A Festa
do S.Pedro vira Sr Jesus dos Navegantes
A Festa de S. Pedro, a partir de
uma determinada data que não se consegue fixar com exactidão, passa a ter a
designação de Festa do Senhor Jesus dos Navegantes e de S. Sebastião. Admitimos
que tal tenha acontecido por meados do século XIX, ideia que sustentamos no
facto de, por volta de 1840, nas notas do conselheiro José Ferreira da Cunha,
este nos falar numa altercação surgida entre juízes da festa, motivada pela
pretensão da substituição do anteriormente referido barquinho, por um outro, já
não de pesca mas do tipo veleiro; nesse ano teria estado em risco a realização
da festa. Felizmente, a questão foi ultrapassada mas seria um primeiro sinal de
que algo estaria para mudar. Algo que viria a acontecer, pois, a partir de
determinada data, o barco do andor do Salvador é já um veleiro do alto. Em 30
de Junho de 1865, podemos encontrar, inscritas no livro do priorado, despesas
certamente referentes a 1864, no valor de 16$000 reis, com a festa que toma, já
então nessa data, a designação de Festa do Senhor Jesus dos Mareantes e de S.
Sebastião. Apesar de parecer uma simples mudança a designação de um novo orago
para festejo popular, essa situação reflecte, a nosso ver, uma alteração
profunda que se fez sentir no tecido social da vila, o que nos parece importante
assinalar, pois a mesma é fruto de uma mudança (verificada) no perfil do
pescador, quando este se transforma em mareante, deixando, por isso, a borda do
mar para nele se engolfar profundamente.
Este mareante pretende demarcar-se do seu antecessor, o pescador, porque, assumindo-se como homem do mar mas com outras vistas, com outras larguezas, com outras ambições, senhor de um novo desígnio; ambiciona, desse modo, ganhar estatuto social que os seus anteriores sempre desprezaram, e até posição preponderante na vila, uma vez que a sua situação económica se pode já comparar à classe alta da comunidade. Nesse tempo – meados do século XIX – o ílhavo tinha já deixado para trás os areais da Costa-Nova, decidido a assumir o desígnio de altieiro que daí em diante lhe marcaria o destino. Cumpriu-o a percorrer, infatigável e irrequieto, todos os mares deste mundo, conhecendo novas terras e novas gentes, enleado na descoberta surpreendente das novas paragens, deixando para trás, a substituí-lo na borda do mar, o gafanhão que desceria à praia levando consigo os bois da lavra, emprestando à faina um aspecto rural, uma lavra do areal. A festa em Ílhavo, a S. Pedro, já não fazia sentido ser realizada pelas novas Companhas na vila, uma vez que já teriam a sua festa, a da N.ª Sr.ª da Saúde, na Costa-Nova. Em Ílhavo, o orago a celebrar não fazia sentido ser, apenas e só, o protector dos pescadores – o S. Pedro – mas sim o Salvador, protector de todos os que sulcam todo o mar, independentemente das lonjuras ou actividade marinheira. Por isso, cremos estar assim justificada esta mudança de designação da festa anual da matriz para Senhor Jesus dos Navegantes.
A imagem do Senhor Jesus, descrita em 1758 como sendo muito milagrosa, passa a substituir a de S. Pedro no andor da festa e vai contar, no início do século XX, com a companhia do lugre o Navegante. Ao novo orago, desde então, foram dedicados toda uma série de quadros (os ex-votos), tábuas votivas com que se cumpria o acto prometido numa representação pictórica simples, de um modo ingénuo, algo naif, penhor da grande devoção e fé destas gentes perante eminentes naufrágios ou outras aflições passadas no mar.
Este mareante pretende demarcar-se do seu antecessor, o pescador, porque, assumindo-se como homem do mar mas com outras vistas, com outras larguezas, com outras ambições, senhor de um novo desígnio; ambiciona, desse modo, ganhar estatuto social que os seus anteriores sempre desprezaram, e até posição preponderante na vila, uma vez que a sua situação económica se pode já comparar à classe alta da comunidade. Nesse tempo – meados do século XIX – o ílhavo tinha já deixado para trás os areais da Costa-Nova, decidido a assumir o desígnio de altieiro que daí em diante lhe marcaria o destino. Cumpriu-o a percorrer, infatigável e irrequieto, todos os mares deste mundo, conhecendo novas terras e novas gentes, enleado na descoberta surpreendente das novas paragens, deixando para trás, a substituí-lo na borda do mar, o gafanhão que desceria à praia levando consigo os bois da lavra, emprestando à faina um aspecto rural, uma lavra do areal. A festa em Ílhavo, a S. Pedro, já não fazia sentido ser realizada pelas novas Companhas na vila, uma vez que já teriam a sua festa, a da N.ª Sr.ª da Saúde, na Costa-Nova. Em Ílhavo, o orago a celebrar não fazia sentido ser, apenas e só, o protector dos pescadores – o S. Pedro – mas sim o Salvador, protector de todos os que sulcam todo o mar, independentemente das lonjuras ou actividade marinheira. Por isso, cremos estar assim justificada esta mudança de designação da festa anual da matriz para Senhor Jesus dos Navegantes.
A imagem do Senhor Jesus, descrita em 1758 como sendo muito milagrosa, passa a substituir a de S. Pedro no andor da festa e vai contar, no início do século XX, com a companhia do lugre o Navegante. Ao novo orago, desde então, foram dedicados toda uma série de quadros (os ex-votos), tábuas votivas com que se cumpria o acto prometido numa representação pictórica simples, de um modo ingénuo, algo naif, penhor da grande devoção e fé destas gentes perante eminentes naufrágios ou outras aflições passadas no mar.
Senos da Fonseca
1 comentário:
Sim senhor, história é história e por mais que alguém a queira "apagar" ela sempre surgirá aos olhos de quem a procurar...
Este ano como, aliás, em anos anteriores mas recentes, é ver também os novos "navegantes" encapotados, na verdadeira acepção da palvra, à procura não de qualquer sinal de fé que os ilumne mas de protagonismo que lhes encha o ego. Enfim, perdoai-lhes Senhor Jesus, mas eles sabem bem porque o fazem!...
Abraço - Torão Sacramento
Enviar um comentário