A BANDEIRA de 1838
A referida Bandeira é descrita por Madahil do seguinte modo :
« A Bandeira que se encontra na Câmara (CMI), é a que acompanhou o batalhão daqui nas lutas liberais de 1838 ,bordada a seda,ostenta a legenda RAINHA E CONSTITUIÇÃO DE 1838,sobre cores nacionais da época(branca e azul) e na fita donde pende a Cruz de Cristo bordada lê-se B. da G.N. de Ílhavo »
Ora parece haver, nestas afirmações, um lapso informativo. A Bandeira, se acompanhou algum Batalhão, tal teria acontecido na Guerra da Patuleia, que teve lugar em 1846. Continuação da participação nas lutas de sublevação da Junta do Porto contra o Golpe Cabralista (6 de Outubro de 1846),e que terá entrado na cidade em 27 de Outubro, sob o comando do Visconde Sá da Bandeira.
Aparecem, assim contradições entre historiógrafos da época.Diniz Gomes - familiar de Rocha Madahil - em «Costumes e Gentes de Ílhavo» ,(II Vol –ed Companhia Editora do Minho pp 93) refere-nos o acontecimento com a data de 14 de Maio de 1844.
Certo é que a Patuleia teve lugar em 1846.
Marques Gomes em «Noticias de Aveiro e Seu Distrito»,parece estar certo quando nos refere a presença do Batalhão no acontecimento de Valpaços, em 20 Novembro de 1846.
Mas duvida que a Bandeira pudesse ter sido levada ,pois, afirma, não era crível que por ocasião da Patuleia ,o batalhão se apresentasse no Porto com tal bandeira, por nessa ocasião já ali ninguém pensar sequer na Constituição de 1838 (…) mas o grito terá acontecido:
“Portugueses às Armas ! Às Armas pela liberdade e pela Rainha ! (….)
Viva a Rainha ! Viva a Carta Constitucional !... Palácio da Junta Provisória 11 de Outubro de 1846.
Mas certo é que a revolução da «Maria da Fonte» sendo um movimento espontâneo, bateu-se contra a lei que impedia os enterros nas igrejas (Lei de Saúde) e contra a reforma do sistema tributário(os papeletas da ladroeira), pretendendo um regresso ao antes de 1842,ao sufrágio directo, o que significava o abandono da Carta .
Pelo que pensamos não estaria tão deslocada a «Bandeira da Constituição de 1838».É pois, possível - ao contrário do que afirma Marques Gomes - que tivesse sido levada aos campos da batalha pelos Setembristas de que eram apoiantes, Alberto Pinto Bastos e o irmão Augusto Ferreira Pinto Bastos(comproprietários da Fábrica da Vista Alegre), que integravam a Junta Governativa.
Outra situação diz respeito ás razões porque teria aparecido esta bandeira com estas inscrições, pois, refere Marques Gomes, existem duas e só duas portarias, determinando as inscrições na Bandeira da Guarda Nacional .
A primeira portaria, de 29 de Março de 1834 (art 6ºe7º), determinava que cada Batalhão tivesse uma Bandeira,azul e branca, com a legenda “ Rainha e Carta”
A segunda, a portaria de 14 de Setembro de 1836, pretende que a inscrição acima passe a “Rainha e Constituição de 1822”
Depois disso nunca mais existiu nenhuma Portaria a fixar inscrição diferente, das referidas .A inscrição inserindo o ano de 1838 ,não teria, pois, validade comprovada.
Como teria,então, aparecido a Bandeira do Batalhão de Ílhavo (da V.A)?
Marques Gomes sugere que a mesma é apócrifa “resultante do afecto de alguns ilhavenses por estas ideias”
Poderia de facto assim ter sucedido :– os irmãos Pinto Bastos tê-la-iam mandado executar (bordar ) e acharam que a mesma, e os ideais que representava ,poderiam ser válidos para acompanhar o Batalhão dos Artistas da V.A. Independentemente de ter, ou não, validade fixada por decreto .
A Bandeira, que foi entregue à Câmara Municipal de Ílhavo juntamente com as quatro condecorações atribuídas ao Batalhão e ao seu comandante, estará , agora, no Museu .As condecorações ,parece ,ninguém sabe onde param; ou pelo menos ,ninguém sequer me soube informar de que conheceriam a sua existência.
Senos da Fonseca
2007
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