois há que concluir ,persuadir e convencer.
Creio que nos seus livros, em grande parte, Valdemar caminhou pelas veredas do Mestre.
Mas no livro «Ecos do
Grande Norte» há ainda espaço para uma homenagem final. Havia in illo tempore muitos e bons «caçadores» dos bacalhaus .Mas o
humanoide tem sempre a tendência de selecionar, onde e com quem quer estar. E
Valdemar foi buscar dois virtuosos da pescaria para os colocar na sua
«capelinha»: um á sua esquerda, e outro à sua direita.
Um o David Càlão. Todos
que conheceram o Cap.David, subscrevem inteiramente-não me enganarei porque já
o ouvi de tantas bocas dos colegas- o que Valdemar dele diz: um homem
bom,dialogante, calmo na reacções, amigo do seu amigo, homem de palavra, e um
excepcional capitão marinheiro.
E à direita coloca
Joaquim Bela. Meu parente «Ronca». E como todos os «roncas», homem simples. De
uma alegria contagiante, predisposto ao lance de risco, bom marinheiro.
Não terá sido certamente
fácil, a escolha. Mas bem acertada,disso não tenho duvida.
Obrigado Valdemar Aveiro
por no-las trazeres à memória ingrata.
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