Conto os anos por cada mês de Setembro, de cada um deles.
Ligo pouco à data de aniversário, até porque começa com ela o ano que pretendo levar até ao fim. Eu quero. Ainda e sempre.
Mas chegado Setembro começa como que o desencanto, a noção de que rapidamente este (ano) já se foi…
Daqui ao fim é um tiro.
A passagem do tempo é, por assim dizer, pelo menos para mim, relativa. Ou melhor a velocidade com que se esgota, não tem (para mim) a mesma escala: - suportável até este período, e inclementemente apressada, a partir de agora.
O tempo (meteorológico) sente-se de repente, parece também mudar. A cor empalidece, os finais do dia são tristonhos, e isso causa claro mal-estar. O banquete que me chegava deste azul da ria visto da minha janela parece estar já nas arrumações. No levantar da festa.
O sol inclina-se cedo para o ocaso, a fragrância da maresia dilui-se no resfriado da noite e no ar perpassa um fluido de melancolia, e até de saudade. De nós…
A beleza onde diariamente dessedentava a intranquilidade de espírito de tantos afazeres, languesce, definha. Paira no ar um certo torpor espreguiçado, esmalmado. Uma promessa de voltar um dia destes. Volta de certeza. Nós é que poderemos já aqui não estar.
Inquieto, dorido, penso nesta dança corrida que é a vida humana. Começa de quê e para quê?
Não sei. Sei contudo apenas, e com certeza, onde acaba. Na dança (da vida) as gerações sucedem-se. Ela, a mangana, mantém-se.
A vida é um carrossel. Gira entre montanhas e profundezas. Entramos a rir; saímos descorçoados por a viagem ter demorado tão pouco
Por vezes temos a sensação de parar nessa dança das voltas. Pura ilusão. Estamos redemoinhando apenas; a roda continua a girar, e nós corremos dentro dela. Mesmo parados estamos a correr no tempo. Nunca para trás. Nunca! Sempre para a frente.
Senos da Fonseca
(foto Ana Gomes)
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