terça-feira, junho 14, 2011

Quando o sal,não salga…






Todos os nossos maiores das letras tiveram a perspicácia q.b. para entenderem e reflectirem sobre o «seu» tempo. Incrível como ao ler Camilo, Eça, Ramalho e ou Aquilino na análise que fizeram ao seu tempo (à porca da politica do seu tempo) encontramos, mais coisa menos coisa, retratada a sociedade de hoje. Por isso aquele autores parecem-são!- intemporais.


Ontem , já bastante tarde, tratava eu para o livro de João Sousa Ribeiro ,um dos mais notáveis aveirenses de sempre -senão o maior como tentarei demonstrar - do sal negro que deixou de salgar na crise lagunar do Séc.XVIII. Acudiu-me o sermonário do P.António Vieira.


Veio-me á ideia esse extraordinário cerzidor das letras portuguesas – quiçá o maior - o Padre António Vieira, que leio quando afrontado com as porcarias que se vão publicando por aí, revisitando-o amiúde para me retemperar. Nunca me farto de o reler na apreciação do idealista, do político, do missionário, do patriota, na sua incrível dialética ágil e inteligente . Apeteceu-me pregar-lhe uma partida .E adaptar um sermão seu – um caldo como diria Camilo -á minha leitura actual dos acontecimentos .


E então é assim, na minha versão livre:




O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê tão corrupta como está este País, havendo nele tantos que têm oficio do sal, qual pode ser a razão desta corrupção.?

Ou é porque o sal não salga -é preto -,ou porque o País se não deixa salgar. Ou será porque o sal não salga e os políticos não pregam a verdade das suas ideias; ou porque o País se não deixa salgar ,e o Povo ,ainda que sendo verdadeira a doutrina que lhes é oferecida, não a querem? Ou porque o sal não salga e os Políticos dizem uma coisa e fazem outra; ou porque o País se não deixa salgar e o Povo quer, antes, imitar o que eles fazem e não o que eles dizem ?!

Ou é porque o sal não salga, e os Políticos pregam não a doutrina, mas a si mesmos ?

Ou porque o País se não deixa salgar e o Povo em vez de o servir, serve os seus apetites?

Suposto então que o Sal não salgue ou o País se não deixe salgar o que se há-de fazer a este sal, e o que se há-de fazer a este País?

Ora terminava Vieira respondendo à pergunta: se o sal perder a substância e a virtude e o politico faltar á doutrina e ao exemplo, melhor é lançá-los fora.

SF Junho 2011














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