domingo, novembro 15, 2015



AVISO : este Blog contém matéria que pode ferir susceptibilidades a senhoras virgoleiras
                o autor


 Do João da Ega, da saga dos Maias,cpersonagem rica,com quem me envolvi de perto, no último livro «Os Maias na Costa-Nova» recebi esta carinhosa missiva:

Mon chèri ami:

Venho agrdecer o postal que me enviou desse altar que a natureza criou, para que os homens  fizessem da viagem experimental,que é a vida,um hino ao espírito.Da janela do palacete dos Pinto Basto,ao admirar o nascer do sol,graimpando lá das seranias,parecia -me, a mim, pobre mortal, que vivia muito mais intensamente,ao fazer parte desse acordar  esplêndido a provocar  o bulício de tudo quanto ,pousado ou adormecido na Laguna parecia acordar..
Sempre que aprouver, faça -me renascer «do Ega» que anda aqui,novamente, perdido, cumprindo a sina com que nos carimbou o nosso criador, Eça de Queiroz.
À bien tôt...

João da Ega
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------E Porque hoje é domingo,resolvi responder ao meu caro Ega

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Caro Mon ami João da Ega

Os meus efusivos cumprimentos, que solicito transmita com intensidade ao nosso comum amigo Carlos da Maia.
Venho dar -lhe conta de que resolvi renovar a V estadia aqui.E envolvê-los de novo numa nova, aventura e estadia,entre nós.

Para adoçar os dias e lhe relembrar  os tempos aqui passados, envio-lhe  um novo postal das suas conhecidas, Tibéria e Josefa, que ajudaram a lhe adoçar -eu não sou de bisbilhotices,descanse!-os dias aqui passados.
Até sempre.
Senos da Fonseca

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Postal da Costa-Nova                                     



 O que valeu ao «Cantigas»  é que  o raio do canário …era canária….

Intriguei-me nestes últimos dias, de nunca mais ter posto,a vista, à  Tibéria e à  Josefa, que como  por encanto desapareceram do mapa. Afinal, nesta ultima  segunda-feira,  novo encontro.  E fiquei a saber porque se eclipsaram: peixeiras na  praça ,esta fecha às segundas. E é  só neste dia que elas vêm desenferrujar as pernas.
  Senhor :dantes era uma fona .Daqui p´ra Ibalho,fazer a venda e voltar  pela noitinha ,derreadas, esgalfas ,mais tesas que o carapau ressequido que não tivera freguesa..Aí sim (!) é que estas perninhas que agora parecem mijadas(com sua licença) eram roliças ,duras e torneadinhas. Ai do zamparilho que se astrevesse a meter-se no meio delas.
-Era assim, era…. ajunta a Zefa. Às vezes, era já noitinha, e o que valia era que aquele caniné do Labareda nos esperava .Até  que todo o pessoal arribasse à Maluca, feita a venda na Vila..
-Atão hoje não têm nenhuma estória para me contar? interroguei eu…a meter cunfia.
-Crédo ,você parece q’ué bruxo .Olhe!...vinha agora a lembrar com a Zefa da história da  Pauseira «Canária», que era uma savelha   de se lhe tirar o chapéu. Mulher danada, de sim ò sopas. Mulher de ou  fora ou adentro a meio é que se não podia ficar.
-Conte lá Ti Tibéria….conte raios que sou todo  interessado.
E a Zefa não se fez rogada.
- A  Pauseira tinha na sua casinha, ali nas dunas, um canário que estimava muito. O raio do pássaro , um dia apareceu esmorecido .Parecia que tinha lançado um grapelim  ao trapiche  e de lá não saia,nem para molhar o bico. E pior : nem piava.O  estipor do canário,dizia o Luis «Cantigas»,o  serrazina do home da Pauseira: -dá-lhe uma «passarinha»a ver se o bicho desperta. Olha : o que o  bicho tem, é falta da «passarinha». T’ asseguro.
-Pois, quem não tem falta da passarinha és tu, «Cantigas» .Há benícias que nem lhe pões a vista em cima. A vista e o resto,raios, diz inquisilenta a Pauseira ao seu homem. P’ra ti esconjurado,«passarinha é o garrafão do tinto. Ora vai-te,que eu tenho mais  que fazer c’abanar o traseiro.
«O Cantigas» lá foi a resmungar  para a vida. A «Pauseira ficou a fazer horas para ir p’rà escorcha, aproveitando para fazer  um caldo de conduto para a ceia. A meio da manhã batem ao «portaló».
-Quem bate? E o que quer ,diz ao tempo que abre a portinhola. Cá fora, especado, o Arnaldo «Mijinhas», uma espécie de botadinho à parte, atrapalhado e nervoso, diz à Ti  Pauseira:
-O Ti Luis mandou-me aqui ,dizendo para  Vossemecê me dar «passarinha» que ele não teve tempo de lhe pôr a boca em cima.
-O Luis mandou-te mesmo ,para eu te dar a «passarinha»? Ai ele quer mesmo enfeite? Anda cá filho,que eu dou-te a dita. E agarrando o «Fininho» puxou-o a si com força, atirando-o para o catre disposta a cumprir ordens, que  Capitão manda imediato obedece.
Só que o Arnaldo pouco dado a empostas do género ,incapaz de ciar em mar tão encapelado  ,fixou com pavor à trabuzana que para ele representava  a Pauseira , e  espavorido,  dá de se libertar do corpo da fera desembolada ,escapulindo-se  ao lancão  d’alentada mulheraça.
À noitinha ,quando o Luís «Cantigas» voltou da faina,a Pauseira não esteve com meias palavras:
-Olha lá ó seu  zamparilho, atão tu agora já não te satisfazes com a «passarinha», e mandas substitutos p’rà   aconchegar?
-C’a estás tu pra aí a xanar, raios? Eu mandei o «Fininho» buscar o garrafão de vinho. A que tu chamas «passarinha», homessa (?!).
-Homessa (!) digo eu ; o que te vale é que  o raio do canário é canária. Senão a estas horas  estavas mais enfeitado que o manso do  boi  amarelo do abegoeiro Ti Aparício.
-À ganda  Ti Zefa.  Vamos lá acabar a voltinha, que para a semana vossemecê  conta-me outra. Combinado, remato eu  bardaleiro ?
-Pois atão .Se lhe der volta, apareça lá pela praça .Há lá bom peixe. O que está a dar ,agora, é  a chaputa» .De entupir uma jàja.   Olhe!...mande notícias aquele bem disposto Ega que por aqui lavrou no rego....
-No rêgo dizas tu... Zefa, que no meu nem chincou...
SF

 (foto Rosa M.Vital)

1 comentário:

zita leall disse...

É sempre um bem precioso que nos entra pala porta, melhor dizendo pelo gmail Obrigada, amigo, e mande sempre.. Aquele abraço feliz por ser domingo con meneios de Tibéria e Josefa. Zita

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...