terça-feira, julho 14, 2009


FRAGMENTO DA HISTÓRIA DE AVEIRO

A data em que Aveiro se passou(?) a chamar NOVA BRAGANÇA


Aqui há uns tempos, numa palestra que fui fazer a um Departamento da U.A, o auditório cheio preparado para uma charla que tinha o tempo previsto de duração de meia hora, transformou-a em quase duas hora e meia de conversa interessada-e interessante-, motivada pela avidez dos presentes que queriam saber muito saber muito mais sobre a história de Aveiro.
Impressionou-me a surpresa da assistência quando referenciei o facto de a cidade de Aveiro ter estado preste a mudar de nome, para NOVA BRAGANÇA.
Expliquei então o facto, e prometi num Blog falar disso, agora que se comemoram os 250 anos de elevação de Aveiro, a cidade.

Então vamos lá contar a história do facto….

Na noite de 3 de Setembro de 1758, D.José voltava pelos caminhos da Quinta do Meio ao Palácio Real de Belém, depois de mais um encontro de alcova com a bonita esposa de Luís Bernardo, um dos jovens marqueses de Távora. De repente, três vultos armados de escopetas, surgiram das moitas, embuçados, e rapidamente atiraram sobre a carruagem, ferindo gravemente, o Rei. De um imenso mas bem fechado mistério apenas sobressaiu a noticia do afastamento dos negócios de Estado, de sua Alteza, retido no leito para convalescença. Corria contudo a noticia onde se afirmava ter estado o Rei « muito perto da morte».


O 1º Ministro Sebastião José, logo aproveitou a oportunidade para ajustar contas com a alta nobreza que aceitava mal ou até conspirava contra suas ideias revolucionárias que punham em causa o comportamento de uma fidalguia arrogante, ambiciosa e até indisciplinada,que não raramente tinha o desplante de publicamente interpelar o Rei à cerca do adiamento das suas pretensões de aumento dos cabedais das suas «casas» ducais.
Os grandes nobres não aceitavam que o ditame do recém Marquês fosse a do respeito absoluto devido à régia majestade, em quem «residia o único poder da Nação».Pombal queria tornar o Rei livre da influência negativa dos nobres-destruindo os resquicios feudais- e do clero ,e assim libertar a nação do seu jugo,que punha em causa a sua afirmação contra as potências estrangeiras.Pombal sabia que só sendo livre desta união poderia negociar Estado a Estado. Os nobres,perante as afrontas que o poder de Pombal lhes incutia eram os maiores antagonistas do 1º Ministro, vendo nele o maior obstáculo ás benesses que pretendiam continuar a usufruir, e a que Pombal se opunha. Tinham-lhe ódio e rancôr. Aos nobres juntavam-se os Jesuítas que Sebastião José se propunha exterminar pelo excessivo poder da Companhia -que se opunha ás reformas do Marquês como acontecido com a companhia do Grão Pará e Maranhão, quer com a fundação da Companhia dos Vinhos do Alto Douro.A revolta e tumultos do Porto,terá sido incitada pelos Jesuitas,terminando com a execução publica dos revolucionários do Porto.Pombal pretendia acabar com ostentação chocante de riqueza desta ordem eclesiástica,e fazer regressar essa riqueza aos cofres da Nação.
Por isso,nobres e jesuitas ,todos ,excediam-se em conspiração, usando todos os meios para empecer a tarefa de Pombal.


Logo que recomposto o Rei, passados três meses da sua caída à cama, um decreto publicado em 9 de Dezembro do referido ano proibia que todo e qualquer se ausentasse de Lisboa sem autorização especial para o efeito. A 13 desse mês procedia-se à prisão dos acusados/ culpados, e a 4 de Janeiro instituía-se o Tribunal que veio condenar á morte pelos meios mais violentos, o Duque de Aveiro, D José de Mascarenhas, Francisco de Assis, Marquês de Távora e sua Esposa,a Marqeza, para lá de outros familiares e servidores.


A Marquesa de Távora é degolada

O Duque de Aveiro, que possuía a «mais opulenta casa » do País, considerado o principal instigador, foi sentenciado a ser levado ao cadafalso para aí «ser roto e rodado vivo» quebrando-lhe os ossos.


A execução do Duque de Aveiro

E depois desta cruel execução, seria queimado vivo, sendo as «cinzas deitadas ao mar». Os bens desta família, bem como os dos Távora foram confiscados, destruídas as suas casas e queimado o seu solo, com sal, para que nem as ervas ali crescessem.
Por todo o País se ergueram vozes de desagravo ao excelso Rei, ao mesmo tempo que se conjurava na sombra e escuridão dos jardins dos palacetes e nos altares jesuítas, terrível desforra e vingança que tinha em Pombal o adversário visado.



A Expulsão dos jesuítas

Em 6 de Janeiro de 1759,em Aveiro, ainda simples Vila, reuniram-se na bonita Igreja matriz de S.Miguel, ali defronte da pousada de S.Brás (antigo Liceu de Aveiro) o Senado, os Nobres e o Povo, para, incitados pelo prior da mesma, frei Paulo Pedro Ferreira Granado, fazer solene protesto de «não quererem continuar sob tutela do dignatário»,o Duque de Aveiro, «sujeitando-se de imediato ao governo de El-Rei».E levando mais longe o lavar da afronta, é no referido conclave sugerido que Aveiro mudasse o nome para NOVA BRAGANÇA.
Ora foi desta acção que D.José, certamente lisonjeado por tamanho gesto «democrático»(?!) das forças sociais da terra, decidiu elevar Aveiro a cidade. Foi receptor e portador da alforria «o Pai da Pátria» o Capitão-mor de Ílhavo, João Sousa Ribeiro, na altura a figura de maior prestigio da região, pelo grande feito cometido, a bem de toda a população, o de ter aberto a suas expensas a barra na Vagueira.Com ela pôs fim ao período mais negro da história lagunar, terminando com o surto de pandemia de peste que devido ao inquinamento das águas apresadas no interior da laguna.sem renovação e vivificação, ceifou milhares de vidas na região.A abertura do rigueirão na Vagueira,veio também pôr fim ao interregno de todo o desenvolvimento que anteriormente o Porto de Aveiro tinha permitido, pelo envio das primeiras frotas à Terra Nova, para a pesca do bacalhau, e também da exportação de sal.

Mas porquê a ideia do nome de Nova Bragança? A única ligação ao nome poderia ter provindo de a mãe do primeiro duque de Aveiro, D.João de Lencastre, ter sido D.Beatriz de Vilhena, neta dos duques de Bragança. Mas era duvidosa esta possibilidade.
Certo é que se refere que esta designação chegou, na época, a figurar em alguns mapas geográficos, mesmo que tardiamente publicados (1848).
Fosse como fosse, para desfazer dúvidas, um decreto de Dona Maria I veio anular todos os actos administrativos do reinado precedente. E Aveiro lá continuou com o seu nome, se é que alguma vez de facto mudou, senão na ideia de uns mais delirantes adeptos do Pombalismo.


Mas se Ílhavo se encontra envolvido nesta história do regicídio tentado contra D.José, pela distinção(já referida acima) dada ao portador das alvíssaras de elevação a cidade do burgo, há ainda outro ponto interessante de inter- ligação histórica.

Sucedeu que D João de Almeida Portugal, 2º Marquês da Alorna, se viu envolvido no atentado a D.José, tendo sido feito prisioneiro,encarcerado nos baixios da Torre de Belém. Sua mulher e filhas foram enclausuradas no convento de Chelas. Neste, um dos Padres que ai leccionava era precisamente, Francisco Manuel (futuro poeta Filinto Elísio), filho dos «ílhavos» Manuel Simões -fragateiro real- e da esbelta peixeira Maria Manuel, que tinham «botado» para Lisboa para o ganho da vida.


Assim Filinto (F.M.) foi professor de latim, no mosteiro de Chelas, da futura Marquesa de Alorna, D. Leonor de Almeida, e de música, de sua irmã Maria de Almeida, futura Condessa da Ribeira.
O P .Francisco Manuel irá ser atingido por paixão assolapada a D. Maria de Almeida - muito embora se creia ter sido, apenas e só, platónica, pois é Filinto quem afirma que aquela, designada por «Márcia» e/ou «Dafne» nas odes que lhe dedica plenas de grande (imensa!) ternura (e que Teófilo de Braga diz “serem suficientes para uma Antologia de sugerências”), Lhe dá conta da «abundante alegria que (a mesma) dava ao seu ser».
Será contudo a irmã, D. Leonor, quem mais tarde se irá revelar uma apreciada poetisa pré romântica, melancólica e saudosa-a Alcipe-que atribuirá a Nascimento a identificação de «Filinto», que este nunca mais largará.
Curiosamente Filinto era um protegido do Marquês. Com a «viradeira», com o marquês de Pombal deposto, Filinto é perseguido pela Inquisição (1) e obrigado a fugir para França,onde realizará uma obra que foi considerada, ao tempo,regeneradora do bom português, só foi superada por Camões e P. António
Vieira.
E pronto…aqui está um bom pedaço histórico de Aveiro que eu prometi contar.
Senos da Fonseca (Julho 2009)

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(1) Para mais detalhe ver Filinto Elisio (http://www.senosfonseca.com/)

1 comentário:

Unknown disse...

Num mapa da Peninsula Ibérica publicado em Londres em 8 de janeiro de 1808 aparece "New Bragança or Aveiro".

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