“O ÍLHAVO”
O ílhavo é mais do que um vulgar arquétipo resultante das influências (boas ou más) do meio geográfico: o fruto das suas circunstâncias.
O seu projecto, a sua teimosia, a sua perseverança, a sua resistência à adversidade, a sua ânsia de lonjuras fez dele figura com lugar destacado na história pátria.
Mas quem foi,e o que foi ,esse “ílhavo”?
Ao fim e ao cabo, foi o que sempre me motivou: perceber os meus anteriores...libertá-los do anátema redutor de serem, só e apenas, actores de um único acontecimento(período histórico).
Esquecidos que, afinal, somos o produto de um projecto áureo (único)de cinco séculos (?) que se integrou e se relevou, na determinação lusíada de abandono do projecto mediterrânico. Os ílhavos foram os atlantistas de plena convicção. Foi com gentiaga como esta que demos passos decisivos civilizacionais.
Sim!,creio que era chegada a hora de me concentrar e arrumar de uma vez por todas a questão da singularidade do arquétipo ilhavense: o ílhavo.
Ao contrário do que muitos pensaram e verteram em textos pouco ou nada consistentes, a semelhança das variantes humanas regionais lagunares, foram escassas. As diferenças foram muito maiores e exprimiram-se com muita maior intensidade no aspecto psicológico,cultural e até social. É certo que o homem lagunar ,enraizado e limitado a um espaço geográfico vizinho, teria de absorver e transmitir alguns caracteres onde se catam identidades. Os contactos teriam sido intensos, mas a aculturação esteve sempre presente. A diversidade cultural do homem lagunar não se deixou inquinar pela diversidade da sua proveniência ancestral.
O ílhavo é profundamente diferente do murtoseiro, como o é do ovarino e como o é do cagaréu.
De onde lhe veio essa identidade diferente?
Mas ao querer avançar- vem de longa data esta pretensão- pergunto para quê? Ílhavo é hoje um fantasmagórico deserto cultural. Destruir foi fácil.E falar diferente,parece hoje inutilidade sem sentido.
A palavra “cultura” deixou de ter qualquer sentido. Vende-se ”disso “ a cada canto,em cada cais,em cada malhada, em cada fundeadouro. Vende-se sem se fazerem contas ao retorno. Vende-se cultura a metro, a milhas, a pés. Bem hajam os promotores de tantos cantautores.
Deles será o reino da “Nocha”.
Senos da Fonseca
Sem comentários:
Enviar um comentário