sábado, março 28, 2020





À  LARACHA com o Capitão LARUNCHO (São Marcos)....



Pois: em boa verdade, o digo. Quando aqui há uns cinco anos fiz uma visita ao Cap. João São Marcos, a mesma tinha apenas um enquadramento de boa cortesia para com uma pessoa que admirava, com quem assiduamente conversava, no velho hábito de identificar figuras do passado(e seus laços familiares).O Capitão tinha uma memória prodigiosa!. Muito fora do corrente. Direi que havia três memórias privilegiadas, com quem contactava, ouvindo e apreendendo, as preciosas informações: eram elas o doutor Malaquias(felizmente ainda vivo), o Cap. Manuel Machado(amigo que desapareceu há pouco) e, claro, o Capitão São Marcos.

Sucedeu numa das visitas, que a conversa me tenha surpreendido pelas veredas da vida que começou a percorrer. Conversa puxa conversa e, ao longo do percurso das mesmas, sou deslumbrado com pormenores que um poder de observação invulgar,muito atento e muito sagaz,do velho capitão, me dá a conhecer sobre o Ílhavo do início do século XX.

Os pormenores, logo entendi, assumiam um valor histórico, a justificar registo para memória futura. E logo ali lhe lancei o repto:

- Capitão : vamos gravar o que me diz, vamos fazer isso em várias conversas e depois ,no fim, vamos rever ponto por ponto. Se justificar(e eu creio que sim,e muito!), publicaremos.

O Capitão ficou entusiasmado. E – não direi semanalmente, mas quase – batia-lhe à porta. Na sala, confortavelmente sentados, os dois deambulávamos sobre factos e figuras históricos. Interminavelmente...porque as referências, como era habitual nele, deambulavam ao sabor da conversa e estendiam-se aos confins das referências familiares, mais esconsas .À medida que fomos andando, o Capitão consegue entrelaçar, magistralmente, o seu percurso desde o rapazito “esperto”, funcionário da ourivesaria do Sr. Tomás e, passo a passo, cerzindo observações da terrinha e suas gentes, fundindo-as no seu percurso profissional fulgurante , justifica,sem dar conta disso, ser um produto claramente influenciado–no bem e no mal– pelo meio onde se insere. Percebe-se que assume (ou pretende assumir)que a sua forte personalidade o tenha limpo” de algum pecado original. Mas creio que era ,claramente,um produto genuíno da Terra que lhe serviu de berço.

Odiando os dias passados no mar- estranho "aversão" de quem era o campeão dos campeões– justificava "a sua sorte" em duas ou três máximas :
                 – o navio só pesca com a rede na água; 
                  –o bacalhau não vem ter connosco  nós é que temos de perceber, por e para onde
                      vai.

 Conta-se que durante a viagas viagens não saía  so local (ou anexo) do comando, dia e noite, desprezando o conforto do beliche.Só assim regressaria o mais rápido possível a casa. 

Na pesca, dizia, não há sorte. A sorte faz-se. E quanto mais depressa melhor!”

ou...

“A pesca ,não se ensina; aprende-se na reflexão continuada dos pequenos pormenores”.

Vem isto a propósito:

Ílhavo tem ao dispor um trabalho histórico publicado ,porque recolhido ao tempo,que todos os que  queiram conhecer o espaço, as gentes, os hábitos e a vida comunitária do período Séc. XVIII/XIX, não poderão deixar de ler e estudar. Trata-se de um trabalho de referência do Conselheiro Ferreira da Cunha. É a “bíblia” desse período em que Ílhavo começa a ganhar alforrias de comunidade de certa dimensão, ao tempo de forte mutação.

Ao ouvir o Capitão São Marcos falar, observar, dilucidar sobre (agora) um outro tempo(fins Séc. XIX, início Séc. XX) percebi que os dois documentos se equiparavam, porque resultantes de um poder de síntese, de observação, de interpretação, verdadeiramente notáveis

Editarei em breve ,em memória e homengaem ao amigo( preito que outros Lhe devem com maioria de razão e obrigação),a longa entrevista.
Senos da Fonseca
(foto cedida por AML)

1 comentário:

Unknown disse...


Cá fico à espera do lançamento ...mas com o coronavirus parece-me que não será tão cedo. De qualquer maneira se o virus não me levar conto lá estar.

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...